Nesta
semana buscava inspiração em frases sobre o natal, que podem facilmente ser
encontradas nos sites de busca da internet, quando percebi que em nenhum
momento, a memória popular associa natal ao nascimento de Cristo, mas apenas ao
papai-noel e às festividades.
Então,
fui para as páginas iniciais dos quatro evangelhos que narram o nascimento de
Jesus na Bíblia, o que geralmente faço todos os anos. Se você tiver interesse
em fazer estas leituras, abra a Bíblia nos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas
e João e leia seus capítulos iniciais.
Ao
ler estas páginas, me deparei com a conhecida narrativa do anúncio do anjo aos
pastores ao redor de Belém. Só então percebi como o natal se mostra subversivo
neste relato bíblico.
Em
primeiro lugar, porque transforma a vida monótona dos pastores, no seu cuidado
cansativo e repetitivo de vigiar ovelhas, no calor do dia e no frio da noite,
naquela inóspita região onde nada de excepcional acontecia, a não ser um
eventual ataque de predadores contra o rebanho. Agora, porém, os pastores se
tornam protagonistas de um evento que os coloca no epicentro da história que
passaria a ser contada todos os anos, ao redor do mundo. A vida cansativa e
tediosa encontra outra dimensão e sentido.
Em
segundo lugar, substitui o medo por alegria. Eles ficaram aterrados ao ver o
anjo que lhes diz: “Não temais! Eis que
vos trago boas novas de grande alegria que o será para todos os povos, é que
hoje vos nasceu na cidade de Davi, o salvador que é Cristo o Senhor”. Imediatamente
o pavor inicial se transforma em deslumbramento e encantamento – como isto é
revolucionário. Ao ler este relato fico pensando quantos estão vivendo nestes
dias acuados e desencorajados, ameaçados por pessoas e circunstâncias, e que
podem ser impactados por uma nova compreensão e sentido.
Em
terceiro lugar, porque substitui prepotência por humildade. O Rei dos reis
decide nascer, não num palácio, mas numa estrebaria; ele se associa não aos
nobres, mas aos campesinos; não se manifesta aos poderosos, mas aos que se
encontram na periferia da vida. No cântico de Maria, vemos claramente estas
afirmações: “Derribou do seu trono os
poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios
os ricos”.
Fiquei considerando tudo isto, e nas implicações
destes fatos para nossa história pessoal. Como o natal pode subverter o caos, a
tristeza, a prepotência, solidão e monotonia em nossos lares e em nossos
corações. Afinal, o natal historicamente se deu em Belém, num tempo e geografia
específicos; mas existencialmente acontece todos os dias, quando nos deparamos
espiritualmente com este menino que é o salvador, palavra sugestiva, já que não
se pode salvar quem não está desencontrado e perdido. E o Filho do Homem veio
exatamente para isto: Buscar o salvar aquele que perdeu o eixo da sua história,
e que pode refazê-la num encontro pessoal com a graça e presença deste Deus que
visitou nosso planeta.
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