sábado, 23 de abril de 2022

Não tenho tempo de morrer



 

Numa entrevista à radio Jovem Pan no dia 15/01/2021, o conhecido comentarista Boris Casoy falou sobre o tempo em que esteve isolado por causa da Pandemia do Covid-19. Ele afirmou que não saia de casa para nada há meses.  Aos 79 anos, comentou sobre o medo da morte. “ em casa, agora  preso, em prisão domiciliar desde março. Tenho medo de sair, tenho pavor de morrer. Não tenho tempo de morrer, sou muito ocupado e vou tocando. Estou inteiro, mais ou menos, ando mais devagar”.

 

Me chamou a atenção a frase: “Não tenho tempo de morrer.” Me fez lembrar da história de um homem, que ao observar que em sua cidade muitos dos seus amigos estavam morrendo, resolveu mudar-se para uma pequena cidade. Ao chegar ali, perguntou para um senhor na rua: “Há muita morte aqui?” E ele respondeu espontaneamente: “Não! Apenas uma para cada pessoa”.

 

Por acaso alguém, em sã consciência, tem “tempo para morrer?”. Além do mais, a morte requer tempo para que aconteça? Jesus certa vez afirmou: “Qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um minuto ao curso de sua vida?” Muitos dariam tudo para que pudessem ter um pouco mais de tempo de vida.

 

A ciência utópica fala até mesmo da criônica, que seria o processo de preservação em baixas temperaturas de humanos e animais que não podem mais ser mantidos vivos pela medicina contemporânea, na esperança de que a cura e reanimação sejam possíveis no futuro. A criopreservação  de pessoas ou animais não é reversível com a tecnologia atual, mas algumas pessoas supõem que poderão preservar seus corpos para serem recuperados no futuro com a utilização de uma tecnologia mais avançada

 

Tudo isto é uma tentativa desesperada de controlar a morte. Afinal, ninguém “tem tempo para morrer”. A morte, entretanto, não precisa de tempo nem de autorização de quem quer que seja para acontecer. E ela nos surpreende, porque deixamos para trás as contas para pagar, a viagem para fazer, os planos e metas estabelecidos. Para os que se acham insubstituíveis, é bom lembrar que o cemitério está cheio de pessoas insubstituíveis.  

 

A morte chega muitas vezes sem avisar, surpreendendo a todos. Muitas vezes dá sinais de sua presença, num processo longo de enfermidade ou no enfraquecimento natural do corpo. Ninguém tem tempo para a morte, mas ela não respeita a agenda cheia, os negócios importantes a realizar, a troca planejada do carro novo, os compromissos assumidos.

Como bem disse Toquinho:

“E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença, muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar.”

 

 

 

 

 

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário