quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

História gavetas abertas



Trivialidade é um dos grandes desafios do casamento. O que fazer com as roupas que não conseguem chegar sozinhas ao cabide... Sapatos que não andam até o guarda roupas... Maridos que não conseguem escovar sem respingar o espelho ou fazer a barba sem sujar a pia... Rolo do papel higiênico virado para o lugar errado, pasta espremida pelo meio? Certo homem chegou até mesmo a colocar um aviso na pasta de dente: "Aperte meu traseiro".

Chapman narra sua epopéia familiar num incidente trivial que se tornou um grande problema no seu relacionamento  com a esposa, que nunca fechava as portas dos armários e insistia em manter seu guarda roupa abertos... para ele, a equação poderia ser sintetizada no seguinte: Ela sabia abrir portas e gavetas mas não fechá-las. Sua experiência familiar demonstra como é difícil conseguir mudanças de hábitos e comportamentos arraigados.

Diante da situação que o irritava profundamente, resolveu tomar algumas iniciativas, para  corrigir o problema:

1ª Tentativa: Ele começou dizendo para sua esposa: “Dá para fechar as portas? Eu sempre me enrosco na porta das gavetas, além do mais, com o passar dos tempos, as portas tendem a empenar, se não estiverem adequadamente fechadas”. Apesar da insistência e de sua clara irritação, a atitude de sua esposa não mudava. As coisas continuavam da mesma forma.
Ele entendeu que não é fácil mudar um hábito... e por isto esperou dias, semana inteiras, pacientemente embora estivesse fervendo por dentro, desejando que sua esposa aprendesse o simples ato de fechar os armários. Nada mudou.
Diante disto ele pensou: Ela pode não ter ouvido o que disse. E por estar cursando pedagogia, resolveu usar um pouco de didática.

2ª Tentativa: Resolveu demonstrar como é fácil fechar as portas dos armários. No banheiro ele disse ironicamente: “Esta rodinha se encaixa naquela canaleta. Você a fecha apenas com um dedo...”  Na cozinha mostrou: “É só se aproximar do imã que ele fecha a porta para você”. Ele afirma que naquele dia ele ficou certo de que ela havia entendido, afinal, uso de recursos áudio visuais torna a comunicação mais clara... Apesar disto, no dia seguinte as coisas estavam do mesmo jeito. Ele resolveu esperar mais alguns dias...que se tornaram meses, contudo as portas e gavetas ainda continuavam abertas.

3ª. Tentativa: Por não ter obtido a resposta desejada, resolver fazer um sermão. Depois de 9 meses e das duas abordagens iniciais, ele disse irritado: "Você faz faculdade, é uma pessoa espiritual, mas não consegue fechar uma gaveta? Será que você é incapaz mentalmente?”. A resposta não veio, e agora ela se tornara ainda mais reativa. Nada mudou. Um dia, ao chegar em casa viu que sua filha estava com pontos no canto de um dos olhos. Ela caíra e se cortara no canto de uma gaveta aberta. Ele disse que ficou orgulhoso de sua reação tranquila. Não passou um sermão mas pensou: “Agora ela vai aprender. Ela se recusou a me ouvir...então Deus está falando com ela...” Mas depois de tudo isto, as gavetas continuaram abertas!

Onze meses depois entendeu: “Ela nunca vai fechar as gavetas. Finalmente a ficha caiu! Enquanto sua mente assimilava o impacto desta "revelação” foi até a biblioteca e fiz um plano, escrevendo tudo o que vinha a mente”. Já ouviram falar disto? Quando estiver enfrentando situações complexas, escreva as idéias que lhe vierem à cabeça, mesmo as que forem malucas, as boas, as úteis e aquelas que você considera brilhantes. Depois de pronto, leia a lista e decida pela melhor alternativa. Quatro idéias vieram à sua mente:

A. “Posso me separar dela” - Esta ideia já viera antes. Mas como estava no seminário sabia que se separasse dela, nenhuma igreja o convidaria para pastorear...

B. “Se eu me casar de novo vou perguntar a mulher: Você fecha as gavetas?”

C. “Talvez, eu fique infeliz pelo resto de minha vida”. Então raciocinou melhor e disse para si mesmo: “Porque um adulto escolheria viver infeliz pelo resto da vida?”

D. “Poderia aceitar isto como uma realidade, e daqui pra frente eu mesmo fecharia as gavetas, sempre!”

Diante da escolha da melhor opção, outras pessoas lhe trouxeram idéias originais:
-Colocar molas para fechar automaticamente – ele não sabia que isto era possível...
-Arrancar todas as portas dos armários.

Diante de todas as possibilidades, finalmente decidiu pela última, a letra “D”, fazendo o seguinte cálculo:  
3 segundos para fechar os armários da cozinha.
7 segundos para os do banheiro.
Chegou à conclusão que conseguiria encontrar este tempo na programação do seu atarefado dia.
Então chegou em casa e disse:
- “Carolyn, quanto às gavetas...”
Ela o interrompeu irritada:
-“Por favor, não toque neste assunto outra vez”...
-“Deixe-me terminar: de hoje em diante, enquanto eu viver.. Esse será meu trabalho. Fecharei as portas e gavetas”.
Sabe o que ela disse?
- “Tudo bem... E saiu da sala”...

Chapman concluiu que para ele nada fora nada extraordinário, mas definitivamente sua decisão foi um ponto crítico na vida. Desde então, as gavetas não mais o incomodam. Quando entra em casa fecha todas elas, afinal, isto faz parte do seu trabalho!

Conclusão:
Você precisa estar consciente de que, em certas coisas, seu cônjuge não pode ou não quer mudar. Nenhum cônjuge atenderá todos seus pedidos. Chapman afirma que chegou a pensar que isto era uma espécie de incapacidade genética.

Então, como você vai lidar com tais aspectos? Não é melhor entender que o amor aceita  imperfeições?

Alguns passam 15 anos reclamando sobre as luzes acesas: "O que há de tão difícil em apagar a luz quando se sai de um cômodo? O interruptor funciona para os dois lados. Se economizássemos, poderíamos fazer uma viagem...” Pode ser que o outro nunca mude. Talvez ele só saiba acender, mas não apagar...

Com o passar do tempo, descobrimos que, na maioria das vezes, não podemos transformar os outros. Quando muito, podemos transformar a nós mesmos. Talvez esta realidade seja como a abordagem que C.S.Lewis fez sobre a oração. “A oração não transforma o coração de Deus, mas transforma o nosso coração”. Oração não é uma forma de induzir Deus a mudar a sua maneira de pensar, mas um caminho para alinhar sua visão à visão de Deus, e sentir prazer nos seus planos.

Quando aprendemos a aceitar determinadas coisas, ao invés de brigarmos por elas, pode ser que o resultado seja muito melhor do que alcançaríamos se insistíssemos em transformar o outro com nossa lógica, apenas para satisfazermos uma necessidade pessoal de aprovação e controle.

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