domingo, 17 de maio de 2020

Impressões na Quarentena

Comunicação - Governo prorroga quarentena até 25 de abril em ...

O que tenho aprendido na quarentena? 

Esta pergunta veio à minha mente na semana passada. O que este tempo de reclusão e distanciamento me fez observar sobre mim mesmo? O que tenho aprendido e descoberto sobre quem sou?

1. Descobri que é difícil viver apenas comigo mesmo. Como disse J Quest: “quero ficar só, mas sozinho comigo eu não consigo”. Fiquei mais de dois meses vivendo solitariamente, pois minha esposa estava acompanhando o nascimento do neto e os voos foram cancelados. Descobri que a solidão não é brincadeira...

2. Ficou evidente, que preciso de rotinas claras e definidas. A falta de uma agenda, de acordar e sair de casa, de saber o que fazer diariamente, de uma dinâmica pessoal, me deixou ineficaz e angustiado.

3. Aprendi que tempo de sobra não me torna mais produtivo e efetivo. Tinha todo tempo para ler e escrever mas a produtividade se tornou pobre e escassa. O fato de não ter horário para dormir e acordar, pode ter sido uma das justificativas para isto.

4. Conclui que tenho sede de relacionamentos, ainda que superficiais: tomar café com alguém, conversar com pessoas, sorrir, faz parte da minha natureza, vocação e formação. Estas coisas simples me fizeram muita falta.

5. Percebi a fragilidade do ser humano. A grande ameaça não veio de uma bomba atômica, nem cataclismas ou hecatombes, mas num invisível e pequeno vírus que mudou hábitos, estagnou a economia de metade do planeta. Apesar de todo avanço da pesquisa e da ciência, o vírus ironizou a prepotência humana.

Minha esposa, também fez suas observações, que julgo importantes:

A. Ter tempo não tem a ver com cronos, mas com propósito. Nunca tive tanto tempo e jamais produzi tão pouco. Quando não temos propósito, o tempo desaparece. Já dizia o velho Salomão. Há tempo pra todo PROPÓSITO.

B. O fim dos cultos públicos e reuniões semanais demonstrou que muitos precisam ter um encontro real com Deus.

C. Acredito também que Deus colocou os seres humanos em quarentena, para a natureza se recuperar um pouco de nós e aguentar até sua redenção. Tem até golfinhos nos antes fétidos canais de Veneza!

D. Muitos descobriram o que todos já sabiam sobre seus filhos, mas ninguém podia ou tinha coragem de dizer...rsrsrs

O Novo Normal

O "novo normal": o que deve mudar na rotina das viagens após o fim ...

Uma das perguntas recorrentes neste tempo de reclusão e isolamento social é: quando as coisas voltarão ao normal?

Muitas pessoas não suportam mais ficar em casa e algumas delas, literalmente, estão surtando. Por isso, mesmo correndo riscos ou tendo a possibilidade de trazer riscos para a família, elas acabam se expondo demasiadamente. Alguns por necessidade financeira, outros por pura impaciência.

Então é natural que todos nós queiramos saber: “quando as coisas voltarão à normalidade?” As respostas têm sido diferentes para os pessimistas e otimistas. Para alguns, dentro de 15 dias a quarentena se encerra. Outros projetam mais um mês, mas a melhor opinião que ouvi sobre o assunto é que não haverá volta à normalidade porque o que surgirá será um “outro normal” ou um “novo normal”. As coisas nunca mais serão como antes.

Alexandre Mansur, da Revista Exame, escreveu na edição do último dia primeiro: “É um período longo de home office, restrição de atividades com multidão, redução de viagens aéreas e outras grandes alterações em nossos meios de produção, convívio familiar e entretenimento. Vai transformar radicalmente as economias, os serviços, as tecnologias, os hábitos, o nosso paradigma de sociedade. Naturalmente, qualquer exercício de futurologia agora é arriscado. Mas já é possível vislumbrar algumas grandes tendências do mundo que virão por aí. Muitas delas coincidem com a visão de uma humanidade que usa de forma mais sustentável os recursos naturais do planeta.”

Uma primeira constatação é que devemos desistir da idolatria da segurança. Ela, na verdade, é uma ilusão. A pandemia do coronavírus vai falir empresas sólidas e provocará o surgimento de outros gigantes. Os EUA se tornaram superpotência depois da II Guerra Mundial porque souberam aproveitar bem o momento. De 1945 para cá, o mundo não experimentou nenhum grande “shut down” como agora. A Coréia do Sul floresceu depois da Guerra Civil com a Coréia do Norte. Momentos de crise geram novas abordagens e percepções, trazem nova valorização e estratégias. Calamidades geram uma nova forma de olhar e fazer as coisas. O convencional perde espaço para outras abordagens.

O modelo educacional deve sofrer grandes questionamentos. É provável  que o “homeschooling” (Educação Domiciliar) volte a ser considerado uma interessante estratégia e as EADs se tornem uma possibilidade mais ampliada, ocupando um espaço cada vez maior na sociedade. O home office será ainda mais potencializado com os eventos recentes. A Tecnologia de Informação será mais requisitada que antes.

De forma direta, haverá grandes questões em torno dos valores humanos e ética social. Uma nova categoria de valores surgirá, colocando sobre lideranças políticas e empresariais a obrigatoriedade de repensar o que realmente importa. Isto vai gerar questionamentos morais sobre economia e saúde, trabalho e vida e atingirá a população em geral, levando muitos a optarem por um estilo de vida pacato e rural, em contraste com o estilo de vida competitivo e urbano.

Teremos, portanto, não uma normalidade como atualmente conhecemos, mas um “outro normal”. 

Que hora é esta?

Como dizer já está na hora de em inglês? | Dicas de Inglês

No livro de Isaías lemos: “Gritam-me de Seir: Guarda, a que hora estamos da noite? Guarda, a que horas?” (Is 20.11).

Séculos depois, Cícero cunharia a famosa frase: “O tempora! O mores!” Isso em seu discurso no Senado, nas célebres Catilinárias, bradando contra os vícios e a corrupção de Roma. “Que tempos os nossos! E que costumes!”. Em sua visão, conspirações e corrupção solapavam o Império e as atitudes mereciam ser desprezadas em alta voz, como repúdio à vileza presente na elite romana. 
A frase de Cícero é profundamente contemporânea. Que dias são estes e que horas são estas? Assim como a pergunta suscitada pelo profeta: “Guarda, a que hora estamos da noite?”.

A frase do Isaías suscita três possiblidades: 

Primeira: as pessoas estavam desorientadas e não conseguiam julgar corretamente o momento que viviam. Não sabiam discernir a época nem o tempo no qual estavam inseridas. Não saber a hora é típico do fuso horário - efeito jet lag -, quando surge a sensação de cansaço extremo ocasionada pela diferença de horário entre a origem e o destino. Isso acontece porque o relógio biológico perde a sincronização com o horário cronológico do novo ambiente, pois o ritmo dia/noite em que a pessoa estava acostumada a viver sofre mudança súbita. Como lidar com a vida se não somos capazes de perceber o tempo? Quanto mais idosos ficamos, menos capacidade temos de entender o que está acontecendo ao nosso redor.

Segunda: as pessoas estavam indagando assustadas porque o que estavam vivenciando era incomum e causava perplexidade. Os tempos estavam confusos e tudo parecia diferente. Nova moral, novos costumes, nova espiritualidade. Por isto estavam amedrontadas e apavoradas. O novo assusta! Que hora é esta? Que tempo é este?

Terceira:, existe uma dimensão escatológica, algo conectado ao futuro. A Bíblia afirma que precisamos remir o tempo porque os dias são maus. Precisamos entender, no tempo de Deus, qual é o seu calendário, que agenda Ele tem. Jesus advertiu que a volta do Filho do Homem se daria quando não estivéssemos apercebidos e que seria como a vinda do ladrão da noite, na hora em que não estaríamos prevenidos. Precisamos, pois, vigiar, estar atentos! Que hora é esta no plano de Deus? Em que hora da noite estamos?

Será que sabemos “a que hora estamos da noite?”

Graça em meio ao Caos

O caos do isolamento e a graça de Deus - Firme Fundamento

Tempos difíceis criam grandes oportunidades para revelar o melhor e o pior das pessoas. Muitos olham situações de calamidades com a visão de uma hiena, que ao ver um animal ferido e indefeso, aproxima-se para dar o golpe final de misericórdia. Assim, um grande número de pessoas tem usado o coronavírus para explorar, abusar do sofrimento, tirar vantagens. Tenho calafrios só de pensar o que líderes políticos inescrupulosos podem fazer com o dinheiro público nestes dias que estamos vivendo.

Nos EUA, algumas pessoas aproveitando o pânico, começaram a estocar grandes quantidades de álcool em gel e papel higiênico para revender na internet a preços extorsivos. O mesmo aconteceu no Brasil, com o frenesi pela busca de máscaras, roubo de máscaras e vacinas falsas.

Felizmente, atitudes de solidariedade e generosidade começaram a surgir. Em nossa comunidade, um grupo de diáconos se mobilizou. Eles disponibilizaram o tempo que têm para fazer compras de supermercado e farmácia para pessoas dos grupos de risco. Um grupo de médicos da cidade também ofereceu, às pessoas em pânico, atendimento gratuito por telefone para orientá-las quanto à melhor atitude a tomar. Em São Paulo, a filha de minha prima, de apenas 14 anos, colocou seu nome e telefone nos elevadores do prédio em que mora, oferecendo-se para ajudar pessoas idosas que precisam de suporte. E isso, voluntariamente!

A Covid-19 trará prejuízos e sequelas imprevisíveis para a sociedade. Tempos de calamidades, guerras e pestes mudam a cosmovisão de uma geração. Também teremos grandes perdas e oportunidades neste momento de perplexidade em que vivemos.

Não seremos a primeira nem a última geração a enfrentar catástrofes parecidas. Na verdade, a última tragédia global acabou há 75 anos, com o final da II Guerra Mundial. Tragédias cobram um preço muito alto, mas podem ser mitigadas pela empatia e pelos gestos humanitários. Pode-se perder financeiramente, mas alcançar grandes ganhos na alma que se expressa no apoio e no cuidado. A dor pode ser brutal e impiedosa, mas podemos amenizá-la com sensibilidade e humanidade!

Uma coisa surpreendente que aprendemos com a fé cristã é que, o lugar mais hostil e dolorido, no qual Deus parecia estar ausente, foi a cruz. A exclamação de Cristo “Deus meu, Deus meu, por que me desamparastes?”, mostra o drama do Calvário. Contudo, a cruz é o lugar da redenção. Naquele lugar, o Cordeiro de Deus leva sobre si o pecado do mundo. A cruz é amarga e redentiva, dolorida e graciosa. E esta é uma lição preciosa: a Graça sempre brota no meio do caos.

sábado, 9 de maio de 2020

Que horas são estas?

Pôr Do Sol, Sun, Céu Noturno, Nuvens

No livro de Isaías lemos: “Gritam-me de Seir: Guarda, a que hora estamos da noite? Guarda, a que horas?” (Is 20.11).

Séculos depois, Cícero cunharia a famosa frase: “O tempora! O mores!” Isso em seu discurso no Senado, nas célebres Catilinárias, bradando contra os vícios e a corrupção de Roma. “Que tempos os nossos! E que costumes!”. Em sua visão, conspirações e corrupção solapavam o Império e as atitudes mereciam ser desprezadas em alta voz, como repúdio à vileza presente na elite romana. 

A frase de Cícero é profundamente contemporânea. Que dias são estes e que horas são estas? Assim como a pergunta suscitada pelo profeta: “Guarda, a que hora estamos da noite?”.

A frase do Isaías suscita três possiblidades: 

Primeira: as pessoas estavam desorientadas e não conseguiam julgar corretamente o momento que viviam. Não sabiam discernia época nem o tempo no qual estavam inseridas. Não saber a hora é típico do fuso horário - efeito jet lag -, quando surge a sensação de cansaço extremo ocasionada pela diferença de horário entre a origem e o destino. Isso acontece porque o relógio biológico perde a sincronização com o horário cronológico do novo ambiente, pois o ritmo dia/noite em que a pessoa estava acostumada a viver sofre mudança súbita. Como lidar com a vida se não somos capazes de perceber o tempo? Quanto mais idosos ficamos, menos capacidade temos de entender o que está acontecendo ao nosso redor.

Segunda: as pessoas estavam indagando assustadas porque o que estavam vivenciando era incomum e causava perplexidade. Os tempos estavam confusos e tudo parecia diferente. Nova moral, novos costumes, nova espiritualidade. Por isto estavam amedrontadas e apavoradas. O novo assusta! Que hora é esta? Que tempo é este?

Terceira: existe uma dimensão escatológica, algo conectado ao futuro. A Bíblia afirma que precisamos remir o tempo porque os dias são maus. Precisamos entender, no tempo de Deus, qual é o seu calendário, que agenda Ele tem. Jesus advertiu que a volta do Filho do Homem se daria quando não estivéssemos apercebidos e que seria como a vinda do ladrão da noite, na hora em que não estaríamos prevenidos. Precisamos, pois, vigiar, estar atentos! Que hora é esta no plano de Deus? Em que hora da noite estamos?

Será que sabemos “a que hora estamos da noite?”