sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Esperança Histórica

  


 


 

Há, pelo menos, dois tipos de esperança: uma é a esperança eterna e a outra é a esperança histórica.

 

Quando falamos de esperança eterna, referimos ao tipo de espera que nos capacita a enfrentar a morte com segurança, pois nos baseamos na crença de algo transcendental. Essa esperança é sempre presente nos escritos do Antigo Testamento.

 

Jó, no meio da sua aflição, afirmou confiante: “Pois eu sei que o meu defensor vive; no fim, ele virá me defender aqui na terra. Mesmo que a minha pele seja toda comida pela doença, ainda neste corpo eu verei a Deus. Eu o verei com os meus olhos; os meus olhos o verão e ele não será um estranho para mim. E desejo tanto que isso aconteça!” (Jó 19.25-27 NTLH).

 

Jesus sempre deixou clara a sua visão sobre a eternidade. “Não fiquem aflitos. Creiam em Deus e creiam também em mim. Na casa do meu Pai há muitos quartos e eu vou preparar um lugar para vocês. Se não fosse assim, eu já lhes teria dito. E, depois que eu for e preparar um lugar para vocês, voltarei e os levarei comigo para que, onde eu estiver, vocês estejam também" (João 14.1-3).

 

Esta esperança é maravilhosa. Por isso a morte do ateu é sempre apavorante, enquanto os que creem lidam com serenidade diante desta dura realidade. É preciso esperança para morrer, mas também é preciso esperança para viver. E essa última é a esperança histórica.

 

Tem a ver com a possibilidade de olhar para a vida com perspectiva. Não dá para ter saúde mental com desesperança, seja por causa das notícias, dos desdobramentos políticos ou da realidade da violência, injustiça e imoralidade. O ceticismo crônico nos transforma em seres cínicos e amargos, rudes e duros. Afinal, para que sonhar, lutar, continuar fazendo o bem e continuar sendo justo se temos uma sociedade tão desigual, contraditória e injusta?

 

A perda da esperança, seja ela eterna ou histórica, leva-nos à angústia, depressão, medo e desespero. Em geral, pessoas suicidam quando não contemplam nenhuma possibilidade de mudança. Nem para si mesmas, nem para o que acontece ao seu redor. Aristóteles afirmou que “a esperança é o sonho do homem acordado.”

 

Os fatores motivadores da vida são: ter algo que fazer, algo para amar e algo para esperar. Professor e escritor, Rubem Alves afirmou taciturnamente em seu livro O Enigma da Religião: “Perdi meus pontos de referência. Não encontro sinais concretos que me permitam ter esperança. O que nos é dado em nossa situação histórica não nos permite ter esperança. O homem não pode, contudo, sobreviver sem esperança. É a esperança que nos dá autoconsistência. A psicoterapia descobriu que, objetivamente, não há esperança. Sinto-me distendido entre a necessidade antropológica da esperança e a impossibilidade histórica de esperança.”

 

Em meu caso, prefiro pensar como o cantor e compositor Guilherme Arantes: “Amanhã está toda a esperança, por menor que pareça, o que existe é prá vicejar. Amanhã, apesar de hoje, ser a estrada que surge, prá se trilhar. Amanhã, mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam, ver o dia raiar. Amanhã, ódios aplacados, temores abrandados, será pleno.”

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