quarta-feira, 18 de maio de 2016

Sabedoria

Minha mãe, D. Zilá, mora atualmente em Palmas, e nesta semana completou com boa saúde, seus 80 anos de vida. Estive lá em sua casa, junto com os demais irmãos para dar-lhe um abraço e desfrutar de seu colo, como não poderia deixar de ser.

Viveu sempre com poucos recursos e muita coragem. Aos dez anos de idade, presenciou a tentativa de suicídio de sua irmã mais querida, que tinha quase o dobro de sua idade, porque vendo a sua dor, acompanhou-a à distância pressentindo que algo ruim iria acontecer. Sua sensibilidade infantil foi o socorro que livrou sua irmã da morte certa. Mamãe cresceu no meio de uma família disfuncional, mas conseguiu se estabelecer e criar ainda cinco filhos.

Depois de viver por 44 anos na mesma chácara em Gurupi -TO, decidiram vender a propriedade porque já não conseguiam administrá-la sem que isto gerasse grande estresse. Preocupado com o emocional de meus pais, viajei para acompanhar esta transição e o processo de mudança.

Como bons mineiros, sempre tiveram a casa com grande abundância de comida, e muita planta, horta e animais no quintal. Na véspera de entregar a chácara já vendida, fomos retirar algumas coisas e quando vi um bonito cacho de bananas disse empolgado: “Vamos levar este cacho!” Minha mãe serenamente afirmou: “Deixa este aí, filho. É muito ruim chegar na propriedade e não achar quase nada. Vou deixar algumas galinhas também...”

Envergonhado de minha mesquinhez, recolhi-me silenciosa e pensativamente, considerando a sabedoria e disponibilidade de minha mãe. Senti-me pequeno e pobre de alma com este evento, mas ao mesmo tempo feliz em ter sido gerado no útero de alguém que considerava a vida com tal amplitude.


É de Cora Coralina a seguinte afirmação: “O saber a gente aprende com os mestres e os livros, a sabedoria é com a vida e os humildes. Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das pessoas”.

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