Certo escritor francês narra o estranho episódio dentro de um restaurante, quando o garçon se aproxima do cliente e lhe pergunta: -“O que o senhor deseja?”, e ele respondeu de forma lacônica e surpreendente: “Eu queria ter um desejo!”
Perder o desejo não é algo tão incomum. Ele é mais comum nos idosos, mas acontece frequentemente na meia-idade. O desejo perdido pode ser pelo sexo, comida, lazer, viagem e muitas outras coisas, mas o pior e mais perigoso de todos é perder o desejo... de desejar.
Alguns se sentem plenos com comida farta, casa cheia, viagens, festas, academias e até mesmo uma boa cama. Outros se satisfazem com compras, roupas e joias. Muitos destes desejos podem se tornar destrutivos, idolátricos e perniciosos- mas ainda assim, trata-se de um desejo.
Nada desejar é morrer antecipadamente.
Uma pessoa não é velha por causa da idade avançada, mas quando nada mais deseja.
Já viram idosos que sonham e fazem planos? Os desejos e sonhos os mantém vivos. Por outro lado, é muito comum encontrar idosos que desistem da vida e nada mais desejam. Quando isto acontece, perde-se o brilho nos olhos e a vida perde o sentido.
Erik Erikson afirma que na velhice surgem duas possibilidades, diametralmente opostas: desistência ou celebração.
No primeiro, está a apatia. Nada mais importa. Ouvi falar de um longevo senhor de Manaus que em certo dia decidiu que não queria mais viver. Amuou numa rede, não quis mais comer, os amigos insistiam para que se alimentasse, mas ele se manteve resoluto. Trinta dias depois, entrou num quadro de inanição e morreu. Perdeu o brilho das coisas. Assim acontece com aqueles que desistem: tornam-se egoístas, introjetados, indiferentes, distantes e isolam-se afetivamente das pessoas.
Na celebração, a pessoa encontra prazer em se dedicar a determinada função, encontra algo que atribui sentido e propósito. Na medida que envelhece, é natural ser mais seletivo e procurar atividades apropriadas à idade, descobrindo o prazer em servir, cuidar, ser generoso com os bens, abençoar, praticar determinado lazer, pescar, viajar, ler, se envolver em jogos familiares. Eles se abrem para outros. Esta é característica da celebração.
Mais cedo ou mais tarde chegaremos a um ponto no qual teremos que perguntar se queremos envelhecer com amargura, ceticismo, cinismo, grosseria e rudeza; ou nos abriremos para amar, doar, viver e celebrar. As duas alternativas estão diante de nós, e precisamos descobrir o que queremos fazer com nossa história.
Intencionalidade e desejo certamente são dois fatores que podem nos impulsionar a viver, com qualidade, alegria e celebração.
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