domingo, 29 de maio de 2022

Autofagia da Guerra

  


Já estamos chegando ao centésimo dia da guerra entre Rússia e Ucrânia. Para quem pensava que a batalha teria uma rápida negociação, infelizmente, o cenário atual é de que ela está mais perto da expansão do que do fim. Simplesmente, as negociações parecem não funcionar.

 

As perdas econômicas são imensas. Perde a Rússia que sofre bloqueio de recursos e de negócios junto às nações com as quais lidava comercialmente antes. Sofre a Europa com a escassez de fontes de energia - gás e petróleo - advindas da Rússia. Mas sofre ainda mais aqueles que foram obrigados a deixar sua história para trás. Eles abandonaram suas casas e projetos, pois saíram em busca de abrigo e proteção internacional; perderam suas referências históricas e, sobretudo, de entes queridos que sucumbiram na guerra. Para estes, a perda é irreparável.

 

Por que surgem as guerras? Elas sempre foram motivadas por líderes narcisistas, que anseiam por glória pessoal e reconhecimento internacional. As razões econômicas são reais, mas, em última instância, não configuram o motivo maior de guerrear.

 

Nas Escrituras Sagradas o apóstolo Tiago afirma: “De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde senão dos prazeres que militam na vossa carne? Cobiçais e nada tendes; matais e invejais e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras" (Tg 4.12).

 

O motivo central e propulsor da guerra é a cobiça. Dominar, conquistar, possuir, ser superior, ampliar territórios. Isso acontece no nível das relações entre os países e das relações interpessoais. É o desejo de ter mais, de ser mais. A inveja é tola e insaciável. Nada é capaz de satisfazer a ganância.

 

A guerra violenta a vida, destrói famílias, fragmenta a sociedade por causa da insaciabilidade. A cobiça é voraz. É poço sem fundo, sempre insatisfeita, faminta e esquálida. Apesar de se alimentar destrutivamente da energia do outro, é incapaz de resolver a fome daquele que devora. A cobiça quer mais em doses cada vez maiores, como um dependente químico que vai sempre mais fundo para satisfazer o vício, sem que isso aconteça. Não há satisfação!

 

Poderosos tubarões, insaciáveis generais, líderes vampirescos sempre são devorados pela própria voracidade. Usam a espada e são devorados por ela. É um movimento de auto-sarcofagia, em que se come a própria carne em um processo suicida inconsciente, já que “o espírito de ganância tira a vida daquele que a possui.” Assim, gananciosos se auto-devoram retroalimentando a autofagia, processo no qual as células digerem parte de si mesmas para sobreviver. Sobre as guerras que preservam tão bem esse cenário, Jesus foi bem claro: “Todos os que lançam mão da espada, à espada perecerão” (Mt 26.52). 

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