terça-feira, 15 de abril de 2003

O SIGNIFICADO DA PÁSCOA

Páscoa significa originalmente “passagem”, vem do hebraico pesah, e é associada com o verbo pasah, que significa “saltar” ou “passar por cima”, daí a razão dos ingleses usaram a palavra “passover” para páscoa, resgatando a idéia original de “passar sobre”.

A instituição da Páscoa é registrada no livro de Êxodo, capítulo 12, das Sagradas Escrituras, relaciona-se à libertação dos israelitas da sua escravidão no Egito, e é, para o povo judeu, tanto nos tempos bíblicos quanto atual, sua comemoração mais importante. Esta festa se deu logo após a passagem do Senhor no meio do Egito, onde a maioria do povo judeu vivia escravizada. Naquela noite, o anjo passou, e todas as casas que possuíam a marca de sangue de um cordeiro foram poupadas da morte, e onde não havia a marca do sangue, o filho mais velho morria. Era o julgamento de Deus vindo sobre o povo, e apenas o sangue poderia impedir a morte.

No Novo Testamento, após a vinda de Jesus, os cristãos retraduziram esta festa, dando-lhe um significado especial, pois foi durante a festa da páscoa que Jesus foi crucificado e morreu, e assim, foi interpretada como figura da obra redentora de Cristo, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1.29).

A Páscoa, no sentido em que a comemoramos, está longe de ter o significado que possuía na sua origem. Li recentemente um artigo do Rev. Hernandes Dias Lopes, que reflete bem esta tensão:

Coelho ou cordeiro?
O comércio voraz, faminto de dinheiro, trocou o cordeiro pelo coelho. Aliás, um coelho muito versátil, quase milagroso, que põe ovos de chocolate de todos os tamanhos e para todos os gostos. Para o consumismo insaciável, a essência da páscoa não tem a menor importância. O que importa é vender, vender muito, ainda que na mente das pessoas a verdade seja sacrificada, e o cordeiro fique esquecido. Para uma sociedade materialista, secularizada e consumista cujo deus é o ventre, o importante é empanturrar o estômago de chocolate, ainda que se sacrifique no altar do comércio esfaimado, a essência da verdade.

Preocupante é o fato de fazermos parte desta cultura sem nenhuma reação de inconformação. Fazemos como Eli, banqueteando com as gorduras tiradas pecaminosamente do altar, sendo coniventes com os pecados de uma geração que se recusa a dar ouvidos à verdade de Deus. Nossos filhos são levados a assimilar mais o coelho, ou melhor, o chocolate, do que o cordeiro que foi morto por nós. Vêem mais o retrato das lojas agressivamente decoradas do que a história eloqüente da libertação do povo de Deus. Precisamos investir mais tempo ensinando aos nossos filhos sobre a Páscoa. Esta é uma história central do Antigo Testamento. Foi naquela noite fatídica que o povo de Deus foi salvo da tragédia da morte dos primogênitos, porque um cordeiro tinha sido sacrificado e o seu sangue havia sido aplicado sobre as vergas das portas. Esta é a história épica da libertação do povo de Deus do cativeiro, com mão forte e poderosa. A Bíblia fala que Jesus é o nosso cordeiro pascal. O cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo é Jesus. Foi ele quem foi imolado na cruz por nós. Ele sofreu o castigo que nos traz a paz. Deus lançou sobre Ele a iniqüidade de todos nós. Ele, como ovelha muda, foi para o matadouro, carregando sobre o seu corpo, no madeiro, os nossos pecados. Ele se fez maldição por nós. Ele se fez pecado por nós. Ele morreu exangue na cruz, adquirindo para nós eterna redenção. Esta é a história da nossa alforria. É a história da nossa libertação do cativeiro. É a história da nossa eterna salvação. Não podemos deixar que ela seja distorcida e diluída em chocolate. Não podemos permitir que o maior de todos os sacrifícios, vivido na hora mais amarga do Filho de Deus, bebendo sozinho o cálice da ira divina, seja reduzido a um festival de gastronomia.
O coelho é um intruso que nada tem a ver com a festa da páscoa. Esta festa é a festa do cordeiro, do Cordeiro de Deus. Ele sim, deve ser o centro, o conteúdo, a atração e a razão de ser desta festividade. Que a nossa família possa estar reunida não em torno do ovo de chocolate, mas em torno de Jesus, o Cordeiro que foi morto, mas vive pelos séculos dos séculos, tendo a certeza que estamos debaixo do abrigo de seu sangue.

Vivemos assim, bombardeados e confusos com conceitos difusos que em nada refletem a essência da Páscoa. Neste feriado prolongado, uma boa prática devocional pode ser a leitura atenta dos relatos do Evangelho em torno da Páscoa. Existem quatro livros na Bíblia que falam deste evento, eles são chamados de Evangelhos, porque narram a vida de Jesus. Três deles são sinóticos, porque possuem relatos idênticos, o último é o Evangelho de João, que é mais denso e teológico, se preocupando mais com a explicação teológica destes acontecimentos. Numa época em que os homens estão se voltando mais para os fenômenos espirituais (Pós modernismo), e nos dias em que o nosso pais, considerado cristão, convencionou chamar de quaresma, vale a pena rever conceitos e ampliar nossa compreensão da Páscoa.

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