quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Epidemia do Desencanto



 

Estudos apontam que a depressão será a principal da causa de incapacitação em 2030 à frente inclusive de doenças cardiovasculares. O psiquiatra Ricardo Moreno define a depressão como “uma doença que tem como base uma disfunção química do cérebro, ou seja, os sistemas de neurotransmissão são comprometidos. São vários sinais e sintomas que caracterizam o quadro clínico, como tristeza, angústia, melancolia e diminuição do prazer.” 40% dos pacientes com depressão têm fator genético envolvido, sendo que os fatores sociais não são considerados causas, mas desencadeadores. “indivíduos com vulnerabilidade genética, quando submetidos a estresse, físico ou psicológico, podem ou não desenvolver a doença.”

 

A depressão já acomete cerca de 9% dos brasileiros. Uma vez que a doença apresenta um conjunto de sintomas, como tristeza, perda da libido e desesperança, há quem acredite estar deprimido por sentir algum desses sintomas, mas um único aspecto não determina que alguém esteja deprimido. Pessoas em situações de estresse, lutos e crises emocionais podem ter tristeza diante da situação, mas não podem ser definidas como deprimidas. Tão logo a situação antagônica desapareça e as coisas se normalizem, a tristeza desaparece.

 

O grande problema da depressão é o desencanto, que também pode ocorrer por causa de situações políticas e econômicas. A Argentina está passando no momento, por uma grande crise não apenas social, mas existencial. No Brasil, com mais de 50 milhões com idade entre 15 e 29 anos, subaproveitados, este fenômeno vem gerando uma aguda frustração na juventude. A satisfação dos jovens, que já piorava desde a recessão, se agravou com a pandemia.

 

Os dados mostram uma geração mais “desanimada” em relação ao futuro, motivando uma “fuga de cérebros”. 47% dos jovens brasileiros gostariam de sair do país para tentar uma vida melhor no exterior. As oportunidades concretas de trabalho e estudo, inserção no mercado do trabalho, foram muito impactadas adversamente na pandemia, esvaziando a perspectiva relativa ao futuro.

 

Certamente a epidemia da Covid-19 contribui para este estado de desencanto, mas existe um componente na alma humana que tem sido ainda mais impactante: falta esperança. Nos EUA, o suicídio já é a segunda causa de morte entre os adolescentes, e na Noruega, há mais suicídio que assassinato. Falta alegria em viver, e não é sem razão que a droga, barbitúricos, álcool e adrenalina tem se transformado num grave problema social e de saúde comunitária.

 

Todo este vazio se relaciona com a clássica frase de Pascal que afirmou que “há no coração do homem um vazio do tamanho de Deus.” Falta sentido, propósito. O problema do homem, antes de ser econômico, social e financeiro, é um problema teológico. A ausência de Deus e a filosofia do nihilismo, certamente são os grandes fatores desencadeadores deste desencanto. 

 

 

 

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