Muitas afirmações de Jesus são
surpreendentes, mas em dias de tanto auto enamoramento e narcisismo, nos quais
somos tão atraídos pelo conforto e entretenimento, e nos preocupamos tanto em
receber e sermos servidos, Jesus surpreende ao afirmar: “mais bem aventurado é dar do que receber”. Jesus afirma que
liberalidade e generosidade são grandes fontes de alegria e contentamento.
No entanto, parece que dar é uma graça
que ninguém quer ter. Talvez seja esta a razão de tanta depressão e solidão:
Estamos demasiadamente ensimesmados.
É interessante considerar isto, porque em
geral acreditamos que se ganharmos mais, tivermos mais, acumularmos mais e
recebermos mais seremos mais felizes, mas Jesus analisa a vida por outro
ângulo: Ser generoso traz libertação e alegria.
Num clássico na área de psiquiatria na
década de 1950, chamado “Pecados do tempo
presente”, um famoso psiquiatra de Nova York relata sua experiência com um
cliente milionário, que vivia uma vida miserável. Na terapia tornou-se claro
que uma das raízes de sua angústia era o apego aos bens materiais, e o médico
lhe sugeriu que superasse esta angústia doando alguns de seus bens. Ele
reconheceu que tal atitude seria positiva, mas ao mesmo tempo afirmou “eu sinto
calafrios só de pensar nisto”. E continuou doente e ansioso.
Pessoas deprimidas possuem grande
propensão ao movimento egóico (psicanálise), são auto centradas e quanto mais
voltam-se para si mesmas, mais adoecem. Pessoas que se dão e aprendem a doar,
tornam-se menos preocupadas consigo mesmas e tornam-se mais plenas.
Estas afirmações possuem fundamentação
científica. Estudos demonstram a relação entre felicidade e comportamento
altruísta. É conhecido o fato de que pessoas acumuladoras e gananciosas parecem
nunca se satisfazer, enquanto que os que se envolvem em atos de solidariedade e
serviço ao próximo, tornam-se mais felizes.
A angústia e a falta de sentido são mais
fáceis de serem curadas se olharmos para além de nós mesmos, se desenvolvermos
a simples prática de cuidar desinteressadamente de outros. Um período da semana
separado para visitar um asilo, uma pessoa solitária, a doação de parte de
nossos recursos para uma missão ou projeto social, cuidado com os pobres,
visitas a hospitais, etc, poderia nos curar de muitas mazelas típicas da nossa
autopiedade.
Certa mulher, viúva de um senador em
Brasília, veio deprimida à nossa igreja num domingo de manhã, já que seu
apartamento ficava ao lado da igreja. O tema daquela manhã era a importância do
trabalho, não apenas como fim de manutenção, mas de auto-doação e serviço. No
final da palestra, emocionada disse que veio procurar uma resposta, que lhe
fora dada através da percepção do amor/serviço.
A afirmação de Jesus continua atual. “Mais bem aventurado é dar que receber”. Afinal,
felicidade nunca deve ser buscada como um fim em si mesma, mas é sempre
resultado de uma vida de equilíbrio. Romper com o auto-centrismo, narcisismo,
possessividade e vaidade, pode ser a cura definitiva de nossos tantos problemas
emocionais.
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