sábado, 4 de fevereiro de 2017

Sobre o amor


Há muita confusão acerca do amor...

Um velho professor italiano afirmava com seu forte sotaque na escolástica aula de Teologia Sistemática: “antigamente se morria de amor, hoje se mata de amor”. Dependendo do tipo de amor, podemos classificá-lo como neurótico, esquizofrenizante, manipulativo, controlador, dominante, submisso, patológico e as variações sobre estes tons podem ser de rosa choque à cinza chumbo.

Naturalmente muito disto é doença. Algumas precisam de tratamento urgente. Uma pessoa que acha que não pode viver sem o outro porque ama desesperadamente, certamente precisa de terapia. Este tipo de amor que controla e acha que o outro é posse, sempre desemboca em grandes tragédias. Paixão vem do grego “pathos”, daí “patologia” e não é amor. É doença. Precisa de cura.

Aqueles que fazem de tudo para serem amados, possuem uma forte dose de narcisismo simbiótico e se confundem, achando que o seu valor encontra-se no outro. O verdadeiro amor só é real, quando não precisamos do outro para nossa própria sobrevivência. “Se não conseguirmos abraçar nossa própria solidão, simplesmente usaremos o outro como escudo contra o isolamento. Nossa relação será sufocante. Se você é incapaz de desistir do casamento, então o casamento está condenado” (Yalon).

Erich Fromm fez interessante pesquisa sobre o que chamou de “simbiose incestuosa afetiva”. O amor do tipo da trepadeira que se aloja na árvore e passa a receber a seiva do caule. Em muitos casos, a trepadeira se torna tão sufocante que mata a árvore e por conseguinte, a si mesma, já que sua sobrevivência depende do outro.

Stephen Shbosky fala de outro tipo doentio de amor: “Nós aceitamos o amor que julgamos merecer”. Este desvio dos afetos subordina muitos a relações neuróticas porque acha que é assim mesmo que tem que ser. Tornam-se dependentes de um “amor” doente, massacrante e destrutivo. Tal experiência é muito comum em pessoas com auto-estima baixa e que se julgam “merecedoras” deste tipo de relacionamento, ou por conceitos arraigados na formação ou cultura, ou auto-percepção negativa. São as “mulheres de Atenas”, que “não tem gosto ou presságio, nem desejo nem qualidades, tem medo apenas...” (Chico Buarque).

Um belíssimo texto, que já se transformou em uma celebrada música dos Titãs, assim define o amor: “O amor nunca desiste. O amor se preocupa mais com os outros que consigo mesmo. O amor não quer o que não tem. O amor não é esnobe, não tem a mente soberba, não se impõe sobre os outros, não age na base do “eu primeiro”, não perde as estribeiras, não contabiliza os pecados dos outros, não festeja quando os outros rastejam, tem prazer no desabrochar da verdade, tolera qualquer coisa, confia sempre em Deus, sempre procura o melhor, nunca olha para trás, mas prossegue até o fim” (Carta de Paulo aos Coríntios, versão “A Mensagem”)

Se quisermos caminhar numa direção segura, certamente precisamos começar por ai...

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