sábado, 28 de outubro de 2023

O Poder da Família

 



Família é paradoxal por natureza. Lugar de grandes conflitos e dores, mas ao mesmo tempo de acolhimento e cura. Boa parte de nossas neuroses surge por causa do tumultuado relacionamento familiar, com suas intrincadas redes e texturas. Mas é impossível imaginar a vida sem berço, sem colo, sem abraço, sem afeto familiar. Nelson Rodrigues, ácido e cínico dramaturgo brasileiro ironizou a família dizendo que “na melhor das hipóteses, só serve para duas coisas: enriquecer a indústria farmacêutica e dar emprego aos psiquiatras.” Bem, este é o lado sombrio da família, mas sua frase reflete apenas a disfuncionalidade de muitos lares, mas não é verdade em todos eles. 


G. K. Chesterton, prolífero escritor católico, foi um escritor brilhante e de inteligência aguçada, dedicando muitas páginas ao casamento e à família, ironizando, as contradições gritantes da modernidade na compreensão do casamento como uma instituição vital para o indivíduo e para a sociedade. Ele cunhou o termo “domicilidade”, exaltando a importância de termos famílias simples: "A coisa mais extraordinária do mundo é um homem e uma mulher comuns e os seus filhos comuns." O lar é o berço e a escola da humanidade: um lugar de acolhimento e proteção, de maturidade e de socialização. Nada é mais poderoso que um lar simples ao redor da mesa. “O que muda o mundo não acontece nos grandes debates e universidades, mas ao redor da mesa.”


É na família que se reconhece a própria identidade e valor, "A família é o teatro do drama espiritual, o lugar onde as coisas acontecem, especialmente as coisas que importam (...) Quando entramos na família, pelo ato do nascimento, entramos num mundo incalculável, um mundo que tem as suas próprias leis estranhas, um mundo que pode existir sem nós, um mundo que não fizemos. Por outras palavras, quando entramos na família, entramos num conto de fadas".


Nossa sociedade tenta destruir a beleza e a importância da família. Mesmo a busca desenfreada do sucesso profissional pode ser idolátrica, se os valores familiares forem negligenciados:  somos desafiados ao que Chesterton chama de “A grande e verdadeira aventura”, de ficar em casa, responder com coragem à vocação mais apaixonada, e empreender aí a bela tarefa de fazer um lar.”


Nas Escrituras Sagradas, os Salmos 127 e 128 são voltados para a família. Na descrição das bem-aventuranças de um homem, temos a afirmação de que a “esposa será como a videira frutífera e os filhos como as flores de oliveira ao redor da mesa.” E conclui: “Eis como será abençoado o homem que teme ao Senhor.” O homem feliz é aquele que é capaz de se assentar com simplicidade à mesa, para jantar com seus filhos, ou como bem sinterizou Leon Tolstói:  A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família.”

Tempo de Gratidão




Muitos devem se perguntar “por que termos um dia de ações de graças?” A resposta pode ser dada de duas maneiras simples e direta: Primeira, porque temos muita coisa para agradecer; segunda, porque precisamos nos lembrar do valor e da importância da gratidão.


Parece simplismo, mas não é. Todos gostamos de receber um “muito obrigado” e apreciamos profundamente quando alguém reconhece algo que fizemos e demonstra isto verbalmente ou em gestos, que podem ser pequenos mimos, um cartão, uma lembrança ou um telefonema. Termos reconhecimento pode ser um risco para nossa vaidade, mas ao mesmo tempo, faz um enorme bem ao nosso coração. É bom receber um elogio, uma expressão de amor. Talvez esta seja uma das reclamações mais presentes hoje em relação aos cônjuges. Maridos e esposas são mesquinhos em relação às expressões de gratidão e bondade. Pequenos gestos e palavras podem gerar grandes impactos.


Somos uma geração desatenta e displicente. Parcimoniosos na apreciação e pródigos nas críticas e reclamações. Mesmo sabendo aonde chegaremos, gostamos de caminhar pelas ruas da murmuração e da ingratidão, ao invés de passearmos pelas avenidas da gratidão e expressões de amor. Tais atitudes são tão paradoxais que algumas vezes me pergunto como distorcemos tanto nossa lente.


Deus tirou o seu povo da escravidão do Egito, mas ao invés de gratidão tornaram-se murmuradores e ácidos em relação a Deus. “Por que ele nos tirou do Egito: Para morrermos neste deserto?” ou “Sentimos falta da cebola, dos melões e dos temperos do Egito.” Jesus curou 10 leprosos, mas apenas um retorna para agradecer. A vida destes dez homens foi radical e positivamente mudada, mas apesar de serem gratos pela cura, eles se esquecem de quem os curou.


Moramos um bom tempo nos Estados Unidos e o “Thanksgiving Day” é a data mais celebrada pelos americanos. Nem a Páscoa, nem o Natal, nem o Dia da Independência são tão celebrados. Todas as propagandas e comerciais enfatizavam a necessidade e importância da gratidão, mas nenhuma delas dizia “a Quem devemos agradecer.” A mensagem me parecia contraditória: sou grato, mas não sei a Quem. Temos gratidão (pela saúde, bens, família, trabalho), mas não sabemos a quem agradecer. Dr. Francis Schaeffer fez um ácido comentário a este respeito: “A coisa mais ridícula na alma do ímpio é se assentar à mesa, comer o pão que Deus fez brotar no campo, e a comida que fez germinar, mas não consegue agradecer Aquele que fez todas estas coisas.”


Estamos celebrando o que Deus nos fez. É tempo de gratidão. Queremos deixar explicito que somos gratos a muitos queridos amigos, familiares e irmãos, por tudo que temos recebido. Mas a nossa maior expressão deve ser dirigida Àquele que nos deu o maior dos presentes: A vida eterna!

O coração do problema

 



Gabriel Garcia Marques no livro “Cem anos de solidão” descreve um de seus personagens atormentado por fantasmas e assombrações: “José Arcadio Buendia, depois de uma briga com Prudêncio Aguilar, numa rinha, o mata com uma lança. Um dia sua mulher saiu para beber água no quintal, e viu Prudêncio junto à tina, estava lívido, com uma expressão triste, tentando tapar com uma atadura de esparto, o buraco da garganta. Voltou ao quarto, contou ao esposo o que tinha visto, mas ele não ligou e respondeu: “Os mortos não saem, o que acontece é que não aguentamos com o peso da consciência.”


Ao enfrentar lutas e pressões temos que lidar com emoções que surgem de diferentes formas: medo, ansiedade, angústia, raiva ou tristeza. Nem sempre reagimos de forma correta e proporcional a situação que enfrentamos. É fácil colocar uma intensidade muito maior ao problema do que ele de fato merece porque temos uma bagagem emocional por detrás do fato e os gatilhos são inevitáveis. 


Por isto, diante das pressões, disputas e circunstâncias, precisamos ficar alertas às nossas experiências remotas. Deveríamos nos perguntar: “qual é o problema por detrás do problema?” Nem sempre reagimos à provocação de forma adequada porque existe uma construção psicológica, fruto de lembranças, ameaças e abusos anteriores. O evento do momento torna-se grandioso por causa da construção emocional acumulada por anos, e que fazem parte do nosso “infinito particular”. O problema mais profundo tem raízes e a resposta de hoje não está desconectada das nossas experiências. Nem sempre o problema que sentimos agora é o real problema, o que vemos é uma figura embaçada encoberta por uma cortina de fumaça.


O grande problema do homem não está fora dele, nem o que lhe acontece, o que as pessoas fazem e nem mesmo as circunstâncias. Por isto é fácil perceber porque as pessoas reagem de forma diferente ao enfrentar problemas similares. Uma pessoa pode se manter calma em meio ao perigo, e outra pode se desesperar, desmaiar ou entrar num quadro catatônico. Diante de abusos sofridos, um grita, xinga e bate, outro se cala, sofre a ofensa e apanha. O grande desafio humano é o coração. O coração do problema é o problema do coração. 


Então, se fossemos suficientemente maduros, o que quase sempre não somos, seriamos capazes de nos mantermos resilientes, corajosos e fortes mesmo em meio à riscos reais. O que está por detrás de toda raiva, irritação, ressentimento e mágoa que o evento presente gera? Qual é a dor por detrás da dor? O problema detrás do problema? Nem sempre a dor que sentimos hoje é a dor real, mas ela evoca e faz renascer angústias não resolvidas e inconscientemente reagimos a todas estas ameaças. 


E se perguntássemos: Por que sinto e reajo desta forma? O meu problema são os outros ou minha alma marcada pela dor? Estou sofrendo por causa do ambiente ou das circunstâncias ou por causa de experiências antigas que o evento atual faz renascer? Por que reagimos rapidamente às provocações, explodimos ou nos entristecemos? 


E por último, devemos sempre observar os movimentos do coração. A Bíblia afirma: “Guarda o teu coração, porque dele procedem todas as fontes da vida.” Os religiosos contemporâneos de Jesus estavam muito preocupados com os ritos, guarda do sábado, cerimoniais de purificação e com a lista de alimentos proibidos na Lei mosaica. Jesus afirmou: “O que contamina o homem não é o que ele come, mas sim o que sai do coração. Porque do coração procedem os maus desígnios, o adultério, a mentira e toda sorte de males...” De fato, o coração do problema é o problema do coração.

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Esperança Histórica

  


 


 

Há, pelo menos, dois tipos de esperança: uma é a esperança eterna e a outra é a esperança histórica.

 

Quando falamos de esperança eterna, referimos ao tipo de espera que nos capacita a enfrentar a morte com segurança, pois nos baseamos na crença de algo transcendental. Essa esperança é sempre presente nos escritos do Antigo Testamento.

 

Jó, no meio da sua aflição, afirmou confiante: “Pois eu sei que o meu defensor vive; no fim, ele virá me defender aqui na terra. Mesmo que a minha pele seja toda comida pela doença, ainda neste corpo eu verei a Deus. Eu o verei com os meus olhos; os meus olhos o verão e ele não será um estranho para mim. E desejo tanto que isso aconteça!” (Jó 19.25-27 NTLH).

 

Jesus sempre deixou clara a sua visão sobre a eternidade. “Não fiquem aflitos. Creiam em Deus e creiam também em mim. Na casa do meu Pai há muitos quartos e eu vou preparar um lugar para vocês. Se não fosse assim, eu já lhes teria dito. E, depois que eu for e preparar um lugar para vocês, voltarei e os levarei comigo para que, onde eu estiver, vocês estejam também" (João 14.1-3).

 

Esta esperança é maravilhosa. Por isso a morte do ateu é sempre apavorante, enquanto os que creem lidam com serenidade diante desta dura realidade. É preciso esperança para morrer, mas também é preciso esperança para viver. E essa última é a esperança histórica.

 

Tem a ver com a possibilidade de olhar para a vida com perspectiva. Não dá para ter saúde mental com desesperança, seja por causa das notícias, dos desdobramentos políticos ou da realidade da violência, injustiça e imoralidade. O ceticismo crônico nos transforma em seres cínicos e amargos, rudes e duros. Afinal, para que sonhar, lutar, continuar fazendo o bem e continuar sendo justo se temos uma sociedade tão desigual, contraditória e injusta?

 

A perda da esperança, seja ela eterna ou histórica, leva-nos à angústia, depressão, medo e desespero. Em geral, pessoas suicidam quando não contemplam nenhuma possibilidade de mudança. Nem para si mesmas, nem para o que acontece ao seu redor. Aristóteles afirmou que “a esperança é o sonho do homem acordado.”

 

Os fatores motivadores da vida são: ter algo que fazer, algo para amar e algo para esperar. Professor e escritor, Rubem Alves afirmou taciturnamente em seu livro O Enigma da Religião: “Perdi meus pontos de referência. Não encontro sinais concretos que me permitam ter esperança. O que nos é dado em nossa situação histórica não nos permite ter esperança. O homem não pode, contudo, sobreviver sem esperança. É a esperança que nos dá autoconsistência. A psicoterapia descobriu que, objetivamente, não há esperança. Sinto-me distendido entre a necessidade antropológica da esperança e a impossibilidade histórica de esperança.”

 

Em meu caso, prefiro pensar como o cantor e compositor Guilherme Arantes: “Amanhã está toda a esperança, por menor que pareça, o que existe é prá vicejar. Amanhã, apesar de hoje, ser a estrada que surge, prá se trilhar. Amanhã, mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam, ver o dia raiar. Amanhã, ódios aplacados, temores abrandados, será pleno.”

Transtorno Opositivo Desafiador (TOD)

 



Era o primeiro dia de aula numa escola particular na Zona Sul do Rio de Janeiro. A professora de inglês chega à sala de aula e um aluno de 11 anos, cor branca, cabelos bem arrumados, se recusa a assentar e fica andando de um lado para o outro no fundo da sala, até que a professora dá uma ordem: “Ei, você ai! Pode assentar, já vamos começar.”

Ele respondeu de forma desafiadora: “Eu sou pago para estudar aqui e faço o que eu quiser!” Toda classe caiu na risada. A professora, de forma firme disse: “-Pois bem, eu ganho prá ensinar aqui! Sente-se agora!” E para seu alívio, ele assentou.

O que aconteceria se a professora não ganhasse aquela causa? Se o aluno continuasse a desafiá-la? Como ela poderia efetivamente ensinar o conteúdo de sua matéria? Para alívio da professora, o aluno assentou-se e posteriormente se tornou um de seus melhores alunos e ajudante na sala da aula.

Um dos temas da psiquiatria atual gira em torno do Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), um distúrbio que ocorre na infância com sintomas desafiadores e impulsivos, dificuldade de lidar com frustrações, teimosia, mentira e/ou ação por vingança ou crueldade, dificuldades intensas no convívio social com familiares ou figuras de autoridade, comportamento agressivo e humor irritável. Tais transtornos são disruptivos e causam perturbação no ambiente.

Uma pergunta inicial é necessária: Quem nunca se deparou com uma criança opositora? Que não quer assumir seus erros ou responsabilidades? Que tem dificuldades para se submeter a regras e desafia seus pais? Eu temo que a generalização deste diagnóstico gere uma geração que obtenha um certificado psiquiátrico para desobedecer e infringir, ainda mais levando em conta que os pais encontram dificuldades em estabelecer regras e disciplinar seus filhos.

O que acontecerá? Crianças com comportamentos disruptivos serão retiradas de eventos sociais por causa de seu comportamento difícil. Quem tem coragem de convidar um amigo que tem filhos que não respeitam limites e não podem ser contrariados? Os pais de tais crianças encontrarão dificuldade em sair ou passear com elas. Elas serão preteridas, mal faladas e sofrerão forte rejeição.

O que caracteriza marginalidade é por definição a rejeição de limites. Como conviver com uma criança irritadiça e mau humorada? Que sempre age de forma argumentativa raivosa e desafiadora? Que se recusa a obedecer regras e é rancorosa e vingativa?

Recentemente A Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 3050/23, aprovando acompanhamento integral para alunos com TOD nas escolas públicas que serão obrigadas a atender tais estudantes. Tenho simpatia por crianças rebeldes, mas não sei como um professor pode acompanhar uma criança que não aceita regras. Como será a convivência na escola para uma criança que só faz o que quer, quando quiser e se quiser? E ainda afronta a direção e professores e sempre se envolve em conflitos com os colegas?

Sei que a discussão é controvertida e está ainda no início. Quero concluir com uma frase extraída da sabedoria judaica que diz: “A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma, envergonha a sua mãe.” (Pv 29.15) A A disciplina envolve ensino, repreensão, correção e reforço positivo e negativo. Você não precisa concordar com meu pensamento, mas não precisamos pensar da mesma forma em todas as coisas.

Descriminalizar o Aborto

  

 



 

O Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar na madrugada da última sexta-feira (22/SET) a ação que tenta descriminalizar o aborto até 12 semanas de gestação. Até o momento, apenas a ministra e relatora Rosa Weber votou. Ela defendeu a descriminalização.

 

Caso a ação avance o STF definirá que as grávidas e os médicos envolvidos nos procedimentos não poderão ser processados e punidos caso haja a interrupção da gravidez. Hoje, a lei só 'autoriza' aborto em casos de estupro, anencefalia ou em risco de morte da gestante.

 

Em um discurso duro e veemente diante da ministra, o bispo católico em Brasilia - que no último quadriênio presidiu a Comissão Especial de Bioética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) - Dom Ricardo Hoepers saiu em defesa da vida. Em um trecho ele disse:

 

"Precisamos nos unir a todo movimento que defenda a vida. Nós somos “pro-life”. Quero apoiar todas as ações legítimas, de grupos religiosos ou não, que considerem a vida questão prioritária. O STF ou qualquer outro grupo jurídico não tem autoridade para, em nome do Estado laico, apoiar movimentos de extermínio que se opõem à vida humana. Aborto é uma questão ética, moral e religiosa altamente polêmica, mas, infelizmente, segmentos mais liberais querem nos desqualificar como fanáticos, acusando os que defendem a vida como fundamentalistas religiosos."

 

Dom Ricardo Hoepers prosseguiu: "Seria, de fato, fundamentalismo lutar em defesa da vida? Se assim for, eu me incluo neste grupo, pois acredito que todo atentado contra a vida humana é crime. A vida humana deve ser inviolável em sua integralidade desde a concepção até a morte natural. Muitos afirmam que a mulher tem direito sobre seu corpo. Concordo com esta afirmação."

 

O secretário geral da CNBB acrescentou que, "se a mulher quiser extrair um braço por ser feio, arrancar uma perna por considerar que ficará mais bonita ou retirar o seio para evitar câncer de mama, isso é problema dela. Mas uma criança no útero não é parte da mulher, não faz parte do seu corpo. É outro ser, com vida própria, que depende, sim, do útero da mulher. Não podemos tratar o assunto ignorando a existência de um bebê. Um feto não é uma vesícula biliar."

 

De acordo com Hoepers, a decisão não é jurídica, "já que ninguém pode negar a vida da criança em nome da autonomia e liberdade da mulher." O bispo auxiliar de Brasília lembrou que uma criança é uma pessoa, única, irrepetível e que o direito à vida é um dos mais invioláveis direitos do ser humano.

 

"Por isso deve ser protegido. É um direito intrínseco à realidade humana e não uma concessão do Estado. Autoridades públicas não têm o direito de serem seletivos em relação ao direito à vida, concedendo-a a alguns e negando-a a outros. Esta discriminação é iniqua e excludente”, enfatizou Dom Ricardo Hoepers.

 

O Estado deveria ter melhores políticas públicas para atender as mulheres por meio de educação sexual, cuidado e apoio à gravidez ao invés de dar autonomia aos homens e mulheres para interromperem a vida sem nenhuma explicação. Se é uma questão de saúde, a lei deve proteger a mulher e a criança.

 

Precisamos reiterar o direito à vida como um dom celestial. Suicídio, assassinato, eutanásia e aborto são temas que precisam ser tratados com cuidado pela sociedade como um todo e não apenas pelos “fundamentalistas religiosos”. Não se trata de uma questão legal e jurídica a ser decidida por homens e mulheres de togas. É uma questão moral e espiritual.

Autossabotagem

  



 

Uma das melhores amigas que tive sempre teve propensões para engordar e sofria com as dietas, pois amava quitutes e doces. Um dia nos encontramos e ela estava toda feliz com uma receita recém-descoberta. Se ela comesse creme de leite com morango, não engordaria porque o morango tiraria o efeito do creme de leite...

 

Este é o típico exemplo de autossabotagem. É obvio que isso não é verdade, mas ela queria que fosse. Na autossabotagem, de forma consciente ou inconsciente, admitimos determinadas ideias que conspiram contra nós mesmos. O mecanismo pode ser negativo ou positivo, mas tem sempre a incrível capacidade de

 

causar prejuízos. Trata-se de um boicote contra nós mesmos.

 

A autossabotagem está ligada a hábitos negativos como procrastinação, falta de foco e baixa autoestima, gerando uma carga imensa de pensamentos negativos, geralmente correlacionados aos traumas de infância. É uma forma de autopunição baseada na culpa consciente ou não, que nos leva a pensar que não “merecemos”, impedindo-nos de alcançar o que desejamos. É necessário mudar a perspectiva que temos de nós mesmos.

 

Não é fácil perceber que nos autossabotamos, mas atitudes de vitimismo ou fracasso contínuo podem ser sinais que nos ajudam a detectar.

- Por que precisamos de relacionamentos tóxicos?

- Por que não somos capazes de relaxar e temos medo do sucesso?

- Por que focamos sempre no que nos falta e não celebramos as conquistas?

- O que está por trás da constante necessidade de autoafirmação?

- O que nos impede de explorar todo o nosso potencial e de viver com alegria o que somos ou temos recebido?

- Por que procrastinamos tarefas importantes que seriam benéficas e promotoras de nosso bem-estar social e do sucesso?

 

É possível vencer a autossabotagem dando alguns passos importantes. Entre eles estão:

1 - Reconhecer que conspiramos contra nós mesmos; 2 - Identificar os gatilhos e as áreas nas quais somos mais suscetíveis ao autoengano; 3 - Ter cuidado com a vitimização e a baixa autoestima; 4 - Sentir-se bem consigo mesmo e desejar o melhor para si - se não houver culpa nesse processo será algo muito positivo; 5 - Ter autoconhecimento e saber que é possível ir além do que já foi conquistado - algo terapêutico e renovador.

Despedida

  



Não é fácil se separar daqueles que amamos. Olavo Bilac afirmou que “saudade é a presença dos ausentes.” As pessoas vão, mas ficam em nossos corações. “Naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim.”

 

Na semana passada perdi meu pai e sai apressadamente para Palmas-TO para participar do funeral, momento que sabemos que virá, mas nunca desejamos que aconteça. Ele faleceu com 89 anos e 8 meses. Teve uma vida longeva, viveu em simplicidade, gostava do mato, das coisas simples da roça e vivia um estilo de vida pacífico.

 

Apesar de ter um ofício sacerdotal do qual costumava dizer a centenas de pessoas - inclusive em situações como esta -, não me dispus a fazer a homilia. Achei que as emoções poderiam me trair. No final, dei uma palavra dizendo: “Tá tudo certo! Está dolorido, não é um momento fácil de viver, mas está tudo certo. Deus permitiu que meu pai tivesse uma boa saúde e quando entrou na fase de seu sofrimento com UTI e hospital, ficou apenas 32 dias.

 

Particularmente creio que Deus estava, na verdade, ajudando-nos a entender e lidar melhor com a perda.” Tive uma conversa com minha mãe sobre isso e ela já tinha uma visão clara da realidade. Depois do nosso diálogo, ela entregou meu pai ao Senhor. Um dia após ele faleceu.

 

Estamos agora, como família, reconstruindo e fazendo as adaptações necessárias. Uma

nova dinâmica se impõe, de forma particular para minha mãe que está bem, mas foi casada com ele 68 anos e tem 87 anos de idade. O mesmo Deus que nos sustentou até aqui vai continuar dirigindo as diferentes situações.

 

Novos tempos exigem novas respostas e, graças a Deus minha mãe tem uma compreensão clara do momento. Sua lucidez a ajuda bastante e ela entende que a vida é como um breve pensamento, um conto ligeiro ou, ainda, como a relva da manhã: de madrugada viceja e floresce, à tarde murcha e seca. Ela possui clara compreensão de transcendência. A vida é passageira, mas existe eternidade. Sua fé a faz gigante em tempos de tribulação e dor.

 

Ficam as lembranças, os eventos vividos juntos, as viagens para Formoso do Araguaia nas temporadas de pesca. Sua rede, que ele armava rapidamente e com perfeição; sua capacidade de amolar facas, sua maneira de brincar e até mesmo suas “mamparras” - uma expressão que mamãe usava quando ele reclamava muito de determinada coisa. Nunca ouvi este termo em nenhum outro lugar fora do meu ambiente familiar.

 

“O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.”  (Fernando Pessoa)

O Segredo da Longevidade



 

Colunista da Folha de São Paulo, Silvia Ruiz escreveu recentemente sobre os sete segredos da longevidade baseados em pesquisas científicas.

 

Longevidade não é apenas sobre viver muito. É sobre aumentar a expectativa de vida, porém com saúde e independência. É certo que não é possível impedir o processo de envelhecimento, mas alguns hábitos ajudam a envelhecer com saúde. Genética é importante, mas não é destino. Até risadas e paixão influenciam na longevidade.

 

De acordo com o estudo divulgado pela colunista, há sete hábitos que impactam nosso tempo e qualidade de vida. São eles:

 

1. Movimento - As pessoas se sentem até 20 anos mais jovens quando fazem atividade física regular;

2. Nutrição - Dieta baseada em proteínas e vegetais é a melhor escolha;

3. Controle do Estresse - Oração, meditação, ajudam a controlar este grande mal dos nossos tempos. O estresse tem relação direta com doenças crônicas e envelhecimento precoce;

4. Substâncias Tóxicas - Tirar o cigarro e reduzir o álcool. O ideal, segundo especialistas, é reduzir o álcool ao máximo;

5. Relações  Positivas - Manter elo forte com a família e conviver com os amigos. Relações humanas aumentam a longevidade;

6. Espiritualidade - Fé e religião podem impactar a qualidade de vida no envelhecimento. Reuniões nas igrejas e templos geram senso de comunidade;

7. Risada e Paixão - É preciso cuidar do corpo, mas também da mente e longevidade

 

é alcançada por meio de cuidado integral.

 

Observando todos esses hábitos, vale a pena perguntar: como isso se aplica em nossas vidas?

 

Podemos encarar a velhice de duas formas. De forma pessimista como François La Reochefoucauld: “A velhice é uma tirania que proíbe, sob pena de morte, todos os prazeres da juventude.” Ou de forma otimista como Sêneca: “Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem. Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres.”

 

Estamos envelhecendo de forma produtiva, com celebração e gratidão ou de forma amarga, com ressentimento e amargura? A geração atual está muito focada no cuidado com o corpo, alimentação, academia, cirurgia estética. Todas essas coisas têm seu valor, mas, se observarmos os sete hábitos, veremos que três deles estão relacionados ao cuidado físico e quatro são cuidados emocionais e espirituais. Não estou muito certo de que a geração atual tem cuidado destes hábitos que envolvem o cuidado com a mente, emoções, comunidade e espiritualidade.

Dias Maus




Existem muitos dias difíceis e tristes. A sabedoria bíblica nos alerta para essa dura realidade: “Quem guarda o mandamento não experimenta nenhum mal; e o coração do sábio conhece o tempo e o modo" (Ec 8:5). E também encoraja-nos a otimizar e aproveitar cada oportunidade de forma prudente.

A Bíblia nos adverte sobre os dias maus: "Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus" (Ef 5.15-16). Usar bem o tempo significa aproveitar as oportunidades, ter poder sobre o tempo, resgatá-lo e usá-lo com sabedoria para as coisas que são verdadeiramente importantes. Alguns, parafraseando este texto, afirmam que existem dias tristes, dias maus, dias horríveis e Dias Toffoli.

Aliás, não é de hoje que estamos bem assustados com a direção que o sistema jurídico brasileiro tem tomado, desde que a justiça se politizou. Assusta-me o silêncio do Congresso, o silêncio dos juristas e a cumplicidade da Imprensa. Aquela ideia de que a justiça tem uma venda nos olhos para não perceber para que lado o pêndulo deve se mover nunca foi tão falsa.

Não gosto de escrever sobre política porque tenho visto como as pessoas perdem o bom senso quando a ideologia controla o coração, mas, ao mesmo tempo, fico temeroso de permanecer em silêncio e a própria história nos adverte sobre o risco do silêncio.

Atribui-se a Martin Luther King Jr. a frase: “O que me preocupa não é a maldade dos maus, mas o silêncio dos bons”. No silêncio cúmplice dos bons, a sociedade descamba. Pastor alemão que defendeu a tomada do poder de Hitler, Niemüller disse o seguinte: “Primeiro vieram buscar os judeus. Como eu não sou judeu, não me importei. Depois os comunistas. Como não sou comunista, não me importei. Depois vieram buscar os anarquistas. Como não sou anarquista, não me incomodei. Agora vieram me buscar e ninguém se importa.”

Nesta semana, de forma monocrática, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), deferiu medida que tornam nulas todas e quaisquer provas obtidas contra os incriminados da operação Lava Jato. Determinou, também, que se proceda à imediata apuração para responsabilizar civilmente os agentes causadores dos danos, bem como a União.

A decisão do ministro ignora todas as evidências gravíssimas de atos cometidos pelo Estado em conluio com empresas fraudulentas e a novela ainda não acabou. Se é certo que todos os incriminados e condenados em várias instâncias foram vítimas inocentes dos desmandos jurídicos, a União, para ser justa, terá de retornar todo o dinheiro da corrupção e ainda indenizar as “vítimas inocentes.”

Isso não seria justo? Quando a justiça condena um inocente e o coloca na cadeia, ele tem direito a uma indenização altíssima do Estado. Lula “ainda” não entrará com uma ação de “danos morais” porque é presidente, mas logo após sua saída ele e todos seus camaradas, incluindo José Dirceu e empresários culpados, deverão ser indenizados. Existem dias tristes, dias maus, dias horríveis e Dias Toffoli...