A ligação
entre saúde mental e espiritualidade sempre foi objeto de investigação
científica. No início de Novembro 2015, aconteceu o 33o. Congresso Brasileiro
de Psiquiatria, no qual foi divulgado que “nas décadas recentes, tem
havido uma crescente conscientização pública e acadêmica sobre a relevância da
espiritualidade e da religião para os problemas de saúde”.
Pesquisas
demonstraram que a espiritualidade melhora a qualidade de vida, o ganho social
do indivíduo e ajuda na prevenção do suicídio e na recuperação de drogas, e que
a ausência deste lado espiritual, ou sua visão distorcida (fanatismo), pode
trazer complicações e transtornos mentais.
Para
Alexander Moreira-Almeida, “a religião é um sistema de crenças e práticas que
busca a aproximação com o sagrado e com o transcendente. Uma religião seria a
forma institucional e coletiva de espiritualidade.”
Apesar dos
prognósticos de que a humanidade trocaria a religiosidade por uma vida
materialista, a realidade é que ela mantém crenças e práticas religiosas e
espirituais, no Brasil 90% dos brasileiros afirmam ter uma religião, 9% afirmam
não ter um credo e apenas 0,5% da população se declaram ateu ou agnóstico e
mais de um terço dos brasileiros frequenta um grupo religioso mais do que uma
vez por semana.
Para a
psiquiatria, a religiosidade é algo multidimensional e cada uma dessas
dimensões tem relações diferentes com os desfechos na saúde, como depressão,
mortalidade e qualidade de vida.
Num
trabalho sobre a religiosidade de crianças em torno dos 10 anos de idade,
filhas de pais com depressão em tratamento, verificou-se que aquelas que se
consideravam religiosas tinham 10 vezes menos risco de desenvolver depressão se
comparadas às demais do grupo. Idosos que frequentavam serviços religiosos
tinham menos da metade dos níveis de depressão e de ansiedade do que os que não
frequentavam. Dados surpreendentes apontaram para o fato de que, para os
idosos, a religiosidade foi a principal fonte de suporte social, superior a
família e amigos. O “coping” religioso positivo também ajudou a manter a
tristeza a uma distância segura.
De modo
geral, as questões religiosas enfatizam cuidar de si mesmo e valorizar o corpo
como uma dádiva divina. A religiosidade parece influenciar também aspectos mais
primitivos, digamos, da psique humana. Indivíduos sem envolvimento religioso
demonstraram o dobro da frequência de uso de tabaco, de álcool e de outras
drogas, e em indivíduos espiritualizados, a probabilidade de atentar contra a
própria vida cai pela metade.
Em 1956,
Guimarães Rosa lançou sua obra-prima, “Grande Sertão: Veredas” e num dos seus
lúcidos diálogos afirmou: “Todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas
todas. Por isso é que se carece principalmente de religião: para se
desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara loucura.”
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