Em muitas culturas e religiões, a percepção de trabalho sempre sofreu graves distorções e trouxe muita confusão.
Para muitas culturas, trabalho é uma espécie de atividade que deve ser delegada às classes inferiores. Aristóteles afirmava que “o escravo era uma ferramenta viva.”, e ainda afirmou que “todos os trabalhos pagos absorvem e degradam o espírito.” O desprezo pelo trabalho estava embutido no arquétipo da cultura do Império Romano, e esta mesma visão caminhou pela era vitoriana, influenciando ainda hoje a forma como vemos o trabalho. A moral calvinista, formadora do pensamento norte americano, conseguiu transformar um pouco esta visão deturpada, mas ainda hoje, na elite brasileira, há uma tendência de associar trabalho a algo desprezível. Simon Schwartzman em seu artigo O campeonato da desigualdade e a identidade racial (2001), afirma que “A questão racial se mistura e se confunde com a da pobreza e da desigualdade. ... Até os anos 30, as elites brasileiras eram abertamente racistas; negros, mulatos, índios e imigrantes eram considerados inferiores, e os intelectuais discutiam como fazer o branqueamento do país.”
Assim como na cultura, trabalho em muitas religiões tem sido considerado maldição. Até mesmo no cristianismo esta associação esteve muitas vezes presente. Entretanto, do ponto de vista bíblico trabalho é associado a benção, afinal, o próprio Deus trabalhou, até descansar no sétimo dia. Mesmo antes do pecado, Deus delegou ao homem e à mulher a tarefa de dar nome aos animais e cuidar do jardim. Isto em teologia é chamado de Mandato cultural. O trabalho é a vocação inicial do homem, é uma bênção de Deus. Somos projetados para trabalhar e o trabalho dá significado e propósito à vida. O trabalho humano aponta para o trabalho de Deus.
Trabalho também é essencial na plenitude da vida na criação. Recentemente Elon Musk foi entrevistado por um grupo de empresários árabes, e levantou uma questão assustadora. Ele crê que com a tecnologia, automação e o avanço das pesquisas, precisaremos de menos trabalhadores e haverá menos empregos, desta forma, teremos mais tempo e geraremos mais riqueza e produtividade com menos pessoas na força do trabalho. O grande desafio será lidar com a realidade de uma sociedade sem atividade. As pessoas poderão até mesmo receber um salário para não trabalhar, (isto em certa medida já acontece até mesmo no Brasil), mas o grande dilema não será a sobrevivência nem sua manutenção, mas o significado, já que trabalho está associado à identidade pessoal.
Trabalho, portanto, precisa ser colocado na perspectiva correta. Como bem afirmou Seneca: “O trabalho é o alimento das almas nobres. O trabalho espanta os vícios que derivam do ócio.” O apóstolo Paulo foi até um pouco mais severo ao afirmar: “Aquele que não trabalha, é bom que não coma.”
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