Por muito tempo a igreja se
silenciou acerca da cidade. Questões modernas como infra estrutura, violência, saúde,
economia pareciam habitar outro andar, com o qual a espiritualidade não se
comunicava. No entanto, de 40 anos para cá, muitos autores se propuseram a
pensar a cidade a partir da Bíblia. Será que as Escrituras falam deste assunto?
A igreja tem algo a dizer sobre isto?
Um teólogo católico, José Comblin
levantou uma interessante questão: “O que está por detrás do silêncio
teológico?” E a partir desta pergunta tentou fazer o que chama de Teologia da
Cidade. Uma das respostas que encontrou é que a Igreja seguiu uma hermenêutica rural,
e não soube interpretar os fenômenos modernos. Para Comblin “A igreja é chamada
a assumir a sociedade urbana não por oportunismo religioso, mas por vocação (…)
Seu papel consiste em criar o povo de Deus a partir do povo da cidade”.
O problema é que temos
vivido na cidade com sociologia e ferramentas urbanas, mas com uma teologia
rural e temos o desafio de refletir uma teologia tão grande quanto a própria
cidade, tão urbana quanto a sociologia.
Por que fazer uma teologia
da cidade? Janice Perlman, urbanista
americana afirmou que a vida do campo é uma utopia e que as metrópoles são
fundamentais para o avanço da civilização, porque este ambiente, é propício à criatividade e torna as metrópoles
fascinantes. Mais do que nunca torna-se necessário traduzir o
cristianismo para a cidade. O homem da cidade é secularizado, favorecendo um
movimento espontâneo de politeísmo e de personalismo religioso. Estudar a Bíblia
pensando na cidade, capacita-nos a ler de forma correta o mundo contemporâneo que
na sua origem é urbana.
Pela
primeira vez na história, a população da cidade é maior que da zona rural; 94%
da população do Canadá e dos EUA vivem nas cidades; 82% da população dos
Europeus vivem nas cidades, e entre 1975/2000, o crescimento urbano foi de
216%, na América Latina.
Os
problemas mais comuns são a falta de infra-estrutura. Para se ter uma ideia, a
cidade do México estava crescendo a uma taxa anual de 0.5 milhões. Como pensar em
rede de esgoto, escolas, pavimentação e saúde para um contingente tão grande de
migração humana? A Igreja precisa se envolver no acolhimento dos pobres e na discussão
sobre meio ambiente, sustentabilidade e emprego.
Um outro aspecto que
surpreendeu os estudiosos foi a constatação de que a Bíblia é um livro urbano
já que há uma presença marcante das cidades. Ur dos caldeus, onde nasceu Abrão,
tinha 250 mil habitantes. Em Éfeso havia iluminação pública na famosa Rua
Arcádia; Nos tempos bíblicos, Roma tinha mais de um milhão de habitantes, congestionamento
de tráfico, carros foram proibidos de andar durante o dia; ricos viviam em
mansões isoladas e a classe média em sofisticados apartamentos de até 10
andares de altura. Já pensaram nisto?
Onde moravam os personagens
bíblicos? Davi e Isaías em Jerusalém; Daniel, na Babilônia; Paulo exerceu sua
atividade missionária em grandes cidades como Corinto, Filipos, Éfeso e Roma. No entanto, as principais formulações
teológicas se deram, na Zona rural. Quando Calvino escreveu as institutas,
Genebra tinha apenas 16 mil habitantes. Tomás de Aquino viveu em cidade
pequena, com grave distorção da distribuição de renda, mas como poucos desafios
modernos como os que enfrentamos.
A cidade precisa estar
presente na nossa reflexão, porque apesar de ser o objeto do amor de Deus, como
Jesus expressou por Jerusalém, ela tem a capacidade de abrigar a maldade
revelada em realidades como a desumanização (política de opressão); exploração dos
pobres; rejeição a Deus, deificação do poder e da riqueza. Ao refletir sobre a questão
urbana, a igreja busca atenuar estas manifestações das trevas e minimizar o
sofrimento humano, dando sinais da graça de Deus e de sua presença entre os
homens.
Por isto, a função da cidade é, em primeiro lugar, de ordem profética, ou melhor, de ordem mística. A política prepara e executa projetos; administra e impõe os projetos. Mas a profecia desperta as almas, inspira os chefes e convence as massas. É a profecia que move as energias humanas, obriga os homens a superar-se de certo modo a si mesmos. A igreja precisa refletir sobre a cidade para abençoá-la. Onde houver sinais dos reino de Deus, a igreja de Cristo deve ser a primeira a estar presente.
Por isto, a função da cidade é, em primeiro lugar, de ordem profética, ou melhor, de ordem mística. A política prepara e executa projetos; administra e impõe os projetos. Mas a profecia desperta as almas, inspira os chefes e convence as massas. É a profecia que move as energias humanas, obriga os homens a superar-se de certo modo a si mesmos. A igreja precisa refletir sobre a cidade para abençoá-la. Onde houver sinais dos reino de Deus, a igreja de Cristo deve ser a primeira a estar presente.