De repente nos deparamos com bandeiras, camisas, gritos de
guerra e cânticos de exaltação da nação presentes por todos os lados. É bonito
ver o brasileiro admirando e gostando do Brasil, valorizando suas cores,
sentindo alegria de ser brasileiro.
Que pena que apenas o futebol seja capaz de despertar este
orgulho dos habitantes da terra brasilis.
Imagine se o povo, como que num passe de mágica igual a este produzido pelo
futebol, passasse a amar com fé e orgulho
a terra em que nasceu. Não apenas por causa dos dribles e passes mágicos dos
atletas, mas por outras razões até mesmo mais nobres, nos levassem a um estado
de êxtase e prazer renovado pela pátria.
Infelizmente, o descaso e o desprezo da liderança política
tem desonrado a nação e tirado o orgulho de ser brasileiro. Quando quem tem o
poder nas mãos brinca e zomba dos recursos naturais e do potencial econômico e fazem
piadas com dinheiro público, a auto estima do povo diminui e busca-se a afirmação
e valor na utopia do futebol, onde a mágica e o sonho interagem.
O problema é que a fantasia do futebol é frágil demais.
Existe sempre a possibilidade de um tropeço e mesmo a conquista e a glória de
um título mundial é efêmera e fugaz, o encantamento e a frustração passam
rápido demais e o brio patriótico será renovado apenas no ufanismo quadrienal.
Torna-se ainda mais complicado quando recordamos os
macabros relatos da história, quando por razão ideológica se torturava e matava
ativistas e líderes oposicionistas do regime militar nos imundos e fétidos
porões de celas clandestinas enquanto a euforia do Tri Campeonato do ano 70 inebriava
o povo. Em nossa efervescência de torcedor há sempre o risco de que enquanto o
povo vibra com o time, outros elementos políticos e administrativos se escondam
nestes fantasiosos dias de nacionalismo exacerbados, enquanto a nação “deitada
eternamente em berço esplêndido” delira no doce sonho da utopia e dos gols.
Gostaria de ver este mesmo veio patriótico em tempos
normais, que sentíssemos orgulho de sermos brasileiros porque nossa política é
sensata, os funcionários são respeitados, os aposentados são tratados com
dignidade, as escolas não têm que competir com contas do exterior, nem o
sistema de saúde com escândalos de ambulâncias superfaturadas enquanto pessoas
estão espalhadas no corredor de hospitais abandonados.
Eu também tenho sonhos, mas talvez eles sejam
demasiadamente utópicos, de ver, e sei que isto é sonhar demais, que um dia nossas
lideranças políticas, amem com fé e
orgulho a terra onde nasceram.
Que nossa pátria amada, que não deve nem precisa ser
idolatrada, seja capaz de gerar em nós o orgulho, não apenas pela magia do
futebol, mas pelo respeito pela vida e pela dignidade humana.
Sonhamos por este patriotismo brotando de crianças que
estão orgulhosas do salário que seus pais possuem, das escolas que freqüentam e
do país onde residem, cuja geração sonhe
em construir sua história num país viável, e não num país cuja única saída
honrosa seja o aeroporto internacional.
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