Recentemente retornei de uma peregrinação em Israel e Egito, numa viagem de 12 dias com um grupo de quarenta pessoas extremamente alegre, encantadora e inspiradora.
Um dos aspectos perceptíveis foi o quanto outras culturas, distanciadas geográfica e historicamente, podem ter cosmovisões tão distintas sobre família, estilo de vida, costumes, tradições e alimentação. Tais aspectos culturais são ao mesmo tempo, encantadores e desafiadores.
O nosso guia egípcio morou no Brasil quatro anos, e durante este tempo conheceu uma mulher com quem se casou e posteriormente divorciou. Entre os motivos de sua separação encontrava-se a necessidade de retornar ao Egito para cuidar de sua mãe, porque ela ficara viúva.
Na tradição egípcia, o filho mais velho é responsável em cuidar da mãe, quando o pai morre. Isto implica em morar com ela, seja se mudando para sua casa ou trazendo-a para que ela venha morar com ele. Mulher não pode dormir sozinha: a viúva vai morar com o filho ou o filho vem morar com ela. A mãe projeta no filho a sua proteção para a velhice. Normalmente o filho mais velho assume os pais viúvos. Na cultura egípcia, as filhas quando se casam passam a fazer parte de outra família, e sua responsabilidade passa a ser cuidar da sogra.
Os egípcios gostam de construir a casa dos filhos ao lado da sua casa. Em Cairo é muito comum vermos casas sobrepostas às outras. Na medida em que os filhos vão se casando, o filho é culturalmente encorajado, a construir no mesmo terreno. Há uma expectativa implícita de que os membros de uma família permaneçam o máximo possível juntos, seja em casa, no trabalho, seja em outras atividades. Isto certamente é pouco compreendido na cultura ocidental, que valoriza tanto a privacidade individual.
Já em Israel, por causa da necessidade de se guardar o sábado (Shabath), como determina a Torah (os cinco primeiros livros da Bíblia), os elevadores dos hotéis são programados, para que, no dia de sábado, parem automaticamente em todos os andares, já que, apertar os botões pode indicar trabalho, e portanto, a quebra da Lei.
Olhando de fora, alguns aspectos culturais soam anacrônicos e até mesmo ridículos. O problema da cultura é que quem está inserido nela, encontra dificuldades para julgá-la. É preciso se distanciar um pouco para fazer crítica adequada.
Desta forma temos muita dificuldade em jugar determinados aspectos da nossa própria cultura, hábitos e costumes, porque fazem parte da nossa vivência. Um fenômeno recente tem sido percebido no Brasil. Com brasileiros vivendo fora por muitos anos, é natural que alguns ao se tornarem mais velhos, com a vida financeira planejada, e boas aposentadorias em dólar e euro, decidam retornar ao Brasil, pela saudade da terra e pelo custo de vida mais baixo. Mas ao retornarem ficam chocados com o “jeitinho brasileiro”, a “falta de profissionalismo”, e outros hábitos que os irritam. Assim, não conseguem viver mais no Brasil por causa do “contra-choque cultural”, que para alguns estudiosos é mais difícil que o “choque cultural”.
Por esta razão, analisar aspectos da cultura é um grande desafio. Entendê-las, é uma etapa ainda mais complexa.
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