quarta-feira, 5 de março de 2014

Como vencer o mal?


Miroslav Volf , teólogo Croata e professor da Yale University, escreveu o intrigante livro, O fim da memória no qual desenvolve a concepção de que, para que o mal se perpetue, são necessários dois processos: Primeiro, que alguém o pratique; segundo, que alguém resolva perpetuá-lo.
Para entender esta questão, dois exemplos simples:
a.      Se o mal é praticado contra alguém, e esta pessoa não perdoa, ele se perpetua na mágoa, no ressentimento e no ódio. Assim ele continua ativo. Se houver perdão, porém, o mal é interrompido e perde a sua eficácia, deixando de existir;
b.      Se o mal é praticado, e a pessoa responde com vingança, e dá uma resposta igualmente ferina, ele pode entrar num círculo quase infinito de ação/reação, durando eventualmente, décadas, já que tem o poder de ser transmitido de uma geração para outra.
O perdão, nestas duas situações, encerra o ciclo de destruição e malignidade. Foi isto o que Cristo fez na cruz. Ele assumiu no seu corpo o mal sofrido, e desta forma, destruiu o poder do mal ao afirmar: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Apesar de toda injúria, vergonha e violência sofrida, ao perdoar encerrou o efeito do mal, conforme profetizou Isaías: “Pelas suas pisaduras fomos sarados”. Apesar de sua humilhação e sofrimento, ele não permitiu que o mal prevalecesse, mas sua dor se transformou em elemento de cura. O mal foi vencido.
Para vencer o mal, precisamos interromper o ciclo do processo maligno que iniciou em algum ponto. Quando reagimos ao mal com vingança e ódio, nós o energizamos; quando perdoamos, ele perde o seu efeito.
Como isto pode ser percebido no casamento? Quando o mal é praticado, a tendência imediata é revidar. Fazemos isto silenciosamente ou esbravejando. A partir deste momento, a magia se quebra e entramos num ciclo de conspiração, afinal fomos feridos. O que fazer? Perdoar, sofrer o dano, ficar no prejuízo ou reagir de forma violenta ou amargurada? Afinal de contas, temos ou não temos o direito de estar zangados? Se não houver uma ruptura deste processo vicioso do mal em nossos lares, ele tende a se perpetuar. É assim que casais enamorados começam a se odiar e ferir.
Certa mulher depois de ser traída pelo marido, passou meses por intensa dor. Sentia-se humilhada e ferida, sua auto-imagem foi destruída e sentia muita raiva do marido. A vida dentro de casa tornou-se um inferno. Um dia, porém, tomou a seguinte decisão: “Eu preciso perdoá-lo para continuar a viver”. Imbuída desta atitude, conseguiu perdoar, interromper o ciclo do mal e o casamento foi salvo.
O mal, penetrando nas relações nos torna mesquinhos. Talvez seja esta a alusão a que se refira Dt 28.56: “A mais mimosa das mulheres e a mais delicada do teu meio, que de mimo e de delicadeza não tentaria por a planta do pé sobre a terra, será mesquinha para com o marido de seu amor, e para com seu filho, e para com sua filha”. O mal tem o poder de nos embrutecer, de transformar a pessoa mais delicada em alguém maligno e estranho.
O mal atinge e danifica na essência os afetos. Desta forma, maridos feridos, passam a tratar suas esposas amadas com ressentimento e amargura; mulheres machucadas passam a hostilizar o marido dentro de casa e a puni-lo com abstinência sexual ou ausência psicológica. O leque do mal se amplia, e a mesquinharia torna-se o enredo de um lar onde reinava o amor.
A exortação bíblica é: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12.21). O mal pode dominar, aninhar-se em nós, e estabelecer o padrão de conduta e atitudes, ou optamos para não sermos dominados por eles. O mal tem o poder de perpetuar-se e tornar-se absoluto em nossa história. Precisamos vencê-lo com o bem. “O ponto não é quem precisa mudar. O ponto é quem está disposto a mudar” (Storme Omartian, o poder da esposa que ora, São Paulo, Ed. Mundo cristão, 1998, pg 30)
Os versículos anteriores nos ensinam como vencer o mal: “Não torneis a ninguém mal por mal” (Rm 12.17). O problema é que nosso impulso natural é agir exatamente assim. Se alguém nos faz o mal, queremos demonstrar nossa indignação e retribuir com a mesma moeda. Logo em seguida, o texto afirma: “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Rm 12.18). Observe o uso do advérbio de intensidade, quanto. O texto não fala do advérbio de tempo, quando, mas dá a ideia de que algo intencional precisa ser feito, se quisermos ter paz e vencer o mal. Isto exige esforço e perseverança. “Perdão é aumentativo de perda, por isso é tão difícil perdoar” (Neil Barreto).
Para vencer o mal, dentro de casa e nos relacionamentos, resta ainda outra orientação: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas daí lugar à ira (de Deus, subentendida); porque está escrito: a mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor” (Rm 12.19). Quando perdoamos, deixamos de querer vingar e retribuir, este problema do mal sofrido passa a ser algo que Deus, e apenas ele, pode resolver.
Quer vencer o mal?
Lembre-se! O mal precisa ser interrompida e perder sua eficácia.

O perdão é a único caminho possível. Foi isto o que Jesus fez na cruz. Ele assumiu nossa culpa e vergonha, tomou sobre si o nosso pecado, e morreu a nossa morte. Ali o mal sofreu sua mais impactante derrota. Ele perdeu o poder porque seu ciclo foi definitivamente quebrado.

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