O capitalismo como modelo econômico tem se tornado cada vez mais sólido em todas as sociedades atuais, excetuando-se, naturalmente, sociedades primitivas, extrativistas e nômades, cujo modelo de acúmulo de bens não é conhecido nem praticado. Curiosamente, a dinâmica capitalista está presente até mesmo em países comunistas.
A China é um bom exemplo disso. Os novos ricos e emergentes têm se multiplicado cada vez mais e não são poucos os atuais bilionários chineses. Mesmo com intervencionismo estatal na indústria e na pesquisa científica, o acúmulo de bens é cada vez mais presente. Temos, ironicamente, um país comunista com economia capitalista...
Ao mesmo tempo, o modelo capitalista tem sido cada vez mais criticado, até mesmo por liberais que defendem a presença menor do Estado na economia. O que está acontecendo? O problema é que a primeira lei do capitalista - “tenha lucros!”- facilmente se torna um modelo perverso de economia. Os ricos estão se tornando cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres.
O Brasil é um dos países mais desiguais – econômica e socialmente - do mundo. Há uma grande diferença entre a renda média mensal de uma família pobre e a de uma família rica e o índice de desigualdade tem aumentado cada vez mais. Até mesmo pessoas ricas estão questionando esse modelo de concentração de rendas.
Em uma recente entrevista à CNN Brasil, no programa O Mundo Pós-Pandemia, o empresário e publicitário Nizan Guanaes citou uma máxima que começa a provocar discussões acadêmicas e políticas ao redor do mundo. Guanaes, um capitalista e liberal declarado, afirma que alguma fórmula precisa ser encontrada para que não apenas ganhemos, mas para que parte do ganho adquirido torne-se uma maneira de servir.
Essa preocupação já ocupava a mente de João Calvino no Século XVI. Considerado por Max Weber como o pai do capitalismo moderno, ainda que Calvino fosse um teólogo francês, ele enxergava a ganância e a injustiça social no sistema, mas, segundo ele, os cidadãos precisavam refletir sobre a reorganização moral e social.
João Calvino denunciava o perigo espiritual das riquezas e enfatizava o dever à assistência social (caridades). Para ele, o homem exerce sua plena humanidade quando trabalha e usa seu dinheiro e bens econômicos em prol de uma sociedade solidariamente responsável. Calvino combatia a teologia medieval da opção pela pobreza, mas ao mesmo tempo defendia o uso social da riqueza. Não é sem razão que os países influenciados pela visão calvinista se tornaram nações extremamente prósperas, como Suíça, Suécia, Finlândia e Noruega, engendrando a ideia da social democracia, que tanto inspira economistas e educadores.
Um modelo adotado por intelectuais de Harvard tem a seguinte fórmula: “Aprender, ganhar e servir”. (Learn, Earn, Serve). Não se trata apenas de ganhar para acúmulo pessoal, mas para produzir uma sociedade melhor. Caso contrário, a fome e a miséria produzirão uma sociedade caótica, faminta e violenta.