sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

14 TEXTOS BÍBLICOS CONTRA SEXO ANTES DO CASAMENTO

A pessoa da época vitoriana procurava ter amor sem cair no sexo; o humano moderno 
procura ter sexo sem cair no amor.” 

Num acampamento para jovens “crentes” fui responsável por dar uma palestra e fazer um painel de discussão sobre sexo para rapazes e minha esposa falaria para as moças. Antes de iniciar especificamente o tema, um dos rapazes, aparentemente porta voz do grupo me disse: “Eu não acho que fazer sexo antes do casamento seja proibido na bíblia, desde que seja algo responsável”. Afirmei ao rapaz que seria capaz de citar-lhe dez textos na bíblia que nos advertem contra o sexo pré-conjugal, mas o desafiei a me mostrar um texto que justificasse seu ponto de vista, e se o texto fosse claro, eu poderia “rest my case!”. Obviamente ele não tinha qualquer fundamentação bíblico-teológica para comprovar seu argumento.

A Bíblia nos adverte várias vezes contra a fornicação (sexo pré-conjugal). Prefiro o termo fornicação à prostituição, que algumas vezes aparece na tradução da bíblia, porque prostituição sugere o pagamento pelo ato sexual. Neste caso, a pessoa tenta comprar o prazer que o corpo do outro lhe pode dar, sem nenhum vínculo afetivo. A expressão mais usada no Novo Testamento na NVI é “imoralidade sexual” (pornéia, no grego), ou relações sexuais ilícitas (ou irregulares), dentre estas adultério, fornicação, prostituição, infidelidade, imoralidade e impureza. A fornicação envolve um homem e uma mulher que não são casados. O envolvimento sexual entre pessoas que não são casadas também é chamado de sexo pré-conjugal e prostituição. Algumas versões da Bíblia traduziram fornicação por prostituição e imoralidade sexual; e fornicadores por impuros.

A fornicação envolve um homem e uma mulher que não são casados. Algumas versões da Bíblia traduziram fornicação por prostituição e imoralidade sexual e fornicadores por impuros, como nos versículos abaixo: “Pois esta é a vontade de Deus, a vossa santificação, que vos abstenhais da fornicação” (1 Ts 4.3 - TB).

O Instituto Alan Guttmacher, dos EUA, afirmou: “Oito de cada 10 homens, e sete de cada 10 mulheres comunicam já terem tido relações sexuais na adolescência.” (1981). Em nenhuma outra área tem sido a moralidade cristã atacada como na área de sexo fora do casamento. A Revista Time traz uma informação desconcertante, de que mais de 40% dos adolescentes tiveram relações sexuais antes de falar com seus pais sobre sexo seguro, controle de natalidade ou doenças sexualmente transmissíveis. Isto aponta para um enorme potencial de risco no campo religioso, emocional e da saúde. O Teólogo Paul Tillich declara: “Sem o imperativo moral, cultura e religião se desintegram ”. Já o sociólogo Pitirim Sorokim advertiu que o “grupo que tolera a anarquia sexual está pondo em perigo a sua própria sobrevivência”. “Os amantes modernos aprenderam a fornicar, mas não a amar. Os anticoncepcionais, preservativos e antibióticos colocaram o sexo na área ‘segura’, reduzindo os temores da gravidez e das doenças venéreas, mas ninguém inventou um diagrama para a alma e para a consciência” .

Eis alguns textos bíblicos: 

1. Gn 2.24 – Nada mais razoável que começar com o texto que nos fala da origem e propósito de todas as coisas. Sexo foi criado por Deus e ordenado para que fosse feito após o casamento (Gn 2.24), Este também deve ser um princípio a nos nortear, isto é, ao contrário do que muitos pensam, a Bíblia fala da sexualidade humana como boa, embora não autorize o homem a ter sexo fora do casamento. Sexo fora do casamento é sexo sem compromisso e tende a reduzir o outro a objeto. Este texto nos mostra que Deus é o criador da sexualidade humana. Ao criar o homem e a mulher, Deus afirma sua sexualidade: “macho e fêmea os criou” (Gn 1.31). Não o fez com uma sexualidade indefinida. Deus criou o sexo para o prazer e intimidade do casal para que ambos encontrem plena satisfação um no outro. Sexo é saudável quando você pode conciliar satisfação sexual, integridade, compromisso, criando assim uma intimidade duradoura. Foi Deus quem criou o sexo, para proporcionar satisfação e realização pessoal. As Escrituras condenam a prática do sexo fora do casamento, pois tal atitude não faz parte do plano original de Deus.

2. Gn 34 – Este texto nos relata o envolvimento sexual de Diná, uma das filhas de Jacó e Lia, com Siquém, filho de Hamor, príncipe de uma terra vizinha, que teve um envolvimento sexual antes de se casarem. A atitude de Siquém, foi considerada um ultraje tão grande que Simeão e Levi resolveram matá-lo. Este texto nos mostra que o sexo antes do casamento foi visto como ultraje, já que o caminho a ser trilhado envolvia o consentimento da família, a aprovação pública e social do fato. A atitude de Levi e Simeão não foi, naturalmente, aprovada nem por Deus nem por Jacó, que na hora de abençoá-los reprovou-os pela impulsiva e violenta (Gn 49.5-7).

3. Dt 22.28-29 - “Se um homem se encontrar com uma moça sem compromisso de casamento e a violentar, e eles forem descobertos, ele pagará ao pai da moça cinqüenta peças de prata. Terá que casar-se com a moça, pois a violentou. Jamais poderá divorciar-se dela. Nenhum homem poderá tomar por mulher a mulher do seu pai, pois isso desonraria a cama de seu pai” .

Neste texto, a lei trata da questão da virgindade. Embora em algumas culturas a virgindade não fosse considerada valor moral, para o povo de Deus, sim. A determinação clara era dada ao povo. O rapaz que casasse com uma moça que não era virgem, poderia divorciar-se dela. Este texto torna claro alguns princípios:

a. A perda da virgindade era considerado algo grave;

b. Por causa do impulso sexual, era natural que eventualmente isto aconteceria, mas era uma prática vergonhosa para a moça. O texto usa o verbo “humilhar” para demonstrar sua situação.

c. Para resolver a humilhação, o jovem pagava o dote para a família da moça e se casava com ela. A solução para o envolvimento pré-conjugal, era o casamento. Quem resolvesse ter sexo antes de se casar, deveria assumir as responsabilidades e implicações de seu ato. Este ato era indissolúvel. Não poderia mandá-la embora durante a sua vida. Não havia apedrejamento como no caso do adultério, mas havia responsabilidades civis a serem assumidas.

4. Pv 6.27-28 – Este texto pode ser criticado e perde força no argumento sobre a fornicação, porque o contexto dele é todo voltado para o adultério. “Porventura tomará alguém fogo no seu seio, sem que suas vestes se queimem? Ou andará alguém sobre brasas, sem que se queimem os seus pés?”. Antes, porém, de o rejeitarmos é bom lembrar que o seu principio se aplica a situações ligadas à sexualidade. 
A ideia é simples: 
Muitas vezes vivemos nos limites dos impulsos, achando que  teremos condições de resistir aos mesmos. Alguns jovens fazem perguntas que demonstram uma tendência perigosa: “Até onde podemos ir?” Esta pergunta nunca deveria ser feita. Jovens cristãos não deveriam pensar em ir até o limite. O texto de Provérbios nos adverte: “Pode alguém colocar fogo no peito sem queimar a roupa? Pode alguém andar sobre brasas sem queimar os pés?” (NVI). O ponto é o seguinte: Como pode alguém permitir intimidades sexuais, sem que todo seu corpo impelido e impulsionado nesta direção, possa resistir? Intimidades sexuais no namoro, geralmente desembocam em sérias consequências. Nenhum jovem vai se satisfazer se o namoro é muito “caliente”, em beijar, tocar nos seios ou em partes íntimas. O resultado é o abrasamento. O texto bíblico nos adverte que se isto acontecer, as vestes vão se incendiar e os pés se queimarão. Tenho certeza de que todos entendemos claramente esta linguagem.

5. Mt 1.18 – Este texto descreve o procedimento comum entre o povo de Deus nos dias de Jesus. O rapaz desposava a moça num ato reconhecidamente público e familiar, muito parecido com o nosso noivado. A partir desta data eles estavam compromissados pelo casamento (desposados), embora não pudessem ter envolvimento sexual até que chegasse o dia da celebração, quando era realizada a cerimônia festiva com muita dança, comida e vinho (Jo 2.1-8). Provavelmente esta era a referência do Antigo Testamento ao cântico da noiva e do noivo (Jr 7.34; 16.9; 25.10 e 33.11). Desta forma se selava o compromisso do casamento, e eram reconhecidos na comunidade. Não havia uma formalidade civil como hoje, com registro de atas e escrivães, mas havia sim, a benção e aprovação dos pais para o distinto encontro.

Em hipótese alguma era permitido a pessoas tementes a Deus que tivessem vida sexual antes do casamento. Mesmo em famílias não tão comprometidas com Deus este era um valor claro, e a violação destes princípios significava vergonha para a família.

6. 1 Co 6.18 – Este é um dos textos mais conhecidos da bíblia sobre pureza sexual. Veja esta tradução: “Alguém vai dizer: "Eu posso fazer tudo o que quero." Pode, sim, mas nem tudo é bom para você. Eu poderia dizer: "Posso fazer qualquer coisa." Mas não vou deixar que nada me escravize. Outro vai dizer: "O alimento existe para o estômago, e o estômago existe para o alimento." Sim, mas Deus acabará com os dois. O nosso corpo não existe para praticar a imoralidade, mas para servir o Senhor; e o Senhor cuida do nosso corpo. Fujam da imoralidade sexual! Qualquer outro pecado que alguém comete não afeta o corpo, mas a pessoa que comete imoralidade sexual peca contra o seu próprio corpo. Será que vocês não sabem que o corpo de vocês é o templo do Espírito Santo, que vive em vocês e lhes foi dado por Deus? Vocês não pertencem a vocês mesmos, mas a Deus, pois ele os comprou e pagou o preço. Portanto, usem o seu corpo para a glória dele.” (1 Co 6.12,13, 18-20 BLH – Bíblia Na Linguagem de Hoje).

Sexo representa a mais íntima de todas as relações interpessoais, por isto a Bíblia afirma que quem se envolve sexualmente com alguém, torna-se uma só carne. Sexo não tem o propósito de ser puramente recreacional ou comercial. Fora do plano de Deus, na união de um homem com sua mulher, que “deixa pai e mãe e se une à sua esposa”, o sexo se torna pecaminoso e é chamado na bíblia de imoralidade. 

Francis Shaeffer faz uma observação muito interessante sobre este assunto quando afirma que “A nova moralidade nada mais é que a antiga imoralidade”. Imoralidade sexual afeta o indivíduo mais profunda e permanentemente do que qualquer outro pecado por causa de sua intimidade: “Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica imoralidade peca contra o próprio corpo” (1 Co 6.18). Isto não significa que pecados sexuais sejam imperdoáveis (1 Jo 1.9), mas demonstra que não podemos pensar neste pecado sem conseqüências emocionais e espirituais. A Bíblia está repleta de relatos de pessoas que pecaram e foram restauradas diante de Deus. Quando Davi se arrependeu de seu pecado, Deus o perdoou (Sl 32.3-4), mas isto não o isentou das graves conseqüências que ele trouxe para sua vida e sua casa.

7. 1 Ts 4.3-8 – “Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da prostituição; Que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra; Não na paixão da concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Deus. Ninguém oprima ou engane a seu irmão em negócio algum, porque o Senhor é vingador de todas estas coisas, como também antes vo-lo dissemos e testificamos. Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação. Portanto, quem despreza isto não despreza ao homem, mas sim a Deus, que nos deu também o seu Espírito Santo”.
Neste texto a Palavra de Deus afirma que devemos viver em santificação e não em desonra e imoralidade. Manter relações sexuais antes do casamento é considerado prostituição e pecado diante de Deus e dos homens. O livro de Cantares relata que o sexo feito após o casamento é agradável aos olhos do Senhor. Se os jovens tivessem a consciência de que o sexo foi guardado e separado por Deus exclusivamente para o casamento, seria possível evitar e diminuir o número de crianças inocentes que têm sido mortas antes de nascer ou abandonadas após virem ao mundo. Mais uma vez gostaria de citar uma tradução mais livre deste texto: “O que Deus quer de vocês é isto: que sejam completamente dedicados a ele e que fiquem livres da imoralidade”. (1 Ts 4.3 BLH – no original, a palavra “imoralidade” se refere à fornicação, isto é, o sexo antes do casamento).

8. Mt 19.4-5: Aqui Jesus usa o argumento da criação, o projeto original de Deus para a raça humana, antes da queda: 
"Não ouvistes que, no princípio, o Criador os fez varão e mulher? Disse: por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à mulher, e serão dois numa só carne." (Mt 19, 4-5) Com efeito em Gen. 2.24 vê-se: "O homem deixará seu pai e sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão dois numa só carne." e, ainda, "não separe o homem o que Deus uniu" (Mt 19,6). A cerimônia nupcial com permissão dos pais, e a aprovação de Deus, é o ato que realmente une o casal. A geração atual tem a tendência de desconsiderar os rituais, achando que eles nada significam. Naturalmente, o símbolo não pode ser maior que o simbolizado, mas ao mesmo tempo, não pode ser negado, caso contrário, muitos outros atos também deveriam ser desconsiderados na vida.

Foi o próprio Deus quem instituiu o matrimônio, e ignorá-lo significa rebelião contra o propósito divino. Este é um dos mais claros textos para que entendamos o que é o casamento na perspectiva cristã. Ao invés de ficarmos psicologizando, precisamos ouvir a Palavra de Deus. Um dos maiores problemas de hoje é a recusa e questionamento à Palavra. Ao invés de a abrirmos para receber a instrução de Deus ficamos questionando seu conteúdo. Devemos sempre lembrar que não somos orientados por sentimentos, mas pela Palavra. O Rev. Wilson de Souza costumava dizer: “Se Deus não disse o que teria dito, por que ele não disse o que teria de dizer?”

Deus designou o casamento como um elemento fundacional da sociedade humana. Antes que fossem estabelecidas as igrejas, escolas, instituições de negócios, Ele formalmente instituiu o casamento. Se fosse um projeto meramente humano, poderíamos descartá-lo, mas porque Deus o instituiu, só ele poderá revogá-lo. Ele afirmou que o casamento não deveria ser dissolvido, até que a morte separasse. Casamento não pode ser regulado primariamente pelo governo, ou de acordo com as conveniências humanas, porque como instituição é sujeito a regras e regulamentos estabelecidos por Deus. Nem indivíduos, nem poderes públicos têm o direito e a competência de decidir quem pode se casar ou divorciar, isto é prerrogativa daquele que instituiu o matrimônio. O Estado tem a função de manter os recordes e as certidões em ordem, mas não determinar as regras para casamento porque isto é ato exclusivo de Deus. Ele revelou seu plano nas Escrituras sobre este assunto.

O ataque ao casamento não é coisa banal, mas vai direto ao projeto e propósito inicial de Deus para a raça humana. Deus chama o casamento de Pacto (Pv 2.17). No Éden, Deus instituiu e oficiou este pacto entre Adão e Eva. Um pacto nas Escrituras é solene compromisso entre o regulador e o sujeito. Um pacto assim formalizado traz benção quando mantido e maldição quando quebrado. Nós não podemos fazer regras para justificar atitudes. Existem leis e princípios ordenados claramente por Deus e os tais devem ser cumpridos.

Casamento é projeto de Deus – Contrário ao pensamento contemporâneo, casamento não é expediente humano. Não foi idealizado pelos homens no curso da história, pelo contrário, o texto nos diz que Deus o estabeleceu, instituiu e o ordenou. Faz parte do projeto inicial de Deus, de sua criação. Infelizmente temos tido a tendência de comprar e aceitar tudo quanto o mundo nos vende. Temos sido tolerantes às interpretações e aos conceitos que o mundo tem trazido até nós, aceitando-os como verdade, sem capacidade critica e sem poder de vermos todas as implicações destes valores.

Dois pontos devem ser aqui considerados:

a. Antes de ser uma instituição humana, é iniciativa de Deus - Deus é seu arquiteto.

b. Não é projeto resultante da queda da raça humana. Não foi dado por Deus depois que o pecado entrou na humanidade.

Por esta Palavra dada pelo nosso Senhor Jesus é tão importante: “Desde o princípio Deus fez homem e mulher, portanto... O que Deus ajuntou não o separe o homem”.

Naturalmente corremos sempre o perigo de esvaziar o casamento e transformá-lo num evento meramente humano. Um contrato egoísta no qual ambos buscam vantagens. Por isto podemos pecaminosamente banalizá-lo e desvalorizá-lo. Quem quebra um pacto divino está quebrando regras essenciais da vida cristã. Não sem razão o divórcio traz feridas e dores profundas e prolongadas.

9. 1 Co 7.1-2 – “Ora, quanto às coisas que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher; Mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido. Outra tradução afirma: “Mas eu digo: Já que existe tanta imoralidade sexual, cada homem deve ter a sua própria esposa, e cada mulher, o seu próprio marido”. (1 Co 7.2 BLH). O casamento é a proposta de Deus para que não caiamos em imoralidade sexual.
Infelizmente a sociedade tem criado cada vez mais embaraços para que o casamento se realize. Recentemente conversava com um casal que não é brasileiro e faz parte de nossa comunidade, e aquela mulher muito sensata me disse: “Fico com dó dos jovens brasileiros, porque as exigências na preparação da cerimônia e festa do casamento, e para que todas as coisas estejam absolutamente preparadas, são muito altas e muitos deles não tem condições para atender tais expectativas”.

O casamento tem se tornado muito caro. Já fiz casamento que custaram mais de R$ 300 mil reais. Uma festa simples fica em torno de R$ 30 mil, com ornamentação, orquestra, fotógrafo, roupas, mestre de cerimônia, etc. Além disto, temos o aluguel do apartamento (ou compra), móveis, eletrodomésticos, muitos vem de famílias bem estruturadas, com todo o conforto e querem todas as coisas já prontas, quando sabemos que é muito difícil ter tudo pronto.

Os vitorianos procuravam o amor sem o envolvimento com o sexo. Os homens contemporâneos procura sexo sem amor. Rollo May chama a idéia de “O novo puritanismo”(…) “Os antigos puritanos recalcavam o sexo e eram apaixonados. O novo puritano recalca a paixão e entrega-se ao sexo” .

10. 1 Co 7.9 - “Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado”. O texto não diz: “caso vocês não se dominem, tenham sexo, responsável... O texto nos ensina que se as coisas estão no limite, avançando o sinal, não demorem – que se casem! A fim de aliviarmos a tensão sexual, a recomendação de Deus é que nos casemos.

Este texto não dá margem para que aliviemos desejos sexuais fora do matrimônio.

Isto não indica, porém, que a motivação para o casamento seja apenas o impulso sexo. Muitos caem neste perigo!

Deus entendia claramente a força de nosso instinto sexual. Não há nada de errado neste impulso que Ele mesmo colocou em nós. Por isto, quando chega o abrasamento, é “melhor casar”. Por quê? Porque existe uma forma lícita, ordenada por Deus, de se liberar a pressão natural que Ele colocou em nós — o ato conjugal. Esse é o método de Deus para a satisfação sexual. Sexo dentro do casamento, e não fora dele.

12. Col 3.5-7 – “Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, a afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria; Pelas quais coisas vêm a ira de Deus sobre os filhos da desobediência; Nas quais, também, em outro tempo andastes, quando vivíeis nelas”. Este texto trata de várias questões relativas à pureza moral da vida cristã, não apenas do sexo pré conjugal. Cita prostituição, impureza (porneia) e paixão lasciva (RA) ou afeição desordenada, e conclui dizendo que “por estas cousas é que vem a ira de Deus [sobre os filhos da desobediência” (Col. 3.6).

13. 1 Ts 4.3 – “Porque estais inteirados de quantas instruções vos demos da parte do Senhor Jesus. Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição; que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra, não com o desejo de lascívia, como os gentios que não conhecem a Deus; e que, nesta matéria, ninguém ofenda nem defraude a seu irmão; porque o Senhor, contra todas estas coisas, como antes vos avisamos e testificamos claramente, é o vingador, porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação. Dessarte, quem rejeita estas coisas não rejeita o homem, e sim a Deus, que também vos dá o seu Espírito Santo”.
Este texto é auto explicativo. Fico pensando como alguém que deseja agradar a Deus, lendo este texto com o coração sincero pode ainda continuar achando que sexo antes do casamento é algo aprovado por Deus. A tradução Viva diz: “Porque Deus deseja que você seja santo e puro, livre de toda impureza sexual, para que se casem em santidade e honra”.

14. 2 Tm 2.21-23 – “Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra. Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor”.
O que são “paixões da mocidade”? Os impulsos sexuais estão à flor da pele exatamente nesta fase da vida. Muitos afirmam que não podem controlar suas paixões. O Talmude judaico dizia: "A paixão é, primeiro, uma estranha; depois, torna-se hóspede; e, finalmente, é a dona da casa". Ai do homem que não controla sua paixão. Muitos perderam sua vida por causa de uma paixão tresloucada. Amnom, o filho primogênito de Davi, foi uma destas vítimas de sua própria paixão (2 Sm 13). Ele desenvolveu uma paixão proibida, um sentimento doentio ao se apaixonar por sua irmã, e traído pelas forças dos seus próprios desejos e uma força incontrolável que nasceu nele e se tornou obsessivo e a estuprou. Sua paixão o adoeceu. A paixão o leva a cometer um dos atos mais infames em Jerusalém, bem como em nossa cultura moderna: Ele estupra sua irmã.

Muitos, da mesma forma, sabem que sua paixão é loucura, é proibida, mas ainda assim são atraídos por este louco sentimento!

Paixão destrói famílias, gera mortes, traz tristeza e desgraça a famílias inteiras e tem sido um agente fomentador do ódio. Quantas desgraças se seguem a uma paixão dentro da história das famílias, destroçando almas e gerado profundas depressões familiares, levando pessoas ao inferno e trazido dores à igreja de Cristo.

C.S.Lewis afirma: “Um homem com uma obsessão é um homem que tem pouca resistência à compra…Muitas pessoas dizem não praticar a castidade por ser ela impossível. Quando uma coisa é obrigatória, não facultativa, deve-se fazer o melhor e não pensar em possibilidade ou impossibilidade” .

Pv 9.13 afirma: “A loucura é mulher apaixonada, é ignorante e não sabe coisa alguma”. Existem algumas coisas interessantes que a Bíblia fala sobre a pessoa apaixonada.

1. É louca – O louco perde o senso da realidade, do ridículo, da lógica e da coerência. O louco tira a roupa no meio da rua, faz interpretações malucas acerca da vida, perde a coerência, o paradigma do seu próprio interior e do seu universo social, e o pior: "todo maluco acha que tem razão". O louco não compreende ninguém e também não é compreendido por quem quer que seja. É alienado das conseqüências de seus atos. “A loucura é mulher apaixonada”. Isto é, tem o mesmo naipe; Já viram uma moça ou um rapaz apaixonados o que são capazes de fazer? Não vêem mais nada, tornam-se cega. Todo mundo vê o cenário, mas eles são incapazes de enxergar sua realidade. Existem rapazinhos fazendo loucura por uma mulher.

2. É ignorante – Já viram uma pessoa apaixonada o que faz? Ela ignora os perigos e as ameaças e se torna tola no seu julgamento. Gente apaixonada precisa de amigos que o advirtam do perigo porque ele mesmo não sabe quão grave é o perigo que corre. O texto diz ainda que “não sabe coisa alguma”. Ai da pessoa que se torna presa de uma paixão direcionada ao objeto errado, porque sua tendência é ignorar os aspectos mais essenciais de sua existência.
Mulher e homem apaixonados são loucos. Isto não é amor, é paixão! Sentimento distorcido, profundamente forte, mas doentio. A palavra paixão, vem do grego “pathos”, donde se origina em português o termo “patologia”. Paixão é febre, é doença!

Didachê:
Um dos documentos mais apreciados por todos os cristãos, e certamente o livro mais respeitado depois da Bíblia é o Didachê, um documento escrito em torno do ano 120 d.C., pelos cristãos primitivos para ser utilizado na catequese cristã. Embora não seja considerado inspirado, tem grande estima na tradição cristã. Nele podemos observar que desde os primórdios do cristianismo já se observava a regra da fidelidade no matrimônio:
"E este é o segundo mandamento do ensinamento. Não matarás e não cometerás adultério, não serás corruptor de rapazes e não fornicarás, não roubarás, não terás tratos com a magia, nem farás feitiçarias, não matarás a uma criança com um aborto, nem matarás ao que nasceu (...)"[6]

Sexo antes do casamento. Riscos:

As igrejas e famílias cristãs precisam ter coragem de mostrar os efeitos prejudiciais do sexo antes do casamento e não deixarem que a mídia secular seja o parâmetro ético. O cenário é preocupante. Revistas, jornais, cinemas, TV, bombardeiam constantemente nossos jovens com idéias contrárias ao pensamento das Escrituras Sagradas. Portanto, não é de se surpreender que aquele jovem que no início do artigo me abordou, fizesse tal colocação. Josh McDowell, conhecido apologeta cristão, afirma que 85% dos adolescentes cristãos acreditam que a verdade se encontra dentro deles (subjetivismo, relativismo), e não nas Escrituras Sagradas. Deus fez as coisas de forma organizada e dentro de um propósito que Ele mesmo estabeleceu e “deseja que o impulso sexual seja usado responsavelmente no casamento, com fidelidade para o companheiro e com preparativos para o cuidado dos filhos que podem resultar da relação sexual.” 2
No livro, “Os adolescentes falam” Josh Mcdowell lista algumas razões para que o sexo pré-conjugal seja praticado pelos adolescentes:
A mídia tem inculcado estas idéias na mente dos adolescente através de revistas pornográficas e reportagens abordando o assunto;
• Lares quebrados tornam o adolescente carente e sem condições de tomar decisões corretas;
• Falta de diretrizes morais e espirituais para o adolescente;
• Sexo é um círculo vicioso, com os seguintes componentes: Jovem deprimido & Necessidade de segurança e aceitação & Paixão de adolescente & Falta de planejamento ou educação sexual & gravidez & Frustração e novamente depressão;4
• Os métodos educacionais sem um padrão cristão ao invés de auxiliarem tornam a curiosidade do adolescente mais aguçada;
• O medo da solidão;
• Pensamentos impuros;
• Dar prova de amor.

Perspectiva Cristã do Sexo

Sexo tem sido sempre um tema delicado nas Igrejas católicas e protestantes, e por se falar pouco sobre o assunto, torna-se carregado de tabus e de más compreensões. Afinal, este assunto deve ser matéria de nossa reflexão teológica, em outras palavras, isto tem uma dimensão espiritual?
O ser humano tem necessidades biológicas ligadas à própria sobrevivência da raça. Uma destas necessidades é a sexual. O cristianismo não vê o sexo como o pecado em si mesmo, antes como algo próprio da constituição humana. Sexo é uma necessidade básica, como beber, comer, ser livre, etc., Esta necessidade foi dada por Deus, a Bíblia afirma que "homem e mulher os criou".- (Gn 1.27). Portanto, não há espaço para culpa quando se faz dentro do propósito de Deus, ao contrario do que dizia Santo Ambrósio, um dos pais da igreja que influenciado pela cultura helênica, afirmou que quando o casal entra no quarto para ter relação sexual, o Espírito Santo saia. "O ideal do gnosticismo é a neutralização da sexualidade, transformando a pessoa em ser assexuado" . Para o cristianismo, porém, não há conflito entre uma vida sexual rica e uma vida espiritual consagrada.

Para Jesus, que cresceu na tradição hebraica, não era o corpo a sede do mal. Jesus atacou os pecados do espírito."Do coração procedem assassinatos, adultérios e roubos" (Mc 7.21). Desde o início da teologia cristã, Deus surge em um corpo humano. Jesus se historiciza pela mediação do corpo de Maria. Deus torna-se carne, habitando num corpo, conhecendo seus desejos e instintos, necessidades e dores. Neste corpo, centro de relações, Jesus afirma a beleza da humanidade e rompe o dualismo que os platônicos não admitiam, escandalizando as concepções gregas de que o corpo era matéria infame.

A Bíblia demonstra que o sexo, na concepção de Deus, é algo puro e natural (Gn 2.25). O pecado do Éden não foi o "sexo", mas a desobediência que procedeu da soberba e do orgulho.

Precisamos de uma teologia bíblica do corpo que seja clara e abençoadora, temos que exorcizar idéias errôneas sobre nosso corpo.

Mas para desfrutarmos bem de nossa sexualidade, precisamos seguir as normas de quem nos criou. A sexualidade é parte da bela criação divina. Nada tem de pecaminoso. Contudo, como todas as dádivas de Deus aos seres humanos, o sexo caiu sob o plano satânico de desviar a humanidade da intenção divina. A função do sexo é de unir, gerar intimidade, procriar. Homem e mulher são convidados para formarem “uma só carne”. Quando o sexo ocorre fora do casamento — tanto premarital como extramaritalmente — temos a violação do sétimo mandamento. E isto é pecado — pecado contra Deus, contra um ser humano e contra o próprio corpo.

Um dos grandes desafios da sociedade de hoje, tem a ver com a sexualidade. De um lado, pessoas neurotizadas e reprimidas, que não conseguem lidar com suas necessidades de forma equilibrada, de outro, gente liberal e licenciosa, que se afunda em todas as experiências negativas relacionadas a sexualidade. Como saber o que é certo ?

Como dissemos, um dos princípios básicos é seguir as normas de quem o criou. Quem tem o nosso manual foi aquele que nos fez.

Robinson Cavalcante aponta alguns importantes princípios em seu livro, Libertação e Sexualidade, embora ache interessante fazer uma síntese de todo o seu conteúdo, quero chamar a atenção para o 6º e o 10º pontos, que estão diretamente ligado ao nosso artigo:.

1. Deus destinou o ser humano a buscar realização sexual com outros seres vivos.
A necrofilia, ou atração sexual por cadáveres, fere este padrão;
2. Deus destinou o ser humano à realização com seres da mesma espécie.
A zoofilia, ou atração sexual por seres irracionais, fere este padrão;
3. Deus destinou o ser humano à realização com o sexo oposto.
O Homossexualismo ou atração pelo mesmo sexo, fere este padrão;
4. Destinou o ser humano a se realizar sexualmente por livre manifestação de vontade.
O estupro ou relações sexuais à força, fere este padrão.
5. Deus destinou o ser humano à realização sexual por amor.
A prostituição, ou relação mediante remuneração ou compra, fere este padrão.
6. Deus destinou o ser humano a relacionamentos estáveis que crescem e se aprofundam.
A fornicação, ou relacionamentos sexuais efêmeros, fere este padrão;
7. Deus destinou os seres humanos a relacionamentos na amplitude da espécie.
O incesto, ou relacionamento sexual com parentes próximos, fere esse padrão;
8. Deus concebeu a atividade sexual como um ato de comunicação interpessoal.
A masturbação, ou auto-realização solitária, quando opção
permanente de um egoísmo sexual, fere este padrão;
9. Deus deixou ao ser humano a incumbência e a capacidade de reprodução da espécie. Ele é a fonte da vida e condena a morte.
O Aborto, ou destruição do ser enquanto ainda no útero, fere esse padrão;
9. Deus destinou o ser humano a fazer do sexo, um ato construtivo de afeto.
O sadismo ou prazer em fazer sofrer,
e o masoquismo, ou prazer no sofrer, com suas agressões e mutilações, fere esse padrão;
10. Destinou Deus o ser humano à integração de sua sexualidade com equilíbrio.
A lascívia, sexocentrismo, sexomania ou obsessão sexual, fere esse padrão.

Conclusão:

Deus nos convida para santificarmos nossos corpos, que são chamados de “templo do Espírito Santo”. (1 Co 3.16). Para Deus, nosso corpo é sagrado, local de adoração. O conceito de sacralidade sai de um local para pessoas, que são o templo vivo de Deus. Por isto, devemos ter o nosso corpo em atitude santa, e fugir da impureza moral, sexual, e tratar bem o nosso corpo como local da habitação do Espírito Santo.

No Novo testamento, Jesus retira a idéia de um local sagrado e as pessoas passam a ser o local da habitação de Deus. Nós somos o templo do Espírito Santo, e isto nos ensina que:

1. Nosso corpo é morada de Deus - Onde Deus habita e fixa sua permanente residência. Isto tem a ver com intimidade.

2. Somos livres de qualquer outra possessão, já somos posse do Espírito de Deus. Ele mora em nós;

3. A pessoa que destrói o seu corpo destrói a presença de Deus nele. O corpo cheio de pecados não traz honra e glória a Deus. Você honra ao Senhor quando se mantém puro e livre do pecado sexual. É assim que você honra a Cristo que entregou o Seu corpo, sofrendo e morrendo em seu lugar, para pagar o preço da sua salvação.
Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente não... Fugi da impureza!” (1 Co 6.16,18)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Envelhecendo com qualidade de vida




Quando meu pai fez 70 anos, todos os filhos estavam presentes e quase todos os netos. Então, nos reunimos e lhe perguntamos se ele ainda era capaz de caminhar com os pés levantados para cima, usando apenas a força do braço, proeza esta que nenhum dos filhos e netos era capaz de fazer. Com cuidado, nós os filhos ficamos ao redor dele, e ele ainda conseguiu se equilibrar. Fantástico!

Não basta envelhecer. É necessário envelhecer bem. Não basta somar muitos anos, eles precisam ser de boa qualidade.

É possível que envelheçamos mal. Jacó na sua velhice foi indagado sobre sua idade e ele respondeu: “poucos e maus foram os dias dos anos de minha vida” (Gn 47.9). Muitos são aqueles que na velhice tornam-se ranzinzas, mau humorados e intragáveis. Justificam sua rabugice pela idade, doença, incompreensão e mudança de geração.

Muitos, porém, envelhecem com graça e bondade. Aprenderam a desfrutar cada momento de sua vida, descobriram alternativas simples para compartilhar a família, amigos e comunidade. Conseguiram, de alguma forma mágica, o encanto da vida. Aprenderam a celebrar a experiência da longevidade como uma dádiva celeste, e a serem sábios sem acharem que são o “Dr. Sabe-tudo!”

Jovens, amigos e crianças se aproximam de tais pessoas, porque possuem algo de sublime. Assim a bíblia descreve Abraão, o patriarca bíblico: “Era Abraão já idoso, bem avançado em anos, e o Senhor em tudo o havia abençoado!” (Gn 24.1).

A velhice nos dá apenas 2 alternativas: 

(a)- Desistência e morte

(b)- Plenitude e celebração. 

Na primeira, desistimos da vida, entregamos o ponto e nos rendemos. Na segunda, entendemos os limites que a idade impõe e descobrimos novas e criativas alternativas para continuar vivendo de forma significativa. A espiritualidade é uma destas formas.

Cora Coralina começou a escrever poesia aos 65 anos. As poesias que antes escrevera foram rasgadas pelo pai e pelo marido. Moisés foi chamado para liderar o povo de Deus aos 80!

Encontrar celebração na fé, no exercício comunitário, nas orações, na poesia, na música, nas amizades e na família é um dos fatores que mais enriquecem a vivência nesta fase da vida. Não é necessário dizer como Calebe: “Estou forte ainda hoje (aos 80 anos), como no dia em que Moisés me enviou” (Js 14.11), mas podemos ter a mesma atitude de vitalidade de Calebe e perceber a benção de Deus sobre sua vida, como fez Abraão.

Perda da Motivação

Lendo recentemente um comentário sobre as razões da queda do Rei Davi o autor comentava que seu problema foi a ociosidade, e citava o seguinte texto: “Decorrido um ano, no tempo em que os reis costumam sair para a guerra, enviou Davi a Joabe, e seus servos, com ele, e a todo o Israel, que destruíram os filhos de Amom e sitiaram a Rabá; porém Davi ficou em Jerusalém” (2 Sm 11.1).
Ao ler o texto, tive uma impressão um pouco diferente: Seu problema não era o ócio, mas a ausência de motivação.
Davi era guerreiro, aprendeu a lutar, a conduzir seu exército, defender seu país, mas agora, um pouco mais maduro, já havia consolidado seu reinado, seus vizinhos o respeitavam e temiam pelo poder bélico que construíra, e Davi começou a olhar para suas conquistas, e estas não mais o satisfaziam. Ele perdeu o brilho nos olhos, e entrou num quadro de apatia, no qual já não importa para que lado vai o andar das carruagens, porque não fazia nenhuma diferença para sua vida...
Ás vezes isto decorre por causa do sucesso e da prosperidade em si. Conta-se que Alexandre, o Grande, aos 33 anos de idade, assentou-se numa pedra e chorou porque já não existiam mais terras a serem conquistadas. Executivos bem sucedidos, profissionais realizados e respeitados no mercado de trabalho, aprenderam tanto a ser competitivos, conseguiram seu lugar no mercado, consolidaram suas conquistas, construíram um portfólio de riquezas e bens, conseguem realizar seus sonhos, viajar, fazer o que quer, e agora chegam a um momento da vida em que não sabem mais o que fazer. A vida perde o encanto, a magia.
Esta é uma hora perigosa! Inconscientemente nos abrimos para “novas aventuras”, e queremos experimentar um pouco de adrenalina na vida. No caso de Davi, seu problema foi o adultério. Ele viu uma mulher bonita e sedutora, se encantou com ela, como rei tinha várias e bonitas esposas dentro de seu palácio já que o sistema poligâmico permitia, mas a contravenção se tornou uma proposta interessante para seu marasmo.
Daí em diante, porém, a vida de Davi se torna um inferno. Para acobertar sua atitude se envolveu num assassinato, mandou matar o esposo daquela mulher para ficar com ela. Seus filhos o desrespeitaram. Cenas de estupro se deram entre seus filhos nos seus palácios, um irmão mata o outro. Cai em desgraça pública, torna-se objeto de chacota e zombaria de seus súditos e Deus lhe envia o profeta para estabelecer o juízo.
Esta uma situação muito real na vida de muitos homens trabalhadores, honestos, que se descuidam de seu próprio coração, e que numa terça feira quente, levanta-se do seu leito... vê uma mulher bonita... e o resto já sabemos de cor!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Fonte de Confusão

Jean Jacques Rousseau, educador que influenciou todo sistema pedagógico no mundo ocidental afirmou: “Tudo é bom ao sair das mãos do criador, tudo degenera nas mãos dos homens: - (O homem perante a vida”, pg. 60). Apesar de saber que Rousseau não é uma boa referência de espiritualidade, é bom perceber que ele mesmo se assusta com a complexidade da alma humana. Mário Quintana, com sua poesia refinada, faz uma ácida afirmação, dentro de suas categorias evolucionistas: “O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro”.
A torre de Babel em Gênesis 11 descreve a confusão humana. Não apenas da dimensão psicológica, mas também na comunicação que se perdeu no esforço arrogante da humanidade. A fonte da confusão se dá por que o homem se perde na sua desenfreada luta pelo poder, estando implícitos, alguns elementos subjacentes: Domínio, controle e manipulação.
Os homens se uniram para exercerem controle sobre os céus. A busca da unidade não era para a construção de uma sociedade mais justa, mas para o exercício de sua rebeldia contra a divindade. “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos celebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda terra” (Gn 11.4). Mais uma vez está subjacente a idéia de que Deus precisava ser substituído pela ação humana. A velha teonomia, ou auto suficiência do homem (Henry Nouwen), exercida inicialmente na queda da raça humana em Gn 3, se atualiza.
Aqui está a fonte básica da confusão. Nietzsche, o filósofo louco denuncia isto no seu pessimismo: “Jamais alguém fez algo totalmente para os outros. Todas as ações são auto-dirigidas, todo serviço é auto-serviço, todo amor é amor próprio. Cave mais profundamente e verá que não os ama, ama sim as sensações agradáveis que tal amor produz em você. Ama o desejo não desejado”.
Por isto é que nossa identidade como discípulo de Cristo não está alicerçada no exercício do poder. William P Young, no seu livro “A Cabana”, coloca as seguintes palavras na boca de Deus: “Minha identidade não se baseia em desempenho e eu não preciso me encaixar nas estruturas feitas pelos humanos. Eu tenho a ver com ser”... Ser meu seguidor não significa tentar “ser como Jesus”, significa matar sua independência.
Nossa saúde e coerência encontra-se na ambigüidade da doação e serviço. Neste binômio espairece toda confusão, e a ordem de Deus retoma à nossa existência.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Aviva a Tua Obra, Senhor!

Esta é uma oração feita por um dos profetas da bíblia. Seu clamor faz todo sentido, afinal, estava vivendo dias de angustiantes expectativas. Ele ouve os rumores de que a Assíria está se dirigindo para invadir Jerusalém, e como homem de Deus busca o Senhor para que seu povo seja liberto do mal que vem sobre eles, e para seu espanto ouve o Senhor dos Exércitos declarar: “Eis que suscito os caldeus, nação amarga e impetuosa, que marcham pela largura da terra, para apoderar-se de moradas que não são suas. Eles são pavorosos e terríveis, e criam eles mesmos o seu direito e a sua dignidade” (Hab 1.6-7). Esta é uma resposta surpreendente de oração, que certamente nenhum de nós gostaria de ouvir. Pedimos para Deus nos livrar do mal, e Ele afirma que o mal foi suscitado por Ele mesmo, para cumprir seus propósitos eternos e sábios.
Habacuque termina o seu livro afirmando que “O justo viverá pela sua fé” (Hab 2.4), e que por esta razão, “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, e exulto no Deus da minha salvação” (Hab 3.17-18).
Ele antecipa o massacre que vem sobre sua nação, reconhece que isto aconteceu por causa da insistente rebeldia do povo eleito de Deus, e por terem abandonado o Senhor seguindo aos deuses falsos. Ele vê a decadência histórica sobre a vida do povo de Israel, e sabe que a única coisa que pode tirar o povo daquele estado de letargia e prostituição espiritual seria o sopro de Deus.
Esta oração é mais que oportuna em nossos dias. Vemos com temor o inimigo fazendo estragos no arraial do povo de Deus, contemplamos com espanto a falência e superficialidade da devoção, o abandono de Deus, e resta um clamor que precisa ser realizado com toda veemência de nossa história: Aviva a tua obra, Senhor!
Na minha história pessoal. Na superficialidade de minha devoção e adoração. Na oração frágil que faço, no compromisso pusilânime com o Reino de Deus.
Na nossa família, como tantos desencontros e dores, com conflitos declarados e dores e amarguras velados. Precisamos de um novo fogo na nossa paixão familiar, e no nosso compromisso com as coisas eternas.
Na nossa Igreja, marcada por um testemunho tão supérfluo nas coisas eternas. Na facilidade com que nos atraímos àquilo que é contrário ao propósito de Deus.
Na nossa Nação, tão infiel na sua religiosidade e na sua ética. Que negocia e aceita propinas como se bebe um gole de café. Num povo fascinado por uma espiritualidade atrelada a demônios, e com uma ética que barganha coisas sagradas.
Precisamos orar no meio do caos: Aviva, Senhor, a tua obra!
Rev Samuel Vieira

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Como aproveitar a tristeza

Certo fazendeiro que plantava laranjas na Flórida foi arruinado na geada de 1895 e então resolveu mudar-se para Cuba a fim de ali recomeçar a vida. Neste novo país conseguiu desenvolver uma qualidade de laranja azeda e nativa que era capaz de produzir o ano inteiro. Isto o transformou num milionário e ali foi condecorado pelo governo cubano por sua contribuição àquela nação. A tragédia, neste caso, se tornou em novas oportunidades. A tristeza e perda foram a causa motriz de seu sucesso.
“Não há mau tempo; o que há são diferentes qualidades de tempo bom” (Ruskin). O nosso mundo enfrenta muita imperfeição, muitas delas causadas pela atitude humana com a forma de viver. Muitas destas tempestades nos atingem em cheio. Unamuno, filósofo espanhol afirmou: “Sou humano, e tudo que diz respeito a humanidade, diz respeito a mim”. O salmista Davi que refere-se a Deus como Bom Pastor afirma: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo”. Apesar dEle ser o nosso pastor isto não nos livra do vale da sombra da morte, mas ali experimentaremos a sua consolação.
“Deus está fazendo o que sempre faz. Ele está nos ajudando a tirar algum bem do mal, a criar um novo mundo deste velho mundo. Ele fez isso mesmo na cruz. Jesus tomou a pior coisa que lhe poderia acontecer – sua morte – e fez dela a melhor coisa que poderia dar ao mundo – a redenção... ele está nos ajudando, fazendo com que o pior sirva ao melhor” (E. Stanley Jones).
A Zona do Caribe é considerada uma das áreas de maiores tempestades do mundo. Pilotar ali muitas vezes é um grande desafio. Certo piloto ao ser indagado se os ciclones seriam o maior desafio de um vôo na região respondeu: “Não; podemos até mesmo aproveitar os ciclones. Eles se movem vagarosamente no seu centro; de modo que colocamos o avião nas margens dele, e, assim, temos atrás de nós um vento de cem milhas; ao regressar, tomamos a outra margem do ciclone. Aproveitamos desta forma o ciclone tanto na ida como na volta”. O problema, porém, é quando resolvemos viver no centro do ciclone. Ali os ventos são tão imprevisíveis e violentos, que nenhuma lógica pode funcionar.
O Livro do profeta Naum é um dos menores da Bíblia. Por isto ele é também classificado como um dos “profetas menores”. Neste livro existe uma afirmação sobre Deus que sempre me chama a atenção: “O Senhor caminha no meio da tempestade e da tormenta”. Quando isto acontece, o vale da aflição torna-se a porta da esperança. O que resolve tudo é a hermenêutica que fazemos de nossa vida, isto é, o modo como recebemos isto ou aquilo, e não o que nos sobrevém. “Um bocado de fé levará sua alma para o céu, mas uma tonelada de fé trará o céu à sua alma” (Moody).

Quando se perde o amor...

No capítulo 2 do livro do profeta Jeremias, Deus está convidando seu povo ao arrependimento e uma volta para sua direção. Israel havia se desviado de Deus, indo atrás de propostas ilusórias, deixando o manancial de águas vivas e cavando cisternas que não retinham as águas. Deus chama seu povo, alerta sobre os riscos de viver longe dele e demonstra que tais escolhas trariam resultados amargos, mas ainda assim o povo não mudava sua trajetória de descaso e frieza.
O que estava acontecendo?
Creio que a resposta a esta dificuldade encontra-se no vs. 25. O povo respondeu ao Senhor: “É inútil, porque amo os estranhos e após eles irei”. O problema daquele povo tinha a ver com seu coração – era uma questão de afetos que foram deslocados de Deus para os ídolos. Quando o coração se perde, toda a referência, valor e construção deixam de fazer sentido.
Imagine um homem dizendo à sua mulher depois de 15 anos de casado: “Descobri que não a amo mais. Vou continuar vivendo contigo, vou cuidar de você, não vou desampará-la, nem sair de casa. Mas eu não a amo mais...” Tudo o que esta pessoa fizer daí por diante, nada mais representa para aquela mulher. Fazer as coisas sem que o coração esteja envolvido torna-se ridículo e cínico.
Já acompanhei vários divórcios, com todas as complexidades decorrentes da ruptura de uma relação estável, construída com muita paixão, com cerimônias pomposas e riquíssimas. Ao contrário do que a mídia propõe, em geral, os processos são doloridos e traumáticos. O que está por detrás destes divórcios senão a questão dos afetos? Quando não se ama mais, quando o amor se desloca do objeto/sujeito amado, é difícil continuar a caminhada a dois.
Com Deus é a mesma coisa. Certa vez acompanhei um membro de minha igreja que estava vivendo num estilo de vida de pecado, e ao confrontá-lo ele me disse plácida e resignadamente: “Não posso voltar porque amo meu pecado e não quero abandoná-lo”. Este é o retrato do amor quando se desloca de Deus. As propostas do mundo e do diabo tornam-se muito atraentes. O pecado é mais convidativo, as trevas não mais assustam, perde-se o temor de Deus e o diabo deixa de ser “o adversário de nossas almas”, como afirma as Escrituras, para ser um personagem fictício – aparentemente inofensivo e até mesmo charmoso.
Precisamos tomar cuidado com os desvios de nosso coração. Ele é enganoso, escorregadio e corrupto e temos muita dificuldade em conhecer suas próprias tendências (Jr. 17.9). Eventualmente precisamos nos desesperar quando percebemos que “amamos os estranhos e os seguimos”, ao invés de amarmos a Deus. Quando isto acontece, nosso coração perde o centro e precisa de uma operação do Espírito Santo, afinal, espiritualidade é no final das contas, questão de afeto.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ninguém fortalece sua vida com iniqüidade

Os seres humanos são mestres na arte de atalhos. Os caminhos que conduzem à vida, à dignidade e à moral, nem sempre são apreciados. Por isto Jesus afirmou que “larga é a porta que conduz à perdição, e são muitos os que entram por ela”. Andar por trilhas escorregadias do caráter manchado, da falsa honradez parecem ser mais fáceis que no caminho da justiça e retidão, por isto temos a tendência de fazer caminhos mais rápidos sem considerar seus efeitos.
O pragmatismo, comodismo, senso de urgência, hedonismo, a dificuldade de aguardar processos da vida que muitas vezes são demorados embora justos, são fortes atrativos para façamos as coisas de forma mais rápida, pelas vias da iniqüidade. Poucos tem interesse em plantar árvores que levam anos para se formar – é mais fácil plantar eucaliptos.
A advertência das Escrituras Sagradas, portanto, surge em hora oportuna. “Ninguém fortalece sua vida com iniqüidade” (Ez 7.13). O mal, por sua natureza é destrutivo. Ainda que surja em roupagens atraentes e com coloridos destaques. A vida construída sobre o mal torna-se uma armadilha contra aquele que a prática. O livro de Provérbios, um dos textos de sabedoria da Bíblia afirma que o ímpio “nem sabe em que tropeça”.
Não tente se iludir praticando o mal. Jesus advertiu que todos que lançam mão da espada, pela espada morrerão. Espada aqui pode ser aplicada em muitos sentidos, mas a idéia é sempre destrutiva. A espada fere, mas o que usa dela, também sofre feridas.
Ações iníquas abrem a possibilidade do mal, para que ele se torne seqüencial: Fere a sociedade, a família, pessoas, com desdobramentos históricos que atingem filhos e netos. O mal tem este efeito cascata.
Senaqueribe foi um poderoso comandante do exército da temida Assíria. Quando chegou a Jerusalém para conquistá-la, tinha por certo sua vitória, e por isto desafiou a Deus de forma arrogante. Por um incidente histórico teve que abandonar a empreitada desta conquista pelo meio, porque o Egito se levantou contra seu povo. Às pressas volta para casa, para estabelecer um novo plano de guerra e ao chegar à Babilônia, entra no templo de seu deus pagão, Nisroque, e ali, na cerimônia religiosa, seus próprios filhos o matam à traição.
Amnom estuprou sua irmã Tamar por causa de uma tresloucada paixão. Dois anos depois foi friamente assassinado pelo seu outro irmão, Absalão, que passou a odiá-lo por ter agido desta forma.
Os exemplos podem ser multiplicados nos relatos bíblicos e na história da humanidade. Tentar construir sua vida com a iniqüidade é péssima opção. Por isto as Escrituras Sagradas nos advertem: “Ninguém fortalece sua vida com iniqüidade” (Ez 7.13).

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

“Vê o teu rasto no vale!”

Jr 2.23
Os capítulos iniciais de Jeremias são uma espécie de desabafo de Deus com a atitude de seu povo. Deus esperava gratidão, veio murmuração; afeto, veio o descaso. O povo declarava que “amava os estranhos” (Jr 2.25). A nação eleita por Deus achava que seria livre se o abandonasse (Jr 2.31). Os sacerdotes não queriam saber de Deus (Jr 2.8) e os profetas profetizavam da parte de espíritos malignos (Jr 2.8).
Neste cenário, Deus convida o povo a olhar pelo retrovisor de sua vida e observar as marcas que estavam deixando na sua história. “Vê o teu rasto no vale!” (Jr 2.23). Deus convida o povo a olhar seus tortuosos caminhos.
Quais são as marcas que estamos deixando? Que legado e herança estão sendo construídos na nossa caminhada? Quando chegarmos ao fim de nossa história, como será que os biógrafos falarão de nós? Como nossos netos nos avaliarão?
Kierkegaard afirma que “a vida não analisada não é digna de ser vivida”. Paulo afirma que a vida distante de Deus escraviza, e assim, convida os irmãos de Roma a avaliarem os frutos colhidos durante os anos de pecado vividos longe de Deus. “Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais, porque o fim delas é a morte” (Rm 6.21).
A colheita de nossa vida de afastamento de Deus, é, antes de mais nada, vergonha, e, em segundo lugar, decadência e morte. Deus nos convida a olhar nosso rasto no vale. Que colheita e que marcas temos deixado nos caminhos por onde passamos. Nas estradas percorridas, quais os sinais que estão ficando? Você tem vergonha e tristeza pelos rastos deixados ou alegria e gratidão em ver seus sinais para aqueles que estão chegando depois de você?
“Vê o teu rasto no vale!”

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Lost

Muitas pessoas acompanharam o seriado de TV, Lost, que se tornou um dos mais apreciados de todos os tempos. Só recentemente consegui assistir o último capitulo, sofri um certo desânimo no meio do seriado por perceber que os produtores, no afã de tirar proveito do enorme sucesso e ibope que tiveram, tornaram o mesmo repetitivo e muitas vezes sem proposta. O seriado acabou se tornando uma novela. Seus produtores é que acabaram perdidos.
Algumas coisas se tornaram claramente perceptíveis: O mal é muito presente, mas a idéia de Deus inexiste! Deus é absolutamente ausente, enquanto o mal se apresenta de muitas formas, em todos os lugares. Aqueles que aparentam ser pessoas do bem, de repente, por uma magia ou por um encontro, tornam-se do mal, tornando-se prisioneiros de sua biografia, história e culpa.
Aliás, culpa é um dos elementos chaves que movem toda trama. As pessoas tomam decisões pressionadas pelos equívocos e atitudes do passado. Quando Locke afirma que ele precisa fugir daquela ilha “abandonada por Deus”, ele faz uma descrição clara do inferno, na concepção cristã. Inferno, nada mais é que a ausência absoluta de Deus, o lugar onde a misericórdia e a bondade inexistem. Isto é inferno, tanto de forma metafórica, quanto na descrição que as Escrituras fazem. Inferno é ausência de Deus! Talvez se a gente pudesse imaginar o inferno em categorias diferentes da visão popular, tivéssemos condições de entender melhor o episódio.
No inferno não existe lealdade, e a suspeita é a marca dos relacionamentos. Quem agora está do seu lado, no próximo episódio pode ser o seu algoz. Se um dos atributos de Deus é a fidelidade, o inferno é o oposto disto. A vida, portanto, se torna um constante pesadelo. Medo, tensão, ansiedade e ameaças estão sempre presentes.
Outro aspecto que o episódio demonstra é a perda da noção do tempo. O passado e o futuro se tocam. Ninguém sabe ao certo em que tempo se encontra. Perde-se a referência da temporalidade, categorias estas estritamente aristotélicas.
A série mistura elementos simbólicos de várias religiões e mitos arcaicos, entre eles o arquétipo da luta entre irmãos, mas na verdade desemboca na idéia do purgatório. Visão da igreja Católica Romana, inexistente na Bíblia, mas transformada em dogma na Idade Média. Lugar que seria uma ante-sala do inferno para que as pessoas, através do seu sofrimento, pudessem se purificar.
A série termina assim: Depois de purgarem seu passado de dor e vergonha, agora podem ir em direção à luz. Aqui, a visão Católica e a Protestante se une. Depois da morte, vem o juízo. Um dos personagens centrais, o Benjamim (Ben), não pode caminhar em direção à luz... Os demais seguem adiante para o encontro com a radiosa expectativa da humanidade: A Eternidade!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Prazer em Deus

John Piper escreveu um instigante livro sobre a espiritualidade cristã, que foi traduzido em português como Teologia da Alegria. Em Inglês, o livro possui um subtítulo: “Confissões de um cristão hedonista”.
Hedonismo é uma filosofia que historicamente sempre foi condenada pelos cristãos, porque ao lado do epicurismo, sempre colocou em destaque a questao do prazer. Piper afirma de forma inovadora que não possibilidade do cristão adorar a Deus se não encontrar prazer nEle, já que o fim principal do homem é Glorificar a Deus, e Gozá-lo para sempre, e para Piper, a única forma de glorificar a Deus é desfrutando daquilo que Ele é.
O problema é que nossa espiritualidade quase sempre associa Deus a um elemento punitivo, não à idéia de prazer. É mais fácil entendermos a linguagem da lei, da obrigação e da responsabilidade quando se refere a Deus que propriamente a alegria. Deus, pensamos nós, não é para ser “desfrutado”. Imaginamo-lo mais facilmente como um grande fiscal, o big brother controlador, como alguém que nos impõe pesadas tarefas e que nos pune severamente em caso de deslize, que de um Pai amoroso no qual encontramos a dimensão da ternura. Não é fácil entender, porque no Islamismo Alá é força, mas nunca é descrito como Pai. Isto seria fragilizar demais a natureza de Deus.
Ao lermos o Salmo 119, o capítulo mais longo da bíblia, observamos que em seus 176 versículos, quase todos falam dos mandamentos de Deus, mas ao contrário daquilo que costumeiramente fazemos, nos impressionamos com o fato de que os preceitos e leis de Deus são quase sempre descritos como fonte de prazer: Sl 119. 16, 24, 32, 62, 92, 97, 103, 111 e 143.
Fazer esta transição na nossa forma de assimilar Deus, penetrando na dimensão da graça, é um dos maiores desafios na nossa adoração, e uma das maiores bençãos para as nossas vidas. O Salmista afirma que a lei de Deus é mais desejada que mel (Sl 119.103), Mais que o ouro depurado (Sl 119.127).
Isso se dá quando compreendemos o que a lei de Deus pode fazer em nosso coração. O salmista olha para as verdades de Deus e percebe os efeitos que ela traz para sua alma. Ela pode:
 Nos livrar da impureza moral (Sl 119.9).
 Nos libertar do pecado (Sl 119.11).
 Livra nossa alma de ser envergonhada (Sl 119.6).
 Vivifica nossa alma (Sl 119.25).
 Fortalece (Sl 119.28).
 Alegra o coração (Sl 119.32).
 Dá entendimento (Sl 119.34).
 Dá largueza ao nosso caminho ampliando os horizontes (Sl 119.45).
 Livra-nos da angústia existencial (Sl 119.92)
 Ilumina nossos caminhos (Sl 119.105).
 Defende nossas causas (Sl 119.154).
Quantas bençãos encontramos ao nos orientarmos pela lei de Deus. Aliás, esta é uma das características do homem bem sucedido no Salmo 1: “Bem aventurado o homem que tem prazer na lei do Senhor e na sua lei medita dia e noite”. Muito da superficialidade de nossa espiritualidade está relacionada à falta de prazer que deixamos de encontrar em Deus e no distanciamento de sua Palavra.
Deus nos convida para um relacionamento de comunhão e encontrarmos prazer na sua verdade, por isto Ele espera que seus adoradores o glorifiquem e desfrutem, para sempre, de sua presença.

Obsolescência planejada

Obsolescência é o que ocorre a um produto ou serviço que deixa de ser útil, mesmo estando em perfeito estado de funcionamento, porque um outro produto tecnologicamente mais avançado surgiu no mercado.
A obsolescência tem sido deliberadamente introduzida pelos profissionais de marketing para venderem um novo produto reduzindo o tempo entre compras sucessivas. Uma geladeira barata pode ser oferecida ao consumidor, sendo deliberadamente projetada para deixar de funcionar cinco anos após a compra, obrigando os consumidores a comprarem outra máquina. Já reparou como a tecnologia de um computador muda tanto que em poucos anos não consegue rodar os novos softwares que existem no mercado, obrigando-nos a jogá-lo fora ou fazer um upgrade?
Obsolescência planejada é outra forma de dizer “criado para ir para o lixo“. As coisas são feitas para que sejam inúteis tão rápido quanto possível, jogarmos fora e voltarmos a comprar. A mídia nos convence a substituir o “feio” pelo “belo” os “fora de moda” pelos “modernos” e assim compramos coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar pessoas que não gostamos.
O paradigma antigo não satisfaz mais, e as transformações são muito mais rápidas que podemos acompanhar. O problema é que assim como tendemos a descartar coisas, facilmente podemos estender esta atitude a pessoas e a valores espirituais.
A esposa de 40 anos não consegue mais “satisfazer” fisicamente? Troque-a por duas de 20. Nossos filhos podem entrar também nesta ciranda, quando os transformamos em moedas, investimento, tratando-os como coisas, manipulando, comprando e barganhando. Nossa fé também deixa de ser validada quando surge alguma proposta mais interessante, menos exigente, mais superficial mas com respostas prontas e imediatas. Trocamos o prioritário pelo urgente, substituímos o eterno pelo temporal, confundimos forma com essência.
Certo homem justificou sua separação porque sua esposa já não era tão bonita quanto antes, e como ele “amava o senso estético” não podia mais continuar com ela. Seria muito sábio de sua parte se ele usasse o bom senso e se olhasse no espelho, para ver as marcas do tempo presentes nele mesmo...
Existem valores que não podem ser trocados nem substituídos. Gente não é mercadoria, por isto não podemos descartar relacionamentos. Deus não é coisa, e por isto também não pode ser peça de museu. Quando até mesmo nossa fé, princípios e pessoas se tornam descartáveis estamos num estágio em que podemos trocar qualquer coisa, afinal, a obsolescência não está atingindo apenas a estética e a funcionalidade, mas já penetrou também em nosso coração.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O Universo Fechado

Recentemente conversei com uma pessoa que não cria em nada “além dela mesma”. A resposta que ela precisava para sua vida dizia estar dentro de si, e não acreditava em forças espirituais, anjos, demônios ou mesmo Deus. Por conseguinte, tudo estaria dentro dela como resposta e alternativa. Deus nada mais era que ilusão e utopia. A resposta do universo estaria no ser humano, não em Deus, posto que Deus não é real. Negava até mesmo formas de misticismo pagão, ainda que tivesse tatuado no seu corpo, símbolos místicos orientais de deusas que representavam unidade familiar. Para ela, nada mais que representações mitológicas. “Yo no creo em las brujas, pero que existem, existem”.
Durante este diálogo respeitoso de idéias, a sensação que tive foi de que ela vivia num “universo fechado”, sem a interpenetração de qualquer elemento sobrenatural, sagrado ou divino, e considerei que tal universo, por sua natureza torna-se muito restrito, talvez minha conclusão se dê pela minha própria percepção existencial. Não raras vezes me assusto com “meu infinito particular”, no desastrado encontro com meu ser, e preciso gritar e encontrar socorro para minha vida, mas o que eu necessito não está dentro de mim.
Alguém definiu auto-ajuda como uma pessoa que cai no buraco e tenta desesperadamente sair, tentando se puxar pelos próprios cabelos. Quando estamos desanimados, desencorajados, deprimidos ou em desespero como encontrar direção dentro de nós mesmos? É bom poder orar, declarar como o Rei Davi: “Deus é meu refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações”. A ajuda que necessito está fora, não dentro de mim.
Quando me despedi daquela pessoa, disse-lhe sinceramente que gostaria de dar-lhe uma opção a mais, como o elfo faz com Frodo no filme “O Senhor dos anéis”, trazendo-lhe uma pequena jóia que poderia livrar-lhe em situações ameaçadoras. Não lhe dei qualquer objeto ou amuleto por não crer nestes símbolos, mas lhe dei um nome, Jesus, e lhe afirmei que ela poderia clamar por ele, qualquer dia, mesmo que nunca tivesse se encontrado com ele.
Disse-lhe ainda que, talvez, ela nunca sentisse necessidade disto, mas caso precisasse, seria bom considerar a possibilidade de que, além de seu universo fechado, haveria um nome que transcenderia os portais de suas muralhas humanas. Afinal, a abertura para o sobrenatural faz toda diferença!
Uma das coisas mais preciosas da realidade de Deus, é que ele não é um poder frio e existencial, mas caminha na nossa história ambígua e ouve nossa aflição e abatimento de espírito. Não sei o que você pensa sobre isto, mas para mim, esta é uma grande noticia!
Muitos ainda concebem Deus como um grande silêncio cósmico "lá fora, em algum lugar", outros sequer admitem que exista algo além de si mesmo. muitos desistem da procura e se entregam ao pessimismo e ceticismo; outros ainda ingerem grande quantidade de bebidas e barbitúricos para encontrar uma saída, para fugir às frias realidades de uma existência atormentada pela culpa, pela falta de propósito e pelo vazio. No entanto, Deus continua a revelar seu amor. "Habito num alto e sublime trono, mas habito também com o abatido e contrito de Espirito". Foi isto que ele assegurou ao profeta Isaías. O aparelho de televisão de sua casa pode não captar bem as imagens que recebe de fora, mas isto não tem a ver com um problema de fábrica. Cabe-nos ajustar os canais de sintonia em nosso receptor, procurar o sinal certo. Deus está enviando sua mensagem de amor, mas é preciso que sintonizemos o nosso coração ao próprio Deus. Em Jesus Cristo, "nossas vidas obscuras e limitadas recebem a luz da presença eterna de Deus, e vemos que há um outro mundo além da confusão, limitação e frustração deste mundo" (Billy Graham).

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Palavras irrefletidas

Somos mestres na imprudência e comentários desnecessários. Nem Moisés que foi chamado “o homem mais manso da terra”, se livrou desta constrangedora situação de agir sem pensar. A Bíblia afirma que “Moisés falou irrefletidamente’ (Sl 106.33).

Falar irrefletidamente traz graves e sérias conseqüências para nossas vidas. Quantas feridas e mágoas incuráveis são resultantes de palavras ditas sem a reflexão necessária, sem considerarmos as implicações do que estamos dizendo. Ferimos pessoas, criamos falsas expectativas, geramos reações de irritabilidade, provocamos os outros, simplesmente porque falamos sem considerar como as pessoas ouvem o que dizemos, sem analisar se tais palavras são necessárias e boas para a edificação daqueles que as ouvem, se são palavras que glorificam a Deus e encorajam os desanimados.

Palavras irrefletidas são como ditados na boca dos bêbados, como jóias em focinhos de porcos, como mulher formosa sem discrição. Por isto a Bíblia nos exorta a guarda nossa língua. “Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tg 1.19), afirma ainda que “a língua é fogo, é mundo de iniqüidade” (Tg 3.6), e que, “Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear taomebm todo o corpo” (Tg 3.2).

De todas estas advertências e ensinamentos, nenhuma, porém, parece ser tão grave quanto a que diz: “Tens visto um homem precipitado nas suas palavras? Maior esperança há para o insensato do que para ele” (Pv 29.20).

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O segredo da vida

“O segredo da vida é desfrutar a passagem do tempo”. Esta frase foi escrita pelo cantor e compositor James Taylor. Certamente se trata de uma boa filosofia de vida. Aprender a curtir cada momento de nossa história como algo especial e único é algo maravilhoso.
Muitos vivem presos às memórias do passado ou aos sonhos e fantasias do futuro. O primeiro grupo se torna saudosista ou amargurado. Os saudosistas falam de um tempo em que tudo era bom, não conseguem avançar porque perderam o timing da vida, como a mulher de Ló que olhou para trás tão fixamente que virou uma estátua de sal. Sua vida congelou – não conseguiu mais caminhar.
Os amargurados se prendem ao passado por uma razão ainda pior: Raiva ou ressentimento. Contemplam sua história como se alguém, o mundo, ou mesmo Deus, lhes devesse algo. Não conseguem avançar porque desejam vingança ou justiça, e a vida simplesmente não lhes responde em termos mecanicistas do tipo causa/efeito. Não desfrutar a passagem do tempo por causa do que nos fizeram impede-nos de ver a história como processo, movimento, dinamicidade.
O ontem pode, de fato ter sido traumático, dolorido, mas a vida é dinâmica. “Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará” (Lulu Santos). Precisamos viver o presente com suas ambigüidades, contradições e possibilidade. O tempo não pára.
Outros vivem do futuro. Alimentam-se de fantasias e irrealidades, achando que vão chegar um dia no seu shangrilah. De fato, viver o aqui e agora é uma difícil tarefa. É mais fácil não ter que encarar a vida com realismo. Mas quando se lida com o hoje, descobre-se quantas possibilidades se abrem com o dia que se levanta. O salmista entendeu isto ao afirmar: “Este é o dia que o Senhor nos deu. Alegremo-nos e regozijemo-nos nele”. Jesus exortava seus discípulos a não andarem ansiosos com o dia de amanhã. “Basta a cada dia seu próprio mal”.
Certo homem, apesar de rico, não conseguia desfrutar o dinheiro acumulado, sempre preocupado com o futuro. Aos 73 anos desenvolveu câncer, e após o processo quimioterápico, andando pelo parque, comentou com sua esposa que nunca tinha notado as flores e os patos da lagoa. Foi necessário estar muito doente para perceber a beleza da natureza, a riqueza do dia de hoje os fascinantes aspectos da vida.
Precisamos desfrutar cada passagem do tempo, sabendo que os minutos que se passaram na leitura deste artigo, por exemplo, são únicos e irrecuperáveis, por isto, jamais resgatados. São parte de uma história que, bem ou mal, você viveu.
Aeroporto de Campinas- SP, 06.08.2010

sábado, 7 de agosto de 2010

Deus move a história

Esta afirmação pode ser uma fonte de alegria ou desespero. Para aqueles que acreditam que Deus é poderoso e bom, descanso e refrigério. Para aqueles que suspeitam do caráter de Deus: temor e ansiedade. É... Na verdade, nem todos olham para Deus sem suspeição. José Saramago, escritor português que morreu recentemente, no seu livro Caim, imagina diálogos entre Deus e Caim. Este acusa a divindade, dizendo que ela não pode colocar sobre si a pecha de assassino, já que, Deus mesmo, mandou executar muitas pessoas, de acordo com o relato do Antigo Testamento.
Sempre existe muita suspeita humana acerca do caráter de Deus. Isto é adâmico, vindo desde os primórdios da raça humana.
Um dos relatos mais impressionantes na Bíblia, porém, encontra-se no livro das Crônicas, e é repetido noutro livro de Esdras – o escriba, que retornou a Jerusalém para reconstruir a cidade e restabelecer novamente o culto em Israel. Depois de sucessivas provocações do povo de Israel, veio o cativeiro de Judá. Nabucodonozor, rei dos caldeus, invadiu a cidade, matou jovens à espada “e não teve piedade nem dos jovens, nem das donzelas, nem dos velhos, nem dos mais avançados em idade” (2 Cr 36.17). Levou consigo todos os utensílios do templo, queimou a casa de Deus e ainda arrastou cativos (entre estes, Daniel), para serem escravos e eunucos no seu palácio.
Jeremias profetizou que o tempo do cativeiro seria 70 anos (2 Cr 36.21), e quando este prazo chegou, Ciro, o rei da Pérsia, que havia subjugado a Babilônia, fez passar um pregão em seu reino para que o povo de Israel fosse liberto do cativeiro e retornasse à Jerusalém, e a despesa da restauração da cidade seria por conta da casa do rei (Esd 6.4). Neste contexto foi escrito o Salmo 126. O texto afirma que Deus “Despertou o espírito de Ciro, rei da Pérsia” (2 Cr 36.22; Esd 1.2).
Agostinho afirmava que “quando Deus se agita, o homem se levanta”. Isto é, Deus conduz a história, de forma surpreendente, para cumprir seus propósitos eternos. Quer concordemos ou não, quer gostemos disto, ou não. A visão hebraica e cristã é a de que Deus, não apenas se “move na história”, mas que Ele é Senhor da História. Ele cumpre seus intentos no decorrer dos anos.
A história segue um plano, uma agenda e um cronograma divino. Assim como Deus despertou o rei da Pérsia, para libertar os cativos e cumprir a profecia dada por um de seus profetas, segundo o seu propósito, conduzirá a história para o plano que Ele mesmo designou, e não há força, nem histórica, nem potestade ou principado, que possa deter a história para o fim que Ele mesmo tem em mente. A história não é acidental, nem incidental, nem segue para o caos, mas para um fim ordenado pelo próprio Deus, Senhor da história.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Eu só tenho uma vida para viver...

Quando Jô Soares completou 50 anos, contou que depois das festividades e de um agradável encontro com amigos, voltou para casa com um senso de não sei que... Era uma espécie de vácuo existencial. Um amigo próximo já tinha percebido ainda na festa que Jô não estava muito lá à vontade, e em tom de brincadeira disse: “Não se preocupe, isto é crise da meia idade”. Ao chegar em casa, refletindo sobre este comentário afirmou: “Quantos homens de 100 anos eu conheço?”.
Além de geriatria e de herbiatria (Fique tranqüilo, o médico herbiatra não cuida de plantas, mas de adolescentes), fala-se hoje de “adultescência”, uma espécie de crise de adolescência na meia idade. São sentimentos que brotam no coração dos homens na idade do lobo, que depois de muitos sucessos ou fracassos, entram agora num período em que surge uma imensa necessidade de redefinir a vida, buscar sentido e propósito.
Independentemente da performance que cada um apresenta - Já que alguns ganham muito dinheiro, respeitabilidade, aclamação pública, enquanto outros enfrentam perdas, lutos, desempregos - Todos apresentam uma espécie de angústia, um sentimento difuso, de que estão perdendo a vida na tresloucada tentativa de encontrá-la. Este “turning point” é extremamente salutar, porque vai redefinir prioridades, alvos, objetivos e levá-los à busca de sua alma que facilmente se perde num mercado competitivo e na luta pela sobrevivência, aceitação e reconhecimento. Esta é a hora da verdade, do encontro consigo mesmo, tão grandemente negado, suprimido ou rejeitado. A pessoa descobre que só tem uma vida, e precisa redimensioná-la para que ela encontre sentido.
Quando perdemos amigos, enfrentamos crises, falências, ou lidamos com o luto e perda de pais ou o seu envelhecimento, fica no ar a necessidade de encontrar o eixo da vida. Descobrimos o valor da aguda afirmação de Jesus: “A vida de um homem não consiste na abundância de bens que ele possui”, e agora iniciamos de forma oculta inicialmente, o importante processo de encontrar o “significante”, ou, como afirmou Sartre, “Nenhum ponto finito tem sentido se não se relacionar com um ponto infinito”, passamos a suspeitar que o significado maior não está em nós, mas em Deus, no Eterno ou no Sobrenatural, ou em ambos, que afinal estamos falando da mesma coisa.
Temos aquele mesmo sentimento de Riobaldo, personagem central de Guimarães Rosa: “Eu quase que nada sei. Mas desconfio de muita coisa”, e este “desconfiar” do estilo que se vive, e da qualidade de vida que se tem, gera uma crise que nos torna mais humano, e ao mesmo tempo, mais divino. Descobrimos que só temos uma vida para viver, e que não podemos brincar com uma coisa tão séria quanto esta...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Plenipotencialidade do Mal

O Filme “O Patriota”, estrelado por Mel Gibson, narra a história de um pacato fazendeiro que se recusou a tomar parte da guerra contra os ingleses no movimento de Independência americano. Sua atitude, porém, ocultava um homem extremamente violento que revela toda sua potencialidade para a violência assim que seu filho adolescente foi assassinado na frente de sua casa. Esta experiência acionou o botão de sua agressividade e toda sua fúria animal eclodiu em cenas tão dantescas que até seus filhos pequenos que o viram em ação, tiveram dificuldades de abraçá-lo aquela noite.
Descontadas as enormes diferenças entre um caso e outro, convém considerar o que detonou o pavio do “monstro subjacente”, na alma do simpático goleiro do time de maior torcida no Brasil, capitão do clube, e que era pretendido por grandes equipes européias, mas que infelizmente se envolveu num macabro e cruel assassinato de uma ex-amante.
Reações assim nos assustam porque revelam todo potencial de mal e ódio que o ser humano abriga em si. Um garoto pobre das periferias de Belo Horizonte, torna-se ídolo de um grande time brasileiro, com contrato mensal superior a R$ 200 mil reais (contrato este já rompido), e que, quando pressionado por uma mulher, não hesita em ser o mandante da execução da mesma de uma forma tão sinistra.
Teólogos, filósofos e pensadores discutem desde sempre, a dimensão maligna da alma humana. Seja o mal percebido como um princípio, uma força ou um dinamismo, o fato é que este instinto caminha de forma subjacente em nossa alma e pode ser acionado quando um mecanismo específico é acionado. Cada um possui seu ponto frágil.
Crianças sensíveis podem se brutalizar e desenvolver visões patológicas da vida e do mundo pela violência recebida. A agressividade acumulada pode transformar pessoas dóceis em seres cruéis. Os abusos sofridos na vida podem eclodir em relacionamentos conjugais. Mimosas mulheres podem apresentar graves atitudes narcisistas nos relacionamentos conjugais. Rapazes elegantes e educados podem trazer de forma sutil atitudes malignas por onde transita a trama do mal.
Mirolasv Wolf afirma: “Para que o mal se perpetue, são necessárias duas ações: (1)- Que o mal seja praticado; (2)- Que aquele que sofreu o mal resolva perpetuá-lo”.
É necessário, pois, interromper o ciclo do mal em algum ponto de nossa história. Foi esta atitude de Jesus que não desejou vingança, mas agiu com perdão com seus algozes. “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. O princípio bíblico é eficaz no desmascaramento do mal: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Entre quatro paredes

“Murmuravam em suas tendas e não acudiram à voz do Senhor” (Sl 106.24-25)

Casa é sempre relacionada à intimidade, interioridade e privacidade. Por isto existe a família de que se fala e a família que se vive. Nenhum lugar abriga tanta ambivalência quanto nossas casas. Ali experimentamos ternura, acolhimento, nutrição, proteção, mas é ali também que se constroem os mecanismos de acusação, neurose e culpa que são tão presentes na nossa enferma sociedade. As maiores dores e traumas da alma se constroem nas quatro paredes de nossa casa.
O Salmo 106 afirma que o povo de Israel havia desprezado a terra aprazível que Deus lhes prometera, a terra de Canaã, e “murmuravam em suas tendas e não acudiram à voz do Senhor”. Dentro de suas tendas permeava a ingratidão, o desprezo pela herança que Deus lhes dera da aprazível terra prometida, e não conseguiam acudir à voz do Senhor.
É muito importante prestar atenção àquilo que temos dito dentro de casa. Nossas almas se nutrem daquilo que vamos ensinando repetidamente no convívio familiar. “As más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15.33). Aquilo que é dito de forma reiterada começa a fazer sentido para nossas mentes e emoções e assumem status de verdade.
Dentro de nossas “tendas” temos encorajado a fé em nossos filhos, ou enfraquecendo a relação deles com Deus? Amor à Deus, à igreja, fé, valores, princípios e cidadania são aprendidos de acordo com se repete e se reafirma nos espaços privativos de nossa casa. É entre quatro paredes que se constrói a cosmovisão, a gratidão ou a amargura. Por isto o livro de salmos censura o povo de Deus por causa da murmuração que era aprendida dentro das tendas.
O que estamos dizendo e afirmando em nossas casas? O que nossos filhos ouvem e quais comentários são feitos na intimidade de nosso lar que tem se tornado em modo de vida de nossos filhos? Conceitos como racismo, cidadania, respeito aos outros, educação, cuidado com o meio ambiente são sub produtos da educação sentida entre quatro paredes.
Construa na sua casa valores que edifiquem seus filhos e os aproxima de Deus. Ensine-os a amar sua igreja, fale bem dela; A desenvolverem uma fé com temor piedoso, e não de murmuração, como tantas vezes somos tentados a fazer. O povo de Israel “Murmurava em suas tendas”, e isto desagradou o coração do Senhor.