Não é fácil se separar daqueles que amamos. Olavo Bilac afirmou que “saudade é a presença dos ausentes.” As pessoas vão, mas ficam em nossos corações. “Naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim.”
Na semana passada perdi meu pai e sai apressadamente para Palmas-TO para participar do funeral, momento que sabemos que virá, mas nunca desejamos que aconteça. Ele faleceu com 89 anos e 8 meses. Teve uma vida longeva, viveu em simplicidade, gostava do mato, das coisas simples da roça e vivia um estilo de vida pacífico.
Apesar de ter um ofício sacerdotal do qual costumava dizer a centenas de pessoas - inclusive em situações como esta -, não me dispus a fazer a homilia. Achei que as emoções poderiam me trair. No final, dei uma palavra dizendo: “Tá tudo certo! Está dolorido, não é um momento fácil de viver, mas está tudo certo. Deus permitiu que meu pai tivesse uma boa saúde e quando entrou na fase de seu sofrimento com UTI e hospital, ficou apenas 32 dias.
Particularmente creio que Deus estava, na verdade, ajudando-nos a entender e lidar melhor com a perda.” Tive uma conversa com minha mãe sobre isso e ela já tinha uma visão clara da realidade. Depois do nosso diálogo, ela entregou meu pai ao Senhor. Um dia após ele faleceu.
Estamos agora, como família, reconstruindo e fazendo as adaptações necessárias. Uma
nova dinâmica se impõe, de forma particular para minha mãe que está bem, mas foi casada com ele 68 anos e tem 87 anos de idade. O mesmo Deus que nos sustentou até aqui vai continuar dirigindo as diferentes situações.
Novos tempos exigem novas respostas e, graças a Deus minha mãe tem uma compreensão clara do momento. Sua lucidez a ajuda bastante e ela entende que a vida é como um breve pensamento, um conto ligeiro ou, ainda, como a relva da manhã: de madrugada viceja e floresce, à tarde murcha e seca. Ela possui clara compreensão de transcendência. A vida é passageira, mas existe eternidade. Sua fé a faz gigante em tempos de tribulação e dor.
Ficam as lembranças, os eventos vividos juntos, as viagens para Formoso do Araguaia nas temporadas de pesca. Sua rede, que ele armava rapidamente e com perfeição; sua capacidade de amolar facas, sua maneira de brincar e até mesmo suas “mamparras” - uma expressão que mamãe usava quando ele reclamava muito de determinada coisa. Nunca ouvi este termo em nenhum outro lugar fora do meu ambiente familiar.
“O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.” (Fernando Pessoa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário