Numa entrevista à radio Jovem Pan em 15 de janeiro do ano passado, o comentarista Boris Casoy falou sobre o tempo em que esteve isolado por causa da pandemia de Covid-19. Na época ele afirmou que, há meses, não saía de casa para nada. Aos 79 anos, comentou também sobre o medo da morte: “Tô em casa, agora tô preso, em prisão domiciliar desde março. Tenho medo de sair, tenho pavor de morrer. Não tenho tempo de morrer. Sou muito ocupado e vou tocando. Estou inteiro, mais ou menos. Ando mais devagar.”
Chamou minha atenção a frase: “Não tenho tempo de morrer.” Isso me lembrou a história de um homem que, ao notar a morte de muitos amigos em sua cidade, resolveu mudar-se para um outro lugar, uma cidade menor. Ao chegar no local, perguntou para um senhor na rua: “Há muita morte aqui?” E ele respondeu, espontaneamente: “Não! Apenas uma para cada pessoa.”
Por acaso alguém em sã consciência tem “tempo para morrer?”. Além do mais, a morte requer tempo para acontecer? Jesus certa vez afirmou: “Qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um minuto ao curso de sua vida?” Muitos dariam tudo para ter um pouco mais de tempo de vida.
Uma das propostas da ciência utópica é a ciência criônica, que é o processo de preservação, em baixas temperaturas, de humanos e animais que não podem mais ser mantidos vivos pela medicina contemporânea. A esperança é de que a cura e a reanimação sejam possíveis no futuro. A criopreservação de pessoas ou animais não é reversível com a tecnologia atual, mas
há suposições de que poderá preservar corpos para serem recuperados no futuro com a utilização de uma tecnologia mais avançada. Tudo isso é uma tentativa desesperada de controlar a morte. Afinal, ninguém “tem tempo para morrer”.
Entretanto, a morte não precisa de tempo nem de autorização de quem quer que seja para acontecer. E ela nos surpreende porque deixamos para trás as contas para pagar, a viagem para fazer, os planos e metas previamente estabelecidos. Para os que se acham insubstituíveis, é bom lembrar que o cemitério está cheio de pessoas insubstituíveis.
A morte chega muitas vezes sem avisar, surpreendendo a todos. Muitas vezes dá sinais de sua presença, num processo longo de enfermidade ou no enfraquecimento natural do corpo. Ninguém tem tempo para a morte, mas ela não respeita a agenda cheia, os negócios importantes a realizar, a troca planejada do carro novo, os compromissos assumidos.
Como bem disse Toquinho:
“E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar.
Sem pedir licença, muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar.”
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