Era o primeiro dia de aula numa escola particular na Zona Sul do Rio de Janeiro. A professora de inglês chega à sala de aula e um aluno de 11 anos, cor branca, cabelos bem arrumados, se recusa a assentar e fica andando de um lado para o outro no fundo da sala, até que a professora dá uma ordem: “Ei, você ai! Pode assentar, já vamos começar.”
Ele respondeu de forma desafiadora: “Eu sou pago para estudar aqui e faço o que eu quiser!” Toda classe caiu na risada. A professora, de forma firme disse: “-Pois bem, eu ganho prá ensinar aqui! Sente-se agora!” E para seu alívio, ele assentou.
O que aconteceria se a professora não ganhasse aquela causa? Se o aluno continuasse a desafiá-la? Como ela poderia efetivamente ensinar o conteúdo de sua matéria? Para alívio da professora, o aluno assentou-se e posteriormente se tornou um de seus melhores alunos e ajudante na sala da aula.
Um dos temas da psiquiatria atual gira em torno do Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), um distúrbio que ocorre na infância com sintomas desafiadores e impulsivos, dificuldade de lidar com frustrações, teimosia, mentira e/ou ação por vingança ou crueldade, dificuldades intensas no convívio social com familiares ou figuras de autoridade, comportamento agressivo e humor irritável. Tais transtornos são disruptivos e causam perturbação no ambiente.
Uma pergunta inicial é necessária: Quem nunca se deparou com uma criança opositora? Que não quer assumir seus erros ou responsabilidades? Que tem dificuldades para se submeter a regras e desafia seus pais? Eu temo que a generalização deste diagnóstico gere uma geração que obtenha um certificado psiquiátrico para desobedecer e infringir, ainda mais levando em conta que os pais encontram dificuldades em estabelecer regras e disciplinar seus filhos.
O que acontecerá? Crianças com comportamentos disruptivos serão retiradas de eventos sociais por causa de seu comportamento difícil. Quem tem coragem de convidar um amigo que tem filhos que não respeitam limites e não podem ser contrariados? Os pais de tais crianças encontrarão dificuldade em sair ou passear com elas. Elas serão preteridas, mal faladas e sofrerão forte rejeição.
O que caracteriza marginalidade é por definição a rejeição de limites. Como conviver com uma criança irritadiça e mau humorada? Que sempre age de forma argumentativa raivosa e desafiadora? Que se recusa a obedecer regras e é rancorosa e vingativa?
Recentemente A Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 3050/23, aprovando acompanhamento integral para alunos com TOD nas escolas públicas que serão obrigadas a atender tais estudantes. Tenho simpatia por crianças rebeldes, mas não sei como um professor pode acompanhar uma criança que não aceita regras. Como será a convivência na escola para uma criança que só faz o que quer, quando quiser e se quiser? E ainda afronta a direção e professores e sempre se envolve em conflitos com os colegas?
Sei que a discussão é controvertida e está ainda no início. Quero concluir com uma frase extraída da sabedoria judaica que diz: “A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma, envergonha a sua mãe.” (Pv 29.15) A A disciplina envolve ensino, repreensão, correção e reforço positivo e negativo. Você não precisa concordar com meu pensamento, mas não precisamos pensar da mesma forma em todas as coisas.
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