Sempre nos chocamos quando somos confrontados com cenas de violência. Conheço pessoas que sentem dificuldade em pegar no sono quando tomam conhecimento de tais acontecimentos. Por mais incrível e paradoxal que pareça, guarde este sentimento, ainda que doloroso, como algo valioso em você. Sofrer, amar e se indignar é algo profundamente positiva. O maior problema é quando vemos as cenas mais brutais na televisão e na vida e começamos a banalizá-la e a achar tudo isto normal. Quando achamos que a morte, a dor e a agressão devem ser vistas como coisas normais, porque a apatia tem o poder de tirar nossa alma.
O problema é que quando a violência se torna corriqueira, tendemos a banalizar a vida, e esquecermos que ela é o maior valor que temos. Esquecemos nossa relação com o criador e o alto valor que ele deu ao seres humanos ao afirmar que foram feitos à sua imagem e semelhança. O conceito da Imago Dei tende a se perder quando a vida é menosprezada, valores são saqueados e arromba-se a dignidade de nossa alma.
Jurgen Moltmann, no livro "A paixão pela vida", afirma que o grave problema com a indiferença, é que ela consegue roubar nossa vida. A insensibilidade tende a se aninhar em nós. Vemos o mal e não mais nos assustamos com ele. Experimentamos violência e somos violentados, sem que isto gere em nós tristeza. Acostumamos com a morte. O extraordinário passa a se tornar o comum, e o trágico corriqueiro.
Alguns anos atrás uma socióloga carioca resolveu mergulhar no submundo da mendicância num gueto de catadores de lixos, miseráveis e desvalidos no Rio de Janeiro. Na medida em que se aproxima do grupo, sentiu enorme rejeição. Os mendigos não permitiam que ela pudesse estudar a situação deles, ameaçaram-na e a hostilizaram. Como precisava fazer pesquisa de campo, esta pesquisadora tomou uma decisão radical: resolveu se tornar uma mendiga para entender como funcionava aquela sociedade. No seu excelente e dramático trabalho de doutorado, ela conta quanta violência presenciou entre eles. Policiais extorquiam dinheiro e agrediam pessoas, abusos sexuais eram freqüentes, o conceito de família assumia um significado totalmente diferente que trazemos. Um relato que me atraiu foi o de que o mau cheiro do local onde ela passou a dormir tornou-se o maior incomodo a enfrentar. Era quase impossível respirar ao lado daquele esgoto. Mas ela afirma que, com o passar do tempo, ela se acostumou ao cheiro.
Podemos nos acostumar com o cheiro da desgraça, da desumanização, da agressão e da dor. Quando isto acontece, perdemos a capacidade de nos indignar com a violência, que assume muitas facetas: doméstica, pública, social, sexual, religiosa. Com a miséria, com a exploração da pobreza, com as indústrias e feudos da domesticação de seres humanos. Podemos nos acostumar com a agressão que praticamos e com a que geramos, achando que tudo está correto. O teólogo alemão, Henry Niemüller, foi um dos homens que teve um lugar nas alamedas dos justos por proteger o povo judeu. Próximo ao Museu do Holocausto em Jerusalém, tive o privilégio de ler pessoalmente uma célebre afirmação sua gravada em bronze:
"Primeiro vieram buscar os anarquistas,
mas como eu não sou anarquista, não me preocupei.
Depois vieram buscar os comunistas,
mas como eu não sou comunista, não me importei.
Depois vieram buscar os judeus,
mas como eu não sou judeu, também não me importei".
O problema é que quando a violência se torna corriqueira, tendemos a banalizar a vida, e esquecermos que ela é o maior valor que temos. Esquecemos nossa relação com o criador e o alto valor que ele deu ao seres humanos ao afirmar que foram feitos à sua imagem e semelhança. O conceito da Imago Dei tende a se perder quando a vida é menosprezada, valores são saqueados e arromba-se a dignidade de nossa alma.
Jurgen Moltmann, no livro "A paixão pela vida", afirma que o grave problema com a indiferença, é que ela consegue roubar nossa vida. A insensibilidade tende a se aninhar em nós. Vemos o mal e não mais nos assustamos com ele. Experimentamos violência e somos violentados, sem que isto gere em nós tristeza. Acostumamos com a morte. O extraordinário passa a se tornar o comum, e o trágico corriqueiro.
Alguns anos atrás uma socióloga carioca resolveu mergulhar no submundo da mendicância num gueto de catadores de lixos, miseráveis e desvalidos no Rio de Janeiro. Na medida em que se aproxima do grupo, sentiu enorme rejeição. Os mendigos não permitiam que ela pudesse estudar a situação deles, ameaçaram-na e a hostilizaram. Como precisava fazer pesquisa de campo, esta pesquisadora tomou uma decisão radical: resolveu se tornar uma mendiga para entender como funcionava aquela sociedade. No seu excelente e dramático trabalho de doutorado, ela conta quanta violência presenciou entre eles. Policiais extorquiam dinheiro e agrediam pessoas, abusos sexuais eram freqüentes, o conceito de família assumia um significado totalmente diferente que trazemos. Um relato que me atraiu foi o de que o mau cheiro do local onde ela passou a dormir tornou-se o maior incomodo a enfrentar. Era quase impossível respirar ao lado daquele esgoto. Mas ela afirma que, com o passar do tempo, ela se acostumou ao cheiro.
Podemos nos acostumar com o cheiro da desgraça, da desumanização, da agressão e da dor. Quando isto acontece, perdemos a capacidade de nos indignar com a violência, que assume muitas facetas: doméstica, pública, social, sexual, religiosa. Com a miséria, com a exploração da pobreza, com as indústrias e feudos da domesticação de seres humanos. Podemos nos acostumar com a agressão que praticamos e com a que geramos, achando que tudo está correto. O teólogo alemão, Henry Niemüller, foi um dos homens que teve um lugar nas alamedas dos justos por proteger o povo judeu. Próximo ao Museu do Holocausto em Jerusalém, tive o privilégio de ler pessoalmente uma célebre afirmação sua gravada em bronze:
"Primeiro vieram buscar os anarquistas,
mas como eu não sou anarquista, não me preocupei.
Depois vieram buscar os comunistas,
mas como eu não sou comunista, não me importei.
Depois vieram buscar os judeus,
mas como eu não sou judeu, também não me importei".