quinta-feira, 29 de novembro de 2012

As dúvidas me afastaram de Deus


 
Uma das forças propulsoras da pesquisa, ciência e tecnologia é a dúvida. Quase todas hipóteses e teorias são levantadas quando se questiona o já estabelecido. Nenhuma filosofia existiria se não houvesse crise sobre os consensos e dogmas. As questões que brotam na alma humana impulsionam a reflexão e novas descobertas. Esta dúvida metodológica é salutar.

Estudiosos, porém, vem desconfiando dos excessos de dúvidas. Muitos não possuem dúvidas, mas são possuídos por elas; muitos não apenas duvidam, mas são dominados por um senso de incerteza sobre tudo, gerando o nihilismo. (Nihil vem do grego, e significa vazio, vácuo). Quando nos tornamos metamorfoses ambulantes, perdemos todo senso de concretude, valor e significado. O resultado é a angústia primal e desespero.

Gary Smalley afirma que quando estava seriamente questionando a existência de Deus durante seus anos de faculdade, alguém o desafiou a abrir sua mente para a possibilidade de um Deus pessoal, fazendo três perguntas: (a)- Que porcentagem de conhecimento você julga que temos, no mundo de tudo aquilo que existe para ser conhecido? (b)- Quanto deste conhecimento você acha pessoalmente que tem? (c) Você acha que é possível que um Deus pessoal se revele algum dia a você através do restante do conhecimento que você ainda não pode adquirir?

Quando fazemos tais perguntas a pessoas honestas e sinceras, uma parte admite ter apenas uma pequena porcentagem de conhecimento, e a maioria admite que é possível algum dia conseguir ver e experimentar um Deus pessoal.

Quando sentimos dúvida espiritual, na verdade estamos admitindo nossa dor e vazio, e que algo não está bem em nosso coração. Deus sabe muito bem como lidamos com frustrações e dores. Muitos dos seus profetas como Jeremias, Habacuque, Jó e Jonas, e salmistas como Asafe, também enfrentaram tais dilemas. John Bunyan que escreveu O Peregrino, um clássico da espiritualidade cristã, fala entre outros do castelo da dúvida, do gigante do desespero, do pântano da desconfiança e da feira da vaidade. O problema é que não buscamos a Deus para responder as incertezas e ficamos sozinhos com as dúvidas.

C. S. Lewis, professor de Oxford, escreveu uma carta a seu amigo Arthur Greeves, na véspera de Natal, confessando seu doloroso conflito com as dúvidas: “Creio que meu problema é falta de fé. Não tenho base racional para voltar aos debates que me convenceram da existência de Deus. Mas a sobrecarga irracional dos antigos hábitos de ceticismo, mais o espírito desta era, mais os cuidados de cada dia, roubam de mim toda sensação agradável da verdade. E muitas vezes, quando oro, penso se não estou enviando uma carta para um endereço inexistente. Veja bem, não penso assim — minha mente racional está completamente convencida. Porém, muitas vezes, eu me sinto assim”.

Apesar de nossa era da incerteza, anseios espirituais não irão simplesmente desaparecer. Na verdade, a situação é semelhante em todos lugares, cada um a seu modo tentando enterrar Deus e descobrindo que ele sobreviveu aos seus coveiros. MacAlister afirma que a dúvida é um convite para o crescimento e para o relacionamento com Deus.

O Desespero da Solidão


 

Michael Jackson, numa de suas raras entrevistas afirmou que se considerava o homem mais solitário do mundo. Sua lacônica e triste morte parece demonstrar o quanto a solidão existencial pode ser deletéria para a alma.

Solidão é nossa condição humana básica. Nenhum de nós é capaz de escapar de diferentes categorias e formas de solidão. Solidão é uma consciência voltada para si. Solidão também é conseqüência da tecnologia. Estamos numa das melhores fases da humanidade, grandes oportunidades, conforto e lazer, mas apesar de podermos viajar pelo mundo ainda estamos sós.

James Houston descreve a solidão como “a patologia da tecnologia”. Passamos a encarar a realidade como “coisa” externa. No séc. XIX, o homem tentou amenizar isto ao criar o conceito de mãe natureza. O romantismo começou inocentemente, mas esta inocência acabou na 1ª guerra e no fascismo como seu ponto culminante. Quando perdemos a compreensão de um sentido maior no cosmos, passamos a olhar o mundo como objeto. O sexo barato, negociado e barganhado é um destes exemplos. Achamos que ele vai nos tirar da solidão, e nos descobrimos ainda mais solitários.

Este é o paradoxo atual: podemos sobreviver sem precisar de Deus (secularismo), mas como conseqüência nunca fomos tão condenados à solidão. Desordens mentais como a paranóia e a esquizofrenia apontam para isto. Irving Yalom, no seu livro Quando Nietzsche chorou, afirma que “A solidão é um solo fértil para a doença”.

A sociedade moderna tem a grande capacidade de nos transformar em seres solitários e despersonalizados. Facilmente nos tornamos um número na selva de pedras e nos distanciamos uns dos outros com nossos apartamentos que parecem gaiolas e nossas casas com muros cada vez mais altos, cercas elétricas e uma placa invisível que diz: “Perigo, não se aproxime!”

Muitos aguardam ansiosamente uma palavra, um telefonema, uma mensagem na internet, ou uma palavra de encorajamento que parece nunca chegar. Na medida em que envelhecem, a tendência à solidão torna-se ainda maior.

Existe ainda a solidão da dor, de gente que perdeu um ente querido, ou que tem que lidar com a doença crônica, deixando-as isoladas do seu mundo psicológico, ou em instituições. Existe ainda a solidão cósmica, que nos faz pensar que Deus não participa da história e que a vida não tem qualquer propósito.

Provavelmente foi a este tipo de gente que vivenciava a dor da solidão, que Deus tenha mandado seu profeta Isaias falar: “Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirão, nem a chama arderá em ti, porque eu sou o senhor teu Deus”. Nunca precisamos tanto de Deus quanto neste século. Olhar para o universo e enxergar um Ser soberano e amoroso, e não o caos; e nesta relação mística vivenciar um Deus que busca se relacionar amorosamente com o homem, sem dúvida, é um dos maiores antídotos para enfrentar o desespero da solidão.

domingo, 18 de novembro de 2012

O desamparo de Deus


 
Na cruz existe um angustiante brado de Jesus: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparastes?”. Para alguns, este lamento reflete apenas o sentimento que Cristo experimenta ali na cruz, não que Deus de fato o havia abandonado, mas sim uma sensação de esquecimento que ele enfrenta na solidão do calvário.

Você mesmo deve ter experimentado este senso de orfandade e solidão. Quantas vezes ouvi pessoas dizendo que Deus se esqueceu delas, e que não sabem se Ele tem conhecimento das coisas que lhe estão acontecendo. Personagens bíblicos como Habacuque, Jó, também relatam este mesmo sentimento de abandono. Jeremias chegou a exclamar: “Serias tu para mim, como um ilusório ribeiro de águas, como águas que enganam?”. O salmista várias vezes expressa também esta sensação de abandono. “O teu Deus, onde está?”.

No livro The magnificent defeat (A esplêndida derrota), Frederick Buechner escreve: “Pois o que precisamos saber, é claro, não é apenas que Deus existe, não apenas que além do brilho metálico das estrelas há uma inteligência cósmica de alguma espécie que mantém o espetáculo em andamento, mas que há um Deus aqui no centro de nossa vida cotidiana, um Deus que pode não estar escrevendo mensagens a respeito de si mesmo nas estrelas, mas está, de um modo ou de outro, tentando passar mensagens pela barragem da nossa cegueira, enquanto nos movemos aqui em baixo mergulhados até os joelhos nos fragrantes estrumes, mistério e maravilha do mundo. Não é prova objetiva da existência de Deus o fato de que não queremos alguma coisa além de experimentar a presença de Deus. Esse é o milagre que na verdade buscarmos, e é também, creio, o milagre que na verdade obtemos”.

Em determinados momentos de nossa vida, Deus parece desaparecer. Naturalmente Deus não cochila nem dorme, ele é o guarda de Israel. Quando tudo parece perdido, o encontramos nos lugares mais inusitados, como Agar, que no desespero foge de casa indo para o deserto e ali encontra Deus, e isto a impacta: “Certamente este é um Deus que vê”. Quando Jesus afirma "Deus meu, Deus meu; por que me desamparaste” ele poderia estar expressando este sentimento de desamparo. Aqui vemos o Filho de Deus, uma das três pessoas da Trindade, bradando ao Pai e perguntando sobre o sentimento de abandono que enfrenta. Aqui vemos Deus abandonando a Deus, mas este mesmo Salmo 22, que é agora citado por Jesus na sua humilhação na cruz, diz o seguinte: “Pois não desprezou, nem abominou a dor do aflito, nem ocultou dele o rosto, mas o ouviu quando lhe gripou por socorro” (Sl 22.24).

 

 

domingo, 4 de novembro de 2012

A hora e a vez dos “gringos“


 

Fiquei surpreso recentemente ao jantar num ótimo restaurante da cidade cujo proprietário é meu amigo quando ele me afirmou que dos 30 funcionários que ele contratou nas suas empresas, 50% é estrangeiro. Por ter vivido fora do Brasil como imigrante por quase 10 anos, esta nova onda migratória feita agora, inversamente me chama a atenção. Nas décadas de 80 e 90, cerca de 3 milhões de brasileiros deixaram o país em busca de melhores condições de emprego, sendo que só nos EUA eram cerca de 1 milhão, com quase 80% na ilegalidade. Pelo fato deste fenômeno estar mais próximo de nós do que imaginávamos, resolvi estudar um pouco desta matéria.

A verdade é que, com a falta de perspectivas de trabalho no Velho Continente, muitos profissionais qualificados estão tentando se estabelecer no Brasil. A economia inglesa, uma das maiores do mundo, tem apresentado os piores índices econômicos dos últimos 100 anos. Números da Eurostat dão uma dimensão real do problema. A taxa de desemprego da Europa é de 11.1%. Situações de paises como a Espanha assustam: 24.6% de desemprego, e entre os jovens, chega a 52.1%. Na Grécia, a taxa já se encontra em torno de 21.9%.

Existem várias causas históricas: As conquistas sociais foram imensas nos tempos de abundância. Na França, cuja expectativa de vida é de 82 anos, homens e mulheres se aposentam aos 60 anos. Com o envelhecimento da população, e baixa taxa de natalidade (1.2%), quem vai continuar financiando as aposentadorias?

A Europa também enfrenta problemas com riquezas naturais, na sua maioria já exploradas, e com pequenas e caras áreas de plantio e mão de obra. A agricultura na Franca só sobrevive por causa dos subsídios que o governo dá aos pequenos proprietários. Numa época em que as commodities de sementes se tornaram tão valorizadas, pequenos países sofriem com a competição internacional. Outro fator a ser considerado é que a Europa viveu durante séculos recebendo recursos das colônias. Para se ter uma idéia, os ingleses eram donos, literalmente, de metade do mundo há 150 anos atrás.

O que podemos esperar com a vinda dos gringos para a “Terra Brasilis?“. A maioria tem ótima qualificação profissional. Dos imigrantes europeus que receberam vistos permanentes no Brasil, 26.6% são investidores, 36% administradores e diretores, e os outros 37% em diversas áreas. Isto traz um ganho imenso em tecnologia, treinamento e mentoria. O risco, é que estejam buscando lucros a curto  prazo para logo retornar para seus países com os dividendos. Outro ganho é o da diversidade cultural. Ver e dialogar com diferentes cosmovisões ajuda o amadurecimento democrático. Tanto os estrangeiros quanto nós, temos a oportunidade de um mútuo aprendizado.

Do ponto de vista da fé, somos encorajados a não maltratar os estrangeiros. Esta é uma exortação muito presente nas Escrituras Sagradas, formando o que chamamos de “teologia do imigrante“. Somos convidados a acolher, proteger seus direitos e ajudá-los na inserção cultural. Jesus, que nasceu numa cultura auto absorvida e etnocêntrica, estava sempre escandalizando seus compatriotas judeus, ao conversar com mulheres de outros países como a Samaritana e a Siro-fenicia, bem como por exaltar a fé do centurião romano, afirmando que era maior do que a dos judeus, e contando parábolas que exaltava a boa conduta dos samaritanos. Este permanente acolhimento pode ajudar muito aqueles que chegam, nesta desafiadora transição migratória.