Provavelmente, nossos sentimentos acerca do final do ano sejam parecidos. Há sempre um senso de que poderíamos ter feito mais, ter usado melhor o tempo, ter sido mais produtivos. Ou, quem sabe, deveríamos ter trabalhado menos, curtido mais, viajado mais. Ou, ainda, deveríamos ter visto o sol se pôr.
O ano acabou e, com ele, acabaram muitos planos que ficaram no meio do caminho, esquecidos. Algumas deliberações foram deixadas de lado já nos primeiros dias de janeiro. Quimeras, ilusões, autoengano e autossabotagem.
Somos convidados a refletir sobre o significado de encerrar ciclos e recomeçar. Aceitar finitudes. É a hora de encararmos tudo o que deveríamos ter sido e não fomos. É tempo de arrependimento, mudança, transformação. É também momento de reconhecer que não vale a pena mentir para nós mesmos, mas, sim, encarar a realidade do que somos e pararmos de nos justificar por não termos feito o que deveríamos.
Fim de ano é o encerramento de um ciclo, mas também uma oportunidade de recomeço que pode gerar em nós uma rica e profunda introspecção. Afinal, como bem já disse o filófoso e teólogo dinamarquês Søren Kierkegaard, "a vida irrefletida não é uma vida digna de ser vivida.”
Mais uma vez nos lembramos que é tempo de reconciliação, de semeadura, tempo de plantar esperança e regar a fé. Ora, não afirmamos ser os construtores de nossa história? E assim temos a oportunidade de resolver conflitos interpessoais, de perdoar as ofensas e perdoar a si mesmo, pois não são apenas os outros que nos fazem mal. Nós também fazemos mal a nós mesmos.
É tempo de organizar as gavetas do coração, colocar em ordem a alma desorientada e bagunçada, descobrir os riscos do autoengano, do vitimismo, da transferência de culpa e deslocamentos afetivos. O grande problema não é o que nos fazem, mas o que fazemos com aquilo que nos fazem.
É tempo de ressignificar e reorientar determinadas opções e atitudes. Não raramente nos ocupamos em demasia com o que é desnecessário. Gastamos energia em tolices, malquerenças e disputas desnecessárias.
Em Eclesiastes 3.1 aprendemos que “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” Há tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; tempo de guerra, e tempo de paz.
O ano já acabou, mas a vida continua. O último segundo do ano abre os portais para o primeiro segundo de um novo ano, com experiências novas seguindo a dinâmica da vida. Ainda há tempo de fazer muitas coisas: restaurar sua vida com Deus e decidir não repetir os equívocos, as tolices de sempre. É tempo de valorizar os outros, de orar, de agradecer. Em cada novo dia de cada novo ano é possível recomeçar.
No primeiro dia do ano celebramos o Dia Mundial da Paz. Jesus, como a Boa Nova de grande alegria, é a única garantia de paz neste mundo conturbado e dividido. Ele é a nossa paz. Sem a reconciliação com Deus, não podemos encontrar paz dentro de nós.
O ano já acabou, mas a vida continua seu ciclo de oportunidades e riscos. As Escrituras Sagradas afirmam: “Este é o tempo sobremodo oportuno. Dia de salvação. Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração.”
Olhar no espelho nem sempre é uma tarefa fácil porque não gostamos do que vemos: as rugas, os cabelos brancos, a flacidez da pele se evidenciam. Mas, afinal, isso é o que somos. Não adianta nos iludir achando que teremos resposta negativa à pergunta: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?” Sempre haverá pessoas mais saradas, mais resolvidas, mais belas, mais elegantes, mais inteligentes, mais ricas. Comparar-se com outros é sempre uma armadilha que nos leva à insatisfação e à inveja ou à presunção e ao orgulho.