Quão frágil é a vida! Muitas vezes chega a ser irônico, se não fosse trágica a ideia de que, de repente, a vida já não é. E apesar de a pessoa que amamos estar diante de nós fisicamente, ela é apenas um corpo sem espírito, sem alma. Assim, gente que abraçamos, com quem sorrimos, brincamos e eventualmente até fizemos amor já não existe mais.
Geralmente os seres humanos se apavoram com a morte e, de fato, a morte é assustadora e misteriosa, especialmente para quem não tem esperança alguma e não possui qualquer conceito sobre a eternidade. Poeta pernambucano, Bastos Tigre (1882-1957) se vê assim diante da incerteza da vida: “Quem sou eu? De onde venho e onde acaso me leva o destino fatal, que os meus passos conduzem? Ora sigo o tatear, mergulhado na treva, ou tateio, indeciso, ofuscado de luz.”
Vida e morte são linha muito tênue. Há determinados momentos em que não sabemos onde cada uma se encontra. “Morrer às vezes parece um egoísmo, mas quem morre às vezes precisa muito”, já teria escrito Clarice Lispector em A Descoberta do Mundo.
Queremos manter, artificialmente, quem amamos. Pra isso usamos todos os recursos disponíveis na medicina, mas a realidade é que a morte é a coisa mais democrática do mundo. Ela chega quando não se espera e ignora classe social, status, corpo atlético. E se o tratamento foi feito por clínica especializada ou não, tanto faz. Quando a senha é puxada com nosso número, nossa hora chega e partimos.
Quando estava perto de morrer, Steve Jobs confidenciou ao seu biógrafo Walter Isaacson: “Sobre acreditar em Deus sou mais ou menos meio a meio. Durante a maior parte de minha vida achei que deve haver algo mais na nossa existência do que aquilo que vemos. Gosto de pensar que alguma coisa sobrevive quando morremos. É estranho pensar que a gente acumula tanta experiência, talvez um pouco de sabedoria e tudo simplesmente desaparece. Por isso quero realmente acreditar que alguma coisa sobrevive, que talvez nossa consciência perdure. Mas, por outro lado, talvez seja apenas como um botão: liga, desliga. Clique! E a gente já era! Talvez seja por isso que eu jamais gostei de colocar botões de liga e desliga nos aparelhos Apple”.
Embora não concorde com o conceito de morte do Taoísmo, preciso admitir que um de seus pensamentos faz muito sentido: “somos pequenos barcos de velas brancas no mar desconhecido. Os remos são inúteis. A força dos elementos é maior que a nossa força. O mar é maior que meu plano de viagem”.
Por essa razão, acho fundamental certo conceito de eternidade. Jesus lidou com a morte com naturalidade e, para consolar seus discípulos, afirmou: “Não se turbe o vosso coração, crede em Deus, crede também em mim; na casa de meu Pai há muitas moradas, se não fosse assim, eu não lhes diria, pois vou preparar-vos lugar.”
Para Jesus, a morte era apenas transição: saímos de um estado para outro como quem cruza um rio. A morte é uma realidade para todos, mas a forma de interpretá-la é muito
diferente e é exatamente esta forma de ver e ler a vida que gera esperança em alguns e desespero nos outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário