sábado, 19 de março de 2022

A Sociedade do Cansaço

  



 

Ensaísta sul-coreano e professor da Universidade de Artes de Berlim, Byung-Chul Han é um dos filósofos contemporâneos mais respeitados do momento. Um dos melhores textos para iniciar uma compreensão de seu pensamento foi traduzido no Brasil em 2017 pela Editora Vozes. O título é Sociedade do Cansaço.

 

Sua visão é a de que cada tempo possui suas enfermidades fundamentais. Tivemos uma época bacteriológica que chegou ao fim com a descoberta dos antibióticos e, graças à técnica imunológica, esse período ficou para trás. Já o começo do século 21 não é definido como bacteriológico nem viral, mas neuronal. “Doenças neuronais como a depressão, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL) ou a Síndrome do Burnout (SP) determinam a paisagem patológica do começo do século 21. Não são infecções, mas enfartos.”

 

Na gênese de todo esse cansaço, o professor diagnostica a sociedade do desempenho, que carece de vínculos significativos e sofre fragmentação e atomização. “O que causa a depressão, o esgotamento não é o imperativo de obedecer apenas a si mesmo, mas a pressão do desempenho.” O homem depressivo é o trabalhador excessivo que explora a si mesmo, sendo agressor e vítima ao mesmo tempo. Ele se encontra em guerra consigo, já que não consegue equilibrar a pressão da performance com sua própria capacidade emocional e física.

 

Somos uma sociedade que tem acesso a uma grande quantidade de benefícios, vivemos (em grande parte) com boa qualidade de vida, emprego, mas estamos no fim da linha. Somos cobrados não pelos outros, mas por nós mesmos, para sermos bem sucedidos numa sociedade de meritocracia. Perdemos a capacidade de descansar!

 

Quando olhamos os princípios bíblicos, vemos como Deus teve preocupação com o bem-estar humano. Ao criar o sábado, depois de fazer todas as coisas em seis dias, ele descansou. Ele realmente precisava de descanso? Alguém pode imaginar um Deus cansado? Jesus explica isso aos seus discípulos afirmando que o sábado foi feito por causa do homem. Trata-se de uma forma didática para demonstrar ao homem que ele precisa parar, dar tempo a si mesmo, reorganizar mente e corpo.

 

Jesus foi muito requisitado durante seu ministério terreno. Entretanto, quando estava no auge de suas ações, no meio de embates e com muitas pessoas requerendo seu tempo e de seus discípulos, Ele lhes fez um convite inusitado: “Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto.” (Mc 6.31). Essa foi a forma de Jesus cuidar dos seus seguidores. É preciso parar, descansar.

 

Mas existe ainda um outro cansaço que é o emocional e espiritual. E mais uma vez Jesus convidou: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei.” Não precisamos ser consumidos pelo cansaço, pelo stress. Há sempre uma hora e lugar de descanso e refrigério esperando por cada um de nós.

9 comentários:

  1. Que cada encontre e invista no seu lugar de descanso. Obrigada por nos encorajar!!

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  2. Verdade! O texto nos remete a reflexão, pois os dias atuais trabalhamos mais do que descansamos, a sobrecarga de atividades nos tornam doentes...
    Obrigada pelo texto! Deus o abençoe!

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  3. Verdade absoluta, Falta tempo em nossos dia para balançar na rede na varanda.

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  4. Maravilha! A menção Bíblica do final, abrilhantaram ainda mais o texto! Cristo, há mais de dois mil anos atrás, previu tudo isso aí! E é por isso que Ele insiste, em chamar os Seus seguidores,para..: "Tomar o Seu jugo (que é leve),aprender dEle e descansar" (MT 11.28-30).

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  5. Pastor Samuel, este texto falou muito ao meu coração!
    Preciso parar e analizar o meu tempo sempre consumido em excesso de ocupações!
    Obrigada!
    Que Deus o abençoe!

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  6. Excelente, como sempre, pastor Samuel! Somos instruídos,exortados e enriquecidos através desses textos. Sinto-me privilegiada por tê-los ao meu alcance. Obrigada. Deus te abençoe hoje e sempre!

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  7. Como sempre suas palavras são enriquecedouras meu pastor. Obrigada sempre por compartilhar e nos fazer refletir, sobre muitas vezes, o óbvio.

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