Um
incidente não banal, e digno de nota pela sua excepcionalidade, foi muito pouco
divulgado pela imprensa na última greve de policiais do Recife. Dezenas de
pessoas, massificadas e barbarizadas resolveram quebrar lojas e saqueá-las,
levando o que encontrassem pela frente. Este fenômeno social, que está se
tornando estranhamente normal, porém, teria um desdobramento surpreendente:
Posteriormente, muitos saqueadores arrependidos, trouxeram o roubo e o
devolveram na delegacia, reparando sua atitude tresloucada e desonesta.
O
incidente incomum não foram os saques. Esta atitude de vândalos, que está se
tornando comum entre nós, e que precisa ser corrigida duramente para que o
quadro social tenha um mínimo de paz e respeito. O extraordinário se deu quando
famílias inteiras ou mesmo pessoas que havia roubado os bens, e cometeram atos
delinqüentes, traziam arrependidos os bens espoliados para devolver, num ato de
reparação. Esta foi a nobreza do ato. A imprensa perdeu a oportunidade de
valorizar mais o que deveria ser valorizado.
Não
é difícil explicar comportamentos de massa. Pessoas sensatas cometem atos
impensados movidas pela emoção do momento e pelo grito de um grupo maior. O que
não é concebível é que, passado aquele momento insano, pessoas sãs e de boa
consciência, não procurem consertar a tolice que praticaram.
A
mídia tem um papel importante nisto. Quando se coloca em destaque personagens e
imagens cruéis ou injustas, sem perceber pode valorizar o mal. Para uma pessoa
com consciência danificada, ser exposto na capa de uma revista ou jornal, ainda
que de forma negativa, pode parecer algo positivo, pois tira o bandido do
anonimato e o torna respeitável entre aqueles que agem da mesma forma.
O
que vi neste incidente de Recife, foram pessoas de bom senso que por detrás da
insanidade e do quebra-quebra posteriormente ponderaram e envergonhados da sua
atitude tola e criminosa, encontraram coragem de fazer o bem.
A
reparação do ato é que deve ser destacada. Foi virtuoso o gesto de famílias com
fortes e claros valores morais buscarem uma forma de acertar as coisas. Se esta
consciência saudável acontecesse em outros níveis sociais, veríamos corruptos e
corruptores, devolvendo aquilo que ilegalmente foi extorquido, não aceitando o que
não é seu.
Esta
virtude cristã se chama arrependimento. E é o primeiro passo para tratar a
consciência culpada e restaurar uma sociedade que já não sente vergonha de
fazer o que é errado e ilegal. Que chama ao bem, mal, e ao mal, bem; que confunde
trevas com luz e luz com trevas; que toma o amargo por doce, e o doce por
amargo.
Restauração
é sempre resultado de arrependimento – que nunca deixou de ser uma virtude
cristã. Soren Kierkegaard, filósofo dinamarquês, no seu clássico livro Temor e tremor, escrito em 1843, afirma
que “Não há esperança para os que se não arrependem a tempo... Quando o pecado
entra em discussão, a ética fracassa, pois o arrependimento (implícito
sentimento de pecado), é a suprema expressão da ética”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário