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“E Davi levantou-se, e fugiu aquele dia de diante
de Saul, e foi a Aquis, rei de Gate. Porém os criados de Aquis lhe disseram: Não é este Davi, o rei da terra?
Não se cantava deste nas danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém
Davi os seus dez milhares? E Davi
considerou estas palavras no seu ânimo, e temeu muito diante de Aquis, rei de
Gate. Por isso se contrafez diante dos
olhos deles, e fez-se como doido entre as suas mãos, e esgravatava nas portas de
entrada, e deixava correr a saliva pela barba. Então disse Aquis aos seus criados: Eis que bem vedes que este homem
está louco; por que mo trouxestes a mim? Faltam-me
a mim doidos, para que trouxésseis a este para que fizesse doidices diante de
mim? Há de entrar este na minha casa?”. (1 Sm 21.10-15).
Poucos relatos bíblicos são tão intensos quanto o que
encontramos neste texto bíblico acima. Perseguido e correndo risco de ser
encontrado pelo implacável rei Saul para quem ele se tornou inimigo número 1,
Davi decide se refugiar no território do inimigo, Aquis, rei de Gate. Ao
perceber que fora reconhecido e que estava em grande perigo, Davi assume um
papel ridículo, se fazendo de doido, agarrando-se nos portais da entrada da
cidade, deixando saliva correr pela sua barba, e desta forma se salvou, porque
as pessoas o ignoraram e o deixaram ir.
Davi, fez-se doido para viver.
Já ouviram este ditado popular?
Davi se salvou tornando-se ridículo. Ele se faz passar por
alguém que perdeu a noção da vida, do bom senso, da racionalidade.
A verdade é que muitas vezes Deus constrói seus planos e
propósitos permitindo gestos ridículos e loucos.
Certamente esta não é a melhor receita para se fazer as
coisas, não é a melhor opção da vida. Mas “Deus usa coisas loucas para confundir
as sábias e as que não são para confundir as que são”, e na sua infinita
misericórdia nos livra de nós mesmos, quando nos perdemos nas loucuras e
insanidades.
Deus impede que nossa insanidade nos destrua!
Davi poderia ter sido eliminado em Gate, por simular atitude
de doido. Sua pseudo loucura poderia ter se transformado na sua morte real. Um
louco num sistema com poucas condições pode se tornar um peso, uma boca a mais
para ser alimentada, e um transtorno para a ordem social. Apesar disto, sua
loucura aparente o livrou da morte.
Não se pode construir a vida em cima de desatinos, gestos
tresloucados e atitudes impensadas, mas a verdade é que muitas vezes atitudes
ousadas, que saem do cotidiano e da normalidade, trazem mudanças significativas
na história e em instituições. Existe a loucura que nada mais é que um gesto
“fora da curva” e que faz a diferença entre o sucesso e o fracasso.
Conversão para muitos, é um ato de loucura. Completo
desatino, mas pode se transformar na coisa mais transformadora e revolucionária
da vida. Conversão a Cristo parece loucura aos olhos do descrente, mas diante
de Deus é sabedoria. “Certamente, a
palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos
salvos, poder de Deus”(1 Co 1.18).
A morte de Cristo na cruz é loucura. O Filho de Deus, o mais
perfeito dos homens, que viveu entre nós fazendo o bem, manifestando a
realidade de um Deus vivo, tornou-se odioso aos olhos da comunidade a quem
serviu e foi crucificado como um malfeitor. A cruz é lugar de paradoxos e
contradições, de insanidade e loucura. mas “aprouve
a Deus salvar os que creem, pela loucura da pregação” (1 Co 1.21).
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