segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

Viva o divórcio

"Os filhos do divórcio" foi o tema do artigo de capa da revista época, edição 349, de 24.01.2005. Obviamente o assunto é de extrema relevância para nossos dias, já que o divórcio tem assumido proporções estatísticas surpreendentes. Em algumas regiões do Brasil, o divórcio já chega a 50%. Isto significa que, de cada 100 casais que hoje assumem o compromisso do casamento, 50% deles divorciarão num futuro breve. Obviamente devemos ser menos preconceituosos e mais preparados para lidar com a questão, já que vidas estão envolvidas neste doloroso processo.
O que me assustou, nesta reportagem, contudo, foi a apologia do divórcio. Ao chegar ao final da reportagem, tive a impressão de que deveria divorciar porque este era o caminho mais saudável, e psicologicamente mais prático para a minha vida e para a vida de meus filhos. Nada pode ser mais enganoso que esta idéia.
Se é certo que devemos cuidar desta geração que cresce sem ambos os pais, e que é nossa responsabilidade ajudar na restauração daqueles que sofrem um desencanto e passam por um processo de divórcio, também é certo que não devemos olhar com romantismo esta situação. Divórcio é um processo extremamente dolorido. Enganam-se aqueles que acreditam que é um processo simples como trocar de carro, ou mudar-se de uma casa para outra.
Estima-se que são necessários cerca de 5 anos, em média, para que os reajustes resultantes do divórcio sejam feitos. Existe o reajuste financeiro, familiar, emocional, espiritual e até mesmo do circulo de amizades. No financeiro, são as contas que precisam ser divididas, dívidas que precisam ser assumidas por uma ou outra parte, a dolorosa partilha de bens. No campo emocional, o processo de ruptura e de-cisão (separo intencionalmente este termo para que se saiba tratar-se de uma cisão). São fotografias que precisam ser desprezadas, histórias que devem ser esquecidas, isto não considerando ainda o fato de que uma das partes ainda esteja apaixonada e não gostaria de ver um desfecho tão dramático deste sonho de uma noite de verão.
O círculo de amizades também é reavaliado. Determinados amigos não conseguem manter relacionamento com os dois, toma-se partido, estabelece-se julgamentos. Além do fato de que programa de família e de casais, via de regra, é diferente de programa de solteiros e descasados.
Existe ainda o problema espiritual: culpas, acusações, a posição da igreja que se participa. Divórcio é um processo criticado pela maioria das religiões e na visão católica assume ainda uma dimensão sacramental. O homem e a mulher de fé precisam lidar com estas realidades.
Apesar da gravidade de todas estas coisas, existe o drama dos filhos. E não me venham dizer, como insinuou a revista época, que filhos de divorciados crescem emocionalmente mais estáveis e seguros que um filho de um lar onde pai e mãe exercem suas funções. Obviamente se se toma exemplos mais drásticos, de lares disfuncionais, neuróticos e psicóticos, obviamente você pode chegar a esta conclusão, mas a maioria dos lares possui espaço para aceitação e crescimento emocional dos filhos. A exceção não pode se tornar a regra.
Apesar de tudo, de ter uma opinião bem crítica quanto ao divórcio, gostaria de concluir com uma palavra de esperança e de misericórdia aos que passaram por esta experiência. Divórcio não é um pecado sem perdão. Existe restauração e cura para situações dramáticas e doloridas. Não olhe o divórcio como ponto final para sua vida e a dos seus filhos. Deus dispôs a natureza com uma maravilhosa capacidade de se refazer e restaurar. Olhe o cerrado que temos à nossa volta: com o fogo torna-se seco e tórrido, mas as primeiras chuvas de verão são capazes de trazer verdor e de nos fazer crer que um novo tempo se aproxima.

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