Vivemos numa desenfreada busca pela saúde e bem estar. O que é importa é que o corpo esteja bem, afinal, “saúde é o que interessa. O resto não tem pressa.” Numa época da “geração saúde”, é comum ouvirmos termos complicados: “fisiculturismo”, por exemplo, é um termo contaminado: Estamos falando do culto ao físico. As academias se transformam em “átrios”, lugar sugestivo, que aponta para um espaço de adoração. O corpo é colocado em primazia.
Isto tem acontecido porque a economia capitalista absolutiza a sobrevivência. Com os recursos modernos da medicina e os hospitais de excelência, é possível prolongar a vida de uma pessoa por muito tempo, mesmo que seja artificialmente, e quando os sinais vitais já se encontram completamente comprometidos. As máquinas são capazes de manter a respiração, os órgãos podem, até certo nível, serem substituídos por aparelhos sofisticados, e o cérebro mantida à base de drogas e remédios de última geração. A saúde é divinizada.
A preocupação por uma vida boa pode dar lugar à histeria pela sobrevivência, mesmo que a vida se reduza a processos meramente biológicos, na qual não se pode morrer com dignidade e se prolonga artificialmente a existência. Desta forma, despe-se a vida de toda transcendência e significado maior, e a vida deve ser “prolongada a qualquer custo e com todos os meios, a saúde é elevada à nova deusa...estamos por demais vivos, para morrer, e por demais mortos para viver” (Byung-Chul Han).
Ter uma boa saúde é um exercício de disciplina e bem estar. Comer menos e de forma mais saudável, praticar exercícios, sair do sedentarismo, observar as taxas de colesterol, da glicose, do PSA, aferir de forma regular a pressão, são comportamentos que devem ser incorporados aos nossos hábitos, principalmente quando se chega à terceira idade. Mas não existe elixir da juventude. O envelhecimento não é desejável, mas é inevitável. Só existe uma forma de não ficar velho... basta morrer jovem.
O desespero pelo corpo perfeito, que exige cada vez mais uma obsessiva e frenética atividade esportiva; as esperançosas plásticas não corrigem as rugas do pescoço e as artrites inevitáveis. A questão não é apenas envelhecer com saúde, mas envelhecer sem neurose ou sem negar a idade. O corpo possui a marca da decadência e o componente da obsolescência física. Não dá para ser jovem aos 80. É preciso compreender e apreciar cada momento vivido. Não é possível eternizar-se, e ninguém fica para semente.
Colocar a mente e o corpo no lugar certo, traz leveza e graça. A vulnerabilidade e envelhecimento trazem sabedoria. O exercício de fé e compreensão da eternidade nos tornam humildes e nos obrigam a considerar a transcendência. Buscar a saúde e o bem estar é bom, mas compreender os limites é libertador e pode resgatar nossa fé e espiritualidade. Somos transitórios, e esta compreensão nos dimensiona para a eternidade.
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