sexta-feira, 29 de abril de 2022

É Possível Vencer a Ansiedade?

  



 

A preocupação com o amanhã pode nos adoecer ao ponto de perdermos toda a alegria e espontaneidade. Por esta razão Jesus exortou seus discípulos: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã porque o dia de amanhã trará os seus cuidados.” E Ele deu razões para não nos preocuparmos. Entre elas: “Qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um minuto à sua existência?” Em outras palavras, a ansiedade não ajuda em nada. Por conta disso alguém já havia satirizado: “A ansiedade é tão eficaz para resolver problemas quanto mascar chiclete para solucionar equações matemáticas.”

 

Estatisticamente, 90% dos problemas que hoje nos consomem não trarão nenhuma

 

consequência para nossas vidas e, na semana que vem, nem sequer nos lembraremos deles. Em geral, sabemos destas informações, mas isso, infelizmente, não é capaz de resolver a preocupação que rouba nosso sono e alegria, causando úlcera e câncer.

 

Fiquei surpreso ao ler o livro do empresário do ramo de seguros nos EUA Paul J. Meyer, intitulado "Unlocking Your Legacy". Na obra ele relata que conseguiu vencer a ansiedade. Como um empresário com uma carteira de 5 milhões de dólares conseguiu tal proeza? Ele disse que três testes são o bastante para dissipar o problema:

 

1.  Todos os fatos estão sobre a mesa? Isto é, todas as informações sobre o assunto foram consideradas e analisadas? Ao fazer isso, tem-se um olhar objetivo sobre a situação. E ao olhar dessa forma a ansiedade se dissipa. Em geral nós nos preocupamos porque não analisamos bem os fatos.


2. Eu realmente quero me preocupar com este assunto? Para estar de bem com a vida, permanecer saudável e ter paz interior, a preocupação não pode fazer parte da minha rotina. Então, ele decidiu não se deixar consumir pelas questões. Não podemos fazer da ansiedade um estilo de vida.


3.Deus quer que eu fique preocupado? Este é o teste final. Preocupação e confiança em Deus são excludentes. Ansiedade e fé são opostas. Ou seja, não podem andar juntas. Deus nos manda descansar e confiar e Jesus pede aos seus discípulos que não andem ansiosos, “porque o vosso Pai celestial sabe que necessitais de todas estas coisas", disse.

 

Portanto, não podemos ficar esperando pelo pior e, se alguma coisa ruim nos acontecer, teremos que lidar com coragem porque a vida vai continuar. De todo modo, não adianta preocupar-se antes da hora, afinal, não devemos atravessar o rio antes de chegar à ponte.

sábado, 23 de abril de 2022

Ministério da Solidão



 

Em 2018, Thereza May, primeira ministra da Inglaterra, criou o “Ministério da solidão” no seu governo. Ela descreveu a epidemia da solidão como “a triste realidade da vida moderna”, que afeta milhões de pessoas, causando enfermidades físicas, depressão e ansiedade e tem sido chamada de “A epidemia oculta”. Os números são impressionantes. Numa população de 65,6 milhões, mais de 9 milhões de pessoas dizem viver permanente ou frequentemente sozinhas.

 

Em 2021, o Japão também criou um ministério contra a solidão. Estatísticas apontam que 14% das pessoas mortas no país asiático que não dividiam moradia com alguém foram encontradas entre um e três meses depois do óbito. A pandemia aumentou consideravelmente o número de suicídios.

 

Estar sozinho não é a mesma coisa que sentir solidão. Às vezes ficar sozinho é se reconectar, uma busca para conhecer a si mesmo e eventualmente se livrar dos padrões sociais impostos, tomando um folego para autoconhecimento. Já a solidão impede as pessoas de se identificarem com os meios, interagir, isolando a pessoa de seu universo, abrindo espaço para transtornos psicológicos.

 

O que os dois governos descobriram é que tristeza e solidão não são bons aliados. Transtornos mentais são comuns em pessoas solitárias, e muitas vezes o gatilho para Síndrome de pânico. Muitas pessoas se sentem solitárias, mas negam este processo que atinge profundamente as emoções e traz angústia e medo.

 

O Japão criou o ministério para enfrentar a “solidão epidêmica”. Ao tomar tal decisão admitiu que se trata de um problema de saúde publica e que precisa da intervenção do estado.15% da população do país diz não ter nenhuma relação social fora de sua família.

 

O mundo moderno certamente se tornou também mais solitário. Alguém afirmou que a mídia social é uma forma de você estar conectado com o mundo mas não estar conectado com ninguém. A busca pela privacidade, tão valorizada em tempos recentes, e com o fenômeno de famílias pequenas e distantes, a perda do senso tribal e comunitário, o afastamento de atividades lúdicas sociais ou das comunidades de apoio: clubes, associações e igrejas, podem se tornar fatores complicadores. Precisamos nos conectar, intencionalmente ligar para nossos pais e familiares idosos, fazer uma visita. Eles serão muito abençoados com estes gestos simples. Ao mesmo tempo, você estará também superando sua solidão e distanciamento. Isto fará bem também para sua alma.

O Poder dos anônimos



 

Grandes guerras não são ganhas por nomes imortais, nem por generais, mas por anônimos soldados. Embora o nome dos generais sejam gravados na história, as batalhas são ganhas com sangue, suor e lágrima de aplicados e diligentes guerreiros que sacrificialmente se dedicam às árduas tarefas e duras jornadas de trabalho.

 

Na semana passada tive oportunidade de refletir sobre isto, a partir de um texto bíblico que fala de uma anônima menina que foi levada refém por Naamã, comandante do Exército no auge do domínio da Síria, e passou a servir como escrava na casa deste renomado guerreiro. Nós nem sequer sabemos seu nome, entretanto, ela se torna fundamental na narrativa. Naamã é admirado como General, mas levava consigo uma sentença de morte, pois é leproso, como muitos heróis públicos, frágeis na alma, enfermos no coração e na mente.

 

Quando ela percebe a situação de angústia na casa, embora estivesse numa condição de escrava, que poderia ignorar o sofrimento daqueles que a submeteram à subserviência, ela sugere uma solução estranha: “Se meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra.” Por causa de sua palavra, Naamã se encontra com Eliseu, o profeta, e é curado.

 

É o poder dos anônimos que se tornam agentes transformadores. Fico pensando no valor de tantos que são quase invisíveis aos olhos da sociedade, mas que fazem a roda girar, limpam as lojas, lavam banheiros, cortam a grama, constroem casas, fazem reformas servem o café, colocam graxa na engrenagem e tornam a condição humana adequada.

 

São pessoas simples, que cotidianamente se submetem a uma jornada de trabalho exaustiva para sustentar sua família, e sem as quais o bem estar na rotina empresarial seria inexequível. São produtores rurais de lavouras familiares, que plantam e colhem frutas e legumes que chegam às nossas mesas. Pessoas anônimas, mas valorosas, que não são sequer percebidas por nós, mas estão em todos os lugares, como verdadeiras formiguinhas na sua labuta diária.

 

Precisamos ter um olhar mais atento aos anônimos. Eles são indispensáveis não só pelo que fazem, e pelo serviço que prestam, mas acima de tudo, pelo valor intrínseco que possuem como seres humanos. O cristianismo dá um valor imenso ao ser humano enquanto ser, já que todos foram criados à imagem e semelhança de Deus. O seu valor não se encontra no que fazem, mas na dignidade essencial do ser humano. Os anônimos são esquecidos socialmente e muitas vezes desprezados, mas Deus não faz acepção de pessoas. Todos trazem em si esta bendita centelha divina e devem ser honrados.

A Saúde divinizada



 

Vivemos numa desenfreada busca pela saúde e bem estar. O que é importa é que o corpo esteja bem, afinal, “saúde é o que interessa. O resto não tem pressa.” Numa época da “geração saúde”, é comum ouvirmos termos complicados: “fisiculturismo”, por exemplo, é um termo contaminado: Estamos falando do culto ao físico. As academias se transformam em “átrios”, lugar sugestivo, que aponta para um espaço de adoração. O corpo é colocado em primazia.

 

Isto tem acontecido porque a economia capitalista absolutiza a sobrevivência. Com os recursos modernos da medicina e os hospitais de excelência, é possível prolongar a vida de uma pessoa por muito tempo, mesmo que seja artificialmente, e quando os sinais vitais já se encontram completamente comprometidos. As máquinas são capazes de manter a respiração, os órgãos podem, até certo nível, serem substituídos por aparelhos sofisticados, e o cérebro mantida à base de drogas e remédios de última geração. A saúde é divinizada.

 

A preocupação por uma vida boa pode dar lugar à histeria pela sobrevivência, mesmo que a vida se reduza a processos meramente biológicos, na qual não se pode morrer com dignidade e se prolonga artificialmente a existência. Desta forma, despe-se a vida de toda transcendência e significado maior, e a vida deve ser “prolongada a qualquer custo e com todos os meios, a saúde é elevada à nova deusa...estamos por demais vivos, para morrer, e por demais mortos para viver” (Byung-Chul Han).

 

Ter uma boa saúde é um exercício de disciplina e bem estar. Comer menos e de forma mais saudável, praticar exercícios, sair do sedentarismo, observar as taxas de colesterol, da glicose, do PSA, aferir de forma regular a pressão, são comportamentos que devem ser incorporados aos nossos hábitos, principalmente quando se chega à terceira idade. Mas não existe elixir da juventude. O envelhecimento não é desejável, mas é inevitável. Só existe uma forma de não ficar velho... basta morrer jovem.

 

O desespero pelo corpo perfeito, que exige cada vez mais uma obsessiva e frenética atividade esportiva; as esperançosas plásticas não corrigem as rugas do pescoço e as artrites inevitáveis. A questão não é apenas envelhecer com saúde, mas envelhecer sem neurose ou sem negar a idade. O corpo possui a marca da decadência e o componente da obsolescência física. Não dá para ser jovem aos 80. É preciso compreender e apreciar cada momento vivido. Não é possível eternizar-se, e ninguém fica para semente.

 

Colocar a mente e o corpo no lugar certo, traz leveza e graça. A vulnerabilidade e envelhecimento trazem sabedoria. O exercício de fé e compreensão da eternidade nos tornam humildes e nos obrigam a considerar a transcendência. Buscar a saúde e o bem estar é bom, mas compreender os limites é libertador e pode resgatar nossa fé e espiritualidade. Somos transitórios, e esta compreensão nos dimensiona para a eternidade.

A sociedade do desempenho



 

Acompanhei de perto a carreira de um jovem numa promissor numa carteira de marketing de uma multinacional americana. Sua capacidade de empreendedorismo o levou a uma promoção e ele foi enviado para o Panamá, para trabalhar com a base da América Latina, expatriado com um salário invejável, apartamento com vista para o mar e BMW. Sua carreira estava decolando.

 

Entretanto, ao assumir a nova função designada, numa outra área na qual ele não era tão competente, ele não conseguia entregar os resultados, seu desempenho caiu e depois de oito meses retornou ao Brasil frustrado, desiludido, cansado e desempregado. Apesar dos seis anos de grande performance sua empresa o dispensou. Ele me resumiu sua demissão da seguinte forma: “O resultado passado não vale para este ano.”

 

A verdade é que, no mercado competitivo, a eficiência é obrigatória. Quem não demonstra competência para a função é descartado facilmente. A regra capitalista número 1 é: “Tenha lucros!”. É preciso devorar o concorrente no almoço para que ele não nos engula à noite. Portanto se os números não demonstram desempenho a demissão é inevitável.

 

O problema é que a sociedade do desempenho tem o poder desastroso da exaustão, cansaço e esgotamento excessivos. Estamos sendo constantemente avaliados. “O excesso de elevação do desempenho leva um infarto da alma, e consome como fogo nossa capacidade de falar à alma. Estes processos são violência, porque destroem qualquer senso de comunidade e solidariedade, qualquer elemento comum, qualquer proximidade.” (Byung-Chul Han)

 

O conceito do Shabath (Sábado) na espiritualidade judaico-cristã foi criado por Deus, e aponta uma saudável alternativa. Somos mais que desempenho, mais que máquinas. Deus ordena ao homem, ser de produção, um tempo para descansar, parar. Deus chama este dia de Sagrado, um dia para nada fazer, tornando possível a inação, porque não fazer é também um fazer de equilíbrio e harmonia, tempo lúdico, inspirando e encorajando o não-fazer.

 

Precisamos desempenho, eficiência. produtividade e alta performance no mercado de trabalho, mas temos que nos lembrar que precisamos também de descanso, lazer, amigos, comunidade. Um lugar/espaço, no qual nossa humanidade/espiritualidade possa ser exercitada e desfrutada. A constante competividade pode roubar nossa alma.

Não tenho tempo de morrer



 

Numa entrevista à radio Jovem Pan no dia 15/01/2021, o conhecido comentarista Boris Casoy falou sobre o tempo em que esteve isolado por causa da Pandemia do Covid-19. Ele afirmou que não saia de casa para nada há meses.  Aos 79 anos, comentou sobre o medo da morte. “ em casa, agora  preso, em prisão domiciliar desde março. Tenho medo de sair, tenho pavor de morrer. Não tenho tempo de morrer, sou muito ocupado e vou tocando. Estou inteiro, mais ou menos, ando mais devagar”.

 

Me chamou a atenção a frase: “Não tenho tempo de morrer.” Me fez lembrar da história de um homem, que ao observar que em sua cidade muitos dos seus amigos estavam morrendo, resolveu mudar-se para uma pequena cidade. Ao chegar ali, perguntou para um senhor na rua: “Há muita morte aqui?” E ele respondeu espontaneamente: “Não! Apenas uma para cada pessoa”.

 

Por acaso alguém, em sã consciência, tem “tempo para morrer?”. Além do mais, a morte requer tempo para que aconteça? Jesus certa vez afirmou: “Qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um minuto ao curso de sua vida?” Muitos dariam tudo para que pudessem ter um pouco mais de tempo de vida.

 

A ciência utópica fala até mesmo da criônica, que seria o processo de preservação em baixas temperaturas de humanos e animais que não podem mais ser mantidos vivos pela medicina contemporânea, na esperança de que a cura e reanimação sejam possíveis no futuro. A criopreservação  de pessoas ou animais não é reversível com a tecnologia atual, mas algumas pessoas supõem que poderão preservar seus corpos para serem recuperados no futuro com a utilização de uma tecnologia mais avançada

 

Tudo isto é uma tentativa desesperada de controlar a morte. Afinal, ninguém “tem tempo para morrer”. A morte, entretanto, não precisa de tempo nem de autorização de quem quer que seja para acontecer. E ela nos surpreende, porque deixamos para trás as contas para pagar, a viagem para fazer, os planos e metas estabelecidos. Para os que se acham insubstituíveis, é bom lembrar que o cemitério está cheio de pessoas insubstituíveis.  

 

A morte chega muitas vezes sem avisar, surpreendendo a todos. Muitas vezes dá sinais de sua presença, num processo longo de enfermidade ou no enfraquecimento natural do corpo. Ninguém tem tempo para a morte, mas ela não respeita a agenda cheia, os negócios importantes a realizar, a troca planejada do carro novo, os compromissos assumidos.

Como bem disse Toquinho:

“E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença, muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar.”

 

 

 

 

 

  

É possível vencer a ansiedade?



 

A preocupação com o amanhã pode nos adoecer a tal ponto que perdemos toda alegria e espontaneidade. Por esta razão Jesus exortou seus discípulos: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã trará os seus cuidados.” E ele deu razões para não nos preocuparmos, entre elas: “Qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um minuto à sua existência?” Em outras palavras, a ansiedade não ajuda em nada. Alguém satirizou: “Ansiedade é tão eficaz para resolver problemas, quanto mascar chiclete para resolver equações de matemática.”

 

Estatisticamente, 90% dos problemas que hoje nos consomem, não trarão nenhuma consequência para nossa vida e na semana que vem nem sequer nos lembraremos deles. Em geral, sabemos destas informações, mas isto, infelizmente, não é capaz de resolver a preocupação que tem roubado nosso sono, causado úlcera e câncer e roubado nossa alegria.

 

Fiquei surpreso ao ler o livro de Paul J. Meyer, Unlocking your legacyempresário do ramo de seguros nos EUA, quando ele disse que conseguiu vencer a ansiedade. Como um empresário com uma carteira de 5 milhões de dólares conseguiu tal proeza? Ele disse que três testes são bastantes para dissipar a ansiedade:

 

1.   Todos os fatos estão sobre a mesa? Isto é, todas as informações sobre o assunto foram consideradas e analisadas? Ao fazer isto, ele tem um olhar objetivo sobre a situação. E quando ele olha desta forma, a ansiedade se dissipa. Em geral nos preocupamos porque não analisamos bem os fatos.

2.   Eu realmente quero me preocupar com este assunto? Para estar de bem com a vida, permanecer saudável e ter paz interior, a preocupação não pode fazer parte da rotina. Então, ele decide não se deixar consumir pela questão. Não podemos fazer da ansiedade um estilo de vida.

3.   Deus quer que eu fique preocupado? Este é o teste final. Preocupação e confiança em Deus, são excludentes. Não podem andar juntas. Ansiedade e fé são opostas. Deus nos manda descansar e confiar e Jesus pede aos seus discípulos que não andem ansiosos, “porque o vosso Pai celestial sabe que necessitais de todas estas coisas.”

 

Portanto, não podemos esperar que o pior virá, e se alguma coisa ruim nos acontecer, teremos que lidar com coragem, porque a vida vai continuar. Mas não adianta se preocupar antes da hora, afinal, não devemos atravessar o rio antes de chegar na ponte.

Desespero Silencioso



 

Acompanhei à distância a trajetória de dor de uma família. Ela me foi relatada por um dos filhos. Quando estavam todos na fase da pré-adolescência e adolescência, seu pai, que era um homem misterioso e silencioso, divorciou da esposa, despediu-se da sua família e daí em diante viveria como se fosse um estranho, apesar de continuar morando na mesma região. Raramente aparecia, mandava ajuda financeira regular, perdeu todo contato com os amigos e filhos. Familiares e amigos criaram hipóteses sobre sua atitude tão radical de distanciamento, mas nada foi comprovado efetivamente. Ele nunca se casou novamente, nunca se soube dos reais motivos de sua decisão.

 

Alguns anos depois, quando seu pai faleceu de morte natural, foram ao funeral e este filho que me contou a história disse que chegou ao lado do caixão, olhou para seu pai que havia decidido viver uma vida distanciada de todos e comentou baixinho: “Ei papai, quanto segredos o senhor está levando contigo...”

 

Henry David Thoreau observou que infelizmente as pessoas geralmente vivem num “desespero silencioso”, ou numa “distração sem objetivos”. Sem um propósito claro para fundamentar as decisões, usar o tempo e empregar os recursos, e por isto ficam sem alicerce.

 

"A maioria dos homens vivem vidas de silencioso desespero, e vai ao túmulo sem ter expressado sua alma. O que se chama resignação é desespero confirmado. Da cidade desesperada você vai para o campo desesperado... Um desespero estereotipado, mas inconsciente, se esconde mesmo sob os chamados jogos e prazeres da humanidade. Não há diversão neles, pois esta vem depois da obrigação.”

 

Estatísticas comprovam isto: A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo. No Brasil, anualmente, quase 12 mil pessoas cometem suicídio. Esta é a segunda principal causa de morte em jovens de 15 a 29 anos. Frequentemente, o grito de desespero é silencioso, embora o suicida muitas vezes dê sinais de forma indireta. Mas quem nunca teve um momento na vida em que desejou morrer, ainda que este pensamento fosse apenas vago e distante?

 

O silencioso desespero, surge muitas vezes nos horários lúgubres da noite, quando as luzes se apagam e todos se distanciam, e os labirintos da mente divagam sobre o significado e o valor da vida. Muitas vezes as reflexões se tornam pesadas, sem descanso. O sono desaparece, a insônia chega. O medo de viver, a tristeza de viver, parecem se tornar mais concretos. Durante o dia, quando as atividades frenéticas nos obrigam a uma vida de ativismo é mais fácil disfarçar a dor, mas a madrugada pode ser bem mais agitada que imaginamos.

 

Quando isto acontece, é preciso encontrar suporte e espaços nos quais a dor possa ser expressa. É preciso falar sobre esta angústia. Ajuda muito o apoio familiar (embora muitas vezes este círculo seja complexo porque as emoções afloram fortemente), comunidades saudáveis como igrejas e grupos de apoio, e a fé em Deus. O desespero silencioso pode ser real, mas romper o silêncio ajuda a desmascarar a dor e a tristeza. Não fique só!