sábado, 23 de abril de 2022

O Poder dos anônimos



 

Grandes guerras não são ganhas por nomes imortais, nem por generais, mas por anônimos soldados. Embora o nome dos generais sejam gravados na história, as batalhas são ganhas com sangue, suor e lágrima de aplicados e diligentes guerreiros que sacrificialmente se dedicam às árduas tarefas e duras jornadas de trabalho.

 

Na semana passada tive oportunidade de refletir sobre isto, a partir de um texto bíblico que fala de uma anônima menina que foi levada refém por Naamã, comandante do Exército no auge do domínio da Síria, e passou a servir como escrava na casa deste renomado guerreiro. Nós nem sequer sabemos seu nome, entretanto, ela se torna fundamental na narrativa. Naamã é admirado como General, mas levava consigo uma sentença de morte, pois é leproso, como muitos heróis públicos, frágeis na alma, enfermos no coração e na mente.

 

Quando ela percebe a situação de angústia na casa, embora estivesse numa condição de escrava, que poderia ignorar o sofrimento daqueles que a submeteram à subserviência, ela sugere uma solução estranha: “Se meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra.” Por causa de sua palavra, Naamã se encontra com Eliseu, o profeta, e é curado.

 

É o poder dos anônimos que se tornam agentes transformadores. Fico pensando no valor de tantos que são quase invisíveis aos olhos da sociedade, mas que fazem a roda girar, limpam as lojas, lavam banheiros, cortam a grama, constroem casas, fazem reformas servem o café, colocam graxa na engrenagem e tornam a condição humana adequada.

 

São pessoas simples, que cotidianamente se submetem a uma jornada de trabalho exaustiva para sustentar sua família, e sem as quais o bem estar na rotina empresarial seria inexequível. São produtores rurais de lavouras familiares, que plantam e colhem frutas e legumes que chegam às nossas mesas. Pessoas anônimas, mas valorosas, que não são sequer percebidas por nós, mas estão em todos os lugares, como verdadeiras formiguinhas na sua labuta diária.

 

Precisamos ter um olhar mais atento aos anônimos. Eles são indispensáveis não só pelo que fazem, e pelo serviço que prestam, mas acima de tudo, pelo valor intrínseco que possuem como seres humanos. O cristianismo dá um valor imenso ao ser humano enquanto ser, já que todos foram criados à imagem e semelhança de Deus. O seu valor não se encontra no que fazem, mas na dignidade essencial do ser humano. Os anônimos são esquecidos socialmente e muitas vezes desprezados, mas Deus não faz acepção de pessoas. Todos trazem em si esta bendita centelha divina e devem ser honrados.

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