Fiquei
surpreso recentemente ao jantar num ótimo restaurante da cidade cujo
proprietário é meu amigo quando ele me afirmou que dos 30 funcionários que ele contratou
nas suas empresas, 50% é estrangeiro. Por ter vivido fora do Brasil como
imigrante por quase 10 anos, esta nova onda migratória feita agora,
inversamente me chama a atenção. Nas décadas de 80 e 90, cerca de 3 milhões de
brasileiros deixaram o país em busca de melhores condições de emprego, sendo
que só nos EUA eram cerca de 1 milhão, com quase 80% na ilegalidade. Pelo fato
deste fenômeno estar mais próximo de nós do que imaginávamos, resolvi estudar
um pouco desta matéria.
A
verdade é que, com a falta de perspectivas de trabalho no Velho Continente,
muitos profissionais qualificados estão tentando se estabelecer no Brasil. A
economia inglesa, uma das maiores do mundo, tem apresentado os piores índices
econômicos dos últimos 100 anos. Números da Eurostat dão uma dimensão real do
problema. A taxa de desemprego da Europa é de 11.1%. Situações de paises como a
Espanha assustam: 24.6% de desemprego, e entre os jovens, chega a 52.1%. Na
Grécia, a taxa já se encontra em torno de 21.9%.
Existem
várias causas históricas: As conquistas sociais foram imensas nos tempos de
abundância. Na França, cuja expectativa de vida é de 82 anos, homens e mulheres
se aposentam aos 60 anos. Com o envelhecimento da população, e baixa taxa de
natalidade (1.2%), quem vai continuar financiando as aposentadorias?
A
Europa também enfrenta problemas com riquezas naturais, na sua maioria já
exploradas, e com pequenas e caras áreas de plantio e mão de obra. A
agricultura na Franca só sobrevive por causa dos subsídios que o governo dá aos
pequenos proprietários. Numa época em que as commodities de sementes se
tornaram tão valorizadas, pequenos países sofriem com a competição
internacional. Outro fator a ser considerado é que a Europa viveu durante séculos
recebendo recursos das colônias. Para se ter uma idéia, os ingleses eram donos,
literalmente, de metade do mundo há 150 anos atrás.
O
que podemos esperar com a vinda dos gringos para a “Terra Brasilis?“. A maioria
tem ótima qualificação profissional. Dos imigrantes europeus que receberam
vistos permanentes no Brasil, 26.6% são investidores, 36% administradores e
diretores, e os outros 37% em diversas áreas. Isto traz um ganho imenso em tecnologia,
treinamento e mentoria. O risco, é que estejam buscando lucros a curto prazo para logo retornar para seus países com
os dividendos. Outro ganho é o da diversidade cultural. Ver e dialogar com
diferentes cosmovisões ajuda o amadurecimento democrático. Tanto os
estrangeiros quanto nós, temos a oportunidade de um mútuo aprendizado.
Do
ponto de vista da fé, somos encorajados a não maltratar os estrangeiros. Esta é
uma exortação muito presente nas Escrituras Sagradas, formando o que chamamos
de “teologia do imigrante“. Somos convidados a acolher, proteger seus direitos
e ajudá-los na inserção cultural. Jesus, que nasceu numa cultura auto absorvida
e etnocêntrica, estava sempre escandalizando seus compatriotas judeus, ao
conversar com mulheres de outros países como a Samaritana e a Siro-fenicia, bem
como por exaltar a fé do centurião romano, afirmando que era maior do que a dos
judeus, e contando parábolas que exaltava a boa conduta dos samaritanos. Este
permanente acolhimento pode ajudar muito aqueles que chegam, nesta desafiadora
transição migratória.
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