sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Compromisso


A geração do “amor líquido” (Zigmunt Bauman), define seus relacionamentos a partir da idéia de “ficar”, que neste caso significa, “não ficar”. É a geração do descompromisso que faz a defesa do “que seja bom enquanto dure”. Este pressuposto, contudo, começa a enfrentar sérios desafios. Por não querer pensar em compromisso e estabilidade muitas desordens afetivas tem se manifestado. Terapeutas modernos afirmam que compromisso é fundamental para saúde emocional e equilíbrio da alma. O ser humano precisa de compromissos, estáveis e duradouros. Estabilidade.

Esta é a afirmação do celebrado terapeuta Scott Peck: “Problemas de compromisso são uma inerente parte da maioria das desordens psiquiátricas... crianças não conseguem crescer com maturidade psicológica, sob o espectro do abandono” (Scott Peck, The Road less traveled). Com o advento do divórcio, do amor de pedágio e de transição, muitas e graves desordens emocionais surgiram. Precisamos de segurança afetiva.

Crianças e adultos precisam de estabilidade e previsibilidade para crescer emocionalmente, famílias disfuncionais geram muita insegurança. Precisamos assegurar aos filhos que eles podem dormir tranqüilo, porque não haverá solavancos na viagem no sono da noite, nem tsunamis emocionais pela manhã. Segurança permite que os filhos cresçam amados e confiantes.

Quando não há compromissos e afetos estáveis, surge a síndrome do “eu rejeito você antes que você me rejeite”. Isto dificulta a relação, doação e a entrega de si mesmo, afinal “gato escaldado tem medo de água fria”. Se alguém tem expectativa de que será desprezado ou abandonado, por forças da própria vivência negativa, tenderá a se desvincular emocionalmente e não se apegar a nada nem ninguém. Por esta razão muitos preferem não casar – temem a rejeição. Muitos enfrentam sérios problemas até mesmo na sua sexualidade, porque nunca se entregam por completo. Medo da rejeição.

Certa mulher, filha de uma rica família, experimentou profundo abandono na sua casa. Apesar de todo conforto o relacionamento com os pais, especialmente com a mãe, foi muito além do traumático. Seu casamento não durou um ano. Nem sexualmente conseguiu encontrar prazer. Temia o risco do compromisso. Seus pais falharam em transmitir-lhe segurança de que era amada. A idéia de entregar-se era algo muito abstrato.

Compromisso real em psicologia significa um rico e celebrativo abandono de si mesmo. Quando construo relacionamentos estáveis, com pessoas que se comprometem, que lutam para se proteger e estarem juntas, descubro que posso me entregar. Não preciso estar defensivo e amedrontado todo o tempo. Instabilidade, ao contrário,  gera medo e insegurança.

Apenas relacionamentos maduros e compromissos afetivos, poderão retirar o medo da entrega e da doação. Quando isto acontece, o medo de se aprisionarmos por assumir um compromisso, torna-se a liberdade de assumir o outro.


É isto que Deus faz ao desconfiado coração constantemente tentando se esquivar e se esconder dele. A grande verdade que Cristo nos ensinou é que entregar-se é ato de amor livre e espontâneo, que gera sentimento de aceitação incondicional e graça. Saber que somos filhos amados de Deus, apesar de imperfeitos; perdoados, apesar de nossas contradições e equívocos; filhos e não bastardos, é a experiência mais revolucionária e abençoadora da vida. As experiências de compromisso, aceitação e estabilidade que desenvolvemos nos relacionamentos humanos, são pequenos raios da maravilhosa graça que podemos encontrar em Deus, quando o descobrimos como Pai Amado. O profeta chegou a se referir ao amor de Deus como “laços de ternura”. Que figura impressionante!

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