terça-feira, 22 de agosto de 2023

O Grande gigante

 



A ONU publicou uma lista dos 17 maiores problemas que assolam a humanidade e que precisam ser vencidos. Estabeleceu também 17 objetivos de desenvolvimento sustentável entre eles a erradicação da pobreza, fome zero, saúde e bem-estar, educação de qualidade, redução das desigualdades e ação contra a mudança global.


Muitos dos grandes “gigantes” descritos pela ONU estão associados às questões da alma, valores e relacionamentos. O vazio existencial tem sido considerado um dos maiores problemas desta geração. 


A questão é desafiadora. Como vencer a falta de sentido e do nihilismo que engole vorazmente a humanidade levando milhares às drogas, alcoolismo, depressão e suicídio? Como lidar com a ausência de sentido e propósito? 


Nossa geração avançou significativamente com pesquisa tecnológica, que proporciona melhores condições de vida e conforto, a produção de alimentos é cada vez mais eficiente com novas pesquisas. Doenças infecciosas como malária, tuberculose, lepra tem sido em boa parte eficazmente. A penicilina, antibióticos e analgésicos, não diminuem as dores e prolongam a vida das pessoas. Casas, carros, transporte, saúde têm permitido melhor qualidade de vida, e as distâncias geográficas foram encurtadas, mas não temos conseguido vencer o gigante da solidão e do vazio. As pessoas estão cada vez mais solitárias, e o suicídio assume proporções pandêmicas. Doenças como depressão, angústia, fobias, transtornos mentais estão saturando os hospitais psiquiátricos e o consumo de antidepressivos assumido uma dimensão perigosa. 


Jean Paul Sartre, filósofo francês, ícone do existencialismo percebeu o grande dilema do vazio: “Nenhum ponto finito faz sentido se não se conectar a um ponto infinito.” Blaise Pascal, matemático, afirmou que “temos um vazio em forma de Deus.”


O autor do livro de Eclesiastes, que faz parte da coleção dos livros sagrados afirma: “Deus pôs a eternidade no coração do homem.” Temos uma sede do infinito, do Eterno, do sobrenatural. 


Billy Graham numa conferência na Rússia teve um encontro privado com Rhaissa Gorbachev, esposa de  Mikhail Gorbachev, que lhe disse: “Nós fomos treinados para não crer nem falar em Deus. Adotamos o ateísmo como parte do sistema educacional, mas mesmo com toda informação, o que me perturba é que não consigo resolver o vazio e a solidão existencial que domina minha alma.”


De fato, a falta de sentido é um gigantesco problema. A ausência de significado e propósito talvez seja o maior e mais desafiador dilema da sociedade moderna. Já no Século IV, Santo Agostinho escreveu com muita propriedade: “Nosso coração foi feito para Deus, e não encontrará descanso enquanto não voltar para Ele.” O vazio da alma humana não preenche com educação, conhecimento, dinheiro e poder. Apenas uma compreensão apropriada do significado e sentido de viver é capaz de vencer este grande gigante.

O importante é ser feliz!

 



A mudança da modernidade para a pós-modernidade, trouxe algumas transformações na forma de pensar. No século XVII Descartes afirmou “Cogito, ergo sum”, (penso, logo existo). O filósofo e matemático questionava a sua existência, e chegou à conclusão de que, se é um ser pensante, então existe, porque ao pensar tem consciência de si próprio.


Na pós-modernidade, o que autentica o ser, é a experiência, ou, se preferirmos, as emoções. Portanto, “se eu sinto bem, logo existo”, ou, “se estou feliz, logo me autentico.” As pessoas acreditam piamente que tem direito a ser feliz. Felicidade é o que os anúncios nos prometem se comprarmos seu produto. É o que o novo amor de nossa vida nos oferece se livrarmos do velho. As pessoas querem ser felizes, e de preferência, com a felicidade ao menor custo possível.


Pouco interessa valores e princípios. Se eu estou interessado em outro relacionamento porque “me faz feliz”, pouco interessa os votos e compromissos assumidos. As pessoas creem que Deus está 100% comprometido com sua felicidade, que é definida não qualquer absoluto, mas pelas emoções imediatas e urgentes. 


O fator definidor da ética atual é a felicidade a curto prazo, imediato, o que importa é ser feliz. Tim Keller chama isto de “Deus de Stepford”, um deus elaborado por nós como acontece no filme “Mulheres de Stepford”, cujas esposas perfeitas eram criadas por seus maridos. Um deus que deseja nos ver felizes da maneira que desejamos ser felizes, que nunca contraria nossos desejos e impulsos.


Neste ambiente, a felicidade é sempre a grande autoridade. E isto nos faz pensar que Deus só quer que sejamos felizes. Sempre pronto a mimar o garoto que deseja desesperadamente alguma coisa e dá chilique se as coisas não acontecem da forma como ele deseja.


Algo curioso, entretanto, tem acontecido. Alguns dos filmes de Hollywood tem demonstrado que a promiscuidade não traz felicidade. De forma surpreendente, são os cineastas não cristãos que tem tentado mostrar esta realidade. “Nos mais diversos contextos, pessoas estão acordando para a verdade de que, viver para fazer a si mesmo feliz aqui e agora, é, na pratica, um caminho certo para garantir a infelicidade no longo prazo”(Ed Shaw)


As pessoas estão sempre mudando de ideia sobre o que traz felicidade. C. S. Lewis escreveu: “Quando queremos ser outra coisa que não aquela que Deus quer que sejamos, devemos estar desejando, de fato, aquilo que não nos fará felizes. Essas exigências divinas que, aos nossos ouvidos naturais, soam mais como as de um déspota e menos como as de alguém que ama, na verdade nos conduzem aonde deveríamos querer ir, se soubéssemos o que queremos.”


Ter a emoção como sinônimo de felicidade, pode gerar engano. Amanhã, você pode entender que sua felicidade deveria estar em outro lugar, e que sua impetuosidade e desejo supérfluo, de não querer sacrificar nada, por acreditar que o critério definitivo deveria ser sua felicidade – ou aquilo que você pensou que poderia gerar felicidade – na verdade só trouxe infortúnio e perda. Felicidade, neste sentido, se torna uma palavra muito vazia e sem sentido.

O que, porquê, com quem e onde?




É fácil superlotar a agenda com tarefas e demandas que surgem constantemente. Wayne Cordeiro, conferencista havaiano, percebeu que não havia mais espaço para sua agenda para atividades pessoais, familiares e recreativas, então, ele decidiu fazer sua agenda a partir de suas férias e não das atividades.


Recentemente encontrei um amigo aposentado que me falou de sua perplexidade. Ele continua com sua agenda cheia apesar de não estar “trabalhando” mais. Na verdade, ele admitiu que sua agenda ainda está com mais compromissos. É preciso selecionar o que fazemos, se quisermos ter mais efetividade nas nossas atividades


Três perguntas podem direcionar nossas decisões:

Primeira, o que estou fazendo? Isto tem a ver com prioridades. Cortella afirma que prioridade não tem “S”. Existem muitas coisas urgentes, que demandam nosso tempo e nos pressionam. São demandas de pessoas, trabalhos, e até mesmo o desejo pessoal de agradarmos as pessoas e sermos aprovadas por ela. Mas devemos sempre avaliar o que estamos fazendo. 


A segunda questão nos ajuda na primeira: Por que precisamos fazer? Isto tem a ver com motivos e valores. Muitas coisas são boas e precisam ser feitas, mas nem sempre deveríamos nos ocupar com elas. Podemos deixar outros fazerem e até mesmo delegar. Qual é a razão de fazer isto ou aquilo? Se perguntarmos o porquê, veremos que nem sempre aquilo que julgávamos importante deveria ocupar nosso tempo. 


Terceira, com quem estou fazendo? Eventualmente estamos fazendo coisas boas com pessoas que são tóxicas, nos sabotam, manipulam, e esgotam facilmente retiram nossa alegria. Precisamos recordar que a única aliança que fizemos é a do casamento, e precisamos nos esforçar para acertar e fazer as coisas caminharem bem, mas existem pessoas com as quais não precisamos andar, e sem mágoa, ressentimento, mas com maturidade e assertividade, precisamos nos afastar porque elas esvaziam o nosso tanque emocional. Pode ser uma sociedade, um ambiente de trabalho ou uma parceria. Vale a pena continuar junto?


A quarta questão é onde estou fazendo? Pode ser que nosso esgotamento não esteja relacionado ao que fazemos, nem com quem fazemos, mas com o local e ambiente de trabalho. As estruturas, escritórios fechados, ruídos excessivos, calor ou frio extremo, isto é, conforto e ambientação precisam ser considerados. Produzimos melhor em ambientes mais arejados, menos alérgicos e carregados de fungos e mofos. O simples fato de mudar de sala, de endereço, pode ser fator motivador para maior produtividade. Eu preciso de claridade e luz para me sentir melhor e arejar minhas emoções. Quando morei nos Estados Unidos, descobri que nos meses mais frios e escuros, meu humor variava muito e me deprimia. Luz, calor e claridade são aliados do meu humor. 


Faça estas quatro perguntas a você: O que, porquê, com quem e onde? Estas perguntas são dinâmicas e precisam ser feitas de tempo em tempo.

A estrada do sucesso é a mesma do burnout

 



Esgotamento psicológico tem se tornado cada vez mais frequente e surgindo cada mais cedo na atual geração. De acordo com o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han somos uma “Sociedade do cansaço”, e sofremos uma “violência neuronal.” Apesar do medo de uma pandemia gripal, a verdade é que não vivemos numa época viral, desde que foram descobertos os antibióticos, e a crise nossa não é bacteriológica, mas neuronal, já que doenças como depressão, transtorno de déficit de atenção, transtorno de personalidade limítrofe e síndrome de burnout determinam a lógica do começo do século XXI.


As pessoas estão cansadas e aflitas. A concorrência e a competitividade nos levam ao cansaço e ansiedade. Temos cada vez mais, mas nos encontramos irritados, ansiosos e culpados. Não temos encontrado contentamento nas coisas pequenas e na simplicidade da vida. Queremos mais, e cada vez mais rápido. Não adiamos a gratificação, queremos o prazer imediato. Sucesso é a palavra de ordem, assim como ser bem-sucedido, encontrar um lugar ao sol, empreender, crescer na empresa, estudar, trabalhar com dedicação. O problema é que a estrada do sucesso e a mesma do burnout.


Muitas reações têm surgido. Apenas nos Estados Unidos cerca de 2 milhões de pessoas já optaram por viver em sítios em chácaras remotas. Elas se mudam para lugares inóspitos, tentando extrair da terra o sustento, plantando hortas e criando animais, apesar de terem conexão com as modernas tecnologias como internet, telefone celular, energia fotovoltaica e carros. Não perderam o contato com os recursos da modernidade, mas ao mesmo tempo procuram viver de forma mais extrativista. Apesar de muitos não terem qualquer conhecimento prático ou experiência para saber o que significa viver na roça e da roça, ainda, estão procurando um novo estilo de vida.


Outro grupo que tem feito seguidores são os minimalistas, que optam por trabalhar pouco, ganhar o mínimo, viver um estilo de vida frugal, procurando uma nova maneira de ver, interpretar e fazer as coisas. Alguns chegam a reduzir o número de suas posses a 50 produtos, incluindo roupas, material de limpeza e banho, um carro simples e barato, vivendo em casas minúsculas que exigem pouco. É uma forma de equacionar ou uma tentativa de sair do estresse e da correria que tem levado tantos a exaustão. 


Na linguagem de Fernando pessoa, existe “um cansaço de existir, de ser, só de ser. O ser triste brilhar ou sorrir...” Maior que a competitividade e concorrência, existe o cansaço pelo simples fato de viver. Cansaço existencial, que brota por falta de alegria interior. Muitos tentam ser fortes, mas sofrem o impacto desta exaustão emocional. Como um motor que precisa de reparo e manutenção e não pode parar, continuam fazendo as coisas, mas sem propósito e sentido algum. Viver em si mesmo já é um cansaço, para o coração que precisa de um lugar de paz e refrigério, que só pode ser encontrado em Deus. No descanso da alma de uma criatura que retorna para os braços do Criador, como afirmou Agostinho: “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti.”

Bolero de Ravel

 



Gosto muito de música clássica. Não sei ao certo de onde surgiu este gosto musical, mas quando fiz faculdade em Campinas, SP desenvolvi o hábito de estudar ouvindo este estilo de música. Aprendi a ouvir Haendel, Liszt, Vivaldi, Chopin, Beethoven e meu preferido, Juan Sebastian Bach. Tenho a impressão de que a influência do protestantismo britânico na minha juventude tenha contribuído nesta direção.


Recentemente senti vontade de ouvir o Bolero de Ravel. Me chama a atenção a cadência musical desta sinfonia. Ela é bem repetitiva e se não prestarmos atenção, podemos imaginar que estamos ouvindo a mesma coisa do início ao fim, mas na medida em que a música vai se desenvolvendo, ela vai introduzindo outros instrumentos e aumenta sua intensidade. Sua ruptura só é visível no final, quando assume um tom diferente e termina de forma intencionalmente abrupta.


Ao ouvi-la novamente, imaginei que ela se parece com o desenrolar da nossa própria história, introduzindo elementos novos na medida em que a sinfonia da vida se desenvolve. São sons e variações incorporados lenta e sutilmente na trajetória, que não quebram o sequenciamento, mas dão a formatação daquilo que somos. São os fatos e incidentes, eventos e pessoas, que aos poucos, tornam-se parte de nossa “musicalidade”, muitas vezes repetitiva e monótona, como vemos no bolero de Ravel. Nada muito diferente, mas que indelevelmente torna-se parte daquilo que somos, forjando nossa existência e tomando corpo em nossa vida marcada pelo cotidiano e pela rotina.


Ravel introduz lentamente os demais instrumentos, a música vai se tornando mais bela, outras vezes mais estridente e barulhenta, mas tudo vai sendo absorvido pelo compasso central que dá a harmonia necessária para que os tons entrelaçados se encaixem e se fundam na estrutura maior. Nada é irrelevante. Os ouvidos menos atentos podem nem perceber qual instrumento foi acrescentado, mas a música vai sendo forjado pela junção destes elementos e vai chegando ao seu ápice, no mesmo ritmo e compasso.


No final, um som diferente, um movimento mais forte. A música está chegando ao fim. Outros tons são introduzidos, quebrando a sequência monótona. Os sons agora tornam-se mais agudos e estridentes. Uma nova realidade se aproxima. É hora de atenção! Desconstrução. Desfecho. A retumbância e sonoridade apontam noutra direção. Há uma quebra no ritmo. O ouvido se aguça em outra direção. Mudanças apontam para novas perspectivas. 


Talvez o desfecho deste bolero possa ser sintetizado na afirmação do escritor francês Victor Hugo (1802-1885) ao se aproximar da morte: “O inverno está na minha cabeça, mas o verão eterno está no meu coração. Quando eu descer ao túmulo, não poderei dizer: terminei minha vida. Meu trabalho começará na manhã seguinte. O túmulo não é uma viela escura. É uma avenida movimentada que termina com o lusco fusco da aurora”. Assim me parece o Bolero de Ravel.

Sem celular

 



Quanto tempo você consegue ficar sem celular? Se você é uma daquelas pessoas que consegue sobreviver sem celular, você pode se considerar uma exceção. Estes dispositivos fazem parte da vida da maioria das pessoas.


Com o celular você tem acesso literalmente ao mundo inteiro. Você não precisa mais andar com carteira de motorista, documentos, nem cartão de crédito. Basta baixar os aplicativos e tudo estará ao seu alcance.


O celular também oferece distração e entretenimento. Em muitos casos, é uma ferramenta de trabalho. Milhões de pessoas dependem do celular não apenas para se comunicar, mas para sua sobrevivência. Ele se transformou em uma ferramenta de trabalho indispensável em muitos ambientes profissionais.


Numa pesquisa recente, 31.43% dos 28.466 entrevistados afirmaram que não conseguiriam ficar muito tempo longe de seus smartphones. 10.5% afirmaram ser impossível ficar mais de 6 horas longe de seus aparelhos e 3.16% disseram que não suportariam ficar sem celular por mais de 30 minutos. 


Estudos apontam para uma dependência psicológica desta tecnologia. Muitos sofreriam uma espécie de “crise de abstinência”, se não pudessem mais usar o celular. Alguns adolescentes chegam a afirmar que prefeririam morrer se não fosse possível usar o celular. Em muitas famílias, a questão das férias se torna um desafio, porque as crianças não querem ir mais para a fazenda se não houver um bom sinal de internet. Fazendeiros já entenderam que se quiserem funcionários para trabalhar na terra, se não houver acesso a celular, a maioria não aceitará a proposta de trabalho, ainda que seja atraente. Num relatório publicado pelo App Annie, a média global de uso diário de celular é de 4 horas e 48 minutos.


Toda esta dependência traz graves riscos colaterais. A Geração Z, dos nativos digitais, nascidos de 2000 para cá, é a primeira geração que não conheceu uma sociedade em acesso virtual. Esta sido chamada a geração de zumbis. São menos educados, mais deprimidos, adotaram um estilo de vida solitário, hiper conectada tecnologicamente, mas distanciada de seus familiares, igrejas e comunidades. A depressão aumentou 63% nos adolescentes e o suicídio 56% entre 2007 e 2017 e o suicídio tornou-se a segunda causa de morte entre os jovens.


O aumento da depressão tem sido atribuído ao isolamento presencial. As famílias se tornaram mais distanciadas psicologicamente e muitas vezes, mesmo estando juntas não conseguem conversar e mesmo quando se assentam juntos à mesa, se a família não estabelecer limites, os adolescentes (e adultos), não se desligam do celular e serão incapazes de terem uma conversa simples e rotineira.


Uma sugestão simples: Estabeleça horários do dia no qual você não acessará o celular. Tenho feito isto com alguma frequência e o resultado tem sido positivo. Crie períodos do dia no qual você, intencionalmente ficará sem acessar qualquer aplicativo, nem olhará os sinais do instagram, facebook ou whatsup. Isto poderá reorientar seu tempo e trazer descanso. Esta simples experiência poderá ajuda-lo tremendamente. Você pode não acreditar, mas é possível viver bons períodos sem acessar o celular.

A difícil tarefa de se aposentar no Brasil

 



Recentemente o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) validou a nova regra de cálculo das pensões por morte de segurados do Regimento Próprio de Previdência Social (RGPS) antes da aposentadoria. Por maioria, o colegiado declarou constitucional a regra da reforma da Previdência de 2019 que fixou os novos critérios para a concessão do benefício. Agora quem ficar viúvo terá direito a receber 50% do benefício do segurado que morreu ou da aposentadoria por invalidez.


Na verdade, o STF não criou a Lei, já que não é a função da suprema corte criar as leis, Esta prerrogativa é do Congresso Nacional. A Lei foi criada na reforma da previdência em 2019. 


O fundamento do relator da ação, ministro Roberto Barroso, entretanto, me pareceu frágil demais. Ele decidiu a partir dos dados sociais como o aumento da expectativa de vida e a diminuição da natalidade, o que geraria um comprometimento no equilíbrio da Previdência Social, que já é deficitária. O mau planejamento do INSS tornou-se um problema que os associados ficaram responsável em pagar.


O que o STF não entendeu é que os aposentados pagaram para ter esta aposentadoria. O Governo Brasileiro não está fazendo favor aos segurados ao pagar o INSS aos aposentados, mas apenas praticando a justiça, não se trata de um ato de generosidade, mas de equidade. Imagine a vida de uma pessoa, cuja família recebia o INSS e terá que reduzir seu orçamento pela metade...


Para Barroso, as pensões por morte não visam à manutenção do padrão de vida do segurado falecido nem têm natureza de herança. Não é herança sr. Ministro, é conquista de quem pagou. Ao fazer tal afirmação, parece que o Estado é um Papai Noel generoso e liberal. Isto não é verdade: O INSS é um instituto de seguridade. As pessoas pagam (obrigatoriamente), para ter um benefício, que não saiu dos fundos do governo, mas do bolso dos trabalhadores. Talvez um escalonamento e proporcionalidade fossem mais justos.


Se você paga INSS hoje e pensa se aposentar apenas com ele, cabe o alerta: INSS deve ser aposentadoria complementar, não a principal. Portanto, trate de repensar imediatamente sua aposentadoria e começar a investir em um fundo privado de aposentadoria. Minha sogra perdeu seu marido a 13 anos atrás. Ele pagava sobre o teto, e se aposentou com o equivalente a 7 salários-mínimos. Atualmente ela recebe 1.700 reais. 


Rosa Weber foi mais sensível ao tema e votou contrário ao relator: “A manutenção da forma de cálculo não permite, senão inviabiliza, a reorganização familiar e financeira após o falecimento, ampliando a vulnerabilidade social”.


Está se tornando cada vez mais difícil se aposentar no Brasil...

Caos

 


Eugene Peterson relata que após uma palestra dada a um grupo de estudantes em Vancouver, ele foi indagado sobre qual seria a coisa mais importante da vida e respondeu sem nunca ter refletido sobre esta pergunta: “Caos.”


Depois da resposta, ele começou a explicar a razão: Quando a vida está sem sobressaltos, corremos o risco de nos tornarmos pessoas acomodadas e sem grandes sonhos, o caos gera um susto, desalinha, nos faz ficar inseguros e nos obriga a sermos criativos e encontrar novos caminhos e estratégias que jamais usaríamos numa situação de conforto e tranquilidade. O caos, a desordem, o evento inesperado, pode nos colocar em outro patamar e nos levar a lugares mais altos e estradas nunca percorridas. 



Nem todo caos é ruim. Grandes descobertas cientificas se deram em meio a grandes crises. A enigmática, dolorida e inesperada pandemia do Covid-19, colocou muitas empresas em outro nível de pesquisa e proposta, obrigando empresários e acadêmicos a buscarem novas soluções. Muitas pesquisas feitas neste pandemônio se tornarão o ponto de partida para estudos mais avançados. Com a guerra atual entre a Criméia e a Rússia, parece que o país invasor avaliou mal as consequências. Toda Europa depende de suas fontes energéticas, mas com a insegurança gerada pelo conflito, pesquisas e avanços surpreendentes têm sido feitos em pouco tempo e a Rússia perderá boa parte de seus recursos, com a queda da exportação, porque os países da região encontrarão novas fontes energéticas. 


Certo homem estava desesperado porque sua esposa havia pedido o divórcio, e para complicar, na surdina havia entrado na justiça com uma ação contra ele e todos seus bens foram arrestados. Foi um choque. Sua vida e economia aparentemente ajustadas estavam agora no limbo. Ele estava tenso e irado, tanto pela perda financeira quanto pela sensação de ter sido traído. Apesar do relacionamento deles estar em crise nos últimos anos ele nunca imaginou que ela seria capaz de tomar uma decisão tão surpreendente e drástica. Sendo seu amigo lhe assegurei que ele ainda viria a rir daquela situação, e foi exatamente o que aconteceu. O divórcio aconteceu, a situação financeira se reorganizou e ele se ajustou novamente. Ele não ficou em torno da sua dor, tirou forças de onde não tinha e o caos assumiu outra direção, trazendo novas oportunidades.


A Teoria do Caos, afirma que há um padrão de organização dentro de um fenômeno desorganizado, de aparente casualidade. Existe “ordem no caos.” A aparente desordem é necessária para que a vida caminhe em direções mais produtivas e criativas. 

Então, ao enfrentar situações surpreendentes e aparentemente insolúveis, reflita sobre as possibilidades ainda não percebidas, que o caos pode trazer. Isto gera esperança e expectativa. A Bíblia diz que “Abraão, creu contra a esperança”, e foi surpreendido pelo anúncio de que ainda teria um filho com Sara. O impossível é sempre possível quando se tem um Deus capaz de dar ordem ao caos.

Perda dos referenciais

 


Recentemente a colunista Natalia Timerman afirmou que suas referências estavam morrendo, e que por causa disto ela sofria um senso de orfandade. Ela se referia de forma mais explícita à morte de Rita Lee e Milan Kundera, escritor Theco que influenciou o mundo com romances como “a insustentável leveza do Ser” e “Risíveis amores” entre outros. Para ela, isto se constituía numa espécie de desamparo, e de que tais pessoas são, de certa forma, insubstituíveis, já que com a internet, a inteligência artificial e a relação contemporânea com o tempo estão transformando o conhecimento, a forma de aprender e apreender a vida e que não somos e não seremos tão capazes quanto os que vieram antes. 


Tento entender um pouco da frustração e receio da autora, mas minha crise sobre a perda de referenciais vai numa outra direção, ainda que seja simpática à sua dor. Tenho pensado muito na perda dos referenciais sociais, culturais, morais e espirituais. Jordan Peterson, no seu espetacular livro “12 Regras para a Vida”, afirma que o mundo apresenta a cada pessoa a dualidade do caos e da ordem. O caos é o domínio da ignorância, do inexplorado. A ordem, por sua vez, é como um território explorado, é a hierarquia, a organização, o ambiente de domínio no qual se sabe e se entende. A ordem é pacífica, segura e produtiva.



Quando retiramos os fundamentos, perdemos a noção de quem somos e nos aventuramos no campo do desconhecido, do risco. A perda da referência pode ser fatal, ainda que seja o caminho da criatividade. Mas o que estamos vendo é que as pessoas estão enfatizando tanto a necessidade de liberdade, de experiência, do senso de que não temos pais e mães para nos controlar e fiscalizar, que adentramos um campo sombrio da depressão, do caos e da ausência de sentido.


Timerman ainda fará uma analogia destes últimos anos da era pós-moderna como aquela situação em que você está no ensino médio e os seus pais vão viajar e você dá uma festa. “Por um tempo aquilo é genial, é livre e libertador, a autoridade parental se foi, está derrubada, um festim dionisíaco do tipo o-gato-foi-embora-vamos-brincar. Mas aí o tempo passa, e a festa vai ficando cada vez mais ruidosa, e as drogas acabam, e ninguém mais tem dinheiro para comprar drogas, e coisas foram quebradas e derramadas, e tem uma queimadura de cigarro no sofá, e você é o anfitrião, e aquela casa também é sua, e você gradualmente começa a desejar que os seus pais voltem e restaurem um pouco de ordem.” 


Quando penso na perda de referência, estou olhando não para pessoas, mas para valores, princípios, cosmovisão, que organiza nosso universo e aponta a direção daquilo que somos e para onde devemos caminhar, Conta-se que Nietzsche, que defendeu a conhecida tese da morte de Deus e do Eterno Retorno, aos 16 anos chorava no porão de sua casa, e seu pai se aproximou e lhe perguntou a razão do desespero e da dor, e ele respondeu: “Descobri que Deus não existe e agora não há esperança.”


Me assusta perceber a perda da referência do Sagrado, a ausência de sentido, a superficialidade das relações nesta nova geração. Falta algo que “empreste” sentido e isto é pavoroso. A perda dos referenciais é fatal do ponto de vista psicológico, e mais destrutivo ainda na perspectiva existencial. Perder a Deus é perder-se. “que adianta ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma.” Foi isto que Jesus disse numa de suas conhecidas parábolas.