sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Dúvida como expressão de fé

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Ao ler os Evangelhos observamos que poucos dos que andaram ao lado de Jesus demonstraram fé inabalável. João Batista, na hora da crise titubeou; Pedro o negou; Judas o traiu; Tomé não acreditou quando lhe falaram da ressurreição; os demais discípulos não acreditaram no relato das mulheres que foram as primeiras testemunhas de que ele havia saído do túmulo para a vida. A maior censura de Jesus aos discípulos foi quanto à “falta de fé”. Os fieis nem sempre se mantiveram firmes na hora da provação.

Observa-se uma lógica inversa: Aqueles de quem se esperava fé ousada e profunda, muitas vezes estavam inseguros e pusilânimes, enquanto os que viviam perifericamente o ciclo da espiritualidade, revelaram profunda intrepidez e segurança. Em outras palavras, os “crentes” descriam e os “incrédulos” afirmavam sua fé.

No relato do centurião romano, militar estrangeiro invasor, que fazia parte da cúpula dominante da Judeia, pediu que Jesus orasse pelo seu servo enfermo e quando ele se dispôs a encontrá-lo ouviu deste militar uma declaração tão surpreendente que Jesus afirmou: “Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como essa”. A surpresa talvez se desse porque como estrangeiro era pouco provável que tivesse uma fé grandiosa.

Outra mulher cananéia, também estrangeira, mostra uma fé tão firme que Jesus afirmou: “Ó mulher, grande é a tua fé!”. Parece que os “estrangeiros e distantes”, eram capazes de reconhecer o Messias e demonstrar sua fé de uma forma tão espontânea que tais histórias se tornam ameaçadoras para nós, supostamente os que cremos.

Tenho encontrado muitos “crentes incrédulos” na minha caminhada, ao mesmo tempo, muitos “ateus crentes”. Na verdade ainda não encontrei nenhum ateu que no meio da dor e do luto olhasse a vida serenamente e dissesse: “Não creio em nada e por isto estou muito seguro”, pelo contrário, tenho aprendido a respeitar a falta de fé e considerar a dúvida como expressão de fé. Tenho ouvido lindas e espontâneas confissões de onde não esperava, e eventualmente uma dubiedade e fragilidade quanto a fé de gente religiosa e beata. Como bem afirmou Mario Quintana: “Mas que susto não irão levar essas velhas carolas se Deus existe mesmo”. Sei que isto é um tanto dialético e paradoxal, mas me parece muito sensato.

No nascimento de Cristo, os “magos”, gente espiritualizada e distante das tradições e profecias judaicas, desenvolveram uma sensibilidade quanto ao sagrado, e chegam até Belém para ver o rei que estava nascendo, enquanto os escribas e religiosos de Jerusalém, que ficavam a 12 Km de Belém, não perceberam. Os magos foram mais crentes que os líderes religiosos.

Muitos talvez estejam titubeando entre a fé e a dúvida, mas este ato de duvidar, revela a centelha da fé. Dúvida é uma forma de crença. Muitos se identificam prontamente com o homem hesitante que declarou a Jesus: “Eu Creio Senhor, ajuda-me na minha falta de fé!”. Como afirmou Philip Yancey: “Uma curiosa lei do avesso parece operar nos evangelhos: a fé aparece onde menos se espera e vacila onde deveria florescer”. 

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