A
geração do “amor líquido” (Zigmunt Bauman), define seus relacionamentos a
partir da idéia de “ficar”, que neste caso significa, “não ficar”. É a geração
do descompromisso que faz a defesa do “que seja bom enquanto dure”. Este
pressuposto, contudo, começa a enfrentar sérios desafios. Por não querer pensar
em compromisso e estabilidade muitas desordens afetivas tem se manifestado.
Terapeutas modernos afirmam que compromisso é fundamental para saúde emocional
e equilíbrio da alma. O ser humano precisa de compromissos, estáveis e
duradouros. Estabilidade.
Esta
é a afirmação do celebrado terapeuta Scott Peck: “Problemas de compromisso são
uma inerente parte da maioria das desordens psiquiátricas... crianças não
conseguem crescer com maturidade psicológica, sob o espectro do abandono”
(Scott Peck, The Road less traveled). Com
o advento do divórcio, do amor de pedágio e de transição, muitas e graves
desordens emocionais surgiram. Precisamos de segurança afetiva.
Crianças
e adultos precisam de estabilidade e previsibilidade para crescer
emocionalmente, famílias disfuncionais geram muita insegurança. Precisamos
assegurar aos filhos que eles podem dormir tranqüilo, porque não haverá
solavancos na viagem no sono da noite, nem tsunamis emocionais pela manhã.
Segurança permite que os filhos cresçam amados e confiantes.
Quando
não há compromissos e afetos estáveis, surge a síndrome do “eu rejeito você
antes que você me rejeite”. Isto dificulta a relação, doação e a entrega de si
mesmo, afinal “gato escaldado tem medo de água fria”. Se alguém tem expectativa
de que será desprezado ou abandonado, por forças da própria vivência negativa, tenderá
a se desvincular emocionalmente e não se apegar a nada nem ninguém. Por esta
razão muitos preferem não casar – temem a rejeição. Muitos enfrentam sérios
problemas até mesmo na sua sexualidade, porque nunca se entregam por completo.
Medo da rejeição.
Certa
mulher, filha de uma rica família, experimentou profundo abandono na sua casa.
Apesar de todo conforto o relacionamento com os pais, especialmente com a mãe,
foi muito além do traumático. Seu casamento não durou um ano. Nem sexualmente
conseguiu encontrar prazer. Temia o risco do compromisso. Seus pais falharam em
transmitir-lhe segurança de que era amada. A idéia de entregar-se era algo
muito abstrato.
Compromisso
real em psicologia significa um rico e celebrativo abandono de si mesmo. Quando
construo relacionamentos estáveis, com pessoas que se comprometem, que lutam
para se proteger e estarem juntas, descubro que posso me entregar. Não preciso
estar defensivo e amedrontado todo o tempo. Instabilidade, ao contrário, gera medo e insegurança.
Apenas
relacionamentos maduros e compromissos afetivos, poderão retirar o medo da
entrega e da doação. Quando isto acontece, o medo de se aprisionarmos por
assumir um compromisso, torna-se a liberdade de assumir o outro.
É
isto que Deus faz ao desconfiado coração constantemente tentando se esquivar e
se esconder dele. A grande verdade que Cristo nos ensinou é que entregar-se é
ato de amor livre e espontâneo, que gera sentimento de aceitação incondicional
e graça. Saber que somos filhos amados de Deus, apesar de imperfeitos;
perdoados, apesar de nossas contradições e equívocos; filhos e não bastardos, é
a experiência mais revolucionária e abençoadora da vida. As experiências de
compromisso, aceitação e estabilidade que desenvolvemos nos relacionamentos
humanos, são pequenos raios da maravilhosa graça que podemos encontrar em Deus,
quando o descobrimos como Pai Amado. O profeta chegou a se referir ao amor de
Deus como “laços de ternura”. Que figura impressionante!
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