Das
minhas memórias de infância, uma das mais desagradáveis é do dia em que
tínhamos que tomar um vermífugo, que fazia parte de um ritual anual da família
Vieira. Todos os cinco irmãos ficavam em jejum, e a mamãe nos dava um remédio à
base de Percloroetileno, mais conhecido como Tetracloroetileno. Meu irmão do meio
conseguiu se lembrar com precisão o seu nome numa reunião de família neste
final de ano, talvez pelo trauma sofrido por todos nós.
Todos
participavam da “tortura”. Era uma pequena cápsula, parecida com uma bolinha de
gude, e que tão logo era ingerida explodia dentro do estômago, e ai começava
todo o espectro de reações adversas e ruins. Numa destas ocasiões, minha irmã
mais velha quase entrou em coma, por causa dos componentes químicos do remédio.
Rindo
de todas estas histórias em família, nossos filhos imediatamente fizeram uma
pesquisa pela internet. Descobriram que este remédio é feito à base de hidrocarboneto clorado utilizado como solvente industrial e
esfriamento de líquido em transformadores elétricos. É um carcinógeno potente e
foi tirado do mercado por ordem do Ministério da Saúde, cujo princípio ativo é
usado em lavanderias para alvejar roupas sendo fortemente tóxico. Um deles fez
o seguinte comentário: “Vocês continuam amando a mãe de vocês depois de tudo
isto?”
Um antigo ditado declara que “de boas
intenções o inferno está cheio”. Todos sabemos que a mamãe era extremamente
cuidadosa e queria o bem estar dos filhos, e sem o saber estava nos medicando
com uma dose equivocada de remédio.
Fiquei pensando nos tratamentos que
hoje temos para tantas doenças bizarras e modernas que tem surgido. Como temos
tratado as angústias primais, medos, bipolaridades, síndromes de pânico, fobias
e transtornos obsessivo-compulsivos? Tratamentos neo-ortodoxos têm sido oferecidos
a uma geração ávida por resolver seu problema imediatamente, e que não tem
paciência em considerar processos.
Algumas mulheres, na busca pela
silhueta ideal, estão removendo uma das costelas para ter uma cintura mais
elegante; na Alemanha, estão tirando o dedo mindinho por causa das joanetes
provocadas pelo uso constante de sapatos de salto altos. Ainda temos sérias
discussões no campo da medicina sobre o uso da auto-hemoterapia, sem falar na
auto-medicação das drogas de alegria, sendo o rivotril o segundo remédio mais
vendido no Brasil. As estranhezas são de ordem quase infinitas em nome da
estética e do pragmático. Desta forma surgem os Tetracloroetilenos para trazer respostas fáceis.
Jesus
nos advertiu quanto à busca de soluções mágicas: “No mundo passais por aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”. Uma
vida simples, sem invenciones, e um caminhar ao lado de Jesus são os
componentes básicos da existência. As aflições vão surgir, mas o bom ânimo que
vem de Deus, nos dá esperança e acalenta nossos sonhos e a vontade de continuar
lutando e caminhando.
Naquele tempo o Tetracloroetileno do laboratório Lafi era um remédio para vermes, mas seu uso principal era por via nasal ou bucal. A bolinha era furada, o líquido espremido na gola da camisa servia para aliviar as tensões do dia a dia. Fez muito sucesso na época.
ResponderExcluirDe fato, em Cabo Frio, na década de 70, estourávamos as bolinhas de tetracloroetileno e o cheirávamos embebido num lenço. A venda era livre.
ExcluirNão tem como esquecer ,o gosto de gasolina.Outro remédio detestável era azeite de Mamona batido com açúcar.
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