Uma tendência que está se tornando muito forte entre grupos alternativos é a do minimalismo. A equação é simples: Quanto menos, melhor. Para se ter uma ideia de como isto tem influenciado o pensamento moderno, nos Estados Unidos, por exemplo, são cerca de dois milhões de pessoas atualmente vivendo remotamente. Compraram cabanas cada vez mais distantes, isoladas, e tentam viver basicamente do que produzem nos seus retiros e pequenas áreas. Nem sempre a experiência dá certo, pois muitos não possuem habilidades rurais, mas há um grupo cada vez maior considerando seriamente esta possibilidade.
Alguns tomam esta atitude na tentativa de realmente viver uma vida isolada. Sentem-se estressados com o estilo de vida da cidade, a pressão por pagar as contas e os impostos cada vez mais caros. A pandemia do Covid-19 potencializou esta tendência. Outros o fazem por razões ideológicas e teorias da conspiração. Atualmente os “preps”, tornaram-se uma corrente filosófica bem conhecida. Eles temem invasão dos comunistas, ou dos liberais, ou da direita, ou da ideologia do gênero... qualquer motivo torna-se razão para o isolamento. Alguns simplesmente dizem que não querem mais sustentar a máquina estatal e anseiam por viver com a presença mínima do Estado. Alguns o fazem por motivos religiosos, querendo se isolar de uma sociedade que julgam maligna na sua essência e para proteger seus filhos da influência externa, outros porque querem aprender a não depender mesmo de produtos industrializados e comidas enlatadas, que causam enfermidades.
Algumas perguntas ficam no ar. Primeiro, até que ponto funciona? Segundo, é possível não depender dos meios externos? Terceiro, viver isoladamente é mesmo uma opção plausível?
Um dos casos conhecidos no mundo do marketing é a empresa Patagonia, que cresce com o lema: “Consume less, consume better.” (consuma menos, consuma melhor). Esta empresa tem uma enorme penetração entre formadores de opinião de um mix interessante de pessoas de negócio, tecnologia, esporte e ambientalismo. Trata-se de um paradoxo, crescer as vendas convencendo clientes a comprarem menos. Entretanto eles estabeleceram uma lógica para se justificar dizendo que existe o crescimento ruim e o crescimento bom. Alguns anos atrás, durante a Black Friday, a empresa encorajou os consumidores a manterem as roupas que já possuíam ao invés de comprar novas. Para muitos, entretanto, isto não passa de mais uma estratégia de venda: encorajar seus clientes a consumirem menos, para venderem mais...
Uma lição se torna clara nesta discussão: precisamos realmente repensar nossa obsessão por consumo. Gastar menos e viver de forma mais parcimoniosa pode ser um bom antidoto contra a gula das compras e a voracidade de gastar cada vez mais. Numa declaração feita pelo Papa Francisco ele considerou o consumismo de hoje uma doença séria. E eu concordo plenamente com sua afirmação.
Por outro lado, precisamos tomar cuidado sobre o risco de deixar de consumir, apenas para justificar nossa avareza e acumular ainda mais. Neste caso, apenas invertemos a atitude errada. Deixamos de ser consumidores obsessivos, para sermos acumuladores neuróticos. As duas vias são equivocadas e precisam consideradas. É necessário deixar de gastar muito com consumo desnecessário para termos um olhar mais generoso com mais cuidado pelos carentes e necessitados.
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