Ao mergulhar no inconsciente humano para
entender suas estruturas psíquicas, tais como o ID, o EGO e o SUPEREGO, a
psicanálise demonstra que mesmo pessoas ditas normais possuem em seu
inconsciente fantasias, tendências criminosas e antissociais. O ID é a parte da
psique onde estão os desejos. É herdado da natureza. É parte instintiva da
personalidade e opera segundo o psiquismo do prazer. O EGO vem do mundo
externo, opera por meio de um processo secundário, controla as funções cognitivas
e intelectuais. É o executivo da personalidade. Já o SUPEREGO é o defensor da
moral e representa os valores da coletividade. É a força moral da
personalidade, busca a “perfeição” ditada pela sociedade e não o prazer.
É nesta luta interior entre ID, EGO e SUPEREGO que surgem as tensões e os
conflitos. Faço o que desejo porque quero fazer, independentemente das
consequências; ou tomo consciência de que nem tudo o que desejo será, em última
instância, o melhor para minha vida? Esta é a diferença entre o inconsequente e
o prudente, entre o tolo e o sábio, entre o impulsivo e o reflexivo.
A educação, a cultura, o ambiente religioso ou familiar orientam o homem em relação ao autocontrole de seus atos, o
que ocorre por meio do juízo crítico. É o que permite a esse homem pesar os prós
e contras de seus desejos, levando à conclusão do que deve e do que não deve
ser feito.
A célebre psicóloga Maria Tereza Maldonado afirma: “A passagem da lei do
desejo (‘faço o que quero na hora em que dá vontade’) para a lei da realidade (‘nem
sempre posso fazer o que quero e muitas vezes também não posso fazê-lo na hora
em que me dá vontade’) é um processo lento e gradual. Há adultos que ainda
estão longe de completar este processo.”
O primeiro episódio de violência da Bíblia
aconteceu com Caim matando o irmão Abel por razão fútil. Vários detalhes nos
chamam atenção e um deles é o diálogo de Deus com Caim: “Por que andas
irado, e por que descaiu o teu semblante? Se procederes bem, não é certo
que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o
seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.” (Gn 4.6)
Deus procura mostrar a Caim que nem sempre os
desejos são nossos aliados, mas podem ser opositores; nem sempre nos auxiliam,
mas podem conspirar contra nós, afinal, “o seu desejo será contra ti, mas a
ti cumpre dominá-lo.”
Instintos, paixões, impulsos, satisfação
imediata, agressividade, raiva são muitas vezes “desejos estragados”, afinal,
“todas as maças do diabo são bonitas, mas todas tem bicho.” O equilíbrio
entre ID e SUPEREGO, entre satisfação imediata e adiamento do prazer para o
nosso bem é o que diferencia profundamente desejo e realidade. Esta compreensão
nos faz sábios!
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