sexta-feira, 26 de julho de 2013

Paternidade e saúde emocional



No desafiador livro “The Point Man”, destinado ao publico masculino, Steve Farrar escreve um capítulo com o título: “Salvem os garotos!”, citando uma frase de Carl Farley: "Um garoto é a única coisa que Deus pode usar para fazer um homem". Portanto, precisamos cuidar dos nossos filhos de forma muito especial. Eles são a matéria prima de Deus! Através deles Deus quer forjar a humanidade. Se alguma coisa pode trazer esperança de uma sociedade minimamente civilizada no futuro, será por meio de famílias com pais responsáveis.
Lamentavelmente os filhos encontram- se desorientados quanto à sua masculinidade e paternidade. Os modelos familiares fragmentados na pós modernidade, parecem inviabilizar a capacidade dos pais em  conciliar demandas sociais e profissionais, com a convivência familiar. O resultado é que os filhos sofrem da ausência física e emocional dos pais. George Vailant entrevistou vários homens de negócios, cientistas e professores na meia idade, o resultado foi que noventa e cinco por cento deles afirmaram que seus pais ou foram exemplos negativos na infância ou pessoas que não exerceram qualquer influência em suas vidas.
Jack Sternbach fez uma pesquisa com homens na fase adulta que assim relataram seus relacionamentos com os pais: 23% eram fisicamente ausentes; 29% sentiram ausência psicológica dos pais muito ocupados, desinteressados por suas vidas ou passivos em casa; 18% sentiram a ausência psicológica dos pais que foram muito austeros ou moralistas e sem envolvimento emocional com suas vidas e 15% descreveram seus pais como pessoas ameaçadoras e descontroladas. Somente 15% consideraram seus pais envolvidos em suas vidas.
Se quisermos criar famílias fortes e emocionalmente estáveis, precisamos cuidar desta geração. Será uma longa jornada para mudarmos os paradigmas equivocados e construirmos um novo modelo. A tarefa é árdua, porque temos que vencer nossos próprios limites; e longa por não ser um projeto rápido. Se começarmos agora, só veremos os efeitos desta mudança daqui a 20 anos, mas é preciso salvar os filhos.
Quantos pais são capazes de afirmações simples como: “eu amo você!” Quantos já declararam alguma vez: "estou orgulhoso de você" ou "você fez muito bem"? Quantos pais estão jogando vídeo games com seus filhos ou demonstram interesse em participar de seus eventos atléticos? Quantos pais tem abraçado seus filhos e filhas? Tem contado histórias e os leva para pescar ou para uma tarefa comum de lazer ou à igreja nos domingos?
Tenho defendido a tese de que a fonte de todas neuroses está relacionada à figura dos pais. Você deve conhecer um homem desequilibrado e já deve ter percebido os graves traumas que ele causa em seus descendentes. Numa campanha promovida por Chuck Colson entre os presos americanos, resolveram sugerir aos presos que no dia das mães escrevessem um cartão, e providenciaram papéis, envelopes e pagariam o envio do correio. O resultado foi surpreendente: Poucos deixaram de fazê-lo! Como a idéia se mostrou eficaz, resolveram ampliá-la para o dia dos pais, no entanto, raros foram os presos que quiseram enviar um cartão. Isto demonstrou que a grande maioria daqueles homens, não tinha relacionamento positivo com seus pais ou não estava interessado neles.
A tese que propus acima, de que grande parte de nossas neuroses encontra-se no relacionamento disfuncional com os pais (aqui me referindo diretamente aos homens), encontrou mais peso ao perceber que Jung defendia a idéia de que o mal oculto nos pais, se manifestava nos filhos: “Há um grande número de pacientes que se sentem verdadeiramente perseguidos pelos pais, mesmo que estes hajam morrido há muito tempo” (A natureza da Psiquê, 244).

Neuroses profundas se associam ao distanciamento, passividade ou agressão paterna, causando males psiquiátricos quase irreversíveis. Por isto, nada mais justo e urgente que refletir sobre a paternidade, num tempo em que os pais parecem cada vez mais perdidos, diminuídos ou distanciados, tornando-se meras máquinas para prover recursos, roupas, viagens e brinquedos cada vez mais caros, quando a alma humana insiste em dizer: “A gente não quer só comida, a gente quer a vida, diversão e arte”. 

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