domingo, 31 de julho de 2022

O ódio do bem

 


 

“Pessoas que se julgam herdeiras de um messianismo sem Deus, em que Deus é a história e eles, apóstolos dos bem e da história perfeita, ao aderirem à sua ideologia e à sua seita, se sentem pessoas do bem (...) Isto gera uma autopercepção orgulhosa de que estão do lado do bem. Entretanto, todo mundo que já estudou um pouco de filosofia moral ou história da santidade na tradição católica sabe, todos aqueles que se acham do bem, são, na verdade, do mal.”

 

Com estas palavras, Luiz Filipe Pondé, professor de filosofia da USP, analisa o porquê de todos os professores de universidades serem de esquerda.

 

Isto levanta uma questão sensível do que tem acontecido atualmente. A discussão entre pessoas do bem e do mal. Antigamente, a questão da ética era definida na Igreja ou na tradição cultural de um povo; contudo, os censores morais da modernidade, são os criptogramas do Google e do Facebook, que dizem o que é certo e errado, com base num grupo de nerds alternativos que bloqueiam o pensamento contrário ao que julgam ser bem ou mal.

 

Diante disto fica uma discussão: quais são os atores que agem nos bastidores da censura e determinam o que é bom ou mal? Quem conduz a pauta da discussão? Quem substituiu o “conselho dos anciãos” das tribos e cidades? Quem define o que é correto ou nefasto? Ético e não ético? Falso e verdadeiro?

 

O mesmo grupo que define a liberdade de expressão, bloqueia o pensamento contraditório; que defende a democracia (cujos valores são determinados pela maioria), objeta-se à maioria; o mesmo grupo que diz “não há verdades nem absolutos”, absolutiza sua forma de pensar e crê que suas ideias e princípios são a essência da verdade.

 

A forma mais anacrônica desta forma de pensar, desemboca no ódio que tais defensores do bem sentem por quem pensa diferente. Eles odeiam quem contraria sua cosmovisão. Os “defensores do bem” executam em praça pública, de forma implacável, os opositores, colocando-os na guilhotina, decepando suas cabeças ou enforcando-os. Sob a égide do bem, prevalece a lei do Velho Oeste, as execuções primárias dos talibãs e a força xiita.

 

O problema é que, pessoas do bem, nunca deveriam usar as armas do ódio, já que estão do lado do amor e da tolerância. Quem defende o direito, a paz e a justiça, não pode instrumentalizar o mal para produzir o bem. Em outras palavras, “o ódio em nome do bem”, é uma contradição. As atuais inquisições sem fogueiras não são menos malignas que as tochas acesas para eliminar os hereges na Idade Média. O bem não se constrói nem se defende com ódio, mas com o perdão e diálogo. Eis aí um grande desafio para a ética moderna.


 


 

 

 

 

 

 

 

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