Miroslav Volf , teólogo Croata e professor da Yale University, escreveu o intrigante livro, O fim da memória no qual desenvolve a concepção
de que, para que o mal se perpetue, são necessários dois processos: Primeiro,
que alguém o pratique; segundo, que alguém resolva perpetuá-lo.
Para
entender esta questão, dois exemplos simples:
a. Se o mal é
praticado contra alguém, e esta pessoa não perdoa, ele se perpetua na mágoa, no
ressentimento e no ódio. Assim ele continua ativo. Se houver perdão, porém, o
mal é interrompido e perde a sua eficácia, deixando de existir;
b. Se o mal é praticado, e a pessoa
responde com vingança, e dá uma resposta igualmente ferina, ele pode entrar num
círculo quase infinito de ação/reação, durando eventualmente, décadas, já que
tem o poder de ser transmitido de uma geração para outra.
O perdão, nestas duas situações,
encerra o ciclo de destruição e malignidade. Foi isto o que Cristo fez na cruz.
Ele assumiu no seu corpo o mal sofrido, e desta forma, destruiu o poder do mal
ao afirmar: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Apesar de toda
injúria, vergonha e violência sofrida, ao perdoar encerrou o efeito do mal,
conforme profetizou Isaías: “Pelas suas pisaduras fomos sarados”. Apesar de sua humilhação e
sofrimento, ele não permitiu que o mal prevalecesse, mas sua dor se transformou
em elemento de cura. O mal foi vencido.
Para vencer o mal, precisamos
interromper o ciclo do processo maligno que iniciou em algum ponto. Quando
reagimos ao mal com vingança e ódio, nós o energizamos; quando perdoamos, ele perde
o seu efeito.
Como isto pode ser percebido no
casamento? Quando o mal é praticado, a tendência imediata é revidar. Fazemos
isto silenciosamente ou esbravejando. A partir deste momento, a magia se quebra
e entramos num ciclo de conspiração, afinal fomos feridos. O que fazer?
Perdoar, sofrer o dano, ficar no prejuízo ou reagir de forma violenta ou
amargurada? Afinal de contas, temos
ou não temos o direito de estar zangados? Se
não houver uma ruptura deste processo vicioso do mal em nossos lares, ele tende
a se perpetuar. É assim que casais enamorados começam a se odiar e ferir.
Certa mulher depois de ser traída pelo
marido, passou meses por intensa dor. Sentia-se humilhada e ferida, sua
auto-imagem foi destruída e sentia muita raiva do marido. A vida dentro de casa
tornou-se um inferno. Um dia, porém, tomou a seguinte decisão: “Eu preciso
perdoá-lo para continuar a viver”. Imbuída desta atitude, conseguiu perdoar,
interromper o ciclo do mal e o casamento foi salvo.
O mal, penetrando nas relações nos
torna mesquinhos. Talvez seja esta a alusão a que se refira Dt 28.56: “A
mais mimosa das mulheres e a mais delicada do teu meio, que de mimo e de
delicadeza não tentaria por a planta do pé sobre a terra, será mesquinha para
com o marido de seu amor, e para com seu filho, e para com sua filha”. O mal tem o poder de nos
embrutecer, de transformar a pessoa mais delicada em alguém maligno e estranho.
O mal atinge e danifica na essência os afetos.
Desta forma, maridos feridos, passam a tratar suas esposas amadas com
ressentimento e amargura; mulheres machucadas passam a hostilizar o marido
dentro de casa e a puni-lo com abstinência sexual ou ausência psicológica. O
leque do mal se amplia, e a mesquinharia torna-se o enredo de um lar onde
reinava o amor.
A exortação bíblica é: “Não te
deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12.21). O mal pode dominar,
aninhar-se em nós, e estabelecer o padrão de conduta e atitudes, ou optamos
para não sermos dominados por eles. O mal tem o poder de perpetuar-se e tornar-se
absoluto em nossa história. Precisamos vencê-lo com o bem. “O ponto não é quem precisa
mudar. O ponto é quem está disposto a mudar” (Storme Omartian, o poder da esposa
que ora, São Paulo, Ed. Mundo cristão, 1998, pg 30)
Os versículos anteriores nos ensinam
como vencer o mal: “Não
torneis a ninguém mal por mal” (Rm
12.17). O problema é que nosso impulso natural é agir exatamente assim. Se
alguém nos faz o mal, queremos demonstrar nossa indignação e retribuir com a
mesma moeda. Logo em seguida, o texto afirma: “Se possível, quanto depender
de vós, tende paz com todos os homens” (Rm
12.18). Observe o uso do advérbio de intensidade, quanto. O texto não fala do advérbio de
tempo, quando, mas dá a ideia de que algo
intencional precisa ser feito, se quisermos ter paz e vencer o mal. Isto exige
esforço e perseverança. “Perdão é aumentativo de perda, por isso é tão difícil perdoar”
(Neil Barreto).
Para vencer o mal, dentro de casa e nos
relacionamentos, resta ainda outra orientação: “Não vos vingueis a vós
mesmos, amados, mas daí lugar à ira (de Deus, subentendida); porque está
escrito: a mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor” (Rm 12.19). Quando perdoamos,
deixamos de querer vingar e retribuir, este problema do mal sofrido passa a ser
algo que Deus, e apenas ele, pode resolver.
Quer vencer o mal?
Lembre-se! O mal precisa ser
interrompida e perder sua eficácia.
O perdão é a único caminho possível.
Foi isto o que Jesus fez na cruz. Ele assumiu nossa culpa e vergonha, tomou
sobre si o nosso pecado, e morreu a nossa morte. Ali o mal sofreu sua mais
impactante derrota. Ele perdeu o poder porque seu ciclo foi definitivamente
quebrado.
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