Dia 15 de Maio de 2019, me tornei sexagenário... para alguns, um marco simbólico de decrepitude. Para mim, curiosamente, uma data com muitos motivos para celebrar. Brinquei com minha esposa que queria fazer seis festas, uma para cada 10 anos. E fiz!!! ou fizeram prá mim... Ah! E também não deixei de retirar meu cartão de estacionamento de idoso! No dia exato dos meus 60 anos fui ao órgão responsável para exigir os meus direitos.
Os americanos dizem que esta data é um SOS, cujas iniciais significam: slower (mais lento), older (mais velho) e smarter (mais esperto). Bem, não tenho qualquer dúvida quanto aos dois primeiros termos. Em relação ao último, é questionável... Alguns anos atrás um amigo meu fez 60 anos e, antevendo o fato de que em breve eu também estaria nesta linha de chegada, perguntei-lhe qual era o significado dos 60. Ele então me disse que a idade havia chegado tão rápido que ele sequer tinha se dado conta de que já era um sessentão. Sábia observação.
E é imerso nesse contexto que algumas percepções me vêm à mente:
Dirigir nesta idade se torna uma experiência bem menos estressante e segura. Vejo jovens afobados ultrapassando de forma agressiva e eu apenas os observo. Entendo como pensam... e a verdade é que já não tenho mais tanta pressa. Como bem disse o compositor e poeta Almir Sater: “Ando devagar, porque já tive pressa (...) / Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs (...) / Penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente”. Aprendi que uma ultrapassagem ríspida vai me dar tão somente 1 minuto de vantagem para chegar em casa. Então, não faz tanta diferença assim!
Também noto que comer, aos poucos, vai se tornando uma experiência diferente. Tenho aprendido a comer menos e mais devagar. Eu era um touro quando comia! Agora, menos comida me satisfaz e maior volume me dá refluxo. Preciso apreciar melhor cada prato...
Saio menos de casa... por comodismo e preguiça. Voltar para casa tem se tornado uma aventura psicanalítica, sempre boa e restauradora. Minha esposa e eu decidimos não rejeitar nenhum convite para sair com os amigos, embora prefiramos ficar em casa. É que os amigos diminuíram, a preguiça de sair aumentou e precisamos continuar investindo em socialização, pois do contrário seremos esquecidos. O corpo insiste no esforço menor e sentimos que estamos muito novos para sermos velhos.
O olhar sobre a família vai se tornando cada vez mais importante, mas os filhos estão no auge da carreira e cada minuto deles torna-se muito caro. Por isto, estar com eles, em qualquer momento ou situação, é sempre uma enorme celebração.
Outro aspecto a ser mencionado é que a paciência diminui com os processos humanos, haja vista que há mesmo pessoas que estão sempre “em processo”. Aprendi que, por mais que eu queira, alguns não vão e não querem mudar. Sinto-me cansado em dizer as mesmas coisas às mesmas pessoas, que querem continuar do mesmo jeito. Freud chamava isto de “compulsão à repetição”. Sinto-me menos culpado pelos outros. Não é fácil distinguir entre alguém que verdadeiramente quer e precisa de ajuda e alguém que está apenas explorando o outro que está disposto a ajudar, pois nem todos que estão no fundo do poço querem subir.
Descobri ainda que, à medida em que envelhecemos, tendemos a ser prolixos. É... gostaria de dizer muitas outras coisas, mas é melhor parar! Fui...
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