sábado, 7 de janeiro de 2023

A Perda da Transcendência

 



 

Poucas coisas são tão danosas à alma humana quanto a perda da transcendência. Quando isso acontece, olhamos a existência apenas sob a perspectiva da horizontalidade, sem a percepção de que, além da História, existe a meta História.

 

Esta é a diferença básica entre o homem de fé e o homem secularizado. A conhecida série Star Wars (Guerra nas Estrelas) conseguiu arrastar uma multidão de fãs e atrair um número muito grande de admiradores. A trilogia levou cerca de 30 anos para ser finalizada e seu conteúdo é marcado por diálogos inteligentes. A saga foi escrita por George Lucas, sob a orientação do maior mitólogo do mundo, Sir Joseph Campbell. O trabalho é repleto de símbolos e lendas.

 

Uma das cenas mais interessantes do filme é protagonizada por Luke, que diante de tantos reveses afirma para Yoda: “O meu grande problema é que eu não acredito”. Yoda responde: “É por isso que você fracassa. Sua falta de fé é perturbadora”, ou, conforme o texto em inglês: “Estou muito preocupado – com sua falta de fé.”

 

Quando olhamos ao redor, somos capazes de perceber rapidamente que a vida é marcada por contradições, injustiças, paradoxos e ambiguidades. Ao vermos o mal florescer somos tentados ao cinismo, à indiferença, à incredulidade e até mesmo ao desespero.

 

O cinismo nos torna embrutecidos, fazendo-nos desconfiar de tudo e de todos. As coisas

vão parecendo ridículas e absurdas, o que nos leva à indiferença e nos torna insensíveis moralmente. Também questionamos a eficácia da bondade e do bem e a incredulidade, por sua vez, nos leva a considerar impossível que algo transformador possa acontecer, seja pela mediação da educação, da política ou da fé. Aliás, perder a dimensão do sagrado leva,nos a descrer que Deus pode intervir em qualquer situação.

 

O resultado final é o vácuo existencial, de onde brota o desespero e o nihilismo. Como ter esperança diante da vida tão injusta? O desespero nos violenta porque retira de nós a alegria, a esperança, os sonhos e as perspectivas. Assim, o suicídio se torna uma opção existencial plausível. Nietzsche chamava este sentimento de Náusea.

 

Jeremias, um profeta bíblico, presenciou em seus dias o cruel massacre dos assírios contra os indefesos judeus. Ele estava na cidade quando a guerra aconteceu: “Eu sou o homem que viu a aflição pela vara do furor de Deus.” (Lm 3.1) A dor era quase insuportável e ele não conseguia equacionar sua mente.

 

Em um dado momento, entretanto, ele conseguiu colocar seus olhos numa outra esfera ao dizer: "Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; 23 renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade" (Lm 3.21-22)

 

Isso é transcendência. Ser capaz de sair do caos e do absurdo da história e apreender uma dimensão superior, supra histórica. Em algum momento, a transcendência fez ou mesmo faz sentido para você?


 

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