quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O Desespero da Solidão


 

Michael Jackson, numa de suas raras entrevistas afirmou que se considerava o homem mais solitário do mundo. Sua lacônica e triste morte parece demonstrar o quanto a solidão existencial pode ser deletéria para a alma.

Solidão é nossa condição humana básica. Nenhum de nós é capaz de escapar de diferentes categorias e formas de solidão. Solidão é uma consciência voltada para si. Solidão também é conseqüência da tecnologia. Estamos numa das melhores fases da humanidade, grandes oportunidades, conforto e lazer, mas apesar de podermos viajar pelo mundo ainda estamos sós.

James Houston descreve a solidão como “a patologia da tecnologia”. Passamos a encarar a realidade como “coisa” externa. No séc. XIX, o homem tentou amenizar isto ao criar o conceito de mãe natureza. O romantismo começou inocentemente, mas esta inocência acabou na 1ª guerra e no fascismo como seu ponto culminante. Quando perdemos a compreensão de um sentido maior no cosmos, passamos a olhar o mundo como objeto. O sexo barato, negociado e barganhado é um destes exemplos. Achamos que ele vai nos tirar da solidão, e nos descobrimos ainda mais solitários.

Este é o paradoxo atual: podemos sobreviver sem precisar de Deus (secularismo), mas como conseqüência nunca fomos tão condenados à solidão. Desordens mentais como a paranóia e a esquizofrenia apontam para isto. Irving Yalom, no seu livro Quando Nietzsche chorou, afirma que “A solidão é um solo fértil para a doença”.

A sociedade moderna tem a grande capacidade de nos transformar em seres solitários e despersonalizados. Facilmente nos tornamos um número na selva de pedras e nos distanciamos uns dos outros com nossos apartamentos que parecem gaiolas e nossas casas com muros cada vez mais altos, cercas elétricas e uma placa invisível que diz: “Perigo, não se aproxime!”

Muitos aguardam ansiosamente uma palavra, um telefonema, uma mensagem na internet, ou uma palavra de encorajamento que parece nunca chegar. Na medida em que envelhecem, a tendência à solidão torna-se ainda maior.

Existe ainda a solidão da dor, de gente que perdeu um ente querido, ou que tem que lidar com a doença crônica, deixando-as isoladas do seu mundo psicológico, ou em instituições. Existe ainda a solidão cósmica, que nos faz pensar que Deus não participa da história e que a vida não tem qualquer propósito.

Provavelmente foi a este tipo de gente que vivenciava a dor da solidão, que Deus tenha mandado seu profeta Isaias falar: “Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirão, nem a chama arderá em ti, porque eu sou o senhor teu Deus”. Nunca precisamos tanto de Deus quanto neste século. Olhar para o universo e enxergar um Ser soberano e amoroso, e não o caos; e nesta relação mística vivenciar um Deus que busca se relacionar amorosamente com o homem, sem dúvida, é um dos maiores antídotos para enfrentar o desespero da solidão.

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