segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Resoluções de Ano-Novo




Quais são seus planos para o próximo ano? Muito provavelmente você está pensando em tomar algumas decisões importantes para o ano que vem: Um melhor planejamento financeiro, gastar mais tempo com a família, investir mais na sua formação acadêmica, ter mais tempo com os amigos, assumir maior compromisso com as coisas de Deus e, muito certamente, perder alguns quilos que tanto o incomodam. Um amigo me disse que está com um sério problema de metabolismo: Mais de “bolismo” que de “meta...
Não quero desestimulá-lo, mas todos já tomamos decisões bem-intencionadas que infelizmente não deram em nada. Nossos padrões de comportamento quanto aos hábitos alimentares, uso do dinheiro, vida espiritual e agenda são geralmente muito arraigados e precisamos de uma dose extra de vontade para superar estas deformações. Um antigo ditado afirma que “Velhos hábitos são difíceis de morrer”. Estatísticas apontam para o fato que 97% das resoluções de Ano-Novo nunca são cumpridas.
Mark Twain, sarcástico humorista americano disse que “O Ano-Novo é uma instituição anual inofensiva, de nenhuma utilidade especial a não ser como desculpa para bêbados desenfreados, abraços bem-intencionados e resoluções bobas”.
Deixando o cinismo e pessimismo de lado, Ano-Novo nos sugere um olhar para a frente e ver o futuro sob um novo ângulo, de sonhar com uma visão maior. Afinal, “o medo de perder nos impede de ganhar”. Eu sei quão pusilânime é a minha vontade e que certamente vou me esquecer e me atrapalhar com estas novas resoluções, mas ainda assim quero continuar sonhando. Mário Quintana em Lili Inventa o Mundo, declara que uma vida não basta apenas ser vivida: também precisa ser sonhada.
Pior que sonhar e não se cumprir é perder os sonhos. A vida não é feita por possibilidades, mas por convicções que muitas vezes parecem loucura. Deus opera por meio destas visões e antecipações do futuro. A.W.Tozer "Deus está buscando por aqueles a quem ele possa realizar o impossível." 
Mais importante ainda: Sabemos de alguém que vai cumprir as suas resoluções no próximo ano: Deus nunca falha, ele é fiel, e nele sempre temos o sim. “Eu, o Senhor, é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, pensamentos de bem e não de mal, para vos dar o fim que desejais”. Ele sempre está presente quando eu estou no meu limite, sempre se revela quando o quarto está escuro demais, quando as esperanças e utopias parecem de desfazer. Ele está presente quando eu sou ausente, fala no meio de minha confusão e impetuosidade pueril.
Por isto precisamos sonhar, mesmo que nossas incongruências nos denunciem. “Eu gosto mais dos sonhos do futuro, que da história do passado” (Thomas Jefferson). Afinal, eu não sei o que, mas quem me aguarda no futuro. 

Natal – A grande noticia dos céus




Quando o anjo se manifestou aos pastores de Belém lhes disse: “Não temais, eis que vos trago boa nova de grande alegria, que será para todo povo. É que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador que é Cristo, o Senhor”.
Boas novas! Como precisamos de notícias que nos tragam alegria!
Elas contrastam com más as más notícias que sempre ouvimos. O que dá ibope, vende jornais e atrai audiência para os telejornais são as tragédias e escândalos, traições e bizarrices. Existe até mesmo um ditado antigo que diz: “Notícia ruim anda rápido!”. Os anjos anunciam Boas Novas. Elas diferem das notícias que costumeiramente nos chegam.
O anúncio angelical, fala também que elas são novas. Não são reportagens requentadas, ou que no máximo, mudaram os rótulos. Leia as capas de jornais nesta mesma época do ano passado e verá que elas não diferem muito das que estão sendo retratadas hoje. Os políticos continuam saracoteando, os artistas ganharam milhares de dólares por causa de suas bizarrices e escândalos, a violência da cidade está aumentando, os impostos vão desequilibrar. Como diz a música Veja Margarida, composta por Vital Farias três décadas atrás: “Veja meu bem, gasolina vai subir de preço, e eu não quero nunca mais, seu endereço; ou é o começo do fim, ou é o fim...” As notícias são as mesmas. Elas não são novas. Os buracos das estradas aumentaram, a moral está em queda, o governo está comprometido com grupos financeiros e lobistas. No seu pessimismo conhecido, o autor de Eclesiastes afirmou três milênios atrás o que hoje percebemos tão bem: “Não há nada novo debaixo do sol... o que foi é o que há de ser, e o que se fez, isto se tornará a fazer... O que é já foi, e o que há de ser, também já foi; Deus fará renovar-se o que se passou” (Ec 1.9; 3.15).
Só o céu pode nos trazer novas notícias. A natureza se repete no rito interminável de ir e vir. Uns morrem, outros nascem; uns perdem, outros ganham; uns amam, outros deixam de amar. Nada há novo debaixo do sol, a não ser que Deus renove as coisas.
A notícia dada pelos anjos afirmam ainda que trariam grandes alegrias. Neste ano recebi um sinistro telefonema de um colega meu. Uma tragédia havia se abatido em Palmas com a perda de uma sobrinha querida num acidente de carro. As notícias chegam, mas quase nunca são boas. Os anjos anunciam boas novas de grande alegria. Que outras boas notícias nos cheguem aos ouvidos para nos alegrar diante de tanta dor e perplexidade.
Eventualmente sentimos euforia quando nosso time vence o campeonato, ou quando as aplicações financeiras rendem bons dividendos, ou porque o balanço da empresa foi lucrativo, ou por receber um bônus salarial da empresa. Notícias como estas trazem euforia, mas não grande alegria. Você vibra com todas estas coisas, mas o que realmente pode lhe trazer uma reviravolta de humor e entusiasmo em sua vida? Se o teu coração não for tocado pelas coisas celestiais, o resultado será o mesmo que Salomão experimentou: “Tudo quanto desejaram os meus olhos, não lhes neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com as minhas fadigas, e isto era a recompensa de todas elas” (Ec 2.10).
A notícia dada pelos anjos fala do nascimento de um menino. O sinal era marcado pela simplicidade. Ele estava envolto em panos, numa estrebaria. Nenhum holofote, a imprensa local não se aproximou para registrar aquele momento, as autoridades ignoraram o evento, e mesmo os sacerdotes de Jerusalém que sabiam o que estava acontecendo, desprezaram a novidade trazida pelos magos.
No entanto, esta notícia dada pelos céus, restaura a confiança na humanidade, o desespero interno e a ausência de sentido. Estas boas novas nos enlevam, trazem esperança, encorajam, porque são boas novas trazidas dos céus. Saber que Deus resolveu demonstrar seu amor pela humanidade, assumindo o rosto de um bebê, faz toda diferença na existência.

domingo, 23 de dezembro de 2012

A Subversão do Natal




Nesta semana buscava inspiração em frases sobre o natal, que podem facilmente ser encontradas nos sites de busca da internet, quando percebi que em nenhum momento, a memória popular associa natal ao nascimento de Cristo, mas apenas ao papai-noel e às festividades.
Então, fui para as páginas iniciais dos quatro evangelhos que narram o nascimento de Jesus na Bíblia, o que geralmente faço todos os anos. Se você tiver interesse em fazer estas leituras, abra a Bíblia nos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João e leia seus capítulos iniciais.
Ao ler estas páginas, me deparei com a conhecida narrativa do anúncio do anjo aos pastores ao redor de Belém. Só então percebi como o natal se mostra subversivo neste relato bíblico.
Em primeiro lugar, porque transforma a vida monótona dos pastores, no seu cuidado cansativo e repetitivo de vigiar ovelhas, no calor do dia e no frio da noite, naquela inóspita região onde nada de excepcional acontecia, a não ser um eventual ataque de predadores contra o rebanho. Agora, porém, os pastores se tornam protagonistas de um evento que os coloca no epicentro da história que passaria a ser contada todos os anos, ao redor do mundo. A vida cansativa e tediosa encontra outra dimensão e sentido.
Em segundo lugar, substitui o medo por alegria. Eles ficaram aterrados ao ver o anjo que lhes diz: “Não temais! Eis que vos trago boas novas de grande alegria que o será para todos os povos, é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o salvador que é Cristo o Senhor”. Imediatamente o pavor inicial se transforma em deslumbramento e encantamento – como isto é revolucionário. Ao ler este relato fico pensando quantos estão vivendo nestes dias acuados e desencorajados, ameaçados por pessoas e circunstâncias, e que podem ser impactados por uma nova compreensão e sentido.
Em terceiro lugar, porque substitui prepotência por humildade. O Rei dos reis decide nascer, não num palácio, mas numa estrebaria; ele se associa não aos nobres, mas aos campesinos; não se manifesta aos poderosos, mas aos que se encontram na periferia da vida. No cântico de Maria, vemos claramente estas afirmações: “Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos”.
Fiquei considerando tudo isto, e nas implicações destes fatos para nossa história pessoal. Como o natal pode subverter o caos, a tristeza, a prepotência, solidão e monotonia em nossos lares e em nossos corações. Afinal, o natal historicamente se deu em Belém, num tempo e geografia específicos; mas existencialmente acontece todos os dias, quando nos deparamos espiritualmente com este menino que é o salvador, palavra sugestiva, já que não se pode salvar quem não está desencontrado e perdido. E o Filho do Homem veio exatamente para isto: Buscar o salvar aquele que perdeu o eixo da sua história, e que pode refazê-la num encontro pessoal com a graça e presença deste Deus que visitou nosso planeta.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A ESCOLHA DO PRESENTE




Você acha que o Natal chegou rápido demais neste ano? Tenho más notícias para você. Dizem que isto é sintoma de quem está envelhecendo. Pergunte a uma criança ou a um adolescente se eles e eles lhe dirão que o Natal, na verdade, demorou muito para chegar. Tempo é questão de perspectiva.
O mês de Dezembro é tradicionalmente um mês de muita correria: Balanço da empresa, final de semestre para os que ainda continuam estudando, aumento dos compromissos sociais, jantares de confraternização, avaliação e compra de presentes...
Como escolher presentes? O que devemos dar? O que comprar? Como equacionar desejos e orçamento? Necessidades e possibilidades? A escolha do presente em si mesma, já pode ser um dado que provoca ansiedade.
Para alguns isto pode significar um final de ano estressante, com correria, frustração e gastança desmesurada. Muitos farão despesas para o ano inteiro com coisas que não necessariamente vão trazer sentido, aliás, alguém já afirmou que na maioria das vezes compramos coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar pessoas que não gostamos. Eis algumas sugestões práticas para a escolha apropriada dos presentes no final deste ano:
Primeiro, considere seu orçamento - Gastar mais do que necessário pode representar uma enorme dor de cabeça. Quem ama você vai apreciar o que recebe, mesmo com singeleza, mas não pense que as pessoas que não te apreciam vão passar a te valorizar por aquilo que recebem. Não faça mais do que você pode. Isto pode representar um alívio imenso para você. As demandas dos filhos, se não avaliadas podem gerar culpa, ansiedade e dívidas.
Segundo, dê presentes apropriados - Considere a idade de seus filhos. Lembro-me de um amigo que para compensar sua infância pobre resolveu dar uma pequena motocicleta para seu filho, mas quando o presente chegou o menino curtia mais a grande caixa que empacotara o caro presente do que o presente em si mesmo. Ele transformou aquela caixa em um esconderijo para ele e sua irmã. Deus nos deu o presente certo: Seu Filho Jesus. Fique atento às dicas de sua esposa e filhos e isto trará grande alegria quando recebido.
Terceiro, dê com alegria, estimulando tanto quem dá como quem recebe. Um presente pode ter um significado muito maior do que você imagina. E por último, Considere pessoas que não poderão retribuir seu presente: Este é o significado maior do Natal. Deus nos entregou seu Filho, não porque fôssemos pessoas especiais, mas por causa de sua graça. Dar um bônus a um empregado, considerar o 13o. da sua diarista ou de funcionários que sempre prestam serviço a você, ajudar orfanatos e entidades sociais pode ser extremamente significativo, ainda mais se seus filhos puderem participar do projeto. Passe a idéia da generosidade adiante. O Natal nos convida a esta reflexão, já que consideramos a entrega que Deus fez do seu amado Filho à humanidade.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A Magia do Natal


 

Novamente a Coca-Cola surpreende com outra belíssima propaganda. Eles descobrem algumas cartas antigas que foram escritas quando as pessoas ainda eram crianças e que foram enviadas ao Papai Noel, e as surpreendem trazendo o presente que elas haviam pedido tanto tempo atrás... Depois que o presente é entregue perguntam: Você acredita na magia do Natal?

Eu também acredito na magia do Natal. Independentemente da Coca-Cola e sem papai Noel, mas acredito...

O natal me traz positivas reações e eventualmente uma grande nostalgia e senso de solidão, mas gosto do clima que ele traz: as árvores, as luzes e presépios. Gosto também de música de natal em qualquer época do ano, embora entenda que isto é bizarrice. Meus amigos riem disto e com razão me torno motivo de galhofas e piadas, mas creio que está tudo certo. Gosto de dar presentes, gosto da casa cheia e gosto de ganhar presentes.

Mas o grande encantamento do natal não se encontra nestas coisas, nem na fictícia figura do papai Noel, criada para fins comerciais, nem nas luzes e festas, cenas de famílias reunidas e encontros sociais – o que me causa um grande espanto é o natal em si.

Para refrescar minha memória, abro deliberadamente os quatro evangelhos bíblicos, e leio as narrativas do nascimento de Jesus, e me encanto com cada uma delas.

Corremos o risco de perdermos o menino Jesus no meio da festa. Podemos nos esquecer da razão do natal. Neste dia celebramos o maior evento da humanidade: Deus resolveu se tornar gente e morar no meio dos homens, tornando-se um menino frágil num ambiente hostil.

Deus viu nossa dor e resolver visitar a humanidade. Ele viu nossos delírios megalomaníacos expressos nas Hiroshimas e nos holocaustos; ele viu a dor das nossas Biafras e Vietnãs, nossos complexos dos alemães e decidiu que era preciso se tornar gente, habitar um corpo e nos fazer sonhar novamente.

A magia do natal encontra-se num Deus que resolveu visitar nossas ricas casas, tão luxuosas e tão vazias; nossos palácios nababescos e ainda assim tão deprimentes; nossos casebres carentes de tudo e por isto resolveu morar entre nós na pessoa de Jesus.

A magia do natal se torna significativa quando a dor da nossa solidão é visitada pela presença renovadora de sua graça; quando nosso pânico, medo e depressão são vencidos no encontro com o Deus que nos conhece. A magia se revela quando lares quebrados pela indiferença, ódio, luta pelo poder e traição, são restaurados com o perdão e a reconciliação. Por isto a manjedoura nos aponta para sonhos, utopias, subversões e desejos.

Deus viu nossas contradições, as Biafras esqueléticas, as falsas piedades, os abusos e gemidos de Auschwitz, a destruição de nossas florestas e rios, nas candelárias e Carandirus da vida, na ansiedade humana tão tola e vazia, e teve misericórdia de nós. Ele nos enviou seu Filho. O Verbo se fez carne e habitou entre nós.

Eu creio na magia que se revela na estrebaria, na gravidez de uma adolescente de Belém, na humanidade de um Deus que deixou sua glória para nos ensinar a viver e dar esperança para morrer. Eu creio na magia de um menino pobre de Nazaré que revolucionou o mundo.

 

Estou em dúvida...


 

Rob Bell, um dos pastores mais populares e midiáticos dos Estados Unidos, recentemente afirmou numa entrevista nas páginas amarelas da Veja que céu e inferno são mera utopia e projeções da alma humana. Eis alguns trechos de sua entrevista:

“Acredito que céu e inferno são realidades que se estendem para a dimensão para a qual vamos ao morrer, mas aí já entramos no campo da pura especulação... vamos pelo menos ser honestos. Ninguém sabe o que acontece quando morremos. Não tem fotografia, não tem vídeo”.

Noutro trecho, ao ser indagado se Deus condenaria Hitler à danação eterna, respondeu evasivamente:

Hitler parece ter sido alguém inclinado à criação de imensos infernos, para si mesmo e para os outros. Minha suposição é que Deus lhe deu o que ele queria. Acho que é o único modo de analisar este caso à luz da destruição que Hitler causou. Qualquer reconciliação ou perdão, nesse caso, está além da minha compreensão”.

Minha dúvida é a seguinte: Eu não sei se creio em Jesus e nos seus conceitos, ou se creio na interpretação da Bíblia feita por Rob Bell. Fiquei em dúvida sobre o fato de que, de repente, ele saiba mais e conheça mais das realidades espirituais que Jesus, afinal de contas este menciona a palavra céu 145 vezes, e inferno 42 vezes, portanto deixa claro que céu e inferno são realidades muito concretas. Prometeu o céu aos seguidores, disse que na casa de seu Pai há muitas moradas, e para evitar qualquer problema, enfatizou: “ Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.”  E afirmou que Quem crê no Filho, tem a vida, quem não crê, sobre ele permanece a ira divina, e ensina de forma direta e enfática a seus discípulos que quem crê será salvo, mas quem não crer, já está condenado. Quem está certo: O pregador moderno ou Cristo?

Naturalmente, não estou nem um pouco confuso. Toda a minha linguagem até aqui tem sido de sarcasmo.

Concordo com ele, que a obsessão por pregar o inferno pode retirar de nós a compreensão do grande amor de Deus pela humanidade. Concordo ainda que as pessoas mais interessadas em discutir o inferno depois da morte são as menos interessadas em discutir o inferno sobre a terra e vice-versa.  Precisamos recuperar o fato de que o centro da mensagem cristã é o amor de Deus, e não a sua ira, mas por outro lado, não é necessário negar uma verdade para afirmar a outra.

O pastor Wilson de Souza gostava de fazer uma intrigante pergunta: “Se Deus não disse o que teria dito, porque não disse o que teria de dizer?”. A verdade é que, tudo que Jesus disse, o fez para nossa instrução e orientação espiritual, por isto a Bíblia está sempre falando de nossa vida espiritual em termos de decisão. A porta está aberta para salvação. Hoje é o tempo sobremodo oportuno. Existe sempre a necessidade de uma tomada de posição. Benção ou maldição,  Salvação ou perdição, ambas as realidades, são muito concretas para Jesus.

 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

As dúvidas me afastaram de Deus


 
Uma das forças propulsoras da pesquisa, ciência e tecnologia é a dúvida. Quase todas hipóteses e teorias são levantadas quando se questiona o já estabelecido. Nenhuma filosofia existiria se não houvesse crise sobre os consensos e dogmas. As questões que brotam na alma humana impulsionam a reflexão e novas descobertas. Esta dúvida metodológica é salutar.

Estudiosos, porém, vem desconfiando dos excessos de dúvidas. Muitos não possuem dúvidas, mas são possuídos por elas; muitos não apenas duvidam, mas são dominados por um senso de incerteza sobre tudo, gerando o nihilismo. (Nihil vem do grego, e significa vazio, vácuo). Quando nos tornamos metamorfoses ambulantes, perdemos todo senso de concretude, valor e significado. O resultado é a angústia primal e desespero.

Gary Smalley afirma que quando estava seriamente questionando a existência de Deus durante seus anos de faculdade, alguém o desafiou a abrir sua mente para a possibilidade de um Deus pessoal, fazendo três perguntas: (a)- Que porcentagem de conhecimento você julga que temos, no mundo de tudo aquilo que existe para ser conhecido? (b)- Quanto deste conhecimento você acha pessoalmente que tem? (c) Você acha que é possível que um Deus pessoal se revele algum dia a você através do restante do conhecimento que você ainda não pode adquirir?

Quando fazemos tais perguntas a pessoas honestas e sinceras, uma parte admite ter apenas uma pequena porcentagem de conhecimento, e a maioria admite que é possível algum dia conseguir ver e experimentar um Deus pessoal.

Quando sentimos dúvida espiritual, na verdade estamos admitindo nossa dor e vazio, e que algo não está bem em nosso coração. Deus sabe muito bem como lidamos com frustrações e dores. Muitos dos seus profetas como Jeremias, Habacuque, Jó e Jonas, e salmistas como Asafe, também enfrentaram tais dilemas. John Bunyan que escreveu O Peregrino, um clássico da espiritualidade cristã, fala entre outros do castelo da dúvida, do gigante do desespero, do pântano da desconfiança e da feira da vaidade. O problema é que não buscamos a Deus para responder as incertezas e ficamos sozinhos com as dúvidas.

C. S. Lewis, professor de Oxford, escreveu uma carta a seu amigo Arthur Greeves, na véspera de Natal, confessando seu doloroso conflito com as dúvidas: “Creio que meu problema é falta de fé. Não tenho base racional para voltar aos debates que me convenceram da existência de Deus. Mas a sobrecarga irracional dos antigos hábitos de ceticismo, mais o espírito desta era, mais os cuidados de cada dia, roubam de mim toda sensação agradável da verdade. E muitas vezes, quando oro, penso se não estou enviando uma carta para um endereço inexistente. Veja bem, não penso assim — minha mente racional está completamente convencida. Porém, muitas vezes, eu me sinto assim”.

Apesar de nossa era da incerteza, anseios espirituais não irão simplesmente desaparecer. Na verdade, a situação é semelhante em todos lugares, cada um a seu modo tentando enterrar Deus e descobrindo que ele sobreviveu aos seus coveiros. MacAlister afirma que a dúvida é um convite para o crescimento e para o relacionamento com Deus.

O Desespero da Solidão


 

Michael Jackson, numa de suas raras entrevistas afirmou que se considerava o homem mais solitário do mundo. Sua lacônica e triste morte parece demonstrar o quanto a solidão existencial pode ser deletéria para a alma.

Solidão é nossa condição humana básica. Nenhum de nós é capaz de escapar de diferentes categorias e formas de solidão. Solidão é uma consciência voltada para si. Solidão também é conseqüência da tecnologia. Estamos numa das melhores fases da humanidade, grandes oportunidades, conforto e lazer, mas apesar de podermos viajar pelo mundo ainda estamos sós.

James Houston descreve a solidão como “a patologia da tecnologia”. Passamos a encarar a realidade como “coisa” externa. No séc. XIX, o homem tentou amenizar isto ao criar o conceito de mãe natureza. O romantismo começou inocentemente, mas esta inocência acabou na 1ª guerra e no fascismo como seu ponto culminante. Quando perdemos a compreensão de um sentido maior no cosmos, passamos a olhar o mundo como objeto. O sexo barato, negociado e barganhado é um destes exemplos. Achamos que ele vai nos tirar da solidão, e nos descobrimos ainda mais solitários.

Este é o paradoxo atual: podemos sobreviver sem precisar de Deus (secularismo), mas como conseqüência nunca fomos tão condenados à solidão. Desordens mentais como a paranóia e a esquizofrenia apontam para isto. Irving Yalom, no seu livro Quando Nietzsche chorou, afirma que “A solidão é um solo fértil para a doença”.

A sociedade moderna tem a grande capacidade de nos transformar em seres solitários e despersonalizados. Facilmente nos tornamos um número na selva de pedras e nos distanciamos uns dos outros com nossos apartamentos que parecem gaiolas e nossas casas com muros cada vez mais altos, cercas elétricas e uma placa invisível que diz: “Perigo, não se aproxime!”

Muitos aguardam ansiosamente uma palavra, um telefonema, uma mensagem na internet, ou uma palavra de encorajamento que parece nunca chegar. Na medida em que envelhecem, a tendência à solidão torna-se ainda maior.

Existe ainda a solidão da dor, de gente que perdeu um ente querido, ou que tem que lidar com a doença crônica, deixando-as isoladas do seu mundo psicológico, ou em instituições. Existe ainda a solidão cósmica, que nos faz pensar que Deus não participa da história e que a vida não tem qualquer propósito.

Provavelmente foi a este tipo de gente que vivenciava a dor da solidão, que Deus tenha mandado seu profeta Isaias falar: “Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirão, nem a chama arderá em ti, porque eu sou o senhor teu Deus”. Nunca precisamos tanto de Deus quanto neste século. Olhar para o universo e enxergar um Ser soberano e amoroso, e não o caos; e nesta relação mística vivenciar um Deus que busca se relacionar amorosamente com o homem, sem dúvida, é um dos maiores antídotos para enfrentar o desespero da solidão.

domingo, 18 de novembro de 2012

O desamparo de Deus


 
Na cruz existe um angustiante brado de Jesus: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparastes?”. Para alguns, este lamento reflete apenas o sentimento que Cristo experimenta ali na cruz, não que Deus de fato o havia abandonado, mas sim uma sensação de esquecimento que ele enfrenta na solidão do calvário.

Você mesmo deve ter experimentado este senso de orfandade e solidão. Quantas vezes ouvi pessoas dizendo que Deus se esqueceu delas, e que não sabem se Ele tem conhecimento das coisas que lhe estão acontecendo. Personagens bíblicos como Habacuque, Jó, também relatam este mesmo sentimento de abandono. Jeremias chegou a exclamar: “Serias tu para mim, como um ilusório ribeiro de águas, como águas que enganam?”. O salmista várias vezes expressa também esta sensação de abandono. “O teu Deus, onde está?”.

No livro The magnificent defeat (A esplêndida derrota), Frederick Buechner escreve: “Pois o que precisamos saber, é claro, não é apenas que Deus existe, não apenas que além do brilho metálico das estrelas há uma inteligência cósmica de alguma espécie que mantém o espetáculo em andamento, mas que há um Deus aqui no centro de nossa vida cotidiana, um Deus que pode não estar escrevendo mensagens a respeito de si mesmo nas estrelas, mas está, de um modo ou de outro, tentando passar mensagens pela barragem da nossa cegueira, enquanto nos movemos aqui em baixo mergulhados até os joelhos nos fragrantes estrumes, mistério e maravilha do mundo. Não é prova objetiva da existência de Deus o fato de que não queremos alguma coisa além de experimentar a presença de Deus. Esse é o milagre que na verdade buscarmos, e é também, creio, o milagre que na verdade obtemos”.

Em determinados momentos de nossa vida, Deus parece desaparecer. Naturalmente Deus não cochila nem dorme, ele é o guarda de Israel. Quando tudo parece perdido, o encontramos nos lugares mais inusitados, como Agar, que no desespero foge de casa indo para o deserto e ali encontra Deus, e isto a impacta: “Certamente este é um Deus que vê”. Quando Jesus afirma "Deus meu, Deus meu; por que me desamparaste” ele poderia estar expressando este sentimento de desamparo. Aqui vemos o Filho de Deus, uma das três pessoas da Trindade, bradando ao Pai e perguntando sobre o sentimento de abandono que enfrenta. Aqui vemos Deus abandonando a Deus, mas este mesmo Salmo 22, que é agora citado por Jesus na sua humilhação na cruz, diz o seguinte: “Pois não desprezou, nem abominou a dor do aflito, nem ocultou dele o rosto, mas o ouviu quando lhe gripou por socorro” (Sl 22.24).

 

 

domingo, 4 de novembro de 2012

A hora e a vez dos “gringos“


 

Fiquei surpreso recentemente ao jantar num ótimo restaurante da cidade cujo proprietário é meu amigo quando ele me afirmou que dos 30 funcionários que ele contratou nas suas empresas, 50% é estrangeiro. Por ter vivido fora do Brasil como imigrante por quase 10 anos, esta nova onda migratória feita agora, inversamente me chama a atenção. Nas décadas de 80 e 90, cerca de 3 milhões de brasileiros deixaram o país em busca de melhores condições de emprego, sendo que só nos EUA eram cerca de 1 milhão, com quase 80% na ilegalidade. Pelo fato deste fenômeno estar mais próximo de nós do que imaginávamos, resolvi estudar um pouco desta matéria.

A verdade é que, com a falta de perspectivas de trabalho no Velho Continente, muitos profissionais qualificados estão tentando se estabelecer no Brasil. A economia inglesa, uma das maiores do mundo, tem apresentado os piores índices econômicos dos últimos 100 anos. Números da Eurostat dão uma dimensão real do problema. A taxa de desemprego da Europa é de 11.1%. Situações de paises como a Espanha assustam: 24.6% de desemprego, e entre os jovens, chega a 52.1%. Na Grécia, a taxa já se encontra em torno de 21.9%.

Existem várias causas históricas: As conquistas sociais foram imensas nos tempos de abundância. Na França, cuja expectativa de vida é de 82 anos, homens e mulheres se aposentam aos 60 anos. Com o envelhecimento da população, e baixa taxa de natalidade (1.2%), quem vai continuar financiando as aposentadorias?

A Europa também enfrenta problemas com riquezas naturais, na sua maioria já exploradas, e com pequenas e caras áreas de plantio e mão de obra. A agricultura na Franca só sobrevive por causa dos subsídios que o governo dá aos pequenos proprietários. Numa época em que as commodities de sementes se tornaram tão valorizadas, pequenos países sofriem com a competição internacional. Outro fator a ser considerado é que a Europa viveu durante séculos recebendo recursos das colônias. Para se ter uma idéia, os ingleses eram donos, literalmente, de metade do mundo há 150 anos atrás.

O que podemos esperar com a vinda dos gringos para a “Terra Brasilis?“. A maioria tem ótima qualificação profissional. Dos imigrantes europeus que receberam vistos permanentes no Brasil, 26.6% são investidores, 36% administradores e diretores, e os outros 37% em diversas áreas. Isto traz um ganho imenso em tecnologia, treinamento e mentoria. O risco, é que estejam buscando lucros a curto  prazo para logo retornar para seus países com os dividendos. Outro ganho é o da diversidade cultural. Ver e dialogar com diferentes cosmovisões ajuda o amadurecimento democrático. Tanto os estrangeiros quanto nós, temos a oportunidade de um mútuo aprendizado.

Do ponto de vista da fé, somos encorajados a não maltratar os estrangeiros. Esta é uma exortação muito presente nas Escrituras Sagradas, formando o que chamamos de “teologia do imigrante“. Somos convidados a acolher, proteger seus direitos e ajudá-los na inserção cultural. Jesus, que nasceu numa cultura auto absorvida e etnocêntrica, estava sempre escandalizando seus compatriotas judeus, ao conversar com mulheres de outros países como a Samaritana e a Siro-fenicia, bem como por exaltar a fé do centurião romano, afirmando que era maior do que a dos judeus, e contando parábolas que exaltava a boa conduta dos samaritanos. Este permanente acolhimento pode ajudar muito aqueles que chegam, nesta desafiadora transição migratória.

 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Os pequenos prazeres da vida


 
 

Com o passar do tempo, vamos descobrindo que o que realmente nos dá prazer não são coisas sofisticadas e caras, mas coisas muito simples. Meu irmão mais velho, com o seu pragmatismo característico, costuma afirmar que, para uma criança de 4 anos, tanto faz estar na Disney World ou brincando numa piscina de plástico no fundo do quintal de um amiguinho ou na casa da avó; diz também que a alegria dos pais é ter a casa com os filhos e netos... Seria verdade sua afirmação ou apenas simplismo?

Num mundo frenético por aventuras e adrenalina, ansiosos por novas formas de prazer e diversão, precisamos aprender a descobrir os pequenos prazeres que realmente nos dão alegria. Um amigo me comentou que havia pensado dar uma grande festa ao completar seus 70 anos, mas que agora está repensando, porque gostaria de ter nesta festa apenas as pessoas que ele realmente gostaria de ter, mas não sabe como fazer...

Uma pessoa idosa escreveu que, à medida que gradualmente perdia a audição, pensava no prazer da pessoa querida, no canto dos pássaros, no vento e no barulho da chuva; com a perda gradativa da visão, passou a pensar no prazer da leitura de um livro, na beleza do céu estrelado e da lua cheia, no charme do por de sol, no canteiro de flores; à medida que sua dieta se tornava cada vez mais frugal, pensava nos prazeres da comida simples e bem preparada – num feijão feito na hora, num almoço agradável com a família e amigos. Desta forma, ia descobrindo prazeres que a vida proporcionava e aprendia a agradecer a Deus por toda as dádivas que havia recebido.

Cada um possui pequenos prazeres na vida. Alguns se permitem desfrutar dos mesmos, outros encontram dificuldades para vivenciá-los. Para mim, um dos maiores prazeres é estar com a família, acampado à beira do rio na fazenda de um dos meus irmãos. Tudo é muito simples, mas nada é tão reconfortante e salutar para minha alma. Felizmente minha esposa compartilha do mesmo hobby. Isto potencializa minha alegria.

Muitas vezes gastamos muito dinheiro em extenuantes viagens e caros hotéis, mas não temos sido capazes de celebrar. Eventualmente coisas simples, feitas com alegria e singeleza de coração trazem grande contentamento. Tenho encontrado amigos que se sentem completamente sem estresse depois de uma caminhada numa estrada de chão, outros de apenas assentar-se do lado de fora de sua casa e contemplar o céu estrelado. O ponto não é o que você faz, mas quanto prazer você encontra no que faz...

Com o passar do tempo, a gente perde a fantasia de viver para os outros, e descobre que, a vida é essencialmente simples, e que a temos complicado demais... Certamente existe um novo jeito de viver e contemplar a vida. Por isto Jesus dizia: “Observai as aves dos céus... Os lírios do campo”. Afinal, “do luar, não há mais nada a dizer; a não ser, que a gente precisa ver o luar”. 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Marketing e realidade


 

A propaganda tem objetivos específicos: Despertar desejos e gerar necessidades. Para que isto se dê suas propostas sao mais que atraentes: "voce é feito para quê?” (tag heuer) Sugerindo que sem o referido produto, você ainda não se tornou aquilo para o que foi feito, enquanto ser humano.  "Just do it!" (Nike). Dando a impressão de que o que você precisa é adquirir seus produtos. "Onde os seus sonhos se tornam realidade" (Disney World), fazendo-nos pensar que estando nos seus parques, a vida se realiza por completo. Ao ver todas estas sugestões, um pai cristāo costumava brincar com seus filhos dizendo: "Não acredite neles, eles estāo querendo nos enganar". Jacques Ellul, um dos meus autores prediletos, teólogo francês, sugere que uma das bestas do apocalipse é a propaganda. Chego a pensar que ele estava certo...

A propaganda gera desejos e cria necessidades. Depois de algum tempo ouvido e vendo suas imagens, você tem a impressão de que realmente precisa daquelas coisas. Esta é a razão pela qual sabiamente as propagandas de cigarro foram tiradas da televisão. As novas gerações viam os charmosos carros, cavalos, mulheres e homens tão perfeitos e os associavam sua felicidade e sucesso ao uso do cigarro.

Depois de ver um relógio tagheuer e um produto da apple sendo atrativamente oferecido, somos atiçados pelos sons e imagens e desejamos o mesmo. Steve Jobs afirmou que não lhe interessava saber o que as pessoas queriam para criar um novo produto, mas que fazia os produtos e convencia as pessoas de que era exatamente isto que elas precisavam. Seus produtos iriam convencer ao público do que ele queria. Entrevistas recentes com Jovens que usam Iphone mostram que alguns deles prefeririam morrer a ter que viver sem este objeto de desejo e consumo.

A disposição dos produtos nas prateleiras dos supermercados, os sons, cores e imagens a eles associados, são cuidadosamente planejado pelos marqueteiros. Até mesmo os políticos, se tornam desejados por nós como foi feito na eleição do então desconhecido Collor de Mello.

A forma que um produto nos é oferecido, nos conduz a um velho caminho já apontado na gênese da raça humana. A velha serpente criou necessidades e gerou descontentamento, desejos e suspeitas no Éden. Eva tinha tudo, mas mesmo assim, quando um novo e atraente produto foi empacotado num argumento sugestivo, sua vida se tornou um inferno. Ela tinha todas as coisas, exceto uma; Satanás sugeriu que exatamente aquela que ela nāo tinha é que lhe fazia falta. Portanto, é possível estar no paraíso e ainda ficar insatisfeito por causa de uma propaganda.

Nossos pais aceitaram a sugestāo da serpente e nāo creio que conseguiríamos resistir à tentaçāo se estivessemos no lugar deles. Ofertas bem menos sugestivas nos tem sido feitas e facilmente temos anuído à elas. O marketing ulptrapassa a realidade,concebe a utopia e faz-nos sentir incompletos, mesmo tendo tudo o que temos e muito mais do que precisamos.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Marketing e realidade





A propaganda tem objetivos específicos: Despertar desejos e gerar necessidades. Para que isto se dê suas propostas sao mais que atraentes: "voce é feito para quê?” (tag heuer) Sugerindo que sem o referido produto, você ainda não se tornou aquilo para o que foi feito, enquanto ser humano. "Just do it!" (Nike). Dando a impressão de que o que você precisa é adquirir seus produtos. "Onde os seus sonhos se tornam realidade" (Disney World), fazendo-nos pensar que estando nos seus parques, a vida se realiza por completo. Ao ver todas estas sugestões, um pai cristāo costumava brincar com seus filhos dizendo: "Não acredite neles, eles estāo querendo nos enganar". Jacques Ellul, um dos meus autores prediletos, teólogo francês, sugere que uma das bestas do apocalipse é a propaganda. Chego a pensar que ele estava certo...

A propaganda gera desejos e cria necessidades. Depois de algum tempo ouvido e vendo suas imagens, você tem a impressão de que realmente precisa daquelas coisas. Esta é a razão pela qual sabiamente as propagandas de cigarro foram tiradas da televisão. As novas gerações viam os charmosos carros, cavalos, mulheres e homens tão perfeitos e os associavam sua felicidade e sucesso ao uso do cigarro.

Depois de ver um relógio tagheuer e um produto da apple sendo atrativamente oferecido, somos atiçados pelos sons e imagens e desejamos o mesmo. Steve Jobs afirmou que não lhe interessava saber o que as pessoas queriam para criar um novo produto, mas que fazia os produtos e convencia as pessoas de que era exatamente isto que elas precisavam. Seus produtos iriam convencer ao público do que ele queria. Entrevistas recentes com Jovens que usam Iphone mostram que alguns deles prefeririam morrer a ter que viver sem este objeto de desejo e consumo.

A disposição dos produtos nas prateleiras dos supermercados, os sons, cores e imagens a eles associados, são cuidadosamente planejado pelos marqueteiros. Até mesmo os políticos, se tornam desejados por nós como foi feito na eleição do então desconhecido Collor de Mello.

A forma que um produto nos é oferecido, nos conduz a um velho caminho já apontado na gênese da raça humana. A velha serpente criou necessidades e gerou descontentamento, desejos e suspeitas no Éden. Eva tinha tudo, mas mesmo assim, quando um novo e atraente produto foi empacotado num argumento sugestivo, sua vida se tornou um inferno. Ela tinha todas as coisas, exceto uma; Satanás sugeriu que exatamente aquela que ela nāo tinha é que lhe fazia falta. Portanto, é possível estar no paraíso e ainda ficar insatisfeito por causa de uma propaganda.

Nossos pais aceitaram a sugestāo da serpente e nāo creio que conseguiríamos resistir à tentaçāo se estivessemos no lugar deles. Ofertas bem menos sugestivas nos tem sido feitas e facilmente temos anuído à elas. O marketing ulptrapassa a realidade,concebe a utopia e faz-nos sentir incompletos, mesmo tendo tudo o que temos e muito mais do que precisamos.

Nas mãos de Deus





Existe um diálogo de Jesus e Pedro, registrado pelo evangelista Lucas, que sempre me assusta. Jesus diz a Pedro que Satanás o havia “requerido” junto ao Pai celestial para peneirá-lo como trigo (Lc 22.31-34).

Dois aspectos a se considerar:

1. Satanás quer peneirar a Pedro. Esta é uma linguagem pesada. Usa-se a peneira para sacolejar e balançar a semente. Esta é a solicitação do diabo. Ele quer mexer com a vida daquele discípulo, e a forma como Jesus descreve a ação de Satanás não nos parece ser algo muito confortável.

2. Satanás faz um requerimento a Deus, pedindo autorização para seu intento. Isto parece me dar um certo alívio. Afinal, já que é certo que Satanás é o adversário de minha alma, fico mais confortável em saber que ele quer me roubar, destruir e matar, mas não tem poder de decidir o que será feito de minha vida. Ele somente a tocará se Deus autorizar explicitamente que isto se dê, como aconteceu na vida de Jó. Satanás só pode fazer algo contra ele, diante da autorização de Deus, e só pode ir até a área delimitada pelo próprio Deus.

A Bíblia afirma que “Aquele que é nascido de Deus, Deus o guarda, e o maligno não lhe toca” (1 Jo 5.18). Afirma ainda que “o Senhor é fiel, e nos confirmará e guardará do maligno” (2 Ts 3.3) e que “maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo” (1 Jo 4.4). Quando entregamos nossa vida a Cristo, somos lavados pelo seu sangue, e a cobertura de Cristo sobre nós nos livra de toda ação do inimigo.

Jesus conclui o diálogo com Pedro afirmando que estava orando por sua vida. Que havia rogado por ele. Sinto-me ainda mais confortável em saber que Jesus vela por mim, e isto é motivo de toda alegria para aquele que, mesmo sentindo-se ameaçado pelo diabo, pode descansar seguro à sombra do Onipotente.

domingo, 9 de setembro de 2012

Independência e seus colaterais





No dia 07 de Setembro, celebra-se no Brasil o dia da independência, data sempre muito celebrada, apesar de que hoje, numa nova leitura da história, alguns destes supostos heróis como D. Pedro I, sejam extremamente questionados. Afinal, ele declara independência de Portugal, mas era herdeiro legítimo da coroa e continua governando o país. Anos mais tarde, retorna para Portugal para assumir também o trono de lá e abre mão do Brasil. Muito complicado! Por esta razão, os vizinhos do Brasil demoraram a reconhecer a legitimidade desta independência... Com razão! Independência é realmente importante para ser feito no grito, mesmo que do Ipiranga.

A independência tem seus efeitos colaterais. Um deles é a dependência. Somos uma sociedade dependente: De aprovação, aclamação, reconhecimento. Por isto se barganha valor, dinheiro, caráter, fé e dignidade. Droga não é apenas crack! Temos os viciados em poder, pornografia, presos e dominados por obras malignas, ideologias, preconceitos. Podemos incluir nesta lista os que estão viciados no álcool, internet, drogas, alimentação, e até mesmo saborosas delícias como chocolates e doces.

Existem ainda os co-dependentes. A força da co-dependência é fortíssima e refere-se a pessoas que são compulsivamente dependentes de outros. Apenas reagem a comportamentos, dores e problemas dos outros, num esforço para equilibrar o sistema, acobertar comportamentos neuróticos e manter a paz. Co-dependentes assumem responsabilidade pela ação e emoção dos outros, culpando a si mesmos pelos seus comportamentos inapropriados. Encontram ainda grande dificuldade em confrontação e freqüentemente querem ser pacificadores. Como resultado, tornam-se depositários de ira reprimida e frustração.

O cenário mais feliz é da interdependência. Todos precisam se relacionar já que ninguém pode viver sozinho. Precisamos um do outro, mas não para nossa sobrevivência, já que não somos satélites de ninguém; por outro lado, não nos relacionamos para sufocar, controlar e manipular. Existe uma troca e desenvolve-se alteridade. Isto é interdependência. É bom estar com o outro, mas não dependo dele para viver. Neste cenário surgem amizades sinceras e profundas, e criam-se vínculos de amor e respeito.



Simplicidade





Não é fácil viver de forma simples. A sociedade pós-moderna, tecnocrata, burocrata e digitalizada se sofisticou demais. Não nos basta ter uma bolsa de boa aparência, funcional e prática para nos servir, precisamos de um “guarda roupa” apenas para guardá-las, cada uma mais cara que outra, e que sejam de grifes famosas. Não nos basta ter sapatos que protejam os pés, precisamos de vários modelos, diferentes estilos e cada vez mais caros para ocupar os espaços cada vez mais entulhados da casa. Esquecemos da famosa afirmação de Johannes Kepler: “A natureza ama a simplicidade e a unidade”.

Por sofisticarmos a vida, nos tornamos pesados nas exigências que nós mesmos criamos ou que criaram para nós. Kirk Douglas, conhecido ator, chegou a afirmar certa vez: “Sou mais feliz que meus filhos, eu nasci pobre”. Não é sem razão que o saudosismo poético das músicas caipiras de raiz, falam tanto desta idéia de uma casinha no campo, com uma rede para dormir, uma vara para pescar, etc. É uma referência clara a todo este anseio pela simplicidade. E para ser honesto, tem sido muito difícil voltar...

Alguns princípios devem ser adotados se quisermos viver uma vida com simplicidade. Vou apenas citar alguns valores que nos apontam para uma compreensão mais profunda desta realidade que precisa ser buscada e desejada por nós:

A. Aprenda a viver com contentamento e confiança – Nossa tendência é sempre maior para a murmuração e preocupação. O princípio bíblico: “Seja a vossa vida sem murmuração ou contendas” e “alegrai-vos com o vosso soldo”.

B. Liberte-se das garras da cobiça – Aprender a viver com aquilo que é bastante, conforme afirmou Hans Burke: “Mais da mesma coisa nos deixa no mesmo lugar”. O princípio bíblico a ser lembrado: “O espírito de ganância tira a vida de quem o possui”.

C. Receba a provisão divina com gratidão – Aprenda a agradecer a Deus o que você tem. Ser agradecido faz todas as coisas melhores. O princípio bíblico está no exemplo de Jesus, que antes de multiplicar o pão, deu graças a Deus. Agradecer multiplica os recursos.

D. Use o dinheiro sem abusar dele – Bem estar não é definido por acúmulos de bens e riqueza. A ONU está redefinindo a riqueza de uma nação, não pelo PIB que ela produz, mas pelo IDH. “Melhor é o prato de hortaliças e com ele amor, que o boi cevado, e com ele o ódio”.

E. Dê alegre e generosamente – Quando olhamos com simpatia e graça para quem possui menos, nos libertamos de nós mesmos e de nossa obsessão em possuir e acumular. Dar, antes de ser um fardo, deve ser visto como privilégio. Disse Jesus: “Mais bem aventurado é dar que receber”.

domingo, 26 de agosto de 2012

Experimentando Deus prá valer!





Karl Rahner, teólogo católico, fez esta ousada declaração: “Nos dias que se seguem, ou você será um místico (alguém que experimentou Deus para valer), ou simplesmente nada”.

O grande problema das pessoas que tem se aproximado de Deus, é que elas ainda insistem em manter uma vida superficial com Deus, ou como afirmou Billy Graham, querem manter uma vida espiritual confortável a um ponto de não serem incomodadas por Deus. Queremos Deus de forma ambivalente, vivemos um ateísmo prático, professando nossas convicções sobre a divindade, mas não deixando que este Deus nos transforme de forma profunda e íntima.

Eu não sei se você já teve a mesma crise de A. W. Tozer: “Estou perfeitamente consciente de que necessito de mais graça. Envergonho-me de não possuir fome maior... tenho sede de tornar-me mais sedento ainda?” Esta angustiante necessidade do Sagrado, prá valer, também pode ser encontrada na oração do Salmista: “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma” (Sl 42.1).

É exatamente nesta convergência histórica que me encontro. Nesta angustiante necessidade de Deus, em choque com minha displicência, com minha preguiça espiritual, falta de disciplina, e esta necessidade de me tornar “mais sedento ainda”.

Quando cheguei a Anápolis, o nosso querido diácono Ítalo Simeão Correa, me advertiu solenemente: “Pastor Samuel, não deixe de beber água, mesmo que o senhor não sinta sede, pois o clima de Anápolis por não ser úmido, leva nosso organismo a não sentir necessidade de água”. Este conselho tem valido um bocado. Acho que preciso expandir esta forma de pensar para o meu universo simbólico, ligado ao sobrenatural e à Deus. “Preciso beber mais de Deus, preciso da graça da Deus. Preciso experimentar Deus prá valer”

Existe certo e errado?





O período que vivemos na história tem sido chamado de Pós Modernidade. Esta discussão, porém, não tem sido unanimente aceita, porque isto implicaria em reconhecer que a “modernidade” já não é tão moderna assim... Outros ainda acreditam que a pós modernidade já passou e estamos em outro período da história, ainda não definido.

Um dos grandes problemas de nossa geração, sub-produto desta era, é de natureza ética. Por que devemos fazer isto e não aquilo? Será que existe alguma coisa que podemos chamar de “certa” ou “errada”? Como podemos afirmar que um determinado posiciamento moral é aceitável, se achamos que cada um pode fazer o que pensa e não tem que dar satisfação a ninguém?

A ética (comportamentos, atitudes, moral), não surge no vácuo, passa antes por uma questão filosófica. O nosso fazer é precedido por um pensar. Podemos ter um pensar meramente intuitivo, mas ainda assim, um pensar. Três palavras caracterizam o nosso tempo: Pluralismo, Relativismo e Subjetivismo.

Em 1942, C. S. Lewis, escreveu um artigo sugestivo: “O certo e o errado como chaves para a compreensão do sentido do universo”. Ele afirma que todos nós já vimos pessoas discutindo: "Você gostaria que fi¬zessem o mesmo com você?"; "Desculpe, esse banco é meu"; "Por que você teve de entrar na frente?"; "Dê-me um pedaço da sua laran¬ja, pois eu lhe dei um pedaço da minha";" Essas coisas são ditas todos os dias por pes¬soas cultas e incultas, por adultos e crianças.

Para Lewis, o que interessa é que o homem que os faz não está apenas expressando o quanto lhe desagrada o comportamento de seu interlocutor; está também fazendo apelo a um padrão de compor¬tamento que o outro deveria conhecer. E esse outro rara¬mente responde: "Ao inferno com o padrão!" Quase sem¬pre tentando provar que sua atitude não infringiu um pa¬drão, ou que, se infringiu, ele tinha uma desculpa para agir assim.

Este é o argumento que ele chama de Lei Natural. Está claro que os envolvidos na dis¬cussão conhecem uma lei ou regra de conduta leal, de comportamento digno ou moral, com a qual efetivamente concordam. Se não conhecessem, não poderiam "dis¬cutir" sobre isto. A intenção da discussão é mostrar que o outro está errado. Existe uma lei de dignidade de comportamento.

O que acontece a uma geração ou sociedade, quando resolve abrir mão de valores e princípios, e relativizar a ética?

Nossas famílias, e de forma especial, nossos filhos, estão sofrendo esta ausência de fundamentos, um lugar sólido em que possam pisar e se sentir seguros. A grande crise, na verdade, não é dos filhos, mas dos pais. Sua visão de mundo, de Deus, de ética, de valores e princípios, está sendo construída ou desconstruída no que lhes ensinamos, de forma direta (discurso), ou velada (exemplo).

Perdemos a noção de certo e errado. Afirmamos que cada um faz do jeito que achar melhor, mas esta ausência de valores não apenas é filosoficamente errado, mas eticamente desastrosa.

Filhos precisam de parâmetros, lares precisam de fundamentos, sociedades precisam de leis e regras. Quando isto não acontece, surge angústia, confusão e caos. O problema é que “nenhum ponto finito faz sentido, se não estiver conectado a um ponto infinito” (Sartre). O fundamento, para ser legitimado, tem que estar fora de nós mesmos.

Para alguns, o absoluto pode ser encontrado em Deus. Para outros, não existe absoluto, mas o caos, já que Deus é uma mera projeção. Onde você tem fundamentado seu construto? Onde você tem encontrado suas referências? Sem este ponto infinito, não faz sentido algum dizer que algo é certo ou errado, mas quando este ponto é encontrado, é impossível deixar de considerar princípios e valores absolutos.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A Igreja do Século XXI





“Somos jovens num mundo velho, a pregar novos ideais, do mesmo evangelho, que pregaram nossos pais”. Esta é a letra do Hino Oficial da Mocidade da Igreja Presbiteriana do Brasil. Pregar velhos ideais com roupagem e metodologia nova, não é uma tarefa fácil. Confundimos essência com acidente, temporal com eterno, forma com conteúdo, e por isto encontramos enorme dificuldade em traduzir o “mesmo Evangelho”, com roupagem atual. Este é o desafio de uma igreja que completa 58 anos. Que rosto a missão deve assumir nos anos que virão? Que propostas devem ser consideradas para que o evangelho continue sendo relevante?



1. A igreja do Século XXI deve ser contextualizada. Precisa estar conectada com o momento particular que vive. As mudanças de paradigmas nas programações e nos eventos e as tendências e questionamentos que normalmente pairam no coração de nossos filhos devem ser respondidas. Novas abordagens e leituras eclesiais precisam ser elaboradas. Se a igreja deseja ser relevante em nossos dias, precisa interpretar o Evangelho à luz dos eventos cotidianos;



2. A igreja do Século XXI precisa investir em liderança emergente – O desafio encontra-se em reciclar os líderes existentes e desafiar pessoas novas a assumir seu lugar no Reino. Há muito potencial escondido em nossa comunidade, que precisa assumir seu lugar no Reino de Deus.



3. A igreja do Século XXI, deve ser acolhedora – Numa época de despersonalização e coisificação do ser humano, a receptividade da igreja, o acolhimento aos que chegam e a vida comunitária tornam-se extremamente relevantes. O que vai determinar a dinâmica da igreja, mais e mais, é o envolvimento comunitário e a capacidade de acolhimento.



4. A igreja do Século XXI, precisa ser generosa – Não pode ser uma comunidade voltada para seus próprios interesses, mas precisa refletir sobre a sociedade carente, dar resposta de amor/serviço, criar parcerias para abençoar os pobres e os que sofrem em nossa nação. Os membros da igreja precisam aprender a contribuir com alegria para a obra do Senhor, a fim de que a missão possa ser plenamente atingida.



5. A Igreja do Século XXI, precisa manter os fundamentos do Evangelho – Apesar dos desafios modernos, o Evangelho é o poder de Deus para salvação daquele que crê. Perder a centralidade da cruz significa trair a mensagem anunciada por Cristo. Devemos continuar “ao compasso dos tempos, mas ancorados na rocha” (MPC).

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Consciência





Uma boa consciência é fundamental. Um cristão não pode se dar ao luxo de tratar sua consciência sem cuidado, porque quando se rejeita a boa consciência, tratando-a com indiferença, corre-se o risco de sua cauterização, e a partir daí, fazer o mal sem perceber a gravidade da atitude, impedindo que ela funcione como um saudável alerta, que previne de erros. Consciência é como o termômetro do corpo, que ao ter uma infecção, revela-se na febre. Febre não é a doença, mas aponta para algo biologicamente errado. Quando a pessoa se sente culpada, e ainda assim continua cometendo o mesmo erro, corre o risco de mais tarde, cometer tais delitos e já não se sentir incomodado pelo que faz. Neste caso, perde-se a sensibilidade e se destrói a saúde da consciência, o termômetro da moral.

Precisamos admitir que ter boa consciência nem sempre é fácil. O que fazer numa sociedade que perdeu a compreensão do que é certo e errado e relativiza a ética? Vivemos dias em que é fácil se sentir culpado daquilo que não se é culpado ou se sentir absolvido de coisas que são erradas. É possível ter sentimento de culpa sem culpa e culpa sem sentimento de culpa.

Festo Kivengere, bispo Anglicano de Kigenl, Uganda, numa reunião de liderança eclesiástica, contou a seguinte história que impactou profundamente o auditório:

“Meu tio, o chefe de uma tribo, estava em reunião com o conselho da comunidade, quando um homem se aproximou do grupo e lhe fez uma mesura à maneira africana. Aquele homem possuía muito gado e todos sabiam na região que ele que também invocava espíritos demoníacos dizendo que era de parentes falecidos e dos ancestrais. Trouxera consigo oito vacas, que deixara a uma pequena distância do grupo que estava reunido”.

-"Vim, aqui por um motivo, Sr. chefe" disse ele.

-"Para que trouxe gado ?" Meu tio lhe indagou.

-"Senhor chefe, aquelas vacas são suas”.

-"Como minhas? Que quer dizer com isso?"

-"Elas lhe pertencem, quando eu tomava conta do seu gado, roubei quatro vacas. Elas agora são oito.Vim devolvê-las".

-"Quem o prendeu?" Perguntou o chefe.

-"Jesus me prendeu, senhor chefe, ali estão as suas vacas". Respondeu-lhe o homem sem titubear, mas com a cabeça baixa.

Ninguém riu, todos guardaram silêncio. Meu tio podia perceber que aquele homem estava em paz consigo mesmo e se sentia alegre.

-"Pode me prender ou mandar que eu seja açoitado" disse o homem, "mas estou liberto. Jesus veio ao meu encontro e agora sou um homem livre."

-"Bem, se Deus fez isto em sua vida, quem sou eu para prendê-lo? Vá para sua casa".

Dias mais tarde, tendo ouvido a respeito do caso, fui conversar com meu tio.

-"Tio, ouvi dizer que ganhou oito vacas de presente?"

-"Sim", confirmou ele, "realmente ganhei"

-"Deve estar satisfeito"

-"Nem fale nisto! Depois da visita daquele homem, não tenho dormido bem. Para conseguir a paz que ele alcançou eu teria que devolver cem cabeças de gado!"



O grande legado





O próximo domingo é o dia dos pais, e nada mais oportuno que falar de legado. Muitas pessoas confundem legado com herança. Legado são marcas de caráter e integridade que passam aos filhos e netos; princípios que são transmitidos na vivência familiar, muitas vezes de forma silenciosa, mas perceptível. Herança se relaciona a bens, posses e recursos. Qual tem sido o nosso legado?

William James declara que “o melhor uso que se pode dar à vida, é empregá-la em algo que sobreviva a ela”. Estamos deixando aos filhos um legado ou uma herança? O que dou aos meus filhos ou o que faço por eles não é tão importante quanto as marcas que deixo em suas vidas.

Legado é tudo o que você transmite hoje. “Tudo o que você é e possui hoje, de bom ou ruim, é o seu legado” (Paul Meyers). Os rastros silenciosos e sulcos da alma de nossos filhos e filhas é que realmente interessa, afinal, “nada que valha a pena fazer se completa durante nossa vida” (Reinhold Niebuhr).

Um bom legado possui algumas características: Primeiro deve se basear em princípios divinos. A referência de valor, ética e moral, se fundamenta em princípios eternos. Apesar de sermos uma sociedade que deseja negar absolutos, e que relativiza princípios essenciais, virtudes como amor, justiça, misericórdia, integridade, honestidade, nunca perdem sua validade. Não existe uma corte que juridicamente possa conspirar contra estes eternos princípios. Eles se firmam em Deus.

Segundo, deve produzir resultados duradouros. Quando nosso legado é superficial ou sujeito a questionamentos, ele se perde no julgamento da história e é ridicularizado com o passar do tempo. Governos injustos podem criar leis de injustiça e perversidade, mas serão implacavelmente julgados pelas futuras gerações. Gestos e comportamentos paternos de hoje serão submetidos ao crivo de filhos e netos que virão. Que resultados o meu legado produzirá na minha posteridade?

Um legado precisa ainda ser aplicável a todos. Ele é universal, e apesar das culturas e divergências das gerações ultrapassa a história e o tempo. Valores não perdem sua validade com o passar do tempo, o que é transitório não pode ser considerado um princípio. A verdade não está no novo nem no velho, mas no eterno.

Por isto é muito importante pensarmos sobre o legado que estamos deixando. A Bíblia afirma que “o homem de bem deixa legado aos filhos de seus filhos” (Pv 13.22). Paternidade se relaciona exatamente a este legado. Precisamos de pais, que formem identidade de valor, de cidadania e referência ética nas próximas gerações. Um grande país começa com grandes pais.

Sorvete é bom para a alma





O pai levou o filho de apenas seis anos ao restaurante, e ele perguntou se poderia agradecer a Deus o alimento. Quando curvaram a cabeça ele orou: “Deus é bom! Deus é grande! Obrigado Senhor pela comida, e eu vou lhe agradecer ainda mais se a mamãe me der sorvete para a sobremesa. Que todos possam ter liberdade e justiça. Amém!”

Algumas pessoas que estavam próximas e ouviram a oração, começaram a rir, mas uma mulher o criticou dizendo: “É isto que está errado com as crianças de hoje, elas banalizam a Deus. Crianças de hoje não sabem nem como orar. Como é possível pedir a Deus que lhe dê sorvete?”.

Ao ouvir isto, o garoto começou a chorar e perguntou: “Será que fiz alguma coisa errada? Deus está zangado comigo?”. O pai o pegou no colo e lhe assegurou que o que ele tinha feito fora maravilhoso e que certamente Deus não estava zangado, e um senhor idoso aproximou-se da mesa, fez uma brincadeira e disse: “Eu estou certo que Deus achou sua oração uma grande oração”. E o garoto perguntou: “Tem certeza?”. E ele respondeu: “Realmente você tocou meu coração”, e cochichando com ele disse de forma teatral. “Fico com pena dela, porque nunca pediu sorvete a Deus. Um pouco de sorvete é muito bom para a alma”.

Naturalmente os pais compraram o sorvete para o filho depois da refeição. Ele então olhou atentamente para o sorvete por alguns instantes, e depois fez algo que a gente jamais vai esquecer. Pegou o mesmo, e sem uma palavra, caminhou em direção àquela mulher e colocou o sorvete diante dela e com um grande sorriso disse: “Tome, é para você. Sorvete é muito bom para a alma, e minha alma já está bem”.

Não raramente fico surpreso com a forma amorosa como Deus nos trata. Deus tem enorme prazer em atender seus filhos, mesmo em coisas que são simples. Dois textos da Bíblia me fazem pensar desta forma: O primeiro, quando Jesus afirma: “Se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará coisas boas àqueles que lho pedirem”. Como um Pai, ele tem prazer em nos alegrar. O segundo texto diz o seguinte: “Agrada-te do Senhor, e ele satisfará aos desejos do seu coração”. Ele não está falando de necessidades, mas de desejos. A Bíblia afirma que Deus, através de Jesus, vai satisfazer cada uma de nossas necessidades, mas desejos nem sempre são necessários. Desejos são os “supérfluos necessários”, entre eles eu coloco o sorvete e o chocolate. Não precisamos deles para viver, mas dão enorme satisfação quando podemos desfrutá-los. Nesta categoria talvez você pense em outras coisas, igualmente agradáveis.

Lembre-se, porém, Deus ama você! Sorvete ainda continua sendo muito bom para a alma!





quarta-feira, 4 de julho de 2012

Por que os homens não crêem?

O Evangelho de João é o mais denso e profundo entre todos. Enquanto os demais se concentraram nas narrativas dos milagres, curas e atos de Jesus, os escritos joaninos deram ênfase aos discursos elaborados de Jesus. Em Jo 12.37-43, o evangelista dá duas explicações para a incredulidade e dúvida que pairava no coração dos ouvintes de Jesus, apesar de todas as evidências e milagres. A primeira razão era de natureza teológica; a segunda, prática. Natureza Teológica – O texto afirma que Deus “Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam salvos” (Jo 12.40). Então, muitos não creram por causa da eleição divina, pelo misterioso propósito de Deus de fazer apenas os seus escolhidos crerem. Esta afirmação é confirmada nos discursos de Jesus: i. Quando Pedro fez sua declaração de fé acerca da identidade de Jesus, ele lhe disse: “Bem aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne nem sangue quem te revelou, mas meu Pai que está nos céus” (Mt 16.17). ii. Jesus afirma peremptoriamente: “Não fostes vós que me escolhestes a mim: pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto” (Jo 15.16). Salvação é obra de Deus. A mesma visão encontra-se em muitos outros textos do Novo Testamento: i. Em At 13.48, no relato inspirado lemos: “E creram todos quantos haviam sido destinados à vida eterna”. ii. Em 2 Ts 3.2: “Porque a fé não é de todos”. iii. No controvertido texto de Rm 9, Paulo afirma: “Logo, tem ele misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz” (Rm 9.18). iv. O autor aos hebreus afirma que Jesus é o autor e consumador de nossa fé (Hb 5.9). Natureza prática: O segundo aspecto mencionado no texto de João é que alguns creram (fé não salvadora), mas não se comprometeram para não perderem benefícios humanos. Temiam ser expulsos da sinagoga, e queriam a reputação social e aceitação pública que recebiam. O problema destas pessoas é que “amaram mais a gloria dos homens do que a glória de Deus” (Jo 12.43). Neste caso, estavam convencidos da divindade de Cristo, tinham assertividade intelectual, mas não o seguiram porque isto implicava em perder privilégios humanos. Concluindo podemos afirmar: Fé é dom de Deus. O Espírito Santo é quem no-la concede. Faz parte dos decretos de Deus. Também é necessário que se pague o preço. Aquele que considera a glória humana mais importante que a de Deus, nunca se tornará um discípulo de Cristo.

Desafios da Igreja no Século XXI

A Igreja de Cristo sempre teve grandes desafios no decorrer da sua história, e em cada geração, teve que responder às questões e necessidades que surgiam. A Bíblia afirma que “tendo Davi servido à sua própria geração, adormeceu” (At 13.36). Ele não foi chamado por Deus para exercer seu ministério e testemunho em outra geração. Seu chamado era para seu tempo. No Século XXI, são inúmeros os desafios. Enumeramos alguns deles para refletirmos durante o mês Dia 1 de Julho: Desafio Apologético – Desafio Comunitário – Resgatando o sentido de viver em comunhão. Dia 8 de Julho: Desafio Missionário – Olhando o mundo como alvo do amor de Deus. Dia 15 de Julho: Desafio da Compaixão – Estendendo a mão aos que sofrem Dia 22 de Julho: Desafio Terapêutico – Curando as feridas de uma sociedade aflita. Dia 29 de Julho: Dando respostas honestas a perguntas honestas.

Espiritualidade Vazia

Muitas vezes nos surpreendemos com bizarras atitudes e comportamentos religiosos vazios, mas que são tão aceitos pela sociedade, e ficamos nos perguntando como é que o homem sem Deus tem esta propensão para o misticismo, mas não para Deus. “É uma marca dos que perecem, não reconhecer as coisas que conduzem à salvação”. Recentemente, lendo famosos sermões de grandes pregadores na história da igreja, me deparei com S. João Crisóstomo, um dos chamados “pais da igreja”, que recebeu a alcunha de “boca de ouro” pela sua eloqüência, sendo considerado o mais vibrante pregador depois da era apostólica, até os cinco primeiros séculos da igreja de Cristo. Ele nasceu em Antioquia (347-407), aceitou o evangelho pela influência de sua piedosa mãe, Anthusa, e foi ordenado sacerdote em 356, sendo posteriormente nomeado bispo. Ao lê-lo, apesar de tão distanciado no tempo, fiquei surpreso ao verificar como a sociedade de então, do ponto de vista espiritual, se parecia tanto com a atual. “De fato, uma noite densa oprime todo mundo. Isto é o que devemos combater e confrontar. É noite não apenas entre heréticos e filósofos, mas também nas multidões ao nosso redor, em relação às doutrinas e à fé. Muitos não crêem na ressurreição; muitos firmam suas vidas em horóscopos e aderem a superstições, augúrios e presságios. Alguns se agarram a amuletos e penduricalhos místicos”. O relato de Crisóstomo, no Séc. IV, é similar ao que presenciamos hoje. A nossa sociedade é mística e religiosa, mas ainda assim, pagã na sua essência, tola em suas crenças e convicções. A Palavra de Deus nos diz que “O deus deste século, cegou o entendimento dos incrédulos” (2 Co 4.4). Veja que este “Deus” está em letra minúscula, referindo-se a forças espirituais, entidades e demônios, que conspiram contra o verdadeiro Deus, atraem os homens à crendice, afastando-os da iluminação espiritual que vem do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Esta é a essência da espiritualidade vazia. Os ídolos não satisfazem a alma. Os ídolos nos seduzem e atraem, nos afastam de Deus e nos enganam.

Raízes de uma fé duradoura

Para Kurt Bruner e Steve Stroope, há quatro raízes para uma fé duradoura na vida familiar: 1. Nossa fé pessoal – Pais precisam ter convicções claras para transmitir aos filhos e netos. Muitos pais querem que os filhos creiam, mas eles mesmos não se comprometem com a fé cristã. Quando os pais estão realmente enraizados em Deus, os filhos aprendem em casa a amar a Bíblia, orar e se comprometer com o povo de Deus (2 Tm 1.5); 2. Nossa Identidade – A confusão nos papéis de meninos e meninas na sociedade atual tem a ver com o fato de que as famílias não possuem uma matriz segura. Identidade sexual é aprendida no exercício dos papéis que são vistos nos pais. Ali se forma a compreensão clara da graça e alegria em estar identificado com o chamado de Deus (Gn 1.27; 3. O caráter – Esta é a terceira raiz. Caráter é formado no ambiente em que se vive. Princípios, valores e exemplos são elementos que ajudam a delinear comportamentos e atitudes (Fp 2.22); 4. Propósito de vida – Toda pessoa deve ter um senso de propósito e família ajuda a construir este significado maior, que vai além de conquistas e acúmulos de bens. Lares cristãos precisam ensinar seus filhos que “o fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. Toda boa e frondosa árvore, precisa de raízes para que seus galhos cresçam com segurança. Por esta razão, a família precisa estar alicerçada em Jesus Cristo e nas suas palavras, para que a casa não venha a ruir diante dos vendavais.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Ebenézer

Depois de muitos anos, vivendo sob a liderança de juízes, eram líderes que se levantavam para restaurar o povo de Deus em Canaã, Deus suscitou um respeitável profeta cujo nome era Samuel. No livro de juízes, a frase que se repete parece um estribilho: “Naqueles dias não havia rei em Israel, cada um fazia o que queria”. O resultado era anárquico, gerando muita insegurança entre este povo nômade que estava tentando se consolidar como uma nação. Para firmar sua liderança, o profeta Samuel teve uma dura batalha contra os filisteus. A Bíblia diz que “Enquanto Samuel oferecia o holocausto, os filisteus chegaram à peleja contra Israel; mas trovejou o Senhor sobre os filisteus de tal forma, que foram derrotados diante dos filhos de Israel” (1 Sm 7.10). Para marcar esta vitória, Samuel tomou uma pedra e a pôs entre os territórios de Israel e dos filisteus dizendo: “Ebenézer...Até aqui nos ajudou o Senhor” (1 Sm 7.12). Hoje também estamos colocando um marco na caminhada da nossa igreja, inaugurando o Salão Social do novo prédio com o elevador já em pleno funcionamento. Para celebrar este encontro, gostaríamos de ter as pessoas que assinaram seus nomes na ata inaugural da igreja há 58 anos atrás, mas muitos já estão vivendo em outros condomínios, que são as moradas celestiais que Jesus lhes preparou, outros, contudo, por serem ainda muito jovens em 1954 ainda estão conosco: D. Branca de Siqueira Campos (adoentada); Dulce Rodrigues Santos; D. Geni Campos; Dr. Henrique Fanstone; D. Olinta Lisboa; D. Maria Helena Zayek. Além destes irmãos, alguns como Bill Fanstone, Dr. Joe e D. Jalma Wilding, começaram a nos abençoar desde entao. No ato inaugural deste salão, convidamos solenemente estes irmãos, para consagrarmos o Salão Social da Igreja, no intervalo entre o culto da manhã e a Escola Dominical, subindo até este novo e agradável local que utilizaremos para muitas atividades de nossa comunidade. “Ebenézer...Até aqui nos ajudou o Senhor”

A vida espiritual dos filhos

Nem todos pais estão preocupados com a realidade espiritual de seus filhos porque nem todos estão preocupados com a sua própria vida espiritual. Apesar de serem religiosos, muitos não estão realmente convencidos de que as questões relacionadas à realidade eterna são relevantes. Por outro lado, felizmente, muitos pais estão alertas quanto a este assunto. Kurt Bruner e Steve Stroope, pesquisaram este assunto e chegaram a conclusão de que muitas igrejas estão querendo mudar modelos de Escola Dominical e pedagogia para manter os filhos dos crentes na igreja, mas o fato é que mais da metade das crianças criadas na igreja, abandonam a fé na fase adulta. O que está errado? A conclusão da pesquisa é que o melhor local para formar a espiritualidade dos filhos ainda é o lar, e os melhores professores ainda são os pais crentes, por isto é necessário que os pilares da fé sejam estabelecidos com o culto familiar, já que a fé começa em casa. Deus resolveu criar um povo para seu louvor e ao entregar sua lei a Moisés, exigiu que o povo de Israel formasse a consciência espiritual das crianças em casa (Dt 6.4-9). O ambiente onde a fé haveria de florescer seria no lar, com os pais transmitindo aos filhos a estrutura da fé. O processo seria lento e árduo, mas o resultado efetivo e abençoado. Pais não devem transferir para a igreja a tarefa da educação religiosa e nem a responsabilidade de moldar o caráter dos filhos. Igreja ajuda, não substitui; orienta, mas não é decisiva. Pais passam em média 3000 horas/ano com seus filhos, enquanto a igreja, no máximo, 40 hs/ano. Igreja é apoio, mas não a responsável para transmitir uma vida espiritual madura e equilibrada aos filhos. Rev Samuel Vieira

Quando o que temos é bastante!

Nossa alma tem sempre um quê de insaciabilidade. Não é sem razão que a espiritualidade clássica considerou a gula como um dos pecados capitais, cuja matriz faz desabrochar outros tipos de pecados. A gula é conhecida por todos como o ato de comer mais do que é necessário. Mas a gula, não deve ser associada apenas a comida, a gula faz parte de todos os aspectos da vida. Geralmente vemos pessoas "gulosas" por poder, fama e dinheiro do que por comida. A gula se opõe à satisfação e ao desprendimento. Como pessoas que buscam uma espiritualidade saudável, precisamos "comer" apenas aquilo que precisamos, sem ficarmos empanturrados ou sofrermos uma congestão. Isto se aplica a todas as áreas da vida: trabalho, dinheiro, poder, sexo, etc. Estar ciente disto é fator importante para que não desperdicemos tempo demais da vida correndo atrás daquilo que já passou do limite ou do necessário. Não é fácil saber quando bastante é bastante. Perguntaram certa vez a Rockefeller, quando era o homem mais rico do mundo, quanto dinheiro a mais ele queria, e ele respondeu sarcasticamente: “Só um pouquinho a mais...!”. A gula é insaciável, e não é sem razão que os romanos nas suas orgias palacianas, instalavam pias vomitórias, para que as pessoas depois de exagerarem na comida, pudessem tocar na garganta, provocar vômito e assim voltar a comer. Recentemente fui informado que alguns povos yanomamis, no Norte do Brasil, possuem esta mesma cultura. A Gula Precisa de dose cada mais alta: comida/consumo/sexo/droga/pornografia/dinheiro... é uma forma de tentar encher-se com coisas, para satisfazer a ausência de sentido e aceitação. Pessoas mal amadas têm a tendência de comprar coisas para impressionar outros e para adquirir sentido; de comer muito e se empanturrar de roupas e mimos absolutamente supérfluos. No entanto, comida e brinquedos não possuem afetos, e os adultos ainda agem infantilmente quando continuam tentando encontrar outros “brinquedos”, eventualmente mais caros e sofisticados, como forma de encher o vazio. Por isto a Bíblia fala do contentamento. “Contentai-vos com o vosso soldo”, disse João Batista aos soldados romanos que se arrependiam de seus pecados e queriam mudar de vida. Isto se aplica a todos nós. Precisamos aprender quando o que temos é bastante, e nos regozijarmos no que temos.