terça-feira, 22 de agosto de 2023

A estrada do sucesso é a mesma do burnout

 



Esgotamento psicológico tem se tornado cada vez mais frequente e surgindo cada mais cedo na atual geração. De acordo com o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han somos uma “Sociedade do cansaço”, e sofremos uma “violência neuronal.” Apesar do medo de uma pandemia gripal, a verdade é que não vivemos numa época viral, desde que foram descobertos os antibióticos, e a crise nossa não é bacteriológica, mas neuronal, já que doenças como depressão, transtorno de déficit de atenção, transtorno de personalidade limítrofe e síndrome de burnout determinam a lógica do começo do século XXI.


As pessoas estão cansadas e aflitas. A concorrência e a competitividade nos levam ao cansaço e ansiedade. Temos cada vez mais, mas nos encontramos irritados, ansiosos e culpados. Não temos encontrado contentamento nas coisas pequenas e na simplicidade da vida. Queremos mais, e cada vez mais rápido. Não adiamos a gratificação, queremos o prazer imediato. Sucesso é a palavra de ordem, assim como ser bem-sucedido, encontrar um lugar ao sol, empreender, crescer na empresa, estudar, trabalhar com dedicação. O problema é que a estrada do sucesso e a mesma do burnout.


Muitas reações têm surgido. Apenas nos Estados Unidos cerca de 2 milhões de pessoas já optaram por viver em sítios em chácaras remotas. Elas se mudam para lugares inóspitos, tentando extrair da terra o sustento, plantando hortas e criando animais, apesar de terem conexão com as modernas tecnologias como internet, telefone celular, energia fotovoltaica e carros. Não perderam o contato com os recursos da modernidade, mas ao mesmo tempo procuram viver de forma mais extrativista. Apesar de muitos não terem qualquer conhecimento prático ou experiência para saber o que significa viver na roça e da roça, ainda, estão procurando um novo estilo de vida.


Outro grupo que tem feito seguidores são os minimalistas, que optam por trabalhar pouco, ganhar o mínimo, viver um estilo de vida frugal, procurando uma nova maneira de ver, interpretar e fazer as coisas. Alguns chegam a reduzir o número de suas posses a 50 produtos, incluindo roupas, material de limpeza e banho, um carro simples e barato, vivendo em casas minúsculas que exigem pouco. É uma forma de equacionar ou uma tentativa de sair do estresse e da correria que tem levado tantos a exaustão. 


Na linguagem de Fernando pessoa, existe “um cansaço de existir, de ser, só de ser. O ser triste brilhar ou sorrir...” Maior que a competitividade e concorrência, existe o cansaço pelo simples fato de viver. Cansaço existencial, que brota por falta de alegria interior. Muitos tentam ser fortes, mas sofrem o impacto desta exaustão emocional. Como um motor que precisa de reparo e manutenção e não pode parar, continuam fazendo as coisas, mas sem propósito e sentido algum. Viver em si mesmo já é um cansaço, para o coração que precisa de um lugar de paz e refrigério, que só pode ser encontrado em Deus. No descanso da alma de uma criatura que retorna para os braços do Criador, como afirmou Agostinho: “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti.”

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