sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Quando se perde o amor...

No capítulo 2 do livro do profeta Jeremias, Deus está convidando seu povo ao arrependimento e uma volta para sua direção. Israel havia se desviado de Deus, indo atrás de propostas ilusórias, deixando o manancial de águas vivas e cavando cisternas que não retinham as águas. Deus chama seu povo, alerta sobre os riscos de viver longe dele e demonstra que tais escolhas trariam resultados amargos, mas ainda assim o povo não mudava sua trajetória de descaso e frieza.
O que estava acontecendo?
Creio que a resposta a esta dificuldade encontra-se no vs. 25. O povo respondeu ao Senhor: “É inútil, porque amo os estranhos e após eles irei”. O problema daquele povo tinha a ver com seu coração – era uma questão de afetos que foram deslocados de Deus para os ídolos. Quando o coração se perde, toda a referência, valor e construção deixam de fazer sentido.
Imagine um homem dizendo à sua mulher depois de 15 anos de casado: “Descobri que não a amo mais. Vou continuar vivendo contigo, vou cuidar de você, não vou desampará-la, nem sair de casa. Mas eu não a amo mais...” Tudo o que esta pessoa fizer daí por diante, nada mais representa para aquela mulher. Fazer as coisas sem que o coração esteja envolvido torna-se ridículo e cínico.
Já acompanhei vários divórcios, com todas as complexidades decorrentes da ruptura de uma relação estável, construída com muita paixão, com cerimônias pomposas e riquíssimas. Ao contrário do que a mídia propõe, em geral, os processos são doloridos e traumáticos. O que está por detrás destes divórcios senão a questão dos afetos? Quando não se ama mais, quando o amor se desloca do objeto/sujeito amado, é difícil continuar a caminhada a dois.
Com Deus é a mesma coisa. Certa vez acompanhei um membro de minha igreja que estava vivendo num estilo de vida de pecado, e ao confrontá-lo ele me disse plácida e resignadamente: “Não posso voltar porque amo meu pecado e não quero abandoná-lo”. Este é o retrato do amor quando se desloca de Deus. As propostas do mundo e do diabo tornam-se muito atraentes. O pecado é mais convidativo, as trevas não mais assustam, perde-se o temor de Deus e o diabo deixa de ser “o adversário de nossas almas”, como afirma as Escrituras, para ser um personagem fictício – aparentemente inofensivo e até mesmo charmoso.
Precisamos tomar cuidado com os desvios de nosso coração. Ele é enganoso, escorregadio e corrupto e temos muita dificuldade em conhecer suas próprias tendências (Jr. 17.9). Eventualmente precisamos nos desesperar quando percebemos que “amamos os estranhos e os seguimos”, ao invés de amarmos a Deus. Quando isto acontece, nosso coração perde o centro e precisa de uma operação do Espírito Santo, afinal, espiritualidade é no final das contas, questão de afeto.

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